quinta-feira , 7 novembro , 2024

Entrevista | Gabriel Martins, diretor de MARTE UM : Representante do Brasil na Disputa por uma vaga no Oscar

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Após o lançamento de dois longas-metragens, O Nó do Diabo (2018) e No Coração do Mundo (2019) ao lado de Ian Abé, Ramon Porto Mota e Maurílio Martins, respectivamente, Gabriel Martins estreia na direção e roteiro solo em Marte Um.

Em entrevista exclusiva para o CinePOP, no dia 31 de agosto, o jovem diretor contou como surgiu a ideia do filme, suas inspirações e o processo de produção. Além disso, ele falou sobre as suas expectativas para o futuro do filme, anunciado hoje, dia 5 de setembro, como o representante do Brasil para disputar uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. 

Leia também: Crítica | Marte Um – O GRANDE Filme Brasileiro de 2022!

A partir dessa conversa listamos cinco motivos que tornam Marte Um, um filme imperdível e tão fascinante. Assim como o burburinho em torno de O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, e Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert, este é daqueles grandes cometas que passam retumbando pela cinematografia brasileira.

Realizado pela jovem (apenas 13 anos de mercado) e pequena produtora Filmes de Plásticos, Marte Um mistura toda a beleza da linguagem cinematográfica com questionamentos político-sociais. A obra consegue tocar o emocional do espectador, fazê-lo refletir sobre o seu lugar na sociedade, cutucar algumas feridas, ao mesmo tempo que produz um certo encanto e um suspiro de esperança.

Confira a entrevista com Gabriel Martins completa no YouTube ao final deste artigo. 

  1. Faz realidade virar sonho e sonho virar realidade

Parece lúdico? É exatamente este o objetivo do jovem cineasta de Contagem, cidade da região metropolitana de Minas Gerais. Inspirado na sua própria família e no seu desejo para o futuro, Gabriel conta que o pai da família, Wellington (Carlos Francisco), é baseado no seu tio, porteiro e fascinado por futebol. 

Não apenas o patriarca, mas ele mesmo diz: “o Deivinho é um pouco eu, quando era criança. (…) Toda essa família Martins, não tem esse nome à toa. Porque ela foi sendo formada a partir de experiências que fui tendo na vida, coisas que fui observando, sentimentos que eu tenho, coisas que eu gostaria de melhorar em mim e coisas que gostaria de falar sobre mim mesmo”. 

Assim como o Deivinho (Cícero Lucas) é fascinado por estudar o espaço e participar de uma missão espacial, Gabriel era aficionado por cinema e queria virar cineasta. Virou. 

  1. As Pessoas Negras Ocupam Outros Espaços

“O arquétipo da diarista é tão forte no Brasil, a gente pode pensar nessa herança da escravidão, dessa mulher preta que cuida o tempo todo. (…) Eu queria pegar esse personagem e colocar um outro tipo de conflito na vida dela, que não partisse da relação com o patrão”, explica Gabriel Martins sobre o personagem da mãe Tércia (Rejane Faria). 

Enquanto a mãe lida com uma crise espiritual, a filha mais velha, Eunice (Camilla Damião), de acordo com o roteirista/diretor, representa o futuro, “a possibilidade de construir uma nova família e afrontar os costumes da sua, principalmente o pai. (…) A Eunice é um pouco espelho e desejo de futuro da minha parte”, confessa. 

Sempre representados no meio de ambientes violentos, os negros de Marte Um é uma virada de chave cinematográfica, de acordo com o diretor. Ele afirma que : “essa associação frequente [com a violência] visava uma espetacularização deste corpo negro. Marte Um tenta falar desse outro lugar do sujeito negro, fora do eixo Rio-São Paulo, onde boa parte do mercado e das narrativas estão concentradas.” O que nos leva ao próximo ponto. 

  1. O Brasil não é só Rio-São Paulo e “Nordeste”

Você realmente conhece seu próprio país? Ao final das contas, nós somos mais de 200 milhões de pessoas espalhadas em um vasto território e com vivências díspares. Para Gabriel, “são várias as identidades brasileiras possíveis de estar na tela e Marte Um quer amplificar essas identidades e colocar o afeto como parte disso”. 

Desse modo, o produtor/diretor/roteirista é categórico sobre o lançamento :  “É uma reciclagem narrativa de pensar o Brasil de uma forma mais ampla”. Ele completa ao dizer que a função do seu filme é conectar-se com as pessoas e essa amplitude tem lhe proporcionado uma boa recepção de público e crítica. Segundo ele, o filme entrou entre os seis finalistas para representar o Brasil no Oscar graças ao apelo da audiência. 

  1. Referências de Spielberg, John Cassavetes, Trapalhões 

As referências cinematográficas de Gabriel Martins, como ele define, é uma sopa de letrinhas. Uma mistura de ingredientes que parece estranha no início, mas dá um bom caldo no fim. Ou seja, um filme cheio de referências pop e clássicas, além de figuras culturais como o jogador argentino Juan Pablo Sorín e o artista da internet Tokinho

“Tenho uma formação cinematográfica densa e popular”, explica Gabriel e cita Steven Spielberg (E.T, o extraterrestre), Chris Columbus (Esqueceram de Mim ) a John Cassavetes (Uma mulher sob Influência). Dos brasileiros, ele fala que vai desde os títulos de Os Trapalhões e Xuxa ao clássico de Leon Hirszman (Eles Não Usam Black-Tie). Além disso, há ainda os mais contemporâneos, como tailandês, ganhador da Palma de Ouro, no Festival de Cannes. Apichatpong Weerasethakul (Memória)

  1. A Estética conecta-se emocionalmente com as pessoas 

Com uma fotografia marcante e retumbante aos olhos em cenas chaves da narrativa, Marte Um prende o olhar em um desfile de beleza. O responsável por essa aventura pulsante é Leonardo Feliciano, direto de fotografia de Branco Sai, Preto Fica (2014), de Adirley Queirós, e também do trabalho anterior de Gabriel Martins, No Coração do Mundo

O diretor  explica que “a luz azul, bem azulada, elogia muito bem a peculiaridade de uma pele negra, como a dos atores em cena. A gente também pensou na presença marcada do sol pelos tons laranjas”. Em outras palavras, a estética aproxima o público da experiência lírica dos personagens com seus sonhos. 

Outra parte importante é a montagem. Responsável por trazer um ritmo candeciado entre os universos diferente de cada um dos quatro membros desta família. Na entrevista, Gabriel revela que a ideia do roteiro era apresentar união e separação, quatro narrativas que seguem seus próprios caminhos e se reencontram.

Confira abaixo a entrevista completa com Gabriel Martins, diretor do representante do Brasil ao Oscar 2023.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Após o lançamento de dois longas-metragens, O Nó do Diabo (2018) e No Coração do Mundo (2019) ao lado de Ian Abé, Ramon Porto Mota e Maurílio Martins, respectivamente, Gabriel Martins estreia na direção e roteiro solo em Marte Um.

Em entrevista exclusiva para o CinePOP, no dia 31 de agosto, o jovem diretor contou como surgiu a ideia do filme, suas inspirações e o processo de produção. Além disso, ele falou sobre as suas expectativas para o futuro do filme, anunciado hoje, dia 5 de setembro, como o representante do Brasil para disputar uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. 

Leia também: Crítica | Marte Um – O GRANDE Filme Brasileiro de 2022!

A partir dessa conversa listamos cinco motivos que tornam Marte Um, um filme imperdível e tão fascinante. Assim como o burburinho em torno de O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, e Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert, este é daqueles grandes cometas que passam retumbando pela cinematografia brasileira.

Realizado pela jovem (apenas 13 anos de mercado) e pequena produtora Filmes de Plásticos, Marte Um mistura toda a beleza da linguagem cinematográfica com questionamentos político-sociais. A obra consegue tocar o emocional do espectador, fazê-lo refletir sobre o seu lugar na sociedade, cutucar algumas feridas, ao mesmo tempo que produz um certo encanto e um suspiro de esperança.

Confira a entrevista com Gabriel Martins completa no YouTube ao final deste artigo. 

  1. Faz realidade virar sonho e sonho virar realidade

Parece lúdico? É exatamente este o objetivo do jovem cineasta de Contagem, cidade da região metropolitana de Minas Gerais. Inspirado na sua própria família e no seu desejo para o futuro, Gabriel conta que o pai da família, Wellington (Carlos Francisco), é baseado no seu tio, porteiro e fascinado por futebol. 

Não apenas o patriarca, mas ele mesmo diz: “o Deivinho é um pouco eu, quando era criança. (…) Toda essa família Martins, não tem esse nome à toa. Porque ela foi sendo formada a partir de experiências que fui tendo na vida, coisas que fui observando, sentimentos que eu tenho, coisas que eu gostaria de melhorar em mim e coisas que gostaria de falar sobre mim mesmo”. 

Assim como o Deivinho (Cícero Lucas) é fascinado por estudar o espaço e participar de uma missão espacial, Gabriel era aficionado por cinema e queria virar cineasta. Virou. 

  1. As Pessoas Negras Ocupam Outros Espaços

“O arquétipo da diarista é tão forte no Brasil, a gente pode pensar nessa herança da escravidão, dessa mulher preta que cuida o tempo todo. (…) Eu queria pegar esse personagem e colocar um outro tipo de conflito na vida dela, que não partisse da relação com o patrão”, explica Gabriel Martins sobre o personagem da mãe Tércia (Rejane Faria). 

Enquanto a mãe lida com uma crise espiritual, a filha mais velha, Eunice (Camilla Damião), de acordo com o roteirista/diretor, representa o futuro, “a possibilidade de construir uma nova família e afrontar os costumes da sua, principalmente o pai. (…) A Eunice é um pouco espelho e desejo de futuro da minha parte”, confessa. 

Sempre representados no meio de ambientes violentos, os negros de Marte Um é uma virada de chave cinematográfica, de acordo com o diretor. Ele afirma que : “essa associação frequente [com a violência] visava uma espetacularização deste corpo negro. Marte Um tenta falar desse outro lugar do sujeito negro, fora do eixo Rio-São Paulo, onde boa parte do mercado e das narrativas estão concentradas.” O que nos leva ao próximo ponto. 

  1. O Brasil não é só Rio-São Paulo e “Nordeste”

Você realmente conhece seu próprio país? Ao final das contas, nós somos mais de 200 milhões de pessoas espalhadas em um vasto território e com vivências díspares. Para Gabriel, “são várias as identidades brasileiras possíveis de estar na tela e Marte Um quer amplificar essas identidades e colocar o afeto como parte disso”. 

Desse modo, o produtor/diretor/roteirista é categórico sobre o lançamento :  “É uma reciclagem narrativa de pensar o Brasil de uma forma mais ampla”. Ele completa ao dizer que a função do seu filme é conectar-se com as pessoas e essa amplitude tem lhe proporcionado uma boa recepção de público e crítica. Segundo ele, o filme entrou entre os seis finalistas para representar o Brasil no Oscar graças ao apelo da audiência. 

  1. Referências de Spielberg, John Cassavetes, Trapalhões 

As referências cinematográficas de Gabriel Martins, como ele define, é uma sopa de letrinhas. Uma mistura de ingredientes que parece estranha no início, mas dá um bom caldo no fim. Ou seja, um filme cheio de referências pop e clássicas, além de figuras culturais como o jogador argentino Juan Pablo Sorín e o artista da internet Tokinho

“Tenho uma formação cinematográfica densa e popular”, explica Gabriel e cita Steven Spielberg (E.T, o extraterrestre), Chris Columbus (Esqueceram de Mim ) a John Cassavetes (Uma mulher sob Influência). Dos brasileiros, ele fala que vai desde os títulos de Os Trapalhões e Xuxa ao clássico de Leon Hirszman (Eles Não Usam Black-Tie). Além disso, há ainda os mais contemporâneos, como tailandês, ganhador da Palma de Ouro, no Festival de Cannes. Apichatpong Weerasethakul (Memória)

  1. A Estética conecta-se emocionalmente com as pessoas 

Com uma fotografia marcante e retumbante aos olhos em cenas chaves da narrativa, Marte Um prende o olhar em um desfile de beleza. O responsável por essa aventura pulsante é Leonardo Feliciano, direto de fotografia de Branco Sai, Preto Fica (2014), de Adirley Queirós, e também do trabalho anterior de Gabriel Martins, No Coração do Mundo

O diretor  explica que “a luz azul, bem azulada, elogia muito bem a peculiaridade de uma pele negra, como a dos atores em cena. A gente também pensou na presença marcada do sol pelos tons laranjas”. Em outras palavras, a estética aproxima o público da experiência lírica dos personagens com seus sonhos. 

Outra parte importante é a montagem. Responsável por trazer um ritmo candeciado entre os universos diferente de cada um dos quatro membros desta família. Na entrevista, Gabriel revela que a ideia do roteiro era apresentar união e separação, quatro narrativas que seguem seus próprios caminhos e se reencontram.

Confira abaixo a entrevista completa com Gabriel Martins, diretor do representante do Brasil ao Oscar 2023.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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