O Festival GRLS! 2020 teve início ontem, 07 de março, como forma de trazer ainda mais visibilidade à incrível presença das mulheres nacionais e internacionais nas diversas áreas culturais do entretenimento – confirmando a presença de nada menos que oito shows nesse final de semana.
E, levando em conta o teor político promovido pela Tickets 4 Fun e pelos parceiros do evento, era de se esperar que nomes ativos dentro da militância feminina, negra e LGBTQ+ despontassem como headliners da produção: além de inúmeras palestras e talks realizados no auditório do Memorial da América Latina (marcados pelos rostos de Astrid Fontenelle, Alessandra Munduruku, Luana Xavier e os criadores da página Quebrando o Tabu), boa parte do local foi destinada às apresentações musicais.
Linn da Quebrada, ativista, cantora, compositora e atriz que ganhou fama em 2015, abriu o festival do modo mais potente e visceral possível, trazendo uma clareza necessária e realizando melódicos e ácidos discursos em prol da comunidade LGBTQ+ (destinando grande parte de suas letras às mulheres transsexuais e às travestis). Em meio a conjuntos provocativos e a um background expositório, Linn definitivamente deu as cartas do jogo, guiando-se pelo mote “um salve a todas as travestis presentes” em uma das primeiras tracks.
Mais do que isso, a artista trouxe uma sonoridade impecável e uma rendição espetacular, fazendo questão de honrar a cultura africana com ressonantes batuques atrelados, rasgando aplausos pelo que representa às minorias sociais. Os conhecidos instrumentais também foram compostos com sintetizadores e guitarras pontuais, pavimentando o caminho para Gaby Amarantos.
Amarantos teve o grande trabalho de lidar com uma plateia fria – mas sua borbulhante personalidade deu conta do recado ao lado do incrível grupo de dança conhecido como Turmalinas Negras e uma banda formada apenas de mulheres. Iniciando sua porção do evento com alguns de seus sucessos (incluindo “Cachaça de Jambu” e “Ex My Love”, sempre exultando a cultura do Norte do país), ela superou a si mesma ao desconstruir letras de clássicos funks, além de trazer versões originais de divas nacionais.
Pabllo Vittar, Elis Regina e Margareth Menezes foram alguns dos nomes que ganharam vida na potente e rouca voz da artista, bem como uma breve sample de “Run the World (Girls”, de Beyoncé. Com figurinos coloridos e cheios de vida, Amarantos definitivamente se valeu de atuações irretocáveis, críticas duras ao patriarcado e à condição da mulher numa retrógrada sociedade – além de mesclar rock, brega-funk, MPB, soft-pop e tantos outros estilos em pouco mais de sessenta minutos.
Substituindo Tierra Whack, Ludmilla foi confirmada de última hora no Festival, mas não falhou em mostrar que veio para animar a plateia. Aumentando consideravelmente o número de pessoas nas duas pistas do Memorial, a funkeira iniciou o show com famosas músicas – não deixando de fora a polêmica “Verdinha”, é claro -, além de ter ovacionado os fãs por cuidarem uns dos outros.
A cantora acrescentou uma camada a mais ao evento, com performances bastante sensuais e repletas de vocais incríveis – aproveitando o espaço para render-se à balada “Halo” com um toque brasileiro e para apresentar a dançante “Pulando na Pipoca”, parceria com Ivete Sangalo.