‘Fallout’ se tornou, em pouco tempo, uma das melhores produções do ano ao se sagrar como uma ótima adaptação da icônica franquia de games hoje supervisionada pela Bethesda. É claro que isso não seria possível sem a força conjunta de Lisa Joy e Jonathan Nolan, que já haviam trabalhado juntos em ‘Westworld’ – série da HBO que carrega algumas incursões bastante similares ao título do Prime Video.
A trama é ambientada em uma realidade alternativa do século XXII, em que os Estados Unidos sofrem com as consequências de um ataque nuclear – levando os humanos sobreviventes a se confinarem nos Refúgios, espécies de Cofres subterrâneos e antirradiação, até estarem aptos para repopularem uma nação em frangalhos. Entretanto, em meio a segredos obscuros e a mentiras que se escondem à plena vista, é notável como algo muito mais mortal se esconde nesses bunkers e até mesmo na desolada superfície.
Uma das entidades citadas constantemente ao longo da narrativa é a Vault-Tec Corporation, uma indústria de tecnologia defensiva que existia antes mesmo dos eventos que devastaram os EUA – e, como pudemos ver, ela foi a principal responsável pela guerra nuclear.
Afinal, a corporação em questão se imortalizou como uma proeminente indústria bélica que esquadrinhou um plano de defesa após a Guerra Euro-Média Oriente e a Nova Praga nos anos 2050, colocando em prática um projeto conhecido como Esconderijo assim que as Nações Unidas entraram em colapso. Este enorme esforço de defesa nacional pretendia criar abrigos que protegessem a população no caso de uma guerra nuclear. Afinal, a Vault-Tec estava preparada para tal eventualidade – mas precisava de um respaldo sólido para que o plano fosse, de fato, concretizado. Após ganhar os contratos do governo para criar os designs dos Refúgios como os vemos na série, eles deram continuidade a uma artimanha que, sem sombra de dúvida, ocultava suas verdadeiras intenções.
Conforme nos aproximamos do season finale, percebemos que a época pré-guerra foi marcada por um grande avanço tecnológico, condizente com a atmosfera atompunk construída por Tim Cain e que também atuaria nas incursões retrofuturistas. Dentro desse escopo, fomos apresentados a Walton Goggins como Cooper Howard, um famoso ator de Hollywood que foi escalado, através de sua esposa Barb (Frances Turner), para ser o garoto-propaganda de um novo “produto” da Vault-Tec – o Refúgio como o conhecemos. À época, em 2077, a corporação ainda estava realizando testes para os abrigos subterrâneos e apenas incitava certas teorias da conspiração que premeditariam uma guerra nuclear, levando a população estadunidense a se preparar para o inevitável.
O que ninguém imaginava é que a inevitabilidade da qual os executivos da Vault-Tec seria concretizada por eles próprios. Após cruzar caminho com Lee Moldaver (Sarita Choudhury), uma forte opositora aos membros da companhia de tecnologia que aconselhou a Cooper que colocasse uma escuta para entender o que a própria esposa estava escondendo durante as reuniões com os outros executivos. Apesar de relutante em espionar o trabalho da mulher que amava e que estava apenas tentando salvá-los de uma provável guerra nuclear, ele coloca a escuta e descobre que, na verdade, a Vault-Tec foi a responsável por disparar as bombas atômicas e destruir a humanidade.
É-nos revelado no último episódio da temporada que as fortunas dos executivos da companhia, que coletavam seus ganhos com o prospecto bélico, estavam ameaçadas com um possível tratado de paz entre as nações em guerra – tornando os Refúgios que construíram totalmente obsoletos. Logo, não havia alternativa a não ser começar a guerra por conta própria para garantirem que os abrigos não se tornassem apenas relíquias inutilizáveis. E isso não é tudo: esses magnatas fecharam acordo com outras companhias, como a Westec, dando-lhes poder livre para focarem em experimentos insanos e inexplicáveis com humanos. Assim, cada uma dessas indústrias competiria para ver quem tinha a melhor liderança para um Estados Unidos pós-guerra, dando origem a uma corrida capitalista e neoimperialista pelo controle do futuro (ou seja, do próprio tempo).
É aí que compreendemos os bizarros eventos de alguns Refúgios: o 33, lar de Lucy (Ella Purnell), é um experimento liderado pelo próprio pai, Hank (Kyle MacLachlan), ex-executivo da Vault-Tec, que foca nas ramificações de uma meritocracia (e cujas relações de matrimônio e até mesmo de subserviência são controladas por magnatas da corporação que ficam em câmaras de criogênio no Refúgio 31 desde a explosão das bombas atômicas). Já no 04, vemos experiências genéticas e extremamente insanas que envolvem membros do próprio abrigo e que dão origem às criaturas monstruosas que conseguiram fugir para a superfície – como os perigosos Gulpers.