sábado, abril 27, 2024

Festival de Berlim 2024 | Gael Garcia Bernal, Adam Sandler, Rooney Mara e polêmicas são destaques da Competição

O Festival de Cinema de Berlim (ou Berlinale) é um dos maiores festivais da Europa depois de Cannes e Veneza, além de ser o pontapé inicial das produções do ano. A partir desta quinta-feira, 15 de fevereiro, as ruas da Potsdamer Platz, no centro de Berlim, serão tomadas pelos tapetes vermelhos com a estreia mundial de Small Things Like These, filme de abertura do evento e baseado no romance histórico da autora irlandesa Claire Keegan.

Com o júri presidido pela mexicana-queniana Lupita Nyong’o, entre 15 e 25 de fevereiro, o evento recebe grandes nomes do cinema mundial e lança a primeira competição da temporada: a disputa pelo Urso de Ouro. Como no ano passado (veja tudo aqui), o CinePOP terá uma cobertura especial in loco para contar os detalhes em primeira mão dos lançamentos, as novidades, além das discussões e polêmicas dos bastidores. 

Principal Polêmica Entre os Convidados

Quando às críticas não estão direcionadas a seleção oficial e a contínua disparidade de gênero, com 20 filmes, apenas seis dirigidos por mulheres (e dois deles em co-direção com homens), ela é no âmbito social-político. Os organizadores do Festival de Berlim desconvidaram cinco membros do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) da cerimônia de abertura.

© Dirk Michael Deckbar

Após semanas de discussão e uma carta aberta assinada por mais de 200 profissionais do cinema, os quais declararam ser “incompatível” com o compromisso do festival a presença de pessoas contra princípios básicos de empatia. Até a última quinta, dia 8 de fevereiro, os organizadores da Berlinale mantiveram a sua decisão, mas o debate tornou-se mais acalorado quando relatórios sobre uma reunião secreta dos políticos da AfD e ativistas neonazis vieram à luz do dia. 

Nessa reunião, eles discutem um “plano diretor” de deportações em massa no caso de o partido chegar ao poder. Vale lembrar que em 2019, o então diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, convidou os membros da AfD a participar no festival, instigando-os a ver um filme sobre a realidade da vida no gueto de Varsóvia. No fim das contas, a declaração é: “ todos os políticos da AfD anteriormente convidados (…) não são bem-vindos na Berlinale.”

Filmes em Sessão Especial 

SPACEMAN. Adam Sandler , como Jakub em Spaceman. Netflix © 2023.

A atenção, entretanto, não estão somente nas polêmicas e na mostra competitiva, mas também na seleção Berlinale Special Gala, como as aguardadas produções: Spaceman, da Netflix, com Adam Sandler e Carey Mulligan; Love Lies Bleeding, com Kristen Stewart (presidente do júri do ano passado), recém-lançado em Sundance, em janeiro; e o suspense Cuckoo, com Hunter Schafer (da série Euphoria).

Dirigido pelo sueco Johan Renck, Spaceman é adaptação da obra literária Spaceman of Bohemia, de Jaroslav Kalfar, e mistura drama e ficção-científica. Aclamado pela minissérie Chernobyl (2019), o diretor teve passagens pela direção de Walking Dead e Breaking Bad, além de vários clipes musicais. Com estreia para dia 1° de março na plataforma de streaming, este pode ser considerado o primeiro longa-metragem do diretor, embora ele tenha dirigido o desconhecido A Libertação de Nancy (2008).

Love Lies Bleeding, de Rose Glass

Com 90% de aprovação no Rotten Tomatoes, depois da première norte-americana em Sundance, Love Lies Bleeding chega à Europa com grandes expectativas. Produção da A24, este é o segundo filme de Rose Glass após o sucesso do terror Saint Maud (2019). Um filme com semelhante trajetória foi Vidas Passadas, de Celine Song, apresentado em Sundance, em seguida em Berlim, e hoje está entre os nomeados a Melhor Filme no Oscar 2024.  

Após a participação no filme Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (2023), a atriz transsexual Hunter Schafer ganha protagonismo fora da série Euphoria no papel de Gretchen, em Cuckoo. Segundo longa-metragem do diretor alemão Tilman Singer, o filme é um suspense obscuro e chama atenção mais pela atriz do que pela história em si. 

Não deixe de assistir:

Cuckoo, de Tilman Singer

Outra surpresa é o lançamento mundial da série italiana Supersex, da Netflix, no festival, prevista para chegar ao streaming em 6 de março. A série é livremente inspirada na vida e nas memórias do astro de filmes pornograficos Rocco Siffredi. Com 145 minutos, a produção busca um lançamento tal como The Idol, da HBO, no Festival de Cannes 2023, porém a esperança é algo melhor do que o produto estrelado por Lily-Rose Depp e The Weeknd

Brasil representado na Alemanha

Mais uma vez o Brasil ficou de fora da mostra competitiva do festival. O país, entretanto, está representado pelos longas-metragens Betânia, de Marcelo Botta, e Cidade; Campo, de Juliana Rojas, nas respectivas mostras Panorama e Encounters. Além dos curtas-metragens Lapso, de Caroline Cavalcanti, e Quebrante, de Janaina Wagner

Betânia, de Marcelo Botta

Para completar a seleção, o Brasil também aparece em duas co-produções internacionais, são elas Shikun, de Amos Gitai, como a produtora brasileira Ventre Studio; e Dormir de olhos abertos, de Nele Wohlatz, com a produção da Cinemascópio, fundada por Kleber Mendonça Filho.

Os detalhes de cada produção podem ser encontrados no nosso artigo especial sobre o cinema nacional no Festival de Berlim 2024

Júri de Estrelas do Urso de Ouro

Presidido por Lupita Nyong’o, o júri do festival é composto de outros seis atores, diretores e artistas do cinema para condecorar os filmes em oito categorias. Sob o comando de Kristen Stewart, o último grande prêmio foi concedido ao documentário No Adamant, de Nicolas Philibert, apresentado somente na Mostra de São Paulo, no Brasil.

Um dos membros do júri é o ator e diretor Brady Corbet, conhecido por seus papéis em Mistérios da Carne (2004) e a refilmagem de Violência Gratuita (2007). Como diretor, ele apresentou Vox Lux (2018), com Natalie Portman, no Festival de Venice 2018. Junto dele estará o diretor alemão Christian Petzold, cinco vezes selecionado na Competição de Berlim, e, no ano passo, ganhador do Urso de Prata – Grande Prêmio do Júri  com o drama romântico Afire (2023). 

Parte também do júri é a atriz e diretora de Hong Kong Ann Hui. Pouco conhecida em território brasileiro, um dos seus títulos mais famosos é Uma Vida Simples (2011), lançado no Festival de Veneza. Outros nomes são a atriz italiana Jasmine Trinca, conhecida por O Quarto do Filho (2001); o diretor espanhol Albert Serra, selecionado em Cannes 2022, com o filme Pacifiction (2022); e a escritora ucraniana Oksana Zabuzhko. 

Filmes da Mostra Competitiva

A Different Man, de Aaron Schimberg

Como supracitado, a competição deste ano conta com 20 filmes, entre eles dois documentários, e grande destaque para produções e co-produções europeias. Os mais aguardados são sempre os com atores conhecidos como Cillian Murphy, Gael Garcia Bernal, Rooney Mara, Isabelle Huppert e Sebastian Stan, além da presença dupla da atriz norueguesa Renate Reinsve – protagonista de A Pior Pessoa do Mundo (2021) -, em Another End e A Different Man

Além das estrelas internacionais, alguns diretores também prometem surpreender por conta dos seus trabalhos anteriores, como o francês Olivier Assayas, responsável por Acima das Nuvens (2014) e Personal Shopper (2016), ambos com Kristen Stewart, e a franco-senegalesa Mati Diop, após o sucesso de Atlantique (2019), premiado em Cannes. 

Small Things Like These, de Tim Mielants

Os principais títulos são o filme de abertura Small Things Like These, de Tim Mielants, com Cillian Murphy; Black Tea, do cineasta mauritano Abderrahmane Sissako, uma odisseia cultural entre África e Ásia; e ainda A Different Man, com o ator Adam Pearson, que possui neurofibromatose e esteve no filme Sob a Pele (2013), de Jonathan Glazer

Veja a lista completa da Mostra Competitiva: 

  1. Another End, de Piero Messina, Itália
  2. Architecton, de Victor Kossakovsky, Alemanha / França
  3. Black Tea, de Abderrahmane Sissako, França / Luxemburgo / Taiwan / Mauritânia / Costa do Marfim
  4. La Cocina, de Alonso Ruizpalacios, México / EUA
  5. Dahomey, de Mati Diop, França / Senegal / Benin
  6. A Different Man, de Aaron Schimberg, EUA
  7. L’ Empire (The Empire), de Bruno Dumont, França / Itália / Alemanha / Bélgica / Portugal
  8. Gloria!, de Margherita Vicario, Itália / Suíça
  9. Hors du temps (Suspended Time), de Olivier Assayas, França
  10. In Liebe, Eure Hilde (From Hilde, With Love), de Andreas Dresen, Alemanha
  11. Keyke mahboobe man (My Favourite Cake), de Maryam Moghaddam, Behtash Sanaeeha, Irã / França / Suécia / Alemanha
  12. Langue Étrangère, de Claire Burger, França / Alemanha / Belgica
  13. Mé el Aïn (Who Do I Belong To), de Meryam Joobeur, Tunísia / França / Canadá / Noruega / Qatar / Arábia Saudita
  14. Pepe, de Nelson Carlos De Los Santos Arias, República Dominicana / Namíbia / Alemanha / França
  15. Shambhala, de Min Bahadur Bham, Nepal / França / Noruega / Hong Kong, China / Turquia / Taiwan / EUA / Qatar
  16. Small Things Like These (Kleine Dinge wie diese), de Tim Mielants, Irlanda / Bélgica
  17. Sterben (Dying), de Matthias Glasner, Alemanha
  18. Des Teufels Bad (The Devil’s Bath), de Veronika Franz e Severin Fiala, Áustria / Alemanha
  19. Vogter (Sons), de Gustav Möller, Dinamarca / Suécia
  20. Yeohaengjaui pilyo (A Traveler’s Needs), de Hong Sangsoo, Coreia do Sul

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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