quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Falcão e o Soldado Invernal | O calvário de John Walker e o legado do Capitão América

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[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE POSSÍVEIS SPOILERS] 

Se você ainda não assistiu ao quarto episódio de Falcão e o Soldado Invernal, não leia esta matéria se não quiser receber spoilers.



Odiado pelos fãs desde sua primeira aparição, o soldado John Walker, brilhantemente interpretado por Wyatt Russell, foi anunciado como o novo Capitão América do governo americano. Ação tomada após convencerem Sam Wilson (Anthony Mackie) a ceder o escudo de Steve Rogers (Chris Evans) para o museu. Tentando dar continuidade ao legado do seu herói de infância, John viaja pelo mundo na expectativa de resolver os problemas na base da violência. Só que ele começa a ver que as coisas não funcionam tão bem desse jeito, mas também não parece entender ou buscar outra visão para encarar os causos que ele precisa enfrentar. É um personagem complexo que consegue adaptar bem sua contraparte dos quadrinhos e ainda levanta questões importantes sobre a causa militar dos Estados Unidos.

Antes de ser anunciado como o novo Capitão América, John Walker se mostrou inseguro sobre aceitar o cargo.

O John Walker da série vem sendo construído como um soldado exemplar que apresenta todos os sintomas de quem sofre de PSPT (Perturbação de Stress Pós-Traumático). Logo, ele é impulsivo e atormentado por ações que tomou no passado. É uma situação complicada na qual alguém engolido pela própria insegurança está sendo promovido a vida pública em um cargo para o qual ele não se acha digno ou capaz de ocupar. Esse transtorno de Estresse Pós-Traumático é muito comum nos veteranos de guerra dos EUA. A questão é tão famosa que virou a temática principal do primeiro filme do Rambo, que falava bastante sobre os tormentos psicológicos dos sobreviventes e heróis de guerra, e de todo o descaso do governo americano por aqueles que arriscaram suas vidas em nome dos interesses do país.

Assista também:
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A insegurança é um grande problema para o novo Capitão América.

Os soldados diagnosticados com PSPT costumam ter diferentes sequelas. Alguns acabam cedendo ao alcoolismo ou ao vício em drogas, como a cocaína e a metanfetamina, tomando eles como forma de escape da realidade ou de amenizar a agonia mental que os atormenta. Assim como a agressividade e a impulsividade gerada pelas crises de ansiedade, o que afeta diretamente familiares e amigos. É uma situação muito triste e perigosa que pode trazer consequências terríveis se o afetado não receber o devido tratamento psicológico. No caso de John Walker, ele não se vicia em bebidas ou drogas, mas cria uma verdadeira obsessão pelo Soro do Supersoldado. Na mente do soldado, seus fracassos e erros estão diretamente relacionados – e supostamente justificados – por não ter acesso ao soro que conferiu agilidade e força sobre-humanas a Steve.

O modo impulsivo de agir e a agressividade se mostraram problemas graves nas missões de Walker.

Então, precisamos voltar para Capitão América: O Primeiro Vingador (2011), onde o Dr. Abraham Erskine (Stanley Tucci) explica para Steve Rogers, na noite anterior ao procedimento, que o Soro do Supersoldado é um anabolizante que potencializa tudo aquilo que o voluntário já tem dentro de si. Se ele tiver coisas boas, ficará melhor. Se tiver coisas ruins, ficará pior. Além, claro, de passar pela irradiação dos Raios Vita, que estabilizariam o soro e aumentariam o potencial de crescimento. Quando John consegue injetar o soro em si mesmo, ele não passa pelos Raios Vita, o que já aumenta a instabilidade da substância no corpo dele. Além disso, os transtornos mentais, a insegurança e a agressividade foram ampliados. John Walker não é uma má pessoa, mas agora é um super-humano afogado na própria insegurança, impulsividade e vontade de cumprir sua missão a qualquer custo, diferentemente de Steve, que era esperançoso, estrategista e nutria uma vontade de ajudar. Apesar de serem parecidos, os sentimentos de querer ajudar e de querer cumprir missões são muito diferentes. E isso é perigoso. Muito perigoso.

“Você é um homem bom, Steve”

Em meio a essa trama de insegurança e instabilidade de John Walker, temos Sam Wilson, o herói escanteado que já tinha enormes traços de heroísmo antes mesmo de vestir as asas e o motor para ajudar o Capitão América original em missões pelo mundo. Conforme mostrado em Capitão América: O Soldado Invernal (2014) e reforçado pela própria série, Sam passou anos desenvolvendo um trabalho de reabilitação com os veteranos de guerra. Essa atitude foi tão marcante que inspirou Steve Rogers a liderar um grupo de reabilitação para os sobreviventes do estalar de dedos de Thanos, em Vingadores: Ultimato (2019). É algo surreal o seu trabalho inspirar o maior símbolo de inspiração daquele universo. E como a série fez questão de reafirmar, Sam continua com essa mentalidade conciliadora e de ajudar a tentar superar os traumas do combate.

Um verdadeiro herói ajuda os outros independentemente do tamanho do problema. E Sam se mostra disposto a resolver de situações pessoais de ex-combatentes a ameaças interplanetárias.

Dessa forma, Falcão e o Soldado Invernal tem uma chance única no Universo Cinematográfico Marvel de resolver o conflito do protagonista com o antagonista de forma pacífica e extremamente humana. Seria de uma nobreza e importância enorme o Falcão convencer o novo Capitão América a aceitar ajuda e trabalhar seus problemas de forma adulta, encaminhando John Walker para o apoio psicológico. Isso diminuiria o peso das ações criminosas e erradas de John? De forma alguma. “Ah, mas a gente quer ver pancadaria e sopapo”. Bem, é pra isso que temos o Barão Zemo (Daniel Brühl) foragido por aí, não é mesmo? Esse aspecto clássico da violência contra a caricatura vilanesca poderia ser deixada para Zemo, o personagem que foi desenvolvido até aqui mais próximo da pegada maquiavélica dos quadrinhos. Termos um herói capaz de desmontar seu rival com um discurso de ajuda e conciliação é exatamente aquilo que o escudo e o traje do Capitão América representam, e isso impõe um tipo de respeito que soco nenhum é capaz de criar. Seria incrível.

Não há forma mais honrosa de Sam se tornar o substituto do Capitão América do que inspirando pessoas a serem melhores.

No entanto, as chances disso acontecer não parecem tão próximas, já que grande parte do público reclamaria da falta de violência. Fato é que o próximo a assumir o legado do Capitão América terá de lidar com duas grandes manchas: o racismo velado do governo ter preterido Sam por John, e os vídeos do atual Capitão América assassinando a sangue frio um dos Apátridas em praça pública. E isso passa diretamente pela construção fantástica do personagem de John Walker e sua luta pessoal contra um inimigo invisível que foi potencializado pela irresponsabilidade e preconceito do governo americano.

O legado do Capitão América foi arranhado de forma brusca. O próximo a portar o escudo, se houver próximo, terá um peso ainda maior de tentar recuperar a imagem de esperança que o herói um dia foi.

Os novos episódios de Falcão e o Soldado Invernal estreiam toda sexta-feira no Disney+

 

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Se você ainda não assistiu ao quarto episódio de Falcão e o Soldado Invernal, não leia esta matéria se não quiser receber spoilers.

Odiado pelos fãs desde sua primeira aparição, o soldado John Walker, brilhantemente interpretado por Wyatt Russell, foi anunciado como o novo Capitão América do governo americano. Ação tomada após convencerem Sam Wilson (Anthony Mackie) a ceder o escudo de Steve Rogers (Chris Evans) para o museu. Tentando dar continuidade ao legado do seu herói de infância, John viaja pelo mundo na expectativa de resolver os problemas na base da violência. Só que ele começa a ver que as coisas não funcionam tão bem desse jeito, mas também não parece entender ou buscar outra visão para encarar os causos que ele precisa enfrentar. É um personagem complexo que consegue adaptar bem sua contraparte dos quadrinhos e ainda levanta questões importantes sobre a causa militar dos Estados Unidos.

Antes de ser anunciado como o novo Capitão América, John Walker se mostrou inseguro sobre aceitar o cargo.

O John Walker da série vem sendo construído como um soldado exemplar que apresenta todos os sintomas de quem sofre de PSPT (Perturbação de Stress Pós-Traumático). Logo, ele é impulsivo e atormentado por ações que tomou no passado. É uma situação complicada na qual alguém engolido pela própria insegurança está sendo promovido a vida pública em um cargo para o qual ele não se acha digno ou capaz de ocupar. Esse transtorno de Estresse Pós-Traumático é muito comum nos veteranos de guerra dos EUA. A questão é tão famosa que virou a temática principal do primeiro filme do Rambo, que falava bastante sobre os tormentos psicológicos dos sobreviventes e heróis de guerra, e de todo o descaso do governo americano por aqueles que arriscaram suas vidas em nome dos interesses do país.

A insegurança é um grande problema para o novo Capitão América.

Os soldados diagnosticados com PSPT costumam ter diferentes sequelas. Alguns acabam cedendo ao alcoolismo ou ao vício em drogas, como a cocaína e a metanfetamina, tomando eles como forma de escape da realidade ou de amenizar a agonia mental que os atormenta. Assim como a agressividade e a impulsividade gerada pelas crises de ansiedade, o que afeta diretamente familiares e amigos. É uma situação muito triste e perigosa que pode trazer consequências terríveis se o afetado não receber o devido tratamento psicológico. No caso de John Walker, ele não se vicia em bebidas ou drogas, mas cria uma verdadeira obsessão pelo Soro do Supersoldado. Na mente do soldado, seus fracassos e erros estão diretamente relacionados – e supostamente justificados – por não ter acesso ao soro que conferiu agilidade e força sobre-humanas a Steve.

O modo impulsivo de agir e a agressividade se mostraram problemas graves nas missões de Walker.

Então, precisamos voltar para Capitão América: O Primeiro Vingador (2011), onde o Dr. Abraham Erskine (Stanley Tucci) explica para Steve Rogers, na noite anterior ao procedimento, que o Soro do Supersoldado é um anabolizante que potencializa tudo aquilo que o voluntário já tem dentro de si. Se ele tiver coisas boas, ficará melhor. Se tiver coisas ruins, ficará pior. Além, claro, de passar pela irradiação dos Raios Vita, que estabilizariam o soro e aumentariam o potencial de crescimento. Quando John consegue injetar o soro em si mesmo, ele não passa pelos Raios Vita, o que já aumenta a instabilidade da substância no corpo dele. Além disso, os transtornos mentais, a insegurança e a agressividade foram ampliados. John Walker não é uma má pessoa, mas agora é um super-humano afogado na própria insegurança, impulsividade e vontade de cumprir sua missão a qualquer custo, diferentemente de Steve, que era esperançoso, estrategista e nutria uma vontade de ajudar. Apesar de serem parecidos, os sentimentos de querer ajudar e de querer cumprir missões são muito diferentes. E isso é perigoso. Muito perigoso.

“Você é um homem bom, Steve”

Em meio a essa trama de insegurança e instabilidade de John Walker, temos Sam Wilson, o herói escanteado que já tinha enormes traços de heroísmo antes mesmo de vestir as asas e o motor para ajudar o Capitão América original em missões pelo mundo. Conforme mostrado em Capitão América: O Soldado Invernal (2014) e reforçado pela própria série, Sam passou anos desenvolvendo um trabalho de reabilitação com os veteranos de guerra. Essa atitude foi tão marcante que inspirou Steve Rogers a liderar um grupo de reabilitação para os sobreviventes do estalar de dedos de Thanos, em Vingadores: Ultimato (2019). É algo surreal o seu trabalho inspirar o maior símbolo de inspiração daquele universo. E como a série fez questão de reafirmar, Sam continua com essa mentalidade conciliadora e de ajudar a tentar superar os traumas do combate.

Um verdadeiro herói ajuda os outros independentemente do tamanho do problema. E Sam se mostra disposto a resolver de situações pessoais de ex-combatentes a ameaças interplanetárias.

Dessa forma, Falcão e o Soldado Invernal tem uma chance única no Universo Cinematográfico Marvel de resolver o conflito do protagonista com o antagonista de forma pacífica e extremamente humana. Seria de uma nobreza e importância enorme o Falcão convencer o novo Capitão América a aceitar ajuda e trabalhar seus problemas de forma adulta, encaminhando John Walker para o apoio psicológico. Isso diminuiria o peso das ações criminosas e erradas de John? De forma alguma. “Ah, mas a gente quer ver pancadaria e sopapo”. Bem, é pra isso que temos o Barão Zemo (Daniel Brühl) foragido por aí, não é mesmo? Esse aspecto clássico da violência contra a caricatura vilanesca poderia ser deixada para Zemo, o personagem que foi desenvolvido até aqui mais próximo da pegada maquiavélica dos quadrinhos. Termos um herói capaz de desmontar seu rival com um discurso de ajuda e conciliação é exatamente aquilo que o escudo e o traje do Capitão América representam, e isso impõe um tipo de respeito que soco nenhum é capaz de criar. Seria incrível.

Não há forma mais honrosa de Sam se tornar o substituto do Capitão América do que inspirando pessoas a serem melhores.

No entanto, as chances disso acontecer não parecem tão próximas, já que grande parte do público reclamaria da falta de violência. Fato é que o próximo a assumir o legado do Capitão América terá de lidar com duas grandes manchas: o racismo velado do governo ter preterido Sam por John, e os vídeos do atual Capitão América assassinando a sangue frio um dos Apátridas em praça pública. E isso passa diretamente pela construção fantástica do personagem de John Walker e sua luta pessoal contra um inimigo invisível que foi potencializado pela irresponsabilidade e preconceito do governo americano.

O legado do Capitão América foi arranhado de forma brusca. O próximo a portar o escudo, se houver próximo, terá um peso ainda maior de tentar recuperar a imagem de esperança que o herói um dia foi.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
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