Em março de 2020, acontecia a primeira edição do Festival GRLS!, um evento para celebrar a força das mulheres nas mais variadas áreas – empreendedorismo, arte, filosofia, música e várias outras. E o principal destaque do festival foram os icônicos shows que tomaram conta do Espaço das Américas, em São Paulo.
Dentre as artistas confirmadas na edição de estreia, tivemos a presença ilustre de Kylie Minogue como uma das headliners, acompanhada também do icônico grupo pop Little Mix – além da presença de artistas como Linn da Quebrada, Ludmilla, MC Tha e Gaby Amarantos. Agora, três anos mais tarde, retornamos para a segunda temporada o evento, que migrou para o Centro Esportivo do Tietê e aumentou consideravelmente o número de performers que subiriam aos palcos.
É claro que muito se falou sobre as possíveis atrações do GRLS! 2023, com rumores indicando que a múltipla vencedora do Grammy Christina Aguilera seria uma das principais artistas a cantarem. Entretanto, os boatos não se concretizaram – mas abriram espaço para outras divas do mundo pop que se tornaram bastante conhecidas entre o público, incluindo JoJo (que recentemente retornou com um ótimo e subestimado álbum) e Tinashe (um dos expoentes nomes do R&B e do rap que vinha dando um show de carisma desde sua interação com os fãs).
Do cenário nacional, Sandy, uma das cantoras mais conhecidas do Brasil, faria sua estreia solo em festivais; Margareth Menezes e Alcione viriam para nos relembrar o motivo de serem lendárias e reverenciadas musicistas; e Duda Beat e ANAVITÓRIA continuariam a demonstrar sua paixão pelo MPB e pela manutenção de um dos maiores legados do nosso país. E o resultado, apesar de alguns deslizes consideráveis, foi bastante positivo e nos deixou animados para o que o evento nos aguarda no próximo ano.
A princípio, é notável como a estrutura do festival cresceu: contando novamente com duas pistas, a decisão de migrar os shows da Barra Funda para a Luz trouxe algumas questões logísticas, mas secundou a grandiosidade que havia tomado. O amplo espaço permitiu que o público se sentisse mais confortável e com mais opções de lazer entre uma apresentação principal e outra – como presenças ilustres no Palco Heineken (incluindo Negra Li, Lily Scott e Lan Lahn), ativações de marcas como Converse, Instagram e Bis e até mesmo uma feirinha cultural recheada de empoderamento. Ou, caso você quisesse recuperar as energias, uma série de redes para descansar.
Apesar das boas intenções, o line-up não atraiu tanto público e deixou diversas lacunas no Centro Esportivo – uma constatação entristecida, considerando o talento inenarrável das cantoras que pisaram nos palcos. Todavia, quem teve a oportunidade de ir com certeza carregará essa experiência por muito tempo, recordando-se do momento em que JoJo soltou a voz com as clássicas “Too Little, Too Late” e “Leave (Get Out)”, ou quando prestou homenagem a Rihanna e a Anitta com covers fantásticos.
A artista, que ganhou fama gigantesca ao lançar-se nos anos 2000 com um R&B teen apaixonante, dominou os palcos com vocais espetaculares e uma conexão invejável com o público, que inclusive não pensou duas vezes antes de cantar ao lado da artista. E, enquanto JoJo dominou na abertura, Tinashe fez um espetáculo de tirar o fôlego no encerramento do evento – dançando como se não houvesse amanhã e recusando-se a desafinar uma nota sequer. Em pouco de mais uma hora, os espectadores se esqueceram da torrencial chuva que caía sobre o gramado para ver a rendição da performer de canções como “Die A Little Bit” e “I Can See The Future”; para além disso, para se conectar com o carisma impagável de uma cantora que ainda tem muito a nos oferecer e que merecia mais reconhecimento.
Manu Gavassi, Mariah Angeliq, ANAVITÓRIA, LEXA e tantas outras também fizeram bonito e elevaram a energia do festival com shows incríveis. Mas nada poderia nos preparar para a presença de Menezes e Alcione, como já mencionado – duas das maiores artistas nacionais, que carregam um legado duradouro no cenário fonográfico. Ambas encantaram seus fãs de longa data e uma nova geração que vem redescobrindo discografias impecáveis e uma importância inegável para a atualidade.
Talvez um dos poucos pontos baixos tenha sido o set comandado por Sandy: não se enganem, os vocais estavam perfeitos, mas ela parecia desconfortável nos palcos e se comportava de maneira mecânica – além de ter feito certas escolhas um tanto quanto questionáveis. De fato, sua inexplicável falta de presença também diminuiu a chama do festival, principalmente depois de ter sido precedida por JoJo.
O Festival GRLS! continua a provar que é um evento que merece nossa atenção e, para as próximas edições, esperamos que o line-up cresça ainda mais e traga experiências inéditas que sejam comentadas por meses e meses a fio.