Se o Festival GRLS! teve um início bombástico em 07 de março de 2020, o Dia Internacional das Mulheres seria adornado com algumas das melhores apresentações e talks do ano – através de uma promoção cujo direcionamento para a visibilidade e o empoderamento femininos se transformaria em um ato extremamente político (e recheado de momentos de divertimento puro).
Na parte da manhã e no início da tarde, o festival seguiu os mesmos passos de sua abertura e abriu espaço livre para diversas conversas realizadas no Memorial da América Latina, trazendo nomes como Pitty, Fernanda Lima, Monja Coen, Gaby Amarantos (que fizera uma performance esplendorosa no dia anterior) e Mônica Martelli. Dentre temas cobertos através dessas seis horas, análises críticas, antropológicas e até espirituais discorreram sobre o papel da mulher na sociedade, a recém-criada cultura do cancelamento e uma honrável discussão acerca do etarismo e da forma como o envelhecimento feminino é encarado com muito mais tabu que o feminino (principalmente na indústria do entretenimento).
Os debates perfileirados por um competente corpo de bate-papo pavimentaram o caminho para as atrações musicais, que tiveram início com a banda Mulamba. Formada apenas de mulheres, o grupo, conhecido por utilizar sua música para difundir informações sobre temas relevantes e que precisam de mais presença na atual conjuntura nacional, realizou rendições de suas canções mais famosas e já nos deram o gostinho da cultura brasileira em um evento mais que proprioceptivo, aproveitando para abrirem alas para MC Tha e Iza, duas das artistas mais conhecidas do cenário contemporâneo (e que representam a vertente feminina negra na esfera fonográfica com letras contundentes e ritmos envolventes – vide a crítica “Rito de Passá” e a ressonante “Ginga”).
Porém, foi a última atração da noite que causou o maior movimento em ambos as pistas localizadas na Barra Funda: a girlband britânica Little Mix havia confirmado a vinda ao Brasil alguns meses atrás (pouco depois da lendária Kylie Minogue) e, mesmo desfalcadas devido ao cancelamento surpresa de Perrie Edwards, souberam como trazer vida aos palcos – e definitivamente não haveria melhor forma de finalizar uma produção voltada à aclamação das mulheres que com o hino “Salute” (respaldado por visuais avant-garde e uma energia contagiante.
A carreira das jovens cantoras sempre foi marcada por, além das costumeiras músicas dançantes, um discurso feminista: desde uma aceitação étnica até declamações de independência, faixas como “Power” e “Wasabi” foram acompanhadas por coreografias interessantes; já na metade do show, a banda deu uma pausa para um momento mais dramático com “Secret Love Song” e uma alegação de amor para seus fãs (afinal, esta foi a primeira vez delas no Brasil), aproveitando o momento para gravar um breve vídeo para o Instagram ao som em coro de “Wings”. E é claro que, caminhando para os minutos finais, hits como “Thing About Us” e “Touch” terminariam um dos grandes eventos de 2020.