A atriz Karla Sofía Gascón, estrela de ‘Emilia Pérez’, se emocionou durante uma entrevista recente, onde chorou e desabafou sobre as críticas que recebeu após a internet resgatar tweets polêmicos nos quais ela fazia comentários racistas, ofensas ao Islã, a George Floyd, entre outros.
De acordo com o Deadline, durante a conversa com Juan Carlos Arciniegas, da CNN Espanha, Gascón reafirmou que “não é racista” e pediu desculpas sinceras a todas as pessoas que possam ter se sentido ofendidas pela forma como se expressou no passado, no presente e no futuro.
Ela acrescentou: “Acredito que fui julgada, condenada, sacrificada, crucificada e apedrejada sem julgamento e sem a opção de me defender”.
Gascón também falou sobre sua “maravilhosa filha”, que, segundo ela, a ensinou “valores importantes”.
A atriz compartilhou que se identifica com as lutas das pessoas negras.
“Eu me sinto e me identifico muito com as pessoas que foram expulsas dos ônibus pela cor da pele, com aquelas que não podiam estudar na universidade, com as que eram odiadas simplesmente por existirem, assim como sou odiada neste momento”, disse, emocionada.
Em outro momento, Gascón se emocionou ainda mais ao falar sobre um “relacionamento com uma mulher maravilhosa que é muçulmana” e que a ensinou sobre respeito. Ela afirmou que essa pessoa tem sido seu apoio “100%” neste momento.
A atriz também relembrou o trágico falecimento de seu irmão, quando ela tinha 20 anos: “Quando eu era muito pequena, meu irmão morreu em um acidente de Natal, e sempre senti um ressentimento em relação aos seres humanos de todos os espectros, porque me parece que os seres humanos são algo deplorável, mas também algo no qual tenho uma esperança incrível”.
Ela também revelou que sempre enfrentou ódio por ser trans e, certa vez, foi atacada no México por ser espanhola, com pessoas a chamando de “mulher espanhola que veio de novo roubar o ouro deles”.
Entre lágrimas, ela disse: “Eu não parei de receber ódio, ameaças de morte, insultos, abusos. Eu não vi ninguém sair em qualquer mídia, em qualquer espaço, em qualquer lugar, levantando a mão por mim e dizendo: ‘Ei, o que está acontecendo com essa pessoa que vocês estão massacrando?’ E ninguém, ninguém levantou um dedo por mudança”.
Quando questionada sobre um tweet polêmico no qual chamou George Floyd, assassinado por policiais em 2020, de “viciado em drogas e um vigarista”, Gascón confirmou que escreveu o post e afirmou que, na época, via as redes sociais “infelizmente mais como um diário”, cheio de “reflexões” em vez de algo que pudesse influenciar os outros.
Ela ainda acrescentou que o tweet foi escrito em tom de “ironia, sarcasmo e, às vezes, exagero”, e usou um recurso de “falar em terceira pessoa” para expressar algo negativo.
Gascón enfatizou que, “obviamente”, é uma apoiadora do movimento Black Lives Matter e que escreveu o tweet para apontar os comentários racistas de outros.
A atriz também reconheceu que seu tweet sobre o Oscar de 2021, onde chamou as vitórias de Daniel Kaluuya e Yuh-Jung Youn de “festival afro-coreano”, foi “estupidez” e afirmou que “certamente eles mereceram esses prêmios por todo o trabalho deles, e não pelo que são”.
Sobre um outro tweet, onde comparou a guerra contra Hitler à forma como a representação de negros e mulheres é abordada, Gascón explicou que usava a “terceira pessoa” para se referir a uma visão extremista, como se fosse uma nazista.
Ela acrescentou que, com seus tweets sobre Floyd, muçulmanos e Hitler, “parece que essa é uma pessoa terrível e má, quando precisamente estou tentando refletir o oposto”.
Gascón também desmentiu um tweet que circulou, no qual ela parecia chamar sua colega de elenco Selena Gomez de “rata rica”.
Ela afirmou que a acusação era falsa e que nunca havia feito tal comentário. “Eu disse: ‘Bem, o que fiz na minha vida? O que fiz — se não matei uma mosca, que, quando vou a lugares e vejo uma aranha em minha casa, eu coloco em um copo para não matá-la e a levo para a rua?’”, disse entre lágrimas, expressando que a resposta à controvérsia a fez sentir como se tivesse cometido um “crime.”
Gascón acrescentou que não tem “nada a esconder” e que sua “consciência está limpa”.
“Se o mundo inteiro acha que sou uma pessoa tão má que tenho que voltar para minha casa, então vou para casa com minha família, meus gatos e as pessoas que me amam, e vou continuar minha vida como sempre fiz. Nunca me faltou um prato de sopa porque fiz as coisas de maneira honesta, sem machucar ninguém neste mundo”, afirmou.
Quando perguntada se acredita que o “orgulho” teve algum papel em tudo isso, Gascón respondeu:
“Quando você vem de um lugar onde tem que se defender constantemente… é realmente feio se acostumar a receber violência, e a ser capaz de lutar e viver em um mundo onde você é ameaçado de morte constantemente, às vezes você tem que se elevar acima disso para que não te afundem. Porque se eu fosse um tipo diferente de pessoa, talvez, que tivesse deixado isso passar e não tivesse essa capacidade, com certeza já teria tirado minha vida diante de tudo o que aconteceu comigo”, afirmou.
Gascón concluiu a entrevista pedindo desculpas à sua filha por ela ter que lidar com a controvérsia em vez de celebrar, e acrescentou que está ciente de que suas palavras “vão ser distorcidas para o que [os outros] gostam ou desejam”.
“Isso é óbvio, e eles vão tirar as conclusões que cada um quiser tirar, mas como eu te disse antes, sou responsável apenas pelo que meu coração sente”, concluiu.
A atriz Karla Sofía Gascón, estrela de ‘Emília Pérez’, explicou sua decisão de desativar sua conta no X (antigo Twitter) após internautas resgatarem diversas postagens polêmicas da atriz,
Segundo o The Hollywood Reporter, Gascón afirmou que tomou essa medida para interromper a campanha de ódio direcionada a ela.
“Peço desculpas, mas não posso mais permitir que essa campanha de ódio e desinformação me afete, nem à minha família. A pedido deles, estou fechando minha conta no X. Fui ameaçada de morte, insultada, abusada e assediada até o ponto de exaustão. Tenho uma filha maravilhosa para proteger, a quem amo loucamente e que me apoia em tudo”, escreveu.
Ela também explicou: “Há muito tempo tomei a decisão de fechar uma rede social, que tomou um rumo terrível, no qual às vezes também caí, e pelo qual peço desculpas”.
Gascón destacou que sempre expressou suas opiniões, que muitas vezes foram errôneas, mas que mudaram ao longo do tempo, com base em sua própria experiência.
“Como parte desta sociedade, expressei meu desacordo ou concordância com todas as questões relacionadas que me tocaram e das quais tive uma opinião, muitas vezes errônea, que mudou ao longo da minha própria experiência. Sempre usei as redes sociais como um diário, reflexões ou anotações, para depois criar histórias ou personagens, não como algo que seria escrutinado até o último de seus 140 caracteres, pois às vezes, eu mesma, nem percebo que escrevi algo negativo”, acrescentou.
Vale ressaltar que a atriz, primeira mulher trans indicada ao Oscar de Melhor Atriz, vinha conduzindo uma campanha progressista com o lema “A luz sempre triunfará sobre as trevas”. No entanto, com a viralização de antigos tuítes, a sua campanha passou a se focar em controlar os danos causados.
“Defendi todas as minorias deste mundo e apoiei qualquer evento contra o racismo, a liberdade religiosa ou a homofobia, assim como critiquei a hipocrisia que as fundamenta, porque a primeira coisa que sou crítica é de mim mesma”, afirmou Gascón.
“Nunca me ouvirão apoiar uma guerra, uma injustiça, extremismo ou aplaudir alguém que oprima outros seres humanos. Talvez minhas palavras não sejam corretas, muitas vezes por ignorância ou puro erro. Peço desculpas novamente se alguém já se sentiu ofendido ou se sentirá no futuro”, continuou.
“Sou um ser humano que também cometeu, comete e cometerá erros dos quais aprenderá. Não sou perfeita. Tirar minhas palavras de contexto ou manipulá-las para me machucar não é algo pelo qual sou responsável”, ressaltou.
“Peço desculpas por ficar indo de um lado para o outro e não poder responder a cada acusação que tentam me fazer para me afundar”, escreveu ela, acrescentando: “Está claro que há algo muito escuro por trás disso”.
“Sou responsável apenas pelo que digo, não pelo que outros dizem que eu disse ou pelo que interpretam do que eu digo”, afirmou. “Espero poder dar uma explicação mais detalhada em algum momento”.
Ela ainda ressaltou: “Se quiserem, podem continuar me atacando como se eu fosse responsável pela fome e pelas guerras no mundo. Peço desculpas novamente se em algum momento ofendi alguém com minhas palavras na minha vida”.
“Sou apenas Karla Sofía Gascón, uma atriz que chegou onde poucos chegaram graças ao seu esforço e trabalho, sem roubar ou prejudicar ninguém, apenas tentando viver em paz, amor e respeito, algo que parece incomodar muitas pessoas neste mundo”, expressou.
“Está claro que há algo muito escuro por trás disso”, diz ela, finalizando: “Mas digo uma coisa: ‘Quanto mais tentarem me afundar, mais forte eu ficarei. Maior será a vitória'”.
Por fim, Gascón encerra sua carta com a expressão “NAM MYOHO RENGE KYO”, uma frase central no Budismo Nichiren, que ela pratica há mais de 10 anos. A tradução é “Devoção à Lei Mística do Sutra de Lótus.”
Antes de desativar a conta na manhã de sexta-feira, Gascón pediu desculpas pelas publicações ofensivas.
“Quero reconhecer a conversa em torno de minhas postagens anteriores nas redes sociais que causaram mágoa. Como alguém em uma comunidade marginalizada, conheço muito bem esse sofrimento e lamento profundamente aqueles a quem causei dor. Durante toda a minha vida, lutei por um mundo melhor. Acredito que a luz sempre triunfará sobre a escuridão.”
Menos de um mês após a trágica morte de Floyd, a atriz postou: “Deixe-me ver se entendi, um cara tenta passar uma nota falsa depois de consumir metanfetamina, um policial idiota chega e vai longe demais ao prendê-lo, transformando o cara em um herói mártir. Eu realmente acredito que muito poucas pessoas se importaram com George Floyd, um viciado em drogas e um traficante.”
Alguns meses depois, ainda em 2020, a artista atacou a comunidade islâmica: “Desculpe, é só impressão minha ou há cada vez mais muçulmanos na Espanha? Toda vez que vou buscar minha filha na escola, há mais mulheres com os cabelos cobertos e as saias abaixadas até os calcanhares. Talvez no ano que vem, em vez de inglês, tenhamos que ensinar árabe. […] Até que sejam proibidas religiões que vão contra os valores europeus e violam os direitos humanos, como o islamismo, sob a proteção da liberdade de culto, não acabaremos com parte do enorme problema que enfrentamos. A fé manipula aqueles que se apegam à fé.”
O pedido veio após ela causar polêmica ao citar a Fernanda Torres em uma entrevista recente.
Além de postagens antigas da artista no Twitter/X ressurgiram nas redes sociais e repercutiram negativamente entre os internautas.
Vale lembrar que, recentemente, o diretor francês Jacques Audiard, que comandou ‘Emilia Pérez‘, também causou polêmica ao afirmar que “o espanhol é uma língua de países modestos, de países em desenvolvimento, dos pobres e migrantes”.
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Mesmo em meio as polêmicas, ‘Emilia Pérez’ conquistou treze indicações ao Oscar, incluindo uma indicação de melhor atriz para a espanhola Karla Sofía Gascón.
Segundo a Variety, a estrela e à primeira atriz abertamente transgênero a ser indicada ao Oscar.
Este não é o primeiro aceno histórico de Gascón nesta temporada de premiações: ela se tornou a primeira mulher transgênero a ganhar o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Cannes, além de ser a primeira mulher trans indicada para atuação no Globo de Ouro.
Lembrando que o Oscar já premiou diversos atores cisgêneros por retratar personagens transgêneros em ocasiões anteriores, incluindo Jared Leto por ‘Clube de Compras Dallas’ e Hilary Swank por ‘Boys Don’t Cry’. Eddie Redmayne também ganhou uma indicação por ‘A Garota Dinamarquesa’.
Os vencedores serão revelados no dia 02 de março.
No Brasil, o filme será lançado nos cinemas pela Paris Filmes em 06 de fevereiro.
“Em Emília Perez, ambientado no México, acompanhamos a história de Rita (interpretada por Zoe Saldana), uma advogada excepcional cujo talento é subutilizado em uma firma de baixa qualidade. Em vez de buscar a justiça, a firma encobre crimes. Um dia, surge uma proposta irrecusável para Rita: ajudar Juan Del Monte, o temido chefe do cartel, a se aposentar de seu negócio e desaparecer para sempre”.
O filme é dirigido por Jacques Audiard, conhecido por ‘O Profeta’, com roteiro também de Jacques Audiard (‘Paris, 13º Distrito’).