domingo , 22 dezembro , 2024

EXCLUSIVO: Entrevistamos Vincent Cassel, astro do maravilhoso ‘Meu Rei’

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O CinePOP entrevistou o astro Vincent Cassel, que chega aos cinemas nacionais neste final de semana com o premiado drama ‘Meu Rei‘ (Mon Roi).

O incrível drama da diretora e roteirista Maïwenn é uma pequena obra-prima do cinema francês.



» Crítica | Meu Rei

Confira:

Assista também:
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ENTREVISTA COM VINCENT CASSEL

Fale sobre como conheceu Maïwenn.

Foi muito simples. Eu sabia que ela queria trabalhar comigo, então nos encontramos. Eu sempre adorei os filmes dela, sua perspectiva bem moderna e a forma que ela tem de se reinventar em seus filmes. Isso demonstra uma força de caráter muito incomum. Maïwenn tem uma abordagem muito particular da arte e eu queria experimentar.

 

Quais foram seus pensamentos iniciais sobre o personagem Georgio?

Nas primeiras versões do roteiro, as peculiaridades dele eram muito descaradas. Eu achei que ele não tinha nuances suficientes; ele era um desgraçado absoluto. Quando um não quer, dois não brigam: eu sempre pensei que seria interessante restabelecer o equilíbrio entre os dois personagens. Maïwenn respondeu muito positivamente a isso, mas eu continuei a trabalhar esse aspecto no set, tentando fazer dele um cara lutando contra seus próprios demônios ao invés de um puro filho da mãe.

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Apesar disso, ele é único…

Ele tenta agradar a gregos e troianos, tenta ficar com a mulher que ama, mas sem abandonar a ex, por quem ele se sente responsável. Não se deve perder de vista que a história de Tony só é contada a partir de um ponto de vista – o de uma mulher. É a versão fantasiosa do homem por quem ela está apaixonada, dentro do tormento dela. Isso é traduzido bem pelo título do filme – MEU REI – que soa um pouco como uma declaração de amor e de passividade diante de alguém que roubou seu coração. Georgio nunca é filmado sozinho.

 

Você acha que tem algo a ver com ele?

Sim e não. Eu adorei interpretá-lo, embora às vezes achasse que ele ia longe demais. Eu gosto do lado inacessível dele, e de seu humor. Ele é difícil de entender, um vigarista, que venderia sua camisa e mentiria para se livrar de uma situação, sem a menor ideia do que acontecerá depois. Mas o lado suicida dele o torna agradável.

 

O que você fez para construir o personagem?

Eu senti a direção em que ela queria ir. Ela tem uma antena muito apurada, com uma percepção muito sensitiva das coisas, ela pode rapidamente enxergar seus potenciais e suas falhas. Trabalhar com ela consiste basicamente em aceitar se desnudar. Você dá tudo para ela, ela pega o que quiser. Eu confiei no olhar dela. Daí em diante, eu me diverti brincando com as coisas. Ela me dava uma lista de coisas sobre o Giorgio e eu dizia a ela que não tinha lido. Chegando no set, eu agia como o cara que não sabia de nada. Eu perguntava para ela “Quais cenas vamos filmar hoje?”, ela respondia “Você sabe, a cena em que ele retorna finalmente.” “Jura? Eu fui embora?” Era uma forma de jogar o jogo dela: por ela esperar que estivéssemos no presente, eu fazia além disso. Contanto que eu continuasse evasivo, sabia que estava no caminho certo.

 

Você tinha referências em mente?

Nenhuma. Eu nunca tenho. O cinema acontece muito no momento por causa disso.Por exemplo, por mais que eu adore Jean-Pierre Marielle, não pensei nele por um segundo quando estava filmando DOCE VENENO, ou talvez Vittorio Gassman em OS ETERNOS DESCONHECIDOS.

 

Maïwenn é conhecida por ter um jeito muito particular com atores.

Ela tem uma imagem de ser um pouco difícil. E tem mais, ainda me avisaram quanto a isso antes de as filmagens começarem. Eu acho que, acima de tudo, ela precisa de reconhecimento e precisa ser amada. Se ela fosse tão insuportável quanto dizem que é, três quartos das pessoas da equipe dela, que estão com ela desde o início e têm muito afeto e respeito por ela, não estariam lá. Pelo contrário, eu me senti particularmente livre no set dela. Ela ouve e observa. Ela não está interessada em poder, nem em subterfúgios, e é tão exigente consigo mesma quanto é com os atores. Se uma cena não parecer verdadeira ou não surpreendê-la, nós começamos de novo. Ela nunca deixa a bola cair. Mas, se estiver boa, está boa; nós continuamos.

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Como você definiria MEU REI?

É uma declaração de amor de uma mulher em sofrimento para o homem que ela ama; uma confissão. Você não escolhe por quem se apaixona. Não importa o que vai ser de Georgio; é Tony quem conta.

 

Fale um pouco sobre sua colega, Emmanuelle Bercot.

Quando Maïwenn e eu nos encontramos, eu logo perguntei se ela ia interpretar a Tony. “Eu não, Emmanuelle Bercot”, ela respondeu. “Se não for ela, não estou interessada em fazer o filme”. Eu não conhecia Emmanuelle, mas consegui perceber que a cabeça de Maïwenn estava feita. Emmanuelle acabou sendo uma parceira fantástica. Ela se pôs a serviço de Maïwenn com grande generosidade e autossacrifício. Foi ainda mais difícil para ela, porque Tony não tem nada a ver com a natureza dela. Tony é realmente o centro do filme. Foi complicado, mas Emmanuelle nunca teve medo de se doar.

 

Em MEU REI, há uma cena maravilhosa em que seu personagem toma o lugar de um garçom num restaurante na Normandia para comemorar o aniversário de seu filho. É comédia pura.

É muito agradável porque, de repente, temos tomadas abertas. Ele está brincando para divertir seu filho e Tony entende que, apesar de tudo que os afasta, e embora ela tenha o deixado, Georgio ainda é o pai ideal. Todas as contradições deles são cristalizadas nesse momento, que praticamente não tem diálogos. Eu diria que é quase um momento de dança. Meu pai poderia muito bem ter feito a cena. Georgio tem os tipos de movimentos que você veria numa comédia de Philippe de Broca.

 

Sua semelhança com ele no filme é fascinante.

Eu sei, é quase assombrante. Conforme você envelhece, você fica cada vez mais parecido com seus pais, talvez esse seja o segredo da imortalidade.

 

Você recentemente participou de DOCE VENENO, de Jean-François Richet, e O CONTO DOS CONTOS, de Matteo Garrone. Em 2016, você estará nas telas em O GRANDE CIRCO MÍSTICO, de Carlos Diegues, e JUSTE LA FIN DU MONDE, de Xavier Dolan. Você parece estar trabalhando mais do que nunca.

Por um bom tempo eu achei que era melhor trabalhar pouco, ser discreto, preservar um certo mistério. Mas nos últimos anos, eu quis atuar mais. Fiz uma sucessão de projetos; eu tento fazer o que me interessa no momento que chega.

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Fale sobre como conheceu Maïwenn.

Foi muito simples. Eu sabia que ela queria trabalhar comigo, então nos encontramos. Eu sempre adorei os filmes dela, sua perspectiva bem moderna e a forma que ela tem de se reinventar em seus filmes. Isso demonstra uma força de caráter muito incomum. Maïwenn tem uma abordagem muito particular da arte e eu queria experimentar.

 

Quais foram seus pensamentos iniciais sobre o personagem Georgio?

Nas primeiras versões do roteiro, as peculiaridades dele eram muito descaradas. Eu achei que ele não tinha nuances suficientes; ele era um desgraçado absoluto. Quando um não quer, dois não brigam: eu sempre pensei que seria interessante restabelecer o equilíbrio entre os dois personagens. Maïwenn respondeu muito positivamente a isso, mas eu continuei a trabalhar esse aspecto no set, tentando fazer dele um cara lutando contra seus próprios demônios ao invés de um puro filho da mãe.

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Apesar disso, ele é único…

Ele tenta agradar a gregos e troianos, tenta ficar com a mulher que ama, mas sem abandonar a ex, por quem ele se sente responsável. Não se deve perder de vista que a história de Tony só é contada a partir de um ponto de vista – o de uma mulher. É a versão fantasiosa do homem por quem ela está apaixonada, dentro do tormento dela. Isso é traduzido bem pelo título do filme – MEU REI – que soa um pouco como uma declaração de amor e de passividade diante de alguém que roubou seu coração. Georgio nunca é filmado sozinho.

 

Você acha que tem algo a ver com ele?

Sim e não. Eu adorei interpretá-lo, embora às vezes achasse que ele ia longe demais. Eu gosto do lado inacessível dele, e de seu humor. Ele é difícil de entender, um vigarista, que venderia sua camisa e mentiria para se livrar de uma situação, sem a menor ideia do que acontecerá depois. Mas o lado suicida dele o torna agradável.

 

O que você fez para construir o personagem?

Eu senti a direção em que ela queria ir. Ela tem uma antena muito apurada, com uma percepção muito sensitiva das coisas, ela pode rapidamente enxergar seus potenciais e suas falhas. Trabalhar com ela consiste basicamente em aceitar se desnudar. Você dá tudo para ela, ela pega o que quiser. Eu confiei no olhar dela. Daí em diante, eu me diverti brincando com as coisas. Ela me dava uma lista de coisas sobre o Giorgio e eu dizia a ela que não tinha lido. Chegando no set, eu agia como o cara que não sabia de nada. Eu perguntava para ela “Quais cenas vamos filmar hoje?”, ela respondia “Você sabe, a cena em que ele retorna finalmente.” “Jura? Eu fui embora?” Era uma forma de jogar o jogo dela: por ela esperar que estivéssemos no presente, eu fazia além disso. Contanto que eu continuasse evasivo, sabia que estava no caminho certo.

 

Você tinha referências em mente?

Nenhuma. Eu nunca tenho. O cinema acontece muito no momento por causa disso.Por exemplo, por mais que eu adore Jean-Pierre Marielle, não pensei nele por um segundo quando estava filmando DOCE VENENO, ou talvez Vittorio Gassman em OS ETERNOS DESCONHECIDOS.

 

Maïwenn é conhecida por ter um jeito muito particular com atores.

Ela tem uma imagem de ser um pouco difícil. E tem mais, ainda me avisaram quanto a isso antes de as filmagens começarem. Eu acho que, acima de tudo, ela precisa de reconhecimento e precisa ser amada. Se ela fosse tão insuportável quanto dizem que é, três quartos das pessoas da equipe dela, que estão com ela desde o início e têm muito afeto e respeito por ela, não estariam lá. Pelo contrário, eu me senti particularmente livre no set dela. Ela ouve e observa. Ela não está interessada em poder, nem em subterfúgios, e é tão exigente consigo mesma quanto é com os atores. Se uma cena não parecer verdadeira ou não surpreendê-la, nós começamos de novo. Ela nunca deixa a bola cair. Mas, se estiver boa, está boa; nós continuamos.

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Como você definiria MEU REI?

É uma declaração de amor de uma mulher em sofrimento para o homem que ela ama; uma confissão. Você não escolhe por quem se apaixona. Não importa o que vai ser de Georgio; é Tony quem conta.

 

Fale um pouco sobre sua colega, Emmanuelle Bercot.

Quando Maïwenn e eu nos encontramos, eu logo perguntei se ela ia interpretar a Tony. “Eu não, Emmanuelle Bercot”, ela respondeu. “Se não for ela, não estou interessada em fazer o filme”. Eu não conhecia Emmanuelle, mas consegui perceber que a cabeça de Maïwenn estava feita. Emmanuelle acabou sendo uma parceira fantástica. Ela se pôs a serviço de Maïwenn com grande generosidade e autossacrifício. Foi ainda mais difícil para ela, porque Tony não tem nada a ver com a natureza dela. Tony é realmente o centro do filme. Foi complicado, mas Emmanuelle nunca teve medo de se doar.

 

Em MEU REI, há uma cena maravilhosa em que seu personagem toma o lugar de um garçom num restaurante na Normandia para comemorar o aniversário de seu filho. É comédia pura.

É muito agradável porque, de repente, temos tomadas abertas. Ele está brincando para divertir seu filho e Tony entende que, apesar de tudo que os afasta, e embora ela tenha o deixado, Georgio ainda é o pai ideal. Todas as contradições deles são cristalizadas nesse momento, que praticamente não tem diálogos. Eu diria que é quase um momento de dança. Meu pai poderia muito bem ter feito a cena. Georgio tem os tipos de movimentos que você veria numa comédia de Philippe de Broca.

 

Sua semelhança com ele no filme é fascinante.

Eu sei, é quase assombrante. Conforme você envelhece, você fica cada vez mais parecido com seus pais, talvez esse seja o segredo da imortalidade.

 

Você recentemente participou de DOCE VENENO, de Jean-François Richet, e O CONTO DOS CONTOS, de Matteo Garrone. Em 2016, você estará nas telas em O GRANDE CIRCO MÍSTICO, de Carlos Diegues, e JUSTE LA FIN DU MONDE, de Xavier Dolan. Você parece estar trabalhando mais do que nunca.

Por um bom tempo eu achei que era melhor trabalhar pouco, ser discreto, preservar um certo mistério. Mas nos últimos anos, eu quis atuar mais. Fiz uma sucessão de projetos; eu tento fazer o que me interessa no momento que chega.

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