sexta-feira , 22 novembro , 2024

Festival Varilux | Primavera em Casablanca – Casal de diretor e atriz discute o Marrocos atual

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Liberdade e Fúria

Este ano, a seleção dos longas que compõem o Festival Varilux está de parabéns. Além da qualidade indiscutível das obras, a programação se certificou de uma maior abrangência de gêneros e estilos cinematográficos. Assim, comédias farsescas como O Retorno do Herói, filmes de terror e ficção, vide O Último Suspiro e A Noite Devorou o Mundo, e dramas de representatividade social (Marvin e O Orgulho), por exemplo, desfilam pelo acervo. Temos também panoramas territoriais, como é o caso de Primavera em Casablanca, drama que visa expor o cenário atual do Marrocos como tema.

Num país ainda muito opressor, a liberdade é posta em questão por um casal: o diretor Nabil Ayouch e sua companheira, a bela atriz Maryam Touzani – a dupla assina o roteiro da obra.



Primavera em Casablanca funciona como uma espécie de Relatos Selvagens marroquino, com micro-histórias fragmentadas dividindo o protagonismo da projeção. Assim como na inesquecível produção argentina, o som e fúria tomam conta de alguns segmentos, mas não de todos. O foco, como citado, é a liberdade, seja ela qual for.

Num dos contos centrais, a própria Touzani ganha os holofotes na pele de Salima, mulher moderna e independente precisando lidar com a condição retrógrada do lugar onde vive. Muitos momentos marcantes definem a personagem e sua história, seja em sua primeira aparição em meio a uma passeata que contradiz tudo o que representa, em comentários reprovadores sobre sua vestimenta (os quais faz questão de responder com mais ousadia em seus atos) ou na escolha de interromper uma gestação (momento marcante para a intérprete, que no dia seguinte da gravação descobriu estar grávida de verdade). A atriz interpreta com grande vivacidade.

O cineasta Nabil Ayouch realiza uma colcha de retalhos contemporânea para exibir o preconceito entranhado, que poda sonhos, proíbe amores e julga sentimentos. Em outras histórias, um jovem morador da favela sonha com a música, tendo como ídolo Freddie Mercury; uma idosa de pele marcada por tatuagens relembra o amor não concretizado por um professor (na única subtrama que brinca até mesmo com a cronologia narrativa); uma adolescente de classe alta é negligenciada pela mãe; e um dono de restaurante boa praça vive para cuidar do pai idoso, ao mesmo tempo em que tem encontros casuais com uma jovem prostituta.

Sonhos despedaçados, vontades suprimidas, mas a esperança sempre à frente. Primavera em Casablanca levanta inúmeras questões em seu retrato melancólico, impulsionadas pela criatividade dos amantes e sua proposta muito honesta de descortinar um universo específico e seus habitantes. Sensibilidades à flor da pele alinhadas a decepções irremediáveis, resumidas em uma frase que remete ao clássico imortal do cinema, permeando toda a obra (até em sua tradução no Brasil): “Nenhuma cena do filme Casablanca (1942) foi gravada em nosso país”.

A Primavera em Casablanca de Ayouch e Touzani é denúncia amarga sem ser panfletária, mas, sim, esperançosa.

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Num país ainda muito opressor, a liberdade é posta em questão por um casal: o diretor Nabil Ayouch e sua companheira, a bela atriz Maryam Touzani – a dupla assina o roteiro da obra.

Primavera em Casablanca funciona como uma espécie de Relatos Selvagens marroquino, com micro-histórias fragmentadas dividindo o protagonismo da projeção. Assim como na inesquecível produção argentina, o som e fúria tomam conta de alguns segmentos, mas não de todos. O foco, como citado, é a liberdade, seja ela qual for.

Num dos contos centrais, a própria Touzani ganha os holofotes na pele de Salima, mulher moderna e independente precisando lidar com a condição retrógrada do lugar onde vive. Muitos momentos marcantes definem a personagem e sua história, seja em sua primeira aparição em meio a uma passeata que contradiz tudo o que representa, em comentários reprovadores sobre sua vestimenta (os quais faz questão de responder com mais ousadia em seus atos) ou na escolha de interromper uma gestação (momento marcante para a intérprete, que no dia seguinte da gravação descobriu estar grávida de verdade). A atriz interpreta com grande vivacidade.

O cineasta Nabil Ayouch realiza uma colcha de retalhos contemporânea para exibir o preconceito entranhado, que poda sonhos, proíbe amores e julga sentimentos. Em outras histórias, um jovem morador da favela sonha com a música, tendo como ídolo Freddie Mercury; uma idosa de pele marcada por tatuagens relembra o amor não concretizado por um professor (na única subtrama que brinca até mesmo com a cronologia narrativa); uma adolescente de classe alta é negligenciada pela mãe; e um dono de restaurante boa praça vive para cuidar do pai idoso, ao mesmo tempo em que tem encontros casuais com uma jovem prostituta.

Sonhos despedaçados, vontades suprimidas, mas a esperança sempre à frente. Primavera em Casablanca levanta inúmeras questões em seu retrato melancólico, impulsionadas pela criatividade dos amantes e sua proposta muito honesta de descortinar um universo específico e seus habitantes. Sensibilidades à flor da pele alinhadas a decepções irremediáveis, resumidas em uma frase que remete ao clássico imortal do cinema, permeando toda a obra (até em sua tradução no Brasil): “Nenhuma cena do filme Casablanca (1942) foi gravada em nosso país”.

A Primavera em Casablanca de Ayouch e Touzani é denúncia amarga sem ser panfletária, mas, sim, esperançosa.

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