Barriga de Aluguel
Algumas produções cinematográficas possuem como grande força motriz o desempenho de seus intérpretes. Daí vem a expressão muito usada: “fulano é o filme”. Isso geralmente ocorre quando uma obra faz uso de uma trama simples, que já vimos inúmeras outras vezes representada nas telas, mas é impulsionada pelo talento de um ator – ou atores – que realmente vende a ideia.
É exatamente isso que ocorre com O Poder de Diane, comédia dramática escrita e dirigida pelo jovem Fabien Gorgeart (em sua estreia como diretor de longas), que faz parte da programação do Festival Varilux de Cinema Francês 2018 – o maior expoente no Brasil dentro do segmento. Exibido por terras francesas no final de 2017, o filme é protagonizado pela bela e talentosa Clotilde Hesme (Canções de Amor). A dupla veio ao Brasil prestigiar o evento.
Na trama, Diane (Hesme) é uma mulher em seus 35 anos que vive de forma intensa em festas e noitadas, e nunca ligou muito para responsabilidade. Ela é o que podemos chamar de “espírito livre”. Parte desta falta de compromisso com a seriedade está diretamente ligada com o que a personagem aceita empreender como favor a um casal de amigos gays, Thomas (Thomas Suire) e Jacques (Grégory Montel): carregar em seu corpo o bebê que eles não podem gerar.
Durante o processo, para caprichar ainda mais em conflitos, o roteiro traz para a vida desta complexa personagem um relacionamento amoroso na forma de Fabrizio (Fabrizio Rongione), para quem em breve ela terá que confessar a verdade. A tumultuada dinâmica a quatro é o que faz o filme girar e toma grande parte de sua projeção, levado inicialmente num tom leve da típica comédia de situações francesa. Somente para, com o avançar da narrativa, ir assumindo tintas mais pungentes, e inevitáveis, ao abordar um tópico ainda controverso – o elo da progenitora com sua cria, tratado com desafeto.
A direção de Gorgeart é competente, deixando seus atores bem à vontade em cena. A narrativa é fluida, e o diretor consegue ainda extrair um momento específico genial, que ganha mais peso ao pensarmos em sua falta de experiência no cargo. O cineasta, inclusive, conseguiu se aproveitar da gravidez real de sua estrela para os momentos em que a protagonista exibe seu barrigão – criando, assim, junção mais honesta impossível entre intérprete e personagem.
Os holofotes da obra, no entanto, estão em Clotilde Hesme, e a atriz deixa exalar seu talento nato, segurando o longa em suas duas linhas de frente: na leveza de momentos descontraídos e humorísticos, demonstrando enorme carisma; e em trechos de intensas alavancadas dramáticas. No momento citado no parágrafo acima, temos a simbiose perfeita entre cineasta e atriz quando, num take sem cortes, Gorgeart parece apenas deixar o forte teor nas costas de sua atriz, mas mostra que domina o timing, sabendo onde começar e parar a cena. Já Hesme destrói o cenário proposto com um momento que muito bem poderia ser o seu “clipe do Oscar”. Neste único trecho, temos resumidos os sentimentos de uma vida inteira, e O Poder de Diane consegue entregar o seu canto dos cisnes.