‘The I-Land’ é, provavelmente, a minissérie mais odiada da Netflix. Com 0% de aprovação no Rotten Tomatoes, nota baixa no IMBD e diversas críticas decepcionadas com o lançamento da rede de streaming, ‘The I-Land’ é, na verdade, uma pérola mal compreendida. Calma, calma, nós vamos explicar todos os pontos, mas saiba que, a partir daqui nossa matéria contém spoilers.
Depois de lerem, me digam se a série não é uma jogada de gênio, tal qual ‘Bandersnatch’, e que a Netflix está realmente criando produtos interativos que pedem que o espectador não fique apenas no papel passivo de assistir a uma história, mas sim que consiga decifrar os códigos secretos que ela insere nas suas produções.
O livro
Logo no primeiro episódio, quando os personagens estão encontrando coisas aleatórias na praia, Taylor está tomando sol na praia e encontra um livro. Ela apenas o folheia e o joga de lado, mas é justamente esse livro que dá o argumento da minissérie: ‘A Ilha Misteriosa’, de Júlio Verne. Se você pescou essa informação, então você terá uma experiência completamente diferente ao assistir a minissérie.
‘Admirável Mundo Novo’
Esse é o nome do primeiro episódio, mas é também o título de um livro de Aldous Huxley, publicado em 1932. Na trama dessa distopia, Bernard Marx sente-se insatisfeito com o mundo em que vive por ser diferente do restante da sua casta, que viviam em redutos como o que hoje conhecemos como reservas indígenas e com costumes mais “selvagens”. Bem parecido com o que acontece no primeiro episódio de ‘The I-Land’, que também é uma distopia.
Os prisioneiros
Em ‘The I-Land’ os participantes do experimento são dez prisioneiros que se voluntariaram no projeto. Na trama de Júlio Verne, são cinco prisioneiros de guerra que tentam escapar em um balão em plena Guerra Civil norte-americana.
Os personagens
Em ‘A Ilha Misteriosa’ os personagens são Cyrus, que é engenheiro ferroviário e oficial do exército (ou seja, Chase), Nab, o fiel escudeiro de Cyrus e que também é negro na história (Cooper), o marinheiro Pencroft (Brody, apenas porque na série falam que ele tem fósforos e bússola, embora não seja usada na história), seu filho Harbert (Mason, pois se autodeclara um bebê por precisar de cuidados), o jornalista Gideon (Hayden, a moça que parecia ter um dom pra literatura) e o cão Cyrus (Donovan, pois é quem fica obcecado por atenção e carinho).
A ilha
Em ‘A Ilha Misteriosa’, o grupo de prisioneiros foge num balão e acaba caindo numa ilha deserta, que mais tarde revela ter outra ilha menor. Aos poucos o grupo começa a perceber que a ilha esconde segredos que explicam por que um deles se machucou e conseguiu se curar sozinho (Donovan), como eles conseguem sobreviver na ilha, o surgimento de uma caixa com armas e ferramentas, entre outras coisas. O mesmo acontece na minissérie.
O barco
Na história original, o grupo constrói um barco para chegar na outra ilha. Na minissérie, Chase simplesmente avista uma espécie de tenda-bote flutuando no mar e a resgata. Mais tarde, Taylor a usa para tentar escapar e chega na outra ilha.
A tempestade
Como toda história de Júlio Verne, tem que ter uma tormenta. Ela ocorre quando o grupo decide explorar a outra ilha, enquanto na série ela ocorre num momento de discórdia, que obriga Chase a revelar o bote que encontrou para conseguir abrigar todo mundo.
A fogueira que atrai
Quando Chase encontra a chave da maleta misteriosa, ela sai correndo para o local onde a deixara enterrada, mas, no caminho, encontra Brody, que questiona por que tanta agitação, ao que ela disfarça dizendo que vira uma fogueira acesa e correra naquela direção para saber quem a teria acendido. No livro de Verne, após explorarem a outra ilha, o grupo retorna e corre atraído pela fumaça de uma fogueira acesa, que ninguém lembra de ter acendido.
Piratas
Em determinado ponto de ‘A Ilha Misteriosa’ o local é invadido por piratas, que colocam em risco a harmonia e a sobrevivência do grupo. Na minissérie esse papel é atribuído aos agentes infiltrados, que se inserem na ilha para provocar os participantes, com o intuito de manipular os resultados da experiência em andamento.
Duas ilhas
É preciso esclarecer que ‘I-Land’ não tem a ver com i-Phone ou com diminutivo de island (que quer dizer ilha em inglês.) Na verdade o I é o número romano correspondente ao número um, ou seja, o local onde eles estão é a Ilha Número 1, tanto que mais tarde Taylor acaba encontrando a Ilha Número 2, que é menorzinha. Assim como no livro de Verne, que possui duas ilhas, uma maior e outra menor.
O selvagem
No livro de Verne, ao chegar na outra ilha o grupo encontra Ayrton, um homem que vivia com hábitos selvagens. O mesmo acontece com Taylor na minissérie, que, ao chegar na Two-Land, encontra um canibal, que a faz comer os próprios dedos.
Capitão Nemo
Por fim, na história de Verne, o grupo descobre que a ilha é, na verdade, o esconderijo do submarino Nautilus, do Capitão Nemo, e que fora ele quem os salvara, enviara as caixas com utensílios e indicara sobre a outra ilha. Nem precisamos dizer que quem faz esse papel na minissérie é Wells, o diretor da prisão. Vale dizer que no final do livro, Nemo morre de velhice na ilha. O mesmo ocorre na minissérie ao final, quando Wells é enviado para a I-Land para morrer por lá.
A inundação
No final do livro de Verne a ilha explode e o grupo acaba sobrevivendo em apenas um pedaço da ilha, que conseguiu ficar acima do nível do mar. No final de ‘The I-Land’, a enfermeira avisa a Chase que muitas cidades desapareceram do mapa após o aumento do nível da água do mar. Então, Chase caminha pro lado de fora da prisão e vemos um Texas todo modernizado, porém completamente inundado, cercado de água por todos os lados.
Como vocês podem ver, ‘The I-Land’ oferece bem mais do que está sendo difundido. Ao que parece, a maioria das pessoas fez como a Taylor, que encontrou o livro e o jogou de lado, desprezando-a. Mas nós aqui do CinePop encontramos a mensagem da garrafa, e esperamos que essa matéria os ajude a olhar ‘The I-Land’ com novos olhos.