Nascido há exatos 87 anos, Jerome Silberman, ou Gene Wilder (como ficou conhecido mundialmente), se tornou um dos humoristas/atores mais proeminentes do cinema entretenimento norte-americano – vulgo Hollywood – nas décadas de 1970 e 1980. Ele foi, por exemplo, o Willy Wonka original na inesquecível primeira versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971). Dirigiu comédias famosas como A Dama de Vermelho (1984), participou de filmes de gente como Stanley Donen, Woody Allen, Sidney Poitier e Arthur Hiller, além de ter feito carreira ao lado de personalidades como Mel Brooks e Richard Pryor.
Indicado aos Oscar de melhor ator coadjuvante (Primavera para Hitler) e melhor roteiro adaptado (O Jovem Frankenstein), Wilder havia parado de atuar no cinema ainda no início da década de 1990, por seu estilo farsesco de humor não se enquadrar muito mais nos novos tempos. Assim, seus últimos trabalhos foram em séries e filmes para a TV. Suas últimas participações como ator na telinha foram na série Will & Grace, em 2002 e 2003. Depois disso, Wilder se aposentou. Ele viria a falecer em agosto de 2016, aos 83 anos.
Sua contribuição ao mundo do cinema, porém, jamais será esquecida. E como forma de homenagear este lendário comediante, o CinePOP separou uma lista com 10 filmes imprescindíveis para conhecer ou celebrar Gene Wilder. Vem conhecer.
Primavera para Hitler (1967)
Embora já tivesse participado do clássico criminal indicado ao Oscar Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas, lançado no mesmo ano, seu grande destaque mesmo veio como o contador tímido Leo Bloom – papel pelo qual foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante, coisa rara para performances cômicas. Nesta primeira parceria com o cineasta Mel Brooks, Wilder vive parte de uma dupla de trapaceiros que planeja embolsar o dinheiro da produção de uma peça, e para isso eles precisam que ela seja um completo fracasso. Assim, qual tema melhor do que uma obra que enalteça Hitler e o nazismo? Pelo filme, Brooks ganhou o Oscar de roteiro adaptado. Anos depois, o próprio autor adaptou o texto para os palcos, e esta versão igualmente foi adaptada ao cinema em 2005.
A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971)
“Come with me, and you’ll be in a World of Pure Imagination…” – Quem pode esquecer o tema atemporal de um dos maiores sucessos do cinema infantil de todos os tempos? Adaptação do livro de Roald Dahl (que também escreveu o roteiro para o cinema), muitos talvez conheçam a obra pela versão que Tim Burton dirigiu com Johnny Depp no papel em 2005. E por mais que o remake tenha seus méritos e fãs, é para o filme original que todos devem olhar. Além da magia e encantamento das músicas, Wilder cria um Willy Wonka muito mais simpático e humano. O filme foi indicado para melhor trilha e Wilder recebeu indicação no Globo de Ouro por seu desempenho.
Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, mas Tinha Medo de Perguntar (1972)
Essa é de encher a boca. Um dos títulos mais longos da história do cinema, tanto em seu original quanto na versão em português, esta obra faz parte da era de humor non sense de Woody Allen. E você, sabia que o cultuado cineasta fazia filmes de humor pastelão em seu início de carreira? Foi a partir de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), que seus filmes passaram a ser mais… digamos, sérios e a abordar relacionamentos de forma mais adulta e dramática. Aqui, no entanto, temos sete histórias relacionadas apenas através das questões sobre sexo. Wilder vive um respeitado médico, cuja carreira fica arruinada após ele se apaixonar sexualmente por… uma ovelha!
Banzé no Oeste (1974)
Aqui duas das mais duradouras parcerias de Gene Wilder no cinema ocorreram. Esta foi a segunda colaboração do ator com o cineasta Mel Brooks. E, de certa forma, a primeira com Richard Pryor, que embora não participe como ator, é um dos roteiristas creditados no texto do longa. Sátira dos faroestes, Brooks usa um xerife negro (papel Cleavon Little) para falar do racismo e preconceito da época. Em tempos de retratações históricas, há de se imaginar como o filme irá soar para a mentalidade atual. Wilder vive um pistoleiro que faz amizade e se mantém ao lado do novo xerife. Banzé no Oeste foi indicado ao Oscar de atriz coadjuvante (Madeline Kahn), edição e canção para ‘Blazing Saddles’ – música título da obra.
O Pequeno Príncipe (1974)
O ano de 1974 foi o mais produtivo para a carreira de Gene Wilder, e foi quando o ator participou de três produções renomadas do cinema. Aqui, ele aparecia em participação especial na pele da esperta e traiçoeira Raposa. O Pequeno Príncipe, é claro, é a versão para as telonas em carne e osso do clássico livro do francês Antoine de Saint-Exupéry – que já foi uma série em desenho animado (japonês!) exibido durante a década de 1980 no Brasil e recentemente teve um novo longa na forma de animação para o cinema. O filme sobre um menino príncipe de outro planeta que vem visitar a Terra, foi dirigido por Stanley Donen (Cantando na Chuva), indicado ao Oscar de melhor canção original para ‘Little Prince’ e melhor trilha sonora, além de melhor filme comédia ou musical no Globo de Ouro.
O Jovem Frankenstein (1974)
Fechando a trinca das produções estreladas por Gene Wilder em 1974, o ator voltava a se encontrar com Mel Brooks no mesmo ano e, como citado, saía da experiência com uma indicação ao Oscar pela colaboração no roteiro do filme. Durante sua carreira, o cineasta Mel Brooks ficou conhecido por filmes que parodiavam gêneros cinematográficos, ou obras clássicas. E depois de tirar sarro com os faroestes, o alvo de sua comédia era o icônico Frankenstein (1931). Tido como uma das comédias mais engraçadas de todos os tempos, e filmada em preto e branco, O Jovem Frankenstein traz Wilder na pele de Frederick ‘Frankensteen’ (como ele gosta de pronunciar seu sobrenome), neto do cientista no conto clássico – determinado a voltar para Transilvânia e provar que seu avô não era louco como todos imaginavam. O filme foi indicado para melhor trilha, além da citada.
O Expresso de Chicago (1976)
Agora sim. Este é oficialmente o primeiro filme que marca a união na frente das telas de Gene Wilder e Richard Pryor, uma das maiores duplas cômicas do cinema – seguindo o rastro de lendas como O Gordo e o Magro, Jerry Lewis e Dean Martin, e tantas outras. Neste típico suspense Hitchcockiano, Wilder vive um homem comum no lugar errado, neste caso, um trem para Chicago. Logo ele se torna suspeito de um assassinato, se vê no meio de um romance, e faz amizade com um ladrão (Pryor), precisando fugir da polícia e livrar seu nome. Lembrando que temos Wilder e Pryor aqui, então é claro que este thriller também possui grandes doses de humor. O filme foi indicado ao Oscar de melhor trilha sonora e melhor ator de comédia para Wilder no Globo de Ouro.
Loucos de Dar Nó (1980)
Recobrando sua parceria quatro anos depois, Wilder e Pryor estavam de novo juntos. Desta vez, com Pryor ganhando mais espaço na trama. A dupla interpreta dois melhores amigos, acusados injustamente de um crime, e condenados à prisão. Já deu para perceber que esta é uma sátira, de certa forma, dos filmes de cadeia – um subgênero próprio. O filme da Columbia/Sony é dirigido por Sidney Poitier, um dos fortes representantes do cinema negro nos EUA.
Hanky Panky: Uma Dupla em Apuros (1982)
Aqui Wilder dava um tempo na parceria com Pryor, mas voltava a investir em sua contribuição com o diretor e astro Sidney Poitier – que comanda a obra. Outro filme que poderia facilmente ter sido comandado por Alfred Hitchcock, o longa coloca o ator novamente como protagonista numa trama típica de enganos, espionagem, ação e crime. Hanky Panky é importante na carreira de Wilder, pois marca sua primeira colaboração nas telonas com a humorista Gilda Radner, grande sucesso no programa Saturday Night Live (1975-1980), com quem foi casado de 1984 até sua morte devido ao câncer de ovário em 1989, aos 42 anos. A dupla voltaria a protagonizar no “terrir” Lua de Mel Assombrada (1986), escrito e dirigido por Wilder. Em 2018, um documentário sobre a atriz, intitulado Love, Gilda, foi lançado e concorreu a dois Emmys.
A Dama de Vermelho (1984)
Talvez um dos filmes mais lembrados do ator, em especial para a geração que cresceu nos anos 1980, devido às reprises na TV aberta durante a tarde. Ah sim, e claro, pela canção inesquecível de Stevie Wonder, ‘I Just Called to Say I Love You’, que, obviamente, ganhou o Oscar na categoria. Escrito e dirigido por Wilder, o filme é na verdade a refilmagem do francês O Doce Perfume do Adultério (1976), que inclui até mesmo a famosa cena do vestido vermelho. Na versão americana, a beldade ex-modelo Kelly LeBrock (a Mulher Nota Mil de John Hughes) dá uma de Marilyn Monroe em O Pecado Mora ao Lado (1955), personificando a figura da tentação para um homem casado (Wilder) e inclusive encenando o momento do vestido voando – aqui bem mais explícita.
Bônus 1: Cegos, Surdos e Loucos (1989)
Outro filme popular nas Sessões da Tarde dos anos 1980, esta foi a terceira parceria de Gene Wilder e Richard Pryor, e a segunda da dupla com o diretor Arthur Hiller, de O Expresso de Chicago. Desta vez, Pryor ganhava crédito acima de Wilder como protagonista, e os dois se viam mais uma vez numa história envolvendo crime, intriga e homens comuns no meio de uma trama que os engole por inteiro. Para piorar o azar da dupla, Wally (Pryor) é cego, e Dave (Wilder) é surdo. Aqui, Wilder é um dos colaboradores do roteiro.
Bônus 2: Um Sem Juízo, Outro Sem Razão (1991)
Esta comédia marca a última parceria da dupla Wilder e Pryor nas telonas – com o segundo ganhando novamente crédito como protagonista. Richard Pryor estava aposentado desde 1999, e viria a falecer em 2005 de um ataque cardíaco, aos 65 anos. Além disso, marca também o último filme para o cinema protagonizado por Gene Wilder. Na trama, Wilder vive um homem que passou três anos numa instituição psiquiátrica e finalmente está livre para ser ressocializado. Em seu caminho está Pryor, um vigarista, que vê a oportunidade de um novo golpe quando Wilder começa a ser confundido com um milionário.