sexta-feira, julho 26, 2024

Festival de Veneza | Roman Polanski amarga 0% no Rotten Tomatoes com O Palácio

Apresentado no último fim de semana na 80ª edição do Festival de Cinema de Veneza, O Palácio (The Palace), novo filme de Roman Polanski, foi massacrado pela crítica especializada. Fora da competição, o longa já gerava polêmicas apenas pela sua participação no evento cinematográfico, ao lado de uma seleção constelar do cinema: Sofia Coppola, Harmony Korine, William Friedkin, Pablo Larraín, Ryūsuke Hamaguchi, David Fincher e Yorgos Lanthimos

Com o seu filme anterior, O Oficial e o Espião (2019), igualmente apresentado no Festival de Veneza quatro anos atrás, a recepção foi bem mais calorosa. Com 12 indicações ao César, o Oscar francês, o longa ganhou o prêmio de melhor direção e causou uma das mais recentes polêmicas em volta do nome do diretor. Apesar de não ter comparecido à cerimônia para receber o troféu, na ocasião, a atriz Adèle Haenel (Retrato de uma Jovem em Chamas) levantou-se revoltada com o anúncio do prêmio e retirou-se do recinto esbravejando a palavra: “vergonha” (La honte!).

 

90 anos de Roman Polanski 

De lá para cá, aos 90 anos, Roman Polanski não aparenta ter a mesma liderança atrás das câmeras. Com 13 críticas publicadas no Rotten Tomatoes até o momento, O Palácio amarga 0% de aceitação dos jornalistas presentes no festival. Polêmicas à parte, a nota não tem nada a ver com a vida pessoal do diretor, mas é devido a qualidade duvidosa da obra satírica. 

O Palácio passa-se inteiramente no Gstaad Palace, o famoso hotel de luxo situado nos Alpes Suíços, onde o próprio Polanski já declarou frequentar. Inaugurado em 1913, o hotel é um playground da aristocracia europeia. A narrativa é centrada na reunião desse grupo de ricos egocêntricos na véspera do Ano Novo em 1999, ou seja, na virada do “bug do milênio” e da lenda urbana do fim do mundo. Os personagens estão, portanto, preocupados com o iminente fim, mas de maneira mesquinha e narcisista. Talvez Polanski mirou em Triângulo da Tristeza (2022), de Ruben Östlund, e acertou em…? 

Antecedentes incriminatórios

A melhor explicação para o vexame no festival veio do crítico Owen Gleiberman, da Variety: Polanski sempre errou a mão na comédia. O jornalista descreve o constrangimento na sala lotada de 1400 lugares e nenhuma risada durante uma hora e quarenta minutos de projeção. Ele ainda lembra que o cineasta polonês tem funestos antecedentes, como a comédia de horror A Dança dos Vampiros (1967), Piratas (1986) e o mais recente O Deus da Carnificina (2011). 

Embora alguns elementos de horror e sátira estejam presentes nas suas obras de maior sucesso como O Bebê de Rosemary (1968) e Repulsa ao Sexo (1965), o forte do cineasta é o drama, como os premiadíssimos Chinatown (1975) e O Pianista (2002). Como toda carreira longínqua, Polanski coleciona fracassos e sucessos, mas este o seu primeiro mesmo que temporário 0% de aprovação. 

A opinião dos críticos

“O mais recente [de Polanski], O Palácio, deixa pouco espaço para ambiguidades. É a pior coisa que ele já fez – ou, em qualquer caso, o pior filme dele que este crítico já viu. (Só perdi alguns títulos em sua filmografia, que agora conta com 23 longas.)” Jordan Mintzer do Hollywood Reporter

“Você pode precisar de uma bebida forte para assistir o novo filme de Roman Polanski inteiro; você pode até achar que precisa de várias – qualquer coisa que alivie a dor”. Xan Brooks, do The Guardian

Não deixe de assistir:

“Não tenho certeza se já ouvi um cinema gigante tão silencioso para um filme que trabalha tão arduamente para te divertir”. — Owen Gleiberman, da Variety

“O problema com O Palácio… é que não é importante e não é arte: é uma cláusula de alteração no testamento de um dos maiores autores do cinema. Na verdade, é um pouco triste Fionnuala Halligan, do Screen International

“A situação instável do realizador parece impactar diretamente o elenco composto para esta comédia negra sem humor, além de que a construção grotescamente rígida dá ao filme a impressão de ser um dedo do meio gigante para o mundo inteiro”. — Ben Croll, do TheWrap

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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