quinta-feira , 21 novembro , 2024

FRACASSOU! ‘Dick Tracy’, ‘A História Sem Fim 2’, ‘Rocky V’ e os Grandes FLOPS do Cinema que Completam 34 Anos

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O revisionismo artístico é um conceito bem interessante. E quando pensamos em cinema, é um exercício saudável e necessário. Afinal, o mundo está o tempo todo em constante mudança, principalmente no que diz respeito a conceitos sociais. O que era regra antes, hoje pode ser a exceção. Mas nada de cancelamentos. O lance é utilizar este estudo antropológico como aprendizado.

A cultura evoluiu muito ao longo dos séculos, e não existe melhor cápsula do tempo do que o cinema. O racismo, o preconceito e o machismo inerentes do passado são só alguns dos tópicos que podem ser encontrados em diversas produções, sem que precisemos voltar muito no passado. Tais elementos que descem extremamente “quadrados” hoje, são razões mais que justificáveis para a impopularidade de uma obra quando a visitamos atualmente. Mas existe também o efeito contrário, de filmes que passaram em branco em seu lançamento, e terminam ganhando status de cult a cada nova geração, terminando considerados à frente de seu tempo.



E aqui no CinePOP somos totalmente a favor de segundas, terceiras e até quartas chances para produções cinematográficas incompreendidas em seu tempo. No entanto, na coluna dos Grandes Flops apresentamos somente os fatos (que não podem ser mudados ou apagados) sobre o custo x bilheteria e opinião crítica de tais longas.

A ideia é celebrar estes fiascos em sua totalidade, visando uma nova oportunidade a estas produções – que nem todos podem conhecer. Desta forma, vem com a gente lembrar destas obras ambiciosas, cujo resultado, ao menos na época, deixou a desejar.

Estes são os Grandes Flops do Cinema que Completam 34 Anos em 2024.

 

O Predador 2

Mais uma segunda parte estreava nos cinemas há trinta e quatro anos. E não será a última da lista. 1990 foi um dos anos com mais continuações na história do cinema, e você achando que era coisa de agora. O Predador (1987), veículo de ação para Arnold Schwarzenegger, embora detonado pela crítica, ganhou ares de cult e fez uma bilheteria decente – com um orçamento de US$15 milhões, recuperando para FOX US$98 milhões mundiais. A premissa era simples: quem enfrentará agora o musculoso protagonista, que já havia descartado tudo quanto era inimigo em seus filmes que exalavam testosterona? E foi assim que algum roteirista teve a ideia de coloca-lo para se digladiar com uma criatura vinda de outro planeta.

Nos anos 1980, filmes com criaturas faziam muito sucesso, com técnicos em efeitos e maquiadores se esbaldando em concretizar alguns personagens que se tornariam icônicos, entrando para sempre no imaginário popular dos fãs e para a história do cinema. Assim, o alienígena humanoide com cara de crustáceo era uma figura interessante demais em seu design para simplesmente desaparecer após um único filme. Ainda mais quando esse filme se mostrou um sucesso. Três anos depois, os executivos da FOX finalmente o tiravam da gaveta para mais uma caçada na Terra.

Porém, se deparavam com o primeiro grande empasse. Schwarzenegger tinha peixes maiores para fritar (como O Exterminador do Futuro 2) e se recusou a voltar. A solução foi mover a ação para uma selva diferente (a Los Angeles do “futuro” de 1997) e escalar Danny Glover (saído do sucesso de dois Máquina Mortífera) para viver o durão e escaldado detetive Harrigan. Embora não tenha o apelo do primeiro, O Predador 2: A Caçada Continua tem seus atrativos e pode ser considerada uma obra subestimada.

Com um orçamento três vezes maior que o original, o filme não se pagou nos EUA, arrecadando apenas US$30 milhões. A salvação do longa foi o mercado internacional, onde juntou outros US$30 milhões, mesmo assim ficando abaixo do esperado. Ah sim, se tornando também uma franquia da qual ninguém sabe o que fazer, já que ao menos outras três investidas – Alien vs. Predador (2004), Predadores (2010) e O Predador (2018) – deram com os burros n’água.

Gremlins 2

Falando em continuações cujo resultado ficou bem aquém do original e do esperado em si, aqui temos a sequência de outra fantasia juvenil saída diretamente de 1984. Esta, com leves toques de terror. Gremlins, com produção de Steven Speilberg, roteiro de Chris Columbus (Esqueceram de Mim) e direção de Joe Dante (Meus Vizinhos São um Terror), entraria para a história como um dos filmes mais queridos e famosos dos anos 1980. Outra vez a Warner demorava para arquitetar a continuação, talvez esperando o roteiro certo. Com o mesmo time na frente e atrás das câmeras, Gremlins 2 sairia seis anos depois, abrindo a década de 1990.

A verdade é que alguns filmes, por mais queridos que sejam, terminam de uma forma que se torna um verdadeiro quebra-cabeça para os roteiristas bolarem uma continuação. Isso mostra que no passado, um longa tinha começo, meio e fim, sem a preocupação de planejar com antecedência uma segunda parte. Por mais louvável que fosse, o fato igualmente terminava colocando os envolvidos, muitas vezes, num beco sem saída, a fim de não deixar transparecer que a opção de continuar uma história era meramente financeira – o que em muitos casos é a mais pura verdade. E Gremlins foi um destes casos onde o “The End” significou o fim mesmo.

Ou será? Já que, um tempinho depois, tiraram da cartola um retorno para o fofucho Gizmo e seus irmãozinhos endiabrados que se transformam em monstrinhos escamosos. A opção para esta sequência foi mover a trama para Nova York, mas como filmar lá é caro, a ação se desenrola toda dentro de um prédio altamente hi-tech. Com um orçamento inflado de US$50 milhões, Gremlins 2 não conseguiu sequer se pagar, arrecadando US$41 milhões. O que colocou um ponto final na cultuada franquia. Desde então boatos sobre um terceiro filme circulam e agora podem estar de fato ganhando vida. Gremlins e Goonies são dois dos filmes que os fãs dos anos 1980 mais querem ver continuações atuais.

 

A História Sem Fim 2

Por mais difícil que seja acreditar, a continuação da querida fantasia alemã foi um fracasso. E sim, eu disse alemã – por mais que seja falada em inglês e tenha atores americanos, o primeiro A História Sem Fim (1984) é uma produção da Alemanha, país de onde saiu o roteirista e diretor do longa Wolfgang Petersen. Mas a verdade é que apenas o filme original é visto e guardado com carinho pelos fãs. E bem que deveriam mesmo, já que é um marco para o cinema de fantasia infantil – reverenciado ainda hoje, como na série Stranger Things, da Netflix. O longa original, com um orçamento de US$27 milhões, arrecadou US$100 milhões mundialmente, se tornando um fenômeno para a época.

Querendo capitalizar no sucesso, mas esperando consideráveis seis anos para tirar a ideia do papel, a Warner (que já havia coproduzido o primeiro e o distribuído na América) confeccionou uma sequência, lançada há exatos 34 anos. Um dos detalhes mais notados pelos fãs foi a mudança do elenco principal, em especial do menino protagonista Bastian e o aventureiro mirim Atreyu – ambos reescalados. Curiosamente, com a saída de Petersen do projeto, outro diretor renomado pegaria a vaga: ninguém menos que o australiano George Miller – então com a trilogia Mad Max e As Bruxas de Eastwick já no currículo.

Quase uma refilmagem do original, a continuação custou ainda mais caro para o estúdio, com um orçamento de US$36 milhões. A arrecadação, no entanto, se mostraria insatisfatória com o retorno de apenas US$17 milhões nos EUA. Devido ao sucesso de sua mitologia e sua carreira internacional, a franquia seguiu para um terceira parte (1994), novamente trocando os atores, uma série em animação (1995) e uma série em live-action (2001).

Rocky V

Calma, por aqui também amamos a franquia Rocky. Mas mesmo dentre os fãs e aficionados, o quinto episódio é considerado o mais problemático e deslocado. De fato, até o próprio criador da franquia Sylvester Stallone confessa o erro que foi este Rocky V. O gosto amargo do filme deixou o ator inquieto por dezesseis anos, até tirar da cartola Rocky Balboa (2006) – simplesmente para poder ter um “encerramento” adequado para a franquia. A tentativa de voltar às origens aqui se mostrou um tiro no pé, com Rocky de volta ao seu velho bairro depois de ter perdido tudo. Mas o pior é a trama em si.

No quinto filme, Rocky não sobe aos ringues (coisa que poderia muito bem fazer, já que voltaria para lutar com tudo dezesseis anos depois)! A opção por uma “história mais humana”, mostra o protagonista treinando um novo talento promissor, a quem acolhe como um pupilo, enquanto renega o próprio filho e seus problemas. No entanto, seu lutador protegido irá se mostrar fraco de caráter, o traindo. O clímax ocorre com os dois saindo no braço no meio da rua, numa briga sem regras.

O fato faz de Rocky V o ponto fora da curva da franquia. Fracasso de crítica, o longa sequer se pagou em território norte-americano, custando US$42 milhões e arrecadando US$40 milhões. Graças ao mercado internacional, Rocky V conseguiu escapar por completo do desastre, retornando uma boa bilheteria mundial. Mas se levarmos em conta o desempenho do antecessor Rocky IV, que se tornou a segunda maior bilheteria de cinco anos antes, com absurdos US$300 milhões mundiais, e US$130 milhões só nos EUA, fica ainda mais evidente o mau desempenho deste sucessor.

 

A Fogueira das Vaidades

Começamos a lista com o que é provavelmente o maior fracasso do cinema de 34 anos atrás. E não apenas isso, A Fogueira das Vaidades pode ser considerado um dos maiores fracassos dos anos 1990, e quem sabe da história do cinema. Além disso se tornou uma verdadeira aula de como NÃO adaptar um livro de tremendo sucesso ao cinema. Baseado no best-seller de Tom Wolfe, o filme logo se tornou um baita investimento da Warner, que almejava levar para as telonas em grande estilo a história sobre um magnata e sua amante que atropelam um sem-teto e fogem sem prestar socorro, vendo sua vida de alta classe social ser virada do avesso graças a investigação de jornalista alcoólatra desacreditado.

Dá para ver por esta premissa que um suculento tema sobre luta de classes pode ser espremido daí – algo que não é novidade em Hollywood. A narrativa da obra literária, apesar do assunto trágico e sério, é levado na base da acidez e ironia, acrescentando muitas camadas ao texto. Para a empreitada, o estúdio tirou de seus cofres US$50 milhões para o orçamento e contratou para o comando o veterano prestigiado Brian De Palma – recém saído dos sucessos de Os Intocáveis e Pecados de Guerra, aderindo assim à sua primeira comédia.

Na frente das telas, um verdadeiro time de peso: Tom Hanks, Melanie Griffith e Bruce Willis dividindo as telas pela primeira vez. Além de uma ponta de Morgan Freeman. Uma das maiores críticas que o filme recebeu foi sobre a escalação equivocada de Willis para o papel do jornalista, e seu trabalho ligado no automático. Conclusão: o alto investimento viu o retorno de apenas minguados US$15 milhões em bilheteria, além de um verdadeiro massacre por parte da crítica. 

Duck Tales – O Filme

Quem ouve falar da Disney hoje, uma mega corporação dona de propriedades como a Fox, a saga Star Wars, a Pixar e a Marvel, só pensa em monopólio e em domínio mundial. A geração atual pode até achar que a entidade multibilionária é perfeita e sem defeitos. Mas estes mesmos não imaginam o perrengue que o estúdio já passou, e para isso nem precisamos voltar muito no tempo, 34 anos no passado já está bom. No mesmo ano do fiasco Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus, a Disney lançava outra produção animada que visava cair no gosto dos pequenos, se tornando o novo fenômeno popular, mas tudo que viu foi despesas e dor de cabeça – já que as crianças da época só queriam saber de Batman e das Tartarugas Ninja: então dois sucessos recentes.

Aqui, falamos de Duck Tales – O Filme, adaptação para as telonas de um famoso desenho animado da casa. Duck Tales: Os Caçadores de Aventuras deu protagonismo nas telinhas pela primeira vez para o avarento Tio Patinhas, o tio ricaço, mas pão duro, do Pato Donald, e seus três sobrinhos: Huguinho, Zezinho e Luizinho (Hewey, Dewey e Louie). O seriado foi uma febre, e durou de 1987 a 1990 – terminando bem na época do lançamento de sua primeira versão em longa-metragem. No cinema, com ares de Indiana Jones, no entanto, ninguém quis pagar para ver os personagens. Apesar das críticas na maioria positivas, a animação não fez o barulho esperado pelo estúdio e mesmo com uma bilheteria de US$18 milhões, gerou um prejuízo de US$2 milhões para a Disney. Mas nem tudo está perdido, já que uma nova série animada com os personagens de Duck Tales foi lançada em 2017, e ainda está no ar.

Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus

Por mais que A História Sem Fim e Gremlins tenham demorado a gerar continuações, nada se compara a esta animação da Disney – que criou uma lacuna geracional entre seus fãs. Afinal, qual criança ou adolescente em 1990 lembraria do sucesso Bernardo e Bianca, lançado em… 1977? A dupla que dá nome ao título são dois camundongos parte de uma agência de investigação e resgate, cuja última missão é encontrar uma garotinha sequestrada por caçadores. O filme, que teve US$7.5 milhões de orçamento, arrecadou US$71.2 milhões em bilheteria, algo muito impressionante.

Apesar do sucesso, na época a Disney não era essa máquina de gerar franquias e continuações que é hoje, acreditando muito mais em histórias originais. Pula para 1990, uma época que, como dito, viu uma enxurrada de continuações ser lançadas. Seguindo de perto a tendência, o estúdio do Mickey resolveu dançar conforme a música e orquestrar o retorno de dois outros ratinhos famosos de seu acervo. O problema? Talvez tenham esperado demais, já que a volta de Bernardo e Bianca demorou nada menos que treze anos. Desta vez, a ideia foi leva-los para a Austrália, onde um caso envolvendo um menino desparecido e uma rara águia dourada na mira de caçadores os aguardava. Com um orçamento de US$30 milhões, a animação sequer se pagou, rendendo em bilheteria US$27 milhões. O fato fez do filme uma das produções animadas da Disney mais obscuras de seu acervo.

Air America – Loucos Pelo Perigo

Com franquias como Mad Max e Máquina Mortífera em seu currículo, a carreira de Mel Gibson ia de vento em popa. Justamente no período, o ator australiano era alçado ao status de astro de Hollywood, com cada projeto tocado por ele se transformando em ouro imediato. Por outro lado, seu colega mais jovem Robert Downey Jr saía de uma leva de produções adolescentes, onde ele acumulou muito reconhecimento, e agora estava pronto para alçar voos mais altos (com o perdão do trocadilho). A união da dupla era por si só um evento, já que eram dois dos atores mais quentes da época, vindos de gerações diferentes.

E o projeto escolhido para protagonizar juntos foi a adaptação do livro de Christopher Robbins sobre audaciosos pilotos de helicóptero realizando entregas durante a Guerra do Vietnã. A produção ficou a cargo da extinta Carolco, com distribuição da Columbia / Sony. Mesmo com a diversão de termos Gibson e Downey Jr em cena, o filme rendeu abaixo do esperado para o estúdio – já que o público, a este ponto, talvez estivesse cansado de obras sobre o tema (a Guerra do Vietnã havia sido abordada consecutivamente em sucessos como Platoon, Nascido para Matar, Pecados de Guerra e Nascido em 4 de Julho, por exemplo, há pouco tempo). Com um orçamento de US$35 milhões, Air America rendeu US$31 milhões, e mais US$2 milhões internacionalmente, ainda assim sequer se pagando.

Graffiti Bridge

Voltando ao tópico das continuações, não são apenas os filmes de ação, fantasia, terror e animação que geram sequências, dramas musicais igualmente podem render uma franquia. Ou ao menos tentar. O mais curioso de algumas segundas partes de obras não é o fato de serem inferiores aos seus originais, ou sequer não atingir o resultado esperado, mas sim cair tão profundamente na obscuridade, que nem ao menos tomamos conhecimento que tais longas existem. Afinal, você já tinha ouvido falar na continuação de O Mágico de OZ, criada pela própria Disney, ou do cult máximo do cinema noir detetivesco Chinatown? Pois bem, mas saibam que elas existem, basta procurar na internet.

Exatamente no mesmo quesito podemos encontrar a continuação de Purple Rain, coincidentemente lançado seis anos antes de sua sequência – deu pra sentir uma temática aqui, certo? Mas antes, vamos responder à pergunta dos mais novos, que neste momento devem estar comentando: “que diabos é Purple Rain”? Bem, alguns podem até se lembrar da canção de mesmo nome do artista multifacetado e saudoso Prince. Pois a música foi criada pelo cantor para ser o carro-chefe de uma produção cinematográfica de mesmo nome, que fez grande sucesso e vendeu muitos discos de sua trilha sonora. No filme, Prince conta meio que a história de sua vida, como um aspirante a músico vindo de um lar abusivo, que precisa enfrentar o pai, e os desafios para se tornar um astro do rock. Com um orçamento de US$7 milhões, o musical dramático rendeu dez vezes mais, retornando aos cofres da Warner US$70 milhões.

Se deixando dominar por puro ego, como lhe era familiar segundo relatos, Prince não apenas protagoniza, como assina o roteiro e a direção desta dita “sequência não oficial”. Apesar de tal definição, o músico retorna na pele do personagem The Kid, desta vez um pouco mais velho e bem sucedido, dono de um clube noturno – que continua precisando lidar com problemas relacionados ao submundo do crime em sua cidade. Novamente lançado pela Warner, e contando com um disco de mesmo nome ligado ao projeto (que igualmente fez menos sucesso do que o anterior), Graffiti Bridge, o projeto de vaidade de Prince, fez uso de um orçamento mais reduzido em relação ao original, com US$2.4 milhões gastos. Porém, viu retornar igualmente menos dinheiro, apenas conseguindo se pagar com uma bilheteria de US$4.5 milhões – bem abaixo do que era esperado. Quem sabe foi a falta de sua musa Apollonia que lhe trouxe azar?

A Árvore da Maldição

O Exorcista (1973) é considerado por muitos um dos melhores filmes de terror da história do cinema, constantemente citado em listas de especialistas. O sucesso foi tanto que, além de indicações ao Oscar (inclusive de melhor filme, sabia desta?), a produção gerou quatro continuações (com o quarto filme sendo dividido em duas obras de diretores diferentes) e uma série de TV de sucesso. Ou seja, é prestígio para ninguém botar defeito.

Grande parte do sucesso de O Exorcista se deve ao seu diretor, William Friedkin – que igualmente foi indicado ao Oscar na categoria de direção pelo longa. Sendo assim, era somente natural que o retorno do cineasta ao gênero que o consagrou fosse extremamente aguardado. E ele ocorreria 17 anos após ter comandado O Exorcista, com este A Árvore da Maldição. Igualmente baseado num livro, desta vez escrito por Dan Greenburg, a obra fala sobre ocultismo, magia negra, sacrifícios e deuses druidas da natureza.

Na trama, um casal jovem pais de um bebê contratam uma babá para cuidar de sua pequena cria recém-nascida, somente para descobrir que a mulher faz parte de uma sociedade secreta, no melhor estilo A Profecia (1976), que planeja sacrificar a criança para uma árvore-demônio. Detonado pelos críticos, o longa, que teve bastidores problemáticos, subitamente se tornou um “filme maldito” na carreira de Friedkin e dos envolvidos, sobre o qual o cineasta se recusa a falar. Tanto que o diretor utilizou o infame pseudônimo de Alan Von Smithee em uma versão do filme editado para a TV a cabo (e pensar que Sam Raimi, o diretor originalmente vinculado ao projeto, se livrou de uma boa). Embora o orçamento do longa não seja divulgado pela Universal, o filme foi considerado um fracasso financeiro, arrecadando US$17 milhões.

Bônus: Dick Tracy

Tudo bem, esta adaptação dos famosos quadrinhos de Chester Gould capitaneada por Warrern Beatty (que produziu, dirigiu e estrelou o filme) está anos luz dos fracassos discorridos acima. Mas a verdade é que com o investimento que Dick Tracy recebeu, esperava-se que seu desempenho com o público fosse bem melhor. Com quase US$50 milhões em seu orçamento, a Disney viu o retorno do dobro nas bilheterias norte-americanas, e mais US$62 milhões internacionalmente, totalizando US$162 milhões.

É preciso lembrar que Dick Tracy foi levado às telonas para ser a resposta da Disney para Batman, da Warner, lançado no ano anterior. As semelhanças entre os blockbusters são muitas, incluindo uma direção de arte chamativa, grandes nomes no elenco (em especial interpretando os vilões – com Jack Nicholson em Batman, e Al Pacino em Dick Tracy) e a trilha sonora de Danny Elfman – que trabalhou em ambos os filmes. Batman provou (novamente, após Superman – O Filme) que filmes baseados em quadrinhos poderiam ser uma ideia extremamente rentável, e a Disney quis sua fatia desta torta. Até mesmo um disco com músicas de um artista sensação do pop foram equivalentes para as produções, com Prince em Batman e Madonna (igualmente na frente das câmeras, no papel da corista Breathless Mahoney) em Dick Tracy. O que não fizeram igual foi a bilheteria, já que Batman deixou Tracy e Beatty comendo poeira – com um orçamento de US$35 milhões, arrecadou US$251 milhões somente nos EUA, e US$411 milhões mundiais, elevando os blockbusters a outro patamar.

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O revisionismo artístico é um conceito bem interessante. E quando pensamos em cinema, é um exercício saudável e necessário. Afinal, o mundo está o tempo todo em constante mudança, principalmente no que diz respeito a conceitos sociais. O que era regra antes, hoje pode ser a exceção. Mas nada de cancelamentos. O lance é utilizar este estudo antropológico como aprendizado.

A cultura evoluiu muito ao longo dos séculos, e não existe melhor cápsula do tempo do que o cinema. O racismo, o preconceito e o machismo inerentes do passado são só alguns dos tópicos que podem ser encontrados em diversas produções, sem que precisemos voltar muito no passado. Tais elementos que descem extremamente “quadrados” hoje, são razões mais que justificáveis para a impopularidade de uma obra quando a visitamos atualmente. Mas existe também o efeito contrário, de filmes que passaram em branco em seu lançamento, e terminam ganhando status de cult a cada nova geração, terminando considerados à frente de seu tempo.

E aqui no CinePOP somos totalmente a favor de segundas, terceiras e até quartas chances para produções cinematográficas incompreendidas em seu tempo. No entanto, na coluna dos Grandes Flops apresentamos somente os fatos (que não podem ser mudados ou apagados) sobre o custo x bilheteria e opinião crítica de tais longas.

A ideia é celebrar estes fiascos em sua totalidade, visando uma nova oportunidade a estas produções – que nem todos podem conhecer. Desta forma, vem com a gente lembrar destas obras ambiciosas, cujo resultado, ao menos na época, deixou a desejar.

Estes são os Grandes Flops do Cinema que Completam 34 Anos em 2024.

 

O Predador 2

Mais uma segunda parte estreava nos cinemas há trinta e quatro anos. E não será a última da lista. 1990 foi um dos anos com mais continuações na história do cinema, e você achando que era coisa de agora. O Predador (1987), veículo de ação para Arnold Schwarzenegger, embora detonado pela crítica, ganhou ares de cult e fez uma bilheteria decente – com um orçamento de US$15 milhões, recuperando para FOX US$98 milhões mundiais. A premissa era simples: quem enfrentará agora o musculoso protagonista, que já havia descartado tudo quanto era inimigo em seus filmes que exalavam testosterona? E foi assim que algum roteirista teve a ideia de coloca-lo para se digladiar com uma criatura vinda de outro planeta.

Nos anos 1980, filmes com criaturas faziam muito sucesso, com técnicos em efeitos e maquiadores se esbaldando em concretizar alguns personagens que se tornariam icônicos, entrando para sempre no imaginário popular dos fãs e para a história do cinema. Assim, o alienígena humanoide com cara de crustáceo era uma figura interessante demais em seu design para simplesmente desaparecer após um único filme. Ainda mais quando esse filme se mostrou um sucesso. Três anos depois, os executivos da FOX finalmente o tiravam da gaveta para mais uma caçada na Terra.

Porém, se deparavam com o primeiro grande empasse. Schwarzenegger tinha peixes maiores para fritar (como O Exterminador do Futuro 2) e se recusou a voltar. A solução foi mover a ação para uma selva diferente (a Los Angeles do “futuro” de 1997) e escalar Danny Glover (saído do sucesso de dois Máquina Mortífera) para viver o durão e escaldado detetive Harrigan. Embora não tenha o apelo do primeiro, O Predador 2: A Caçada Continua tem seus atrativos e pode ser considerada uma obra subestimada.

Com um orçamento três vezes maior que o original, o filme não se pagou nos EUA, arrecadando apenas US$30 milhões. A salvação do longa foi o mercado internacional, onde juntou outros US$30 milhões, mesmo assim ficando abaixo do esperado. Ah sim, se tornando também uma franquia da qual ninguém sabe o que fazer, já que ao menos outras três investidas – Alien vs. Predador (2004), Predadores (2010) e O Predador (2018) – deram com os burros n’água.

Gremlins 2

Falando em continuações cujo resultado ficou bem aquém do original e do esperado em si, aqui temos a sequência de outra fantasia juvenil saída diretamente de 1984. Esta, com leves toques de terror. Gremlins, com produção de Steven Speilberg, roteiro de Chris Columbus (Esqueceram de Mim) e direção de Joe Dante (Meus Vizinhos São um Terror), entraria para a história como um dos filmes mais queridos e famosos dos anos 1980. Outra vez a Warner demorava para arquitetar a continuação, talvez esperando o roteiro certo. Com o mesmo time na frente e atrás das câmeras, Gremlins 2 sairia seis anos depois, abrindo a década de 1990.

A verdade é que alguns filmes, por mais queridos que sejam, terminam de uma forma que se torna um verdadeiro quebra-cabeça para os roteiristas bolarem uma continuação. Isso mostra que no passado, um longa tinha começo, meio e fim, sem a preocupação de planejar com antecedência uma segunda parte. Por mais louvável que fosse, o fato igualmente terminava colocando os envolvidos, muitas vezes, num beco sem saída, a fim de não deixar transparecer que a opção de continuar uma história era meramente financeira – o que em muitos casos é a mais pura verdade. E Gremlins foi um destes casos onde o “The End” significou o fim mesmo.

Ou será? Já que, um tempinho depois, tiraram da cartola um retorno para o fofucho Gizmo e seus irmãozinhos endiabrados que se transformam em monstrinhos escamosos. A opção para esta sequência foi mover a trama para Nova York, mas como filmar lá é caro, a ação se desenrola toda dentro de um prédio altamente hi-tech. Com um orçamento inflado de US$50 milhões, Gremlins 2 não conseguiu sequer se pagar, arrecadando US$41 milhões. O que colocou um ponto final na cultuada franquia. Desde então boatos sobre um terceiro filme circulam e agora podem estar de fato ganhando vida. Gremlins e Goonies são dois dos filmes que os fãs dos anos 1980 mais querem ver continuações atuais.

 

A História Sem Fim 2

Por mais difícil que seja acreditar, a continuação da querida fantasia alemã foi um fracasso. E sim, eu disse alemã – por mais que seja falada em inglês e tenha atores americanos, o primeiro A História Sem Fim (1984) é uma produção da Alemanha, país de onde saiu o roteirista e diretor do longa Wolfgang Petersen. Mas a verdade é que apenas o filme original é visto e guardado com carinho pelos fãs. E bem que deveriam mesmo, já que é um marco para o cinema de fantasia infantil – reverenciado ainda hoje, como na série Stranger Things, da Netflix. O longa original, com um orçamento de US$27 milhões, arrecadou US$100 milhões mundialmente, se tornando um fenômeno para a época.

Querendo capitalizar no sucesso, mas esperando consideráveis seis anos para tirar a ideia do papel, a Warner (que já havia coproduzido o primeiro e o distribuído na América) confeccionou uma sequência, lançada há exatos 34 anos. Um dos detalhes mais notados pelos fãs foi a mudança do elenco principal, em especial do menino protagonista Bastian e o aventureiro mirim Atreyu – ambos reescalados. Curiosamente, com a saída de Petersen do projeto, outro diretor renomado pegaria a vaga: ninguém menos que o australiano George Miller – então com a trilogia Mad Max e As Bruxas de Eastwick já no currículo.

Quase uma refilmagem do original, a continuação custou ainda mais caro para o estúdio, com um orçamento de US$36 milhões. A arrecadação, no entanto, se mostraria insatisfatória com o retorno de apenas US$17 milhões nos EUA. Devido ao sucesso de sua mitologia e sua carreira internacional, a franquia seguiu para um terceira parte (1994), novamente trocando os atores, uma série em animação (1995) e uma série em live-action (2001).

Rocky V

Calma, por aqui também amamos a franquia Rocky. Mas mesmo dentre os fãs e aficionados, o quinto episódio é considerado o mais problemático e deslocado. De fato, até o próprio criador da franquia Sylvester Stallone confessa o erro que foi este Rocky V. O gosto amargo do filme deixou o ator inquieto por dezesseis anos, até tirar da cartola Rocky Balboa (2006) – simplesmente para poder ter um “encerramento” adequado para a franquia. A tentativa de voltar às origens aqui se mostrou um tiro no pé, com Rocky de volta ao seu velho bairro depois de ter perdido tudo. Mas o pior é a trama em si.

No quinto filme, Rocky não sobe aos ringues (coisa que poderia muito bem fazer, já que voltaria para lutar com tudo dezesseis anos depois)! A opção por uma “história mais humana”, mostra o protagonista treinando um novo talento promissor, a quem acolhe como um pupilo, enquanto renega o próprio filho e seus problemas. No entanto, seu lutador protegido irá se mostrar fraco de caráter, o traindo. O clímax ocorre com os dois saindo no braço no meio da rua, numa briga sem regras.

O fato faz de Rocky V o ponto fora da curva da franquia. Fracasso de crítica, o longa sequer se pagou em território norte-americano, custando US$42 milhões e arrecadando US$40 milhões. Graças ao mercado internacional, Rocky V conseguiu escapar por completo do desastre, retornando uma boa bilheteria mundial. Mas se levarmos em conta o desempenho do antecessor Rocky IV, que se tornou a segunda maior bilheteria de cinco anos antes, com absurdos US$300 milhões mundiais, e US$130 milhões só nos EUA, fica ainda mais evidente o mau desempenho deste sucessor.

 

A Fogueira das Vaidades

Começamos a lista com o que é provavelmente o maior fracasso do cinema de 34 anos atrás. E não apenas isso, A Fogueira das Vaidades pode ser considerado um dos maiores fracassos dos anos 1990, e quem sabe da história do cinema. Além disso se tornou uma verdadeira aula de como NÃO adaptar um livro de tremendo sucesso ao cinema. Baseado no best-seller de Tom Wolfe, o filme logo se tornou um baita investimento da Warner, que almejava levar para as telonas em grande estilo a história sobre um magnata e sua amante que atropelam um sem-teto e fogem sem prestar socorro, vendo sua vida de alta classe social ser virada do avesso graças a investigação de jornalista alcoólatra desacreditado.

Dá para ver por esta premissa que um suculento tema sobre luta de classes pode ser espremido daí – algo que não é novidade em Hollywood. A narrativa da obra literária, apesar do assunto trágico e sério, é levado na base da acidez e ironia, acrescentando muitas camadas ao texto. Para a empreitada, o estúdio tirou de seus cofres US$50 milhões para o orçamento e contratou para o comando o veterano prestigiado Brian De Palma – recém saído dos sucessos de Os Intocáveis e Pecados de Guerra, aderindo assim à sua primeira comédia.

Na frente das telas, um verdadeiro time de peso: Tom Hanks, Melanie Griffith e Bruce Willis dividindo as telas pela primeira vez. Além de uma ponta de Morgan Freeman. Uma das maiores críticas que o filme recebeu foi sobre a escalação equivocada de Willis para o papel do jornalista, e seu trabalho ligado no automático. Conclusão: o alto investimento viu o retorno de apenas minguados US$15 milhões em bilheteria, além de um verdadeiro massacre por parte da crítica. 

Duck Tales – O Filme

Quem ouve falar da Disney hoje, uma mega corporação dona de propriedades como a Fox, a saga Star Wars, a Pixar e a Marvel, só pensa em monopólio e em domínio mundial. A geração atual pode até achar que a entidade multibilionária é perfeita e sem defeitos. Mas estes mesmos não imaginam o perrengue que o estúdio já passou, e para isso nem precisamos voltar muito no tempo, 34 anos no passado já está bom. No mesmo ano do fiasco Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus, a Disney lançava outra produção animada que visava cair no gosto dos pequenos, se tornando o novo fenômeno popular, mas tudo que viu foi despesas e dor de cabeça – já que as crianças da época só queriam saber de Batman e das Tartarugas Ninja: então dois sucessos recentes.

Aqui, falamos de Duck Tales – O Filme, adaptação para as telonas de um famoso desenho animado da casa. Duck Tales: Os Caçadores de Aventuras deu protagonismo nas telinhas pela primeira vez para o avarento Tio Patinhas, o tio ricaço, mas pão duro, do Pato Donald, e seus três sobrinhos: Huguinho, Zezinho e Luizinho (Hewey, Dewey e Louie). O seriado foi uma febre, e durou de 1987 a 1990 – terminando bem na época do lançamento de sua primeira versão em longa-metragem. No cinema, com ares de Indiana Jones, no entanto, ninguém quis pagar para ver os personagens. Apesar das críticas na maioria positivas, a animação não fez o barulho esperado pelo estúdio e mesmo com uma bilheteria de US$18 milhões, gerou um prejuízo de US$2 milhões para a Disney. Mas nem tudo está perdido, já que uma nova série animada com os personagens de Duck Tales foi lançada em 2017, e ainda está no ar.

Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus

Por mais que A História Sem Fim e Gremlins tenham demorado a gerar continuações, nada se compara a esta animação da Disney – que criou uma lacuna geracional entre seus fãs. Afinal, qual criança ou adolescente em 1990 lembraria do sucesso Bernardo e Bianca, lançado em… 1977? A dupla que dá nome ao título são dois camundongos parte de uma agência de investigação e resgate, cuja última missão é encontrar uma garotinha sequestrada por caçadores. O filme, que teve US$7.5 milhões de orçamento, arrecadou US$71.2 milhões em bilheteria, algo muito impressionante.

Apesar do sucesso, na época a Disney não era essa máquina de gerar franquias e continuações que é hoje, acreditando muito mais em histórias originais. Pula para 1990, uma época que, como dito, viu uma enxurrada de continuações ser lançadas. Seguindo de perto a tendência, o estúdio do Mickey resolveu dançar conforme a música e orquestrar o retorno de dois outros ratinhos famosos de seu acervo. O problema? Talvez tenham esperado demais, já que a volta de Bernardo e Bianca demorou nada menos que treze anos. Desta vez, a ideia foi leva-los para a Austrália, onde um caso envolvendo um menino desparecido e uma rara águia dourada na mira de caçadores os aguardava. Com um orçamento de US$30 milhões, a animação sequer se pagou, rendendo em bilheteria US$27 milhões. O fato fez do filme uma das produções animadas da Disney mais obscuras de seu acervo.

Air America – Loucos Pelo Perigo

Com franquias como Mad Max e Máquina Mortífera em seu currículo, a carreira de Mel Gibson ia de vento em popa. Justamente no período, o ator australiano era alçado ao status de astro de Hollywood, com cada projeto tocado por ele se transformando em ouro imediato. Por outro lado, seu colega mais jovem Robert Downey Jr saía de uma leva de produções adolescentes, onde ele acumulou muito reconhecimento, e agora estava pronto para alçar voos mais altos (com o perdão do trocadilho). A união da dupla era por si só um evento, já que eram dois dos atores mais quentes da época, vindos de gerações diferentes.

E o projeto escolhido para protagonizar juntos foi a adaptação do livro de Christopher Robbins sobre audaciosos pilotos de helicóptero realizando entregas durante a Guerra do Vietnã. A produção ficou a cargo da extinta Carolco, com distribuição da Columbia / Sony. Mesmo com a diversão de termos Gibson e Downey Jr em cena, o filme rendeu abaixo do esperado para o estúdio – já que o público, a este ponto, talvez estivesse cansado de obras sobre o tema (a Guerra do Vietnã havia sido abordada consecutivamente em sucessos como Platoon, Nascido para Matar, Pecados de Guerra e Nascido em 4 de Julho, por exemplo, há pouco tempo). Com um orçamento de US$35 milhões, Air America rendeu US$31 milhões, e mais US$2 milhões internacionalmente, ainda assim sequer se pagando.

Graffiti Bridge

Voltando ao tópico das continuações, não são apenas os filmes de ação, fantasia, terror e animação que geram sequências, dramas musicais igualmente podem render uma franquia. Ou ao menos tentar. O mais curioso de algumas segundas partes de obras não é o fato de serem inferiores aos seus originais, ou sequer não atingir o resultado esperado, mas sim cair tão profundamente na obscuridade, que nem ao menos tomamos conhecimento que tais longas existem. Afinal, você já tinha ouvido falar na continuação de O Mágico de OZ, criada pela própria Disney, ou do cult máximo do cinema noir detetivesco Chinatown? Pois bem, mas saibam que elas existem, basta procurar na internet.

Exatamente no mesmo quesito podemos encontrar a continuação de Purple Rain, coincidentemente lançado seis anos antes de sua sequência – deu pra sentir uma temática aqui, certo? Mas antes, vamos responder à pergunta dos mais novos, que neste momento devem estar comentando: “que diabos é Purple Rain”? Bem, alguns podem até se lembrar da canção de mesmo nome do artista multifacetado e saudoso Prince. Pois a música foi criada pelo cantor para ser o carro-chefe de uma produção cinematográfica de mesmo nome, que fez grande sucesso e vendeu muitos discos de sua trilha sonora. No filme, Prince conta meio que a história de sua vida, como um aspirante a músico vindo de um lar abusivo, que precisa enfrentar o pai, e os desafios para se tornar um astro do rock. Com um orçamento de US$7 milhões, o musical dramático rendeu dez vezes mais, retornando aos cofres da Warner US$70 milhões.

Se deixando dominar por puro ego, como lhe era familiar segundo relatos, Prince não apenas protagoniza, como assina o roteiro e a direção desta dita “sequência não oficial”. Apesar de tal definição, o músico retorna na pele do personagem The Kid, desta vez um pouco mais velho e bem sucedido, dono de um clube noturno – que continua precisando lidar com problemas relacionados ao submundo do crime em sua cidade. Novamente lançado pela Warner, e contando com um disco de mesmo nome ligado ao projeto (que igualmente fez menos sucesso do que o anterior), Graffiti Bridge, o projeto de vaidade de Prince, fez uso de um orçamento mais reduzido em relação ao original, com US$2.4 milhões gastos. Porém, viu retornar igualmente menos dinheiro, apenas conseguindo se pagar com uma bilheteria de US$4.5 milhões – bem abaixo do que era esperado. Quem sabe foi a falta de sua musa Apollonia que lhe trouxe azar?

A Árvore da Maldição

O Exorcista (1973) é considerado por muitos um dos melhores filmes de terror da história do cinema, constantemente citado em listas de especialistas. O sucesso foi tanto que, além de indicações ao Oscar (inclusive de melhor filme, sabia desta?), a produção gerou quatro continuações (com o quarto filme sendo dividido em duas obras de diretores diferentes) e uma série de TV de sucesso. Ou seja, é prestígio para ninguém botar defeito.

Grande parte do sucesso de O Exorcista se deve ao seu diretor, William Friedkin – que igualmente foi indicado ao Oscar na categoria de direção pelo longa. Sendo assim, era somente natural que o retorno do cineasta ao gênero que o consagrou fosse extremamente aguardado. E ele ocorreria 17 anos após ter comandado O Exorcista, com este A Árvore da Maldição. Igualmente baseado num livro, desta vez escrito por Dan Greenburg, a obra fala sobre ocultismo, magia negra, sacrifícios e deuses druidas da natureza.

Na trama, um casal jovem pais de um bebê contratam uma babá para cuidar de sua pequena cria recém-nascida, somente para descobrir que a mulher faz parte de uma sociedade secreta, no melhor estilo A Profecia (1976), que planeja sacrificar a criança para uma árvore-demônio. Detonado pelos críticos, o longa, que teve bastidores problemáticos, subitamente se tornou um “filme maldito” na carreira de Friedkin e dos envolvidos, sobre o qual o cineasta se recusa a falar. Tanto que o diretor utilizou o infame pseudônimo de Alan Von Smithee em uma versão do filme editado para a TV a cabo (e pensar que Sam Raimi, o diretor originalmente vinculado ao projeto, se livrou de uma boa). Embora o orçamento do longa não seja divulgado pela Universal, o filme foi considerado um fracasso financeiro, arrecadando US$17 milhões.

Bônus: Dick Tracy

Tudo bem, esta adaptação dos famosos quadrinhos de Chester Gould capitaneada por Warrern Beatty (que produziu, dirigiu e estrelou o filme) está anos luz dos fracassos discorridos acima. Mas a verdade é que com o investimento que Dick Tracy recebeu, esperava-se que seu desempenho com o público fosse bem melhor. Com quase US$50 milhões em seu orçamento, a Disney viu o retorno do dobro nas bilheterias norte-americanas, e mais US$62 milhões internacionalmente, totalizando US$162 milhões.

É preciso lembrar que Dick Tracy foi levado às telonas para ser a resposta da Disney para Batman, da Warner, lançado no ano anterior. As semelhanças entre os blockbusters são muitas, incluindo uma direção de arte chamativa, grandes nomes no elenco (em especial interpretando os vilões – com Jack Nicholson em Batman, e Al Pacino em Dick Tracy) e a trilha sonora de Danny Elfman – que trabalhou em ambos os filmes. Batman provou (novamente, após Superman – O Filme) que filmes baseados em quadrinhos poderiam ser uma ideia extremamente rentável, e a Disney quis sua fatia desta torta. Até mesmo um disco com músicas de um artista sensação do pop foram equivalentes para as produções, com Prince em Batman e Madonna (igualmente na frente das câmeras, no papel da corista Breathless Mahoney) em Dick Tracy. O que não fizeram igual foi a bilheteria, já que Batman deixou Tracy e Beatty comendo poeira – com um orçamento de US$35 milhões, arrecadou US$251 milhões somente nos EUA, e US$411 milhões mundiais, elevando os blockbusters a outro patamar.

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