quinta-feira , 21 novembro , 2024

Geração Big Brother: Em Busca da Fama

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Certa vez, o famoso artista pop Andy Warhol refletiu que haveria um dia em que todas as pessoas teriam os seus 15 minutos de fama. Ou então, os desejaria em algum momento. A reflexão profética é praticamente uma realidade na contemporaneidade, mas essa busca desenfreada pela projeção nas mídias para alcançar sucesso não é coisa da atualidade. Na terra de ninguém que é o ciberespaço, por exemplo, o circo de horrores se estabeleceu há algum tempo: as pessoas, tanto as famosas quanto os nossos colegas, bem como amigos e conhecidos, constantemente apelam para ganhar atenção. Com as redes sociais, houve um aumento vertiginoso desse panorama. Já percebeu como tem se tornado uma celeuma frequente? Mesmo sem o que conhecemos por talento artístico, você já percebeu quantas pessoas estão ganhando os seus minutos de fama na mídia? Desprovidas de qualquer habilidade que as transforme em representantes de seus postos em músicas, videoclipes, filmes, programas televisivos e nas redes sociais, as celebridades do mundo contemporâneo e os seus anseios pela fama rendem discussões calorosas para os comunicólogos, mas nos assustam pela forma como buscam esse posto a qualquer custo, nem que seja através de situações consideradas extremas.

Será que tal postura realmente vale à pena? Há um diálogo em Tudo Sobre Minha Mãe, do cineasta Pedro Almodóvar, em que a personagem Huma Rojo (Marisa Paredes), famosa atriz de teatro que atravessa uma bela turnê com a peça Um Bonde Chamado Desejo, clássico moderno de T. Williams, confessa para a protagonista Manuela (Cecília Roth) que a fama não é isso tudo que se imagina, pois “depois que a pessoa se acostuma é como se não existisse”. A afirmação da personagem, trazida para o tecido da realidade, comprova-se ao olharmos artistas famosos que afundaram diante da incapacidade de lidar com os proventos e pressões diante do sucesso: Amy Winehouse, Britney Spears, Michael Jackson, Whitney Houston, etc. Diante disso, uma questão me veio quando esbocei os primeiros trechos desta reflexão iniciada em 2017 e retomada cinco anos depois: por qual motivo as pessoas alimentam esse desejo pela fama, mesmo diante de tantos exemplos que comprovam a efemeridade numa sociedade do espetáculo ávida por novidades responsáveis por descartar celebridades no mesmo ritmo que fabrica outras?



Para melhor compreender, fiz o habitual investimento em leituras de especialistas, o que chamamos na metodologia científica de referencial teórico para embasamento das minhas afirmações. De acordo com Lisete Barlach, psicóloga e professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, “a valorização do visual e do espetáculo é algo que surgiu e evoluiu no século XX, com grande influência da TV, do cinema e, agora, das multimídias e redes sociais”, isto é, “nosso parâmetro de bem estar e felicidade ficou intimamente ligado aos famosos e ao processo de superexposição destes indivíduos”. Antes de versar sobre figuras mais contemporâneas, farei uma breve digressão para ilustrar a linha de pensamento que se propõe aqui, combinado? O desejo por fama e glória não é algo atual. Ao longo do poema épico Ilíada, de Homero, a mãe do herói Aquiles faz uma aparição e o questiona sobre o desejo de ter uma vida longa, entretanto, tranquila, ou morrer cedo, mas ser lembrado pela eternidade. Como sabemos, o herói vai honrar o seu nome na guerra de Tróia, lutar pelos gregos e derramar bastante sangue. Como previa a profecia, no entanto, é tudo efêmero, pois o herói morre atingido no calcanhar, dando espaço para a famosa expressão popular que conhecemos atualmente, um símbolo de fragilidade.

Antes da conversa com a sua mãe, Aquiles recebera a visita de Odisseu, rei de Ítaca, convidando-o para a batalha na guerra que já se arrastava por bastante tempo. Aquiles avisa que vai pensar e antes da sua decisão, recebe um aconselhamento que pode ser definido como uma profecia devidamente delineada, isto é, ele pode ir para a guerra e demonstrar bravura, ter o seu nome eternizado, mas infelizmente, não sobreviverá ao conflito. O herói, desta forma, decide partir para o enfrentamento bélico com os troianos, mesmo ciente da condição. O seu interesse maior era ser eternizado. Alegoricamente, podemos relacionar com a busca pela fama na contemporaneidade, salvaguardadas as devidas proporções, obviamente, pois o que observamos no cenário contemporâneo é uma metáfora desgastada e bastante caricata da decisão de Aquiles, pois muitas pessoas alçadas para a fama submetem-se constantemente a situações que beiram ao extremismo. Se ser famoso é algo tão bom, por que as há artistas que agridem fotógrafos e jornalistas ao terem as suas vidas expostas?

O sabor da fama pode ser agridoce para alguns. Para outros, pode ser bastante amargo. Um ponto, no entanto, sempre é levantado quando promovo o debate com meus estudantes em sala de aula. Convenhamos, diante das críticas e dos perigos que envolvem a questão, temos que considerar: não é tão bom ter determinados privilégios? É o que me perguntam constantemente. Ser capa de revista, estrelar filmes ou campanhas de moda, adentrar para o imaginário coletivo, usufruir dos melhores maquiadores, cabelereiros, usar as melhores roupas e sapatos, ampliar o número de seguidores no Instagram e assim, gozar de muitos privilégios que uma pessoa comum supostamente não pode alcançar. Quem não gostaria de mimos do tipo? Acredito que poucos. Ir aos eventos sem precisar de ingresso ou convite, ganhar bastante dinheiro, circular entre pessoas famosas que admiramos e aparecer na televisão. Tudo isso é fama e tem um sabor peculiar, mas o problema é que há muita gente disposta a arriscar a própria vida em prol da causa. Outras se perdem dentro do processo e violam os limites da ética, do bom-senso e até mesmo de suas respectivas sanidades, algo tão caro num mundo pós-pandêmico.

Em minha navegação com bússola, isto é, as palavras-chave adequadas para o encontro de reflexões que dialoguem com o tema, tive acesso ao elucidativo artigo de Nelson Traquina, intitulado “O estudo do Jornalismo no século XX”, texto onde o especialista reforça o meu ponto de vista e alega que esta busca desenfreada por fama não é algo tão atual. Ele aponta que essa prática de deslumbramento pelo mundo das celebridades nos remete também ao século XV, especificamente no ano da morte de Shakespeare, por volta de 1616, época em que 30% dos 25 livros noticiosos tratavam do modo de vida das rainhas, bem como notícias sensacionalistas e assassinatos misteriosos e polêmicos. Considerei a informação bastante curiosa, pois muita gente acredita que a busca pela fama é algo especificamente do mundo atual. Como já mencionado, sabemos que isso se tornou mais intenso com a “certa” democratização da internet, da televisão, bem como o advento das redes sociais. Assim, ser uma celebridade, aparentemente, é fazer parte de um esquema de vendas, não apenas de pequenas e grandes marcas, mas também da imagem de uma pessoa. Além da vontade de ser parte da teia glamorosa tecida cotidianamente pelos jornais e redes sociais, os adeptos ao posto de famosos tornam-se um perigo para si mesmos quando a obsessão pela fama se torna uma questão patológica, algo ilustrados em três exemplos, selecionados para o leitor.

Inês Brasil, Quem é Essa Garota?

Prazer culposo: eu também gargalho com alguns vídeos de Inês Brasil. Confesso. Pronto, falei. Quando bate o tédio e a mente está cansada de tanta produção intelectual, basta um clique no YouTube para o espetáculo de horror e humor se fazer diante dos meus olhos. Toda vez que a vejo, lembro do que aponta o psiquiatra Eduardo Arnet, numa entrevista concedida há alguns anos na mídia. Ele diz que “desejar ser visto ou ouvido é algo inerente ao ser humano, comportamento que pode ser observado desde a infância”. Colocação simples, mas muito elucidativa para entendermos Inês Brasil, parte do que chamo de cultura do excesso. Como pode uma mulher tão incoerente fazer tanto sucesso? Sinal dos nossos tempos? Como lidar? Basta sentar para assistir a um vídeo da musa dos “cibernavegadores” que temos, da melhor maneira possível, uma aula de coesão e coerência pronta para os estudantes que se preparam para o ENEM. Leia-se: uma aula de como a falta de coesão e coerência podem prejudicar uma mensagem.

Chego a me questionar se a pictórica personagem é real ou apenas uma construção midiática. Será que é possível existir alguém assim? Verdade seja dita, Inês Brasil é um sucesso: nas boates que frequenta fazendo os seus shows, o público faz questão de lotar. São palavras soltas sem uma mensagem conexa, além de absurdos para levar o público ao riso, como por exemplo, o microfone penetrado em si mesma, num espetáculo trash realizado em Manaus, ação que ganhou bastante repercussão na internet. Por ter apoiado um político genocida na eleição brasileira de 2018, a celebridade perdeu muitos de seus seguidores, mas em nosso cenário posterior ao advento da pandemia da covid-19, o “vírus” do nonsense desta senhora continua em circulação, mesmo que o vigor de antes não seja mais o mesmo. Inês Tânia Lima da Silva é descrita em seu perfil na internet como cantora, compositora, vlogueira, dançarina e web-celebridade. A “artista” ganhou notoriedade com o vídeo enviado para a seleção dos participantes do Big Brother Brasil 2013, publicado no final de 2012, material que “viralizou” no ciberespaço e até hoje é um recordista de acessos, ao surgir constantemente nas redes sociais.

O sangue de artista circula na história de sua família. O seu pai foi cantor e compositor da Escola de Samba Quilombo dos Palmares. Inês já cantou no coral da Igreja e depois de um tempo no Rio de Janeiro, morou com o marido na Alemanha. Em 16 de junho de 2016, foi parte da campanha de divulgação da série Orange is The New Black, produto original do serviço de streaming Netflix. Musa da internet, a subcelebridade deu o retorno positivo que a campanha buscou, mas não trouxe uma molécula de oxigênio para a carreira de uma artista que talvez não possa ser rotulada como tal. Ou será que pode? Você, caro leitor, o que acha? Em 2016, ao recorrer ao fappening, isto é, vazamento de vídeos sexuais, Inês comprovou mais uma vez a fragilidade da sua imagem e a necessidade de se manter presente. Lembrou-me de trechos do A Vida é um Filme: fama e celebridade no século XXI, organizado por Eduardo Cintra Torres e José Pedro Zúquete, reflexões que tratam da fama e da idolatria na cultura dos tabloides, afirmando que estes produtos são “enlatados para consumo rápido que entram e saem rapidamente”, isto é, “pessoas que ganham notoriedade repentina, por conta de algum escândalo na mídia”. Algumas delas desaparecem no ar sem deixar vestígios. Inês Brasil mostra-se eficaz neste sentido. No “ar” desde 2013, ainda consegue views com suas postagens. Como explicar este fenômeno?

Ei, Essa Não é a Britney Spears: Uma Análise de Lorna Bliss

Revelada no mesmo programa que o fenômeno vocal Susan Boyle, Lorna Bliss chocou os telespectadores em duas performances extremamente apelativas no divertido Britain’s Got Talent. Cover da cantora Britney Spears desde 2001, a garota possui semelhanças físicas com a artista, além de uma dimensão psicológica bem direcionada: ser performer e fazer sucesso, mesmo que para isso, tenha que passar por constrangimentos e humilhações. Bliss fez plástica para ficar ainda mais parecida com a sua musa. Quando Britney teve o seu momento colapso em 2007, a moça também raspou a cabeça, numa atitude de “solidariedade”, pois de qualquer maneira, precisava emular o fenômeno que acompanhava cotidianamente. Com um roupão preto que a deixava misteriosa no palco, a candidata do Britain’s Got Talent começou a performance ao som de Toxic, uma das canções do álbum In The Zone. Logo nos primeiros segundos da apresentação, jogou o roupão para o lado e ficou praticamente nua. Vaiada por conta da coreografia descompassada, pela voz de Pato Donald e pelos demais exageros, a jovem deixou o palco.

Os produtores do programa compreenderam as controvérsias e deram outra chance para a sua apresentação, desta vez mais certinha e bem elaborada, repleta de dançarinos e mapa de palco organizado, no entanto, tal como a artista que admira, Lorna Bliss não tinha a voz suficiente para cantar, e, por isso, foi eliminada da competição. Mais adiante, no X-Factor, provocou outra polêmica. Era 2012 e no palco, a moça se apresentou ao som da canção Till The World’s End, do álbum Femme Fatale, de Spears. O resultado, por sua vez, foi ainda pior, pois a performance era igualmente apelativa. Diferente do programa anterior, não rolou segunda chance. Talvez consciente da inabilidade para ganhar prêmios em shows de talento, Lorna Bliss continua o seu trabalho como cover da musa Britney Spears. Tentativas em programas de auditório do tipo? Ao menos em minhas pesquisas, não encontrei nenhum vestígio da garota que desejou, e ainda deve desejar, ser famosa a qualquer custo.

“Eu Já Contei Tantas Mentiras Que Comecei a Acreditar Nelas”: Fama e Psicopatia

Em A Busca pela Fama, artigo da jornalista Paloma Bueno, publicado no Correio Paulista, a especialista afirma que a fama em alguns casos deixou de ser consequência, mas um objetivo. Plataformas como BBB e outros genéricos são veículos que promovem o desejo de fama alimentado por estes indivíduos, muitas vezes baseados em aspectos superficiais. A busca pela fama às vezes se torna patológica. Na ficção, filmes e séries já trataram muito bem a temática, tais como o musical Hairspray – Em Busca Pela Fama e a série Star, ambos sobre jovens em busca de sucesso no bojo da indústria cultural. No entanto, nenhum deles é tão impactante quanto Pânico 4, orquestrado por Wes Craven e escrito por Kevin Williamson, filme que encerra a franquia com uma interessante discussão sobre a obsessão pela fama e pelos tais “minutos de sucesso” na sociedade do espetáculo. Na produção, a protagonista Sidney (Neve Campbell) já foi vítima nos três filmes anteriores. Dez anos depois da sua história de vida ter se tornado um fenômeno midiático contra a sua vontade, ela decidiu escrever para espantar os fantasmas do passado. Com o livro, vem a turnê de lançamento. O problema é que na parada em sua cidade natal, a semente do mal que habita o seu passado retornou para ceifar não apenas a sua vida, mas eliminar as pessoas que gravitam em torno da sua existência. É a sina de Sidney.

Depois de muitas cenas metalinguísticas, o filme alcança o seu auge com a revelação dos responsáveis pelos crimes. Jill (Emma Roberts) é parte do projeto de matança. Tocada pela tocha da inveja por conta do sucesso da prima, decide esboçar o seu próprio plano de celebridade. Ela pretende matar Sidney, para surgir como heroína de uma cena criminal que deixou imenso rastro de sangue. Ela, como sobrevivente, iria se transformar numa celebridade instantânea. Ao revelar a sua identidade, Jill deixa claro que atualmente, basta acontecer algo ruim na vida de alguém para que esta pessoa se torne famosa, reforçando ainda que a internet é um dos lugares onde as pessoas se tornam famosas atualmente. Para a jovem, não é preciso ter amigos, mas fãs. Ela reitera que hoje ninguém lê e tudo que precisamos se encontra na internet. A reflexão é de 2011, mas ainda cabível na atualidade. O que Jill faz para simular o lugar de vítima beira ao absurdo, talvez ao nonsense, mas na verdade é uma alegoria da falta de limites das pessoas quando o assunto é saciar o desejo por fama e sucesso.

Mas, Afinal, Vale a Pena Ser Uma Pessoa famosa?

Os psicólogos estadunidenses Daniel Kahne e Amos Tversky desenvolveram alguns estudos sobre raciocínio humano que desaguam no campo da heurística, isto é, ciência que tem por objetivo a descoberta de fatos. Para os especialistas, há uma tendência em muitos seres humanos para o que eles chamam de “heurística da representatividade”, isto é, a celebridade deve possuir traços que permitam rotulá-la e integrá-la num conjunto. Seremos populares quanto mais se recordarem de nós. Para isso, alguns recorrem para atitudes como chamar à atenção, revelando a vida íntima, expondo histórias de sexo, morte, sedução, tendo em vista despertar a curiosidade pública. Há alguns anos, um programa televisivo fez uma reportagem de grande repercussão, intitulada “Síndrome da Fama”. Nos depoimentos, algumas pessoas disseram que fariam de tudo para estar ao lado de seus ídolos, mas, em contrapartida, tais ídolos deixavam claros em seus depoimentos que fariam de tudo para ter sossego e uma vida comum. Complexo, concorda? Alguns estudos nos mostram que determinadas pessoas colocam as suas vidas em risco, através de comportamentos autodestrutivos e perigosos, tendo em vista acompanhar a popularidade de seus ícones midiáticos. No Instagram, por exemplo, é algo cotidiano.

É atraente ser famoso? Sim. Na abertura, explanei uma série de privilégios que podem justificar essa busca. O problema é que a fama vem como uma série de variantes: a liberdade tolhida para dizer o que pensa, ou então, o preço que se paga pelo que é dito, principalmente diante das redes sociais e das formas de comunicação contemporâneas, a famosa cultura do cancelamento. Bastou um deslize para os prints e compartilhamentos destruírem a carreira de determinadas celebridades instantâneas ou manchar a trajetória de pessoas já consagradas. Para alguns famosos, a fama beira ao insuportável, principalmente quando o assédio se torna excessivo. Além da falta de privacidade, você pode sofrer represálias ou ser alfinetado em momentos difíceis da sua vida, tais como luto ou fracasso pela perda de algum ente famoso. Ter inteligência emocional e não transformar tudo em apenas deslumbramento é um dos caminhos para se manter famoso por longa data. Um dos caminhos é o equilíbrio diante de tantas emoções e egos possivelmente inflados. Inês Brasil é um caso que requer um estudo mais profundo, mas outras subcelebridades do mesmo quilate não tiveram vida tão longa.

Para estas pessoas, cabe o devido exercício da inteligência emocional, pois muitas não conseguem se firmar na mídia por muito tempo, como é o caso da maioria dos ex-participantes de programas como o Big Brother Brasil e A Fazenda. Aos que posam nus em revistas ou fazem constantes barracos em eventos, o sucesso ainda perdura por um tempo maior, mas na maioria dos casos, o ostracismo é o caminho mais certo. No final das contas, para que serve a celebridade? Alguns especialistas acreditam que “o famoso” seja a tela na qual as pessoas comuns projetam coisas que lhe faltam. Para que elas servem? Estes mesmos profissionais apontam que elas agenciam uma diferenciação num mundo que se deseja construído por iguais. A grande falácia deste processo é o fato de que muita gente acredita que o sucesso está atrelado ao reconhecimento público. A popularidade, em muitos casos, pouco tem a ver com a contribuição de muitos “desconhecidos” para o progresso da humanidade. O que dizer de cientistas, professores, jornalistas, médicos e domésticas que fazem grandes coisas pelo desenvolvimento social sem sequer serem notados durante a trajetória de suas vidas? A nossa sociedade está doente e carece de propostas de intervenção urgentes, pois uma revolução reflexiva precisa, mais do que nunca, ser “televisionada” e compartilhada.

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Certa vez, o famoso artista pop Andy Warhol refletiu que haveria um dia em que todas as pessoas teriam os seus 15 minutos de fama. Ou então, os desejaria em algum momento. A reflexão profética é praticamente uma realidade na contemporaneidade, mas essa busca desenfreada pela projeção nas mídias para alcançar sucesso não é coisa da atualidade. Na terra de ninguém que é o ciberespaço, por exemplo, o circo de horrores se estabeleceu há algum tempo: as pessoas, tanto as famosas quanto os nossos colegas, bem como amigos e conhecidos, constantemente apelam para ganhar atenção. Com as redes sociais, houve um aumento vertiginoso desse panorama. Já percebeu como tem se tornado uma celeuma frequente? Mesmo sem o que conhecemos por talento artístico, você já percebeu quantas pessoas estão ganhando os seus minutos de fama na mídia? Desprovidas de qualquer habilidade que as transforme em representantes de seus postos em músicas, videoclipes, filmes, programas televisivos e nas redes sociais, as celebridades do mundo contemporâneo e os seus anseios pela fama rendem discussões calorosas para os comunicólogos, mas nos assustam pela forma como buscam esse posto a qualquer custo, nem que seja através de situações consideradas extremas.

Será que tal postura realmente vale à pena? Há um diálogo em Tudo Sobre Minha Mãe, do cineasta Pedro Almodóvar, em que a personagem Huma Rojo (Marisa Paredes), famosa atriz de teatro que atravessa uma bela turnê com a peça Um Bonde Chamado Desejo, clássico moderno de T. Williams, confessa para a protagonista Manuela (Cecília Roth) que a fama não é isso tudo que se imagina, pois “depois que a pessoa se acostuma é como se não existisse”. A afirmação da personagem, trazida para o tecido da realidade, comprova-se ao olharmos artistas famosos que afundaram diante da incapacidade de lidar com os proventos e pressões diante do sucesso: Amy Winehouse, Britney Spears, Michael Jackson, Whitney Houston, etc. Diante disso, uma questão me veio quando esbocei os primeiros trechos desta reflexão iniciada em 2017 e retomada cinco anos depois: por qual motivo as pessoas alimentam esse desejo pela fama, mesmo diante de tantos exemplos que comprovam a efemeridade numa sociedade do espetáculo ávida por novidades responsáveis por descartar celebridades no mesmo ritmo que fabrica outras?

Para melhor compreender, fiz o habitual investimento em leituras de especialistas, o que chamamos na metodologia científica de referencial teórico para embasamento das minhas afirmações. De acordo com Lisete Barlach, psicóloga e professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, “a valorização do visual e do espetáculo é algo que surgiu e evoluiu no século XX, com grande influência da TV, do cinema e, agora, das multimídias e redes sociais”, isto é, “nosso parâmetro de bem estar e felicidade ficou intimamente ligado aos famosos e ao processo de superexposição destes indivíduos”. Antes de versar sobre figuras mais contemporâneas, farei uma breve digressão para ilustrar a linha de pensamento que se propõe aqui, combinado? O desejo por fama e glória não é algo atual. Ao longo do poema épico Ilíada, de Homero, a mãe do herói Aquiles faz uma aparição e o questiona sobre o desejo de ter uma vida longa, entretanto, tranquila, ou morrer cedo, mas ser lembrado pela eternidade. Como sabemos, o herói vai honrar o seu nome na guerra de Tróia, lutar pelos gregos e derramar bastante sangue. Como previa a profecia, no entanto, é tudo efêmero, pois o herói morre atingido no calcanhar, dando espaço para a famosa expressão popular que conhecemos atualmente, um símbolo de fragilidade.

Antes da conversa com a sua mãe, Aquiles recebera a visita de Odisseu, rei de Ítaca, convidando-o para a batalha na guerra que já se arrastava por bastante tempo. Aquiles avisa que vai pensar e antes da sua decisão, recebe um aconselhamento que pode ser definido como uma profecia devidamente delineada, isto é, ele pode ir para a guerra e demonstrar bravura, ter o seu nome eternizado, mas infelizmente, não sobreviverá ao conflito. O herói, desta forma, decide partir para o enfrentamento bélico com os troianos, mesmo ciente da condição. O seu interesse maior era ser eternizado. Alegoricamente, podemos relacionar com a busca pela fama na contemporaneidade, salvaguardadas as devidas proporções, obviamente, pois o que observamos no cenário contemporâneo é uma metáfora desgastada e bastante caricata da decisão de Aquiles, pois muitas pessoas alçadas para a fama submetem-se constantemente a situações que beiram ao extremismo. Se ser famoso é algo tão bom, por que as há artistas que agridem fotógrafos e jornalistas ao terem as suas vidas expostas?

O sabor da fama pode ser agridoce para alguns. Para outros, pode ser bastante amargo. Um ponto, no entanto, sempre é levantado quando promovo o debate com meus estudantes em sala de aula. Convenhamos, diante das críticas e dos perigos que envolvem a questão, temos que considerar: não é tão bom ter determinados privilégios? É o que me perguntam constantemente. Ser capa de revista, estrelar filmes ou campanhas de moda, adentrar para o imaginário coletivo, usufruir dos melhores maquiadores, cabelereiros, usar as melhores roupas e sapatos, ampliar o número de seguidores no Instagram e assim, gozar de muitos privilégios que uma pessoa comum supostamente não pode alcançar. Quem não gostaria de mimos do tipo? Acredito que poucos. Ir aos eventos sem precisar de ingresso ou convite, ganhar bastante dinheiro, circular entre pessoas famosas que admiramos e aparecer na televisão. Tudo isso é fama e tem um sabor peculiar, mas o problema é que há muita gente disposta a arriscar a própria vida em prol da causa. Outras se perdem dentro do processo e violam os limites da ética, do bom-senso e até mesmo de suas respectivas sanidades, algo tão caro num mundo pós-pandêmico.

Em minha navegação com bússola, isto é, as palavras-chave adequadas para o encontro de reflexões que dialoguem com o tema, tive acesso ao elucidativo artigo de Nelson Traquina, intitulado “O estudo do Jornalismo no século XX”, texto onde o especialista reforça o meu ponto de vista e alega que esta busca desenfreada por fama não é algo tão atual. Ele aponta que essa prática de deslumbramento pelo mundo das celebridades nos remete também ao século XV, especificamente no ano da morte de Shakespeare, por volta de 1616, época em que 30% dos 25 livros noticiosos tratavam do modo de vida das rainhas, bem como notícias sensacionalistas e assassinatos misteriosos e polêmicos. Considerei a informação bastante curiosa, pois muita gente acredita que a busca pela fama é algo especificamente do mundo atual. Como já mencionado, sabemos que isso se tornou mais intenso com a “certa” democratização da internet, da televisão, bem como o advento das redes sociais. Assim, ser uma celebridade, aparentemente, é fazer parte de um esquema de vendas, não apenas de pequenas e grandes marcas, mas também da imagem de uma pessoa. Além da vontade de ser parte da teia glamorosa tecida cotidianamente pelos jornais e redes sociais, os adeptos ao posto de famosos tornam-se um perigo para si mesmos quando a obsessão pela fama se torna uma questão patológica, algo ilustrados em três exemplos, selecionados para o leitor.

Inês Brasil, Quem é Essa Garota?

Prazer culposo: eu também gargalho com alguns vídeos de Inês Brasil. Confesso. Pronto, falei. Quando bate o tédio e a mente está cansada de tanta produção intelectual, basta um clique no YouTube para o espetáculo de horror e humor se fazer diante dos meus olhos. Toda vez que a vejo, lembro do que aponta o psiquiatra Eduardo Arnet, numa entrevista concedida há alguns anos na mídia. Ele diz que “desejar ser visto ou ouvido é algo inerente ao ser humano, comportamento que pode ser observado desde a infância”. Colocação simples, mas muito elucidativa para entendermos Inês Brasil, parte do que chamo de cultura do excesso. Como pode uma mulher tão incoerente fazer tanto sucesso? Sinal dos nossos tempos? Como lidar? Basta sentar para assistir a um vídeo da musa dos “cibernavegadores” que temos, da melhor maneira possível, uma aula de coesão e coerência pronta para os estudantes que se preparam para o ENEM. Leia-se: uma aula de como a falta de coesão e coerência podem prejudicar uma mensagem.

Chego a me questionar se a pictórica personagem é real ou apenas uma construção midiática. Será que é possível existir alguém assim? Verdade seja dita, Inês Brasil é um sucesso: nas boates que frequenta fazendo os seus shows, o público faz questão de lotar. São palavras soltas sem uma mensagem conexa, além de absurdos para levar o público ao riso, como por exemplo, o microfone penetrado em si mesma, num espetáculo trash realizado em Manaus, ação que ganhou bastante repercussão na internet. Por ter apoiado um político genocida na eleição brasileira de 2018, a celebridade perdeu muitos de seus seguidores, mas em nosso cenário posterior ao advento da pandemia da covid-19, o “vírus” do nonsense desta senhora continua em circulação, mesmo que o vigor de antes não seja mais o mesmo. Inês Tânia Lima da Silva é descrita em seu perfil na internet como cantora, compositora, vlogueira, dançarina e web-celebridade. A “artista” ganhou notoriedade com o vídeo enviado para a seleção dos participantes do Big Brother Brasil 2013, publicado no final de 2012, material que “viralizou” no ciberespaço e até hoje é um recordista de acessos, ao surgir constantemente nas redes sociais.

O sangue de artista circula na história de sua família. O seu pai foi cantor e compositor da Escola de Samba Quilombo dos Palmares. Inês já cantou no coral da Igreja e depois de um tempo no Rio de Janeiro, morou com o marido na Alemanha. Em 16 de junho de 2016, foi parte da campanha de divulgação da série Orange is The New Black, produto original do serviço de streaming Netflix. Musa da internet, a subcelebridade deu o retorno positivo que a campanha buscou, mas não trouxe uma molécula de oxigênio para a carreira de uma artista que talvez não possa ser rotulada como tal. Ou será que pode? Você, caro leitor, o que acha? Em 2016, ao recorrer ao fappening, isto é, vazamento de vídeos sexuais, Inês comprovou mais uma vez a fragilidade da sua imagem e a necessidade de se manter presente. Lembrou-me de trechos do A Vida é um Filme: fama e celebridade no século XXI, organizado por Eduardo Cintra Torres e José Pedro Zúquete, reflexões que tratam da fama e da idolatria na cultura dos tabloides, afirmando que estes produtos são “enlatados para consumo rápido que entram e saem rapidamente”, isto é, “pessoas que ganham notoriedade repentina, por conta de algum escândalo na mídia”. Algumas delas desaparecem no ar sem deixar vestígios. Inês Brasil mostra-se eficaz neste sentido. No “ar” desde 2013, ainda consegue views com suas postagens. Como explicar este fenômeno?

Ei, Essa Não é a Britney Spears: Uma Análise de Lorna Bliss

Revelada no mesmo programa que o fenômeno vocal Susan Boyle, Lorna Bliss chocou os telespectadores em duas performances extremamente apelativas no divertido Britain’s Got Talent. Cover da cantora Britney Spears desde 2001, a garota possui semelhanças físicas com a artista, além de uma dimensão psicológica bem direcionada: ser performer e fazer sucesso, mesmo que para isso, tenha que passar por constrangimentos e humilhações. Bliss fez plástica para ficar ainda mais parecida com a sua musa. Quando Britney teve o seu momento colapso em 2007, a moça também raspou a cabeça, numa atitude de “solidariedade”, pois de qualquer maneira, precisava emular o fenômeno que acompanhava cotidianamente. Com um roupão preto que a deixava misteriosa no palco, a candidata do Britain’s Got Talent começou a performance ao som de Toxic, uma das canções do álbum In The Zone. Logo nos primeiros segundos da apresentação, jogou o roupão para o lado e ficou praticamente nua. Vaiada por conta da coreografia descompassada, pela voz de Pato Donald e pelos demais exageros, a jovem deixou o palco.

Os produtores do programa compreenderam as controvérsias e deram outra chance para a sua apresentação, desta vez mais certinha e bem elaborada, repleta de dançarinos e mapa de palco organizado, no entanto, tal como a artista que admira, Lorna Bliss não tinha a voz suficiente para cantar, e, por isso, foi eliminada da competição. Mais adiante, no X-Factor, provocou outra polêmica. Era 2012 e no palco, a moça se apresentou ao som da canção Till The World’s End, do álbum Femme Fatale, de Spears. O resultado, por sua vez, foi ainda pior, pois a performance era igualmente apelativa. Diferente do programa anterior, não rolou segunda chance. Talvez consciente da inabilidade para ganhar prêmios em shows de talento, Lorna Bliss continua o seu trabalho como cover da musa Britney Spears. Tentativas em programas de auditório do tipo? Ao menos em minhas pesquisas, não encontrei nenhum vestígio da garota que desejou, e ainda deve desejar, ser famosa a qualquer custo.

“Eu Já Contei Tantas Mentiras Que Comecei a Acreditar Nelas”: Fama e Psicopatia

Em A Busca pela Fama, artigo da jornalista Paloma Bueno, publicado no Correio Paulista, a especialista afirma que a fama em alguns casos deixou de ser consequência, mas um objetivo. Plataformas como BBB e outros genéricos são veículos que promovem o desejo de fama alimentado por estes indivíduos, muitas vezes baseados em aspectos superficiais. A busca pela fama às vezes se torna patológica. Na ficção, filmes e séries já trataram muito bem a temática, tais como o musical Hairspray – Em Busca Pela Fama e a série Star, ambos sobre jovens em busca de sucesso no bojo da indústria cultural. No entanto, nenhum deles é tão impactante quanto Pânico 4, orquestrado por Wes Craven e escrito por Kevin Williamson, filme que encerra a franquia com uma interessante discussão sobre a obsessão pela fama e pelos tais “minutos de sucesso” na sociedade do espetáculo. Na produção, a protagonista Sidney (Neve Campbell) já foi vítima nos três filmes anteriores. Dez anos depois da sua história de vida ter se tornado um fenômeno midiático contra a sua vontade, ela decidiu escrever para espantar os fantasmas do passado. Com o livro, vem a turnê de lançamento. O problema é que na parada em sua cidade natal, a semente do mal que habita o seu passado retornou para ceifar não apenas a sua vida, mas eliminar as pessoas que gravitam em torno da sua existência. É a sina de Sidney.

Depois de muitas cenas metalinguísticas, o filme alcança o seu auge com a revelação dos responsáveis pelos crimes. Jill (Emma Roberts) é parte do projeto de matança. Tocada pela tocha da inveja por conta do sucesso da prima, decide esboçar o seu próprio plano de celebridade. Ela pretende matar Sidney, para surgir como heroína de uma cena criminal que deixou imenso rastro de sangue. Ela, como sobrevivente, iria se transformar numa celebridade instantânea. Ao revelar a sua identidade, Jill deixa claro que atualmente, basta acontecer algo ruim na vida de alguém para que esta pessoa se torne famosa, reforçando ainda que a internet é um dos lugares onde as pessoas se tornam famosas atualmente. Para a jovem, não é preciso ter amigos, mas fãs. Ela reitera que hoje ninguém lê e tudo que precisamos se encontra na internet. A reflexão é de 2011, mas ainda cabível na atualidade. O que Jill faz para simular o lugar de vítima beira ao absurdo, talvez ao nonsense, mas na verdade é uma alegoria da falta de limites das pessoas quando o assunto é saciar o desejo por fama e sucesso.

Mas, Afinal, Vale a Pena Ser Uma Pessoa famosa?

Os psicólogos estadunidenses Daniel Kahne e Amos Tversky desenvolveram alguns estudos sobre raciocínio humano que desaguam no campo da heurística, isto é, ciência que tem por objetivo a descoberta de fatos. Para os especialistas, há uma tendência em muitos seres humanos para o que eles chamam de “heurística da representatividade”, isto é, a celebridade deve possuir traços que permitam rotulá-la e integrá-la num conjunto. Seremos populares quanto mais se recordarem de nós. Para isso, alguns recorrem para atitudes como chamar à atenção, revelando a vida íntima, expondo histórias de sexo, morte, sedução, tendo em vista despertar a curiosidade pública. Há alguns anos, um programa televisivo fez uma reportagem de grande repercussão, intitulada “Síndrome da Fama”. Nos depoimentos, algumas pessoas disseram que fariam de tudo para estar ao lado de seus ídolos, mas, em contrapartida, tais ídolos deixavam claros em seus depoimentos que fariam de tudo para ter sossego e uma vida comum. Complexo, concorda? Alguns estudos nos mostram que determinadas pessoas colocam as suas vidas em risco, através de comportamentos autodestrutivos e perigosos, tendo em vista acompanhar a popularidade de seus ícones midiáticos. No Instagram, por exemplo, é algo cotidiano.

É atraente ser famoso? Sim. Na abertura, explanei uma série de privilégios que podem justificar essa busca. O problema é que a fama vem como uma série de variantes: a liberdade tolhida para dizer o que pensa, ou então, o preço que se paga pelo que é dito, principalmente diante das redes sociais e das formas de comunicação contemporâneas, a famosa cultura do cancelamento. Bastou um deslize para os prints e compartilhamentos destruírem a carreira de determinadas celebridades instantâneas ou manchar a trajetória de pessoas já consagradas. Para alguns famosos, a fama beira ao insuportável, principalmente quando o assédio se torna excessivo. Além da falta de privacidade, você pode sofrer represálias ou ser alfinetado em momentos difíceis da sua vida, tais como luto ou fracasso pela perda de algum ente famoso. Ter inteligência emocional e não transformar tudo em apenas deslumbramento é um dos caminhos para se manter famoso por longa data. Um dos caminhos é o equilíbrio diante de tantas emoções e egos possivelmente inflados. Inês Brasil é um caso que requer um estudo mais profundo, mas outras subcelebridades do mesmo quilate não tiveram vida tão longa.

Para estas pessoas, cabe o devido exercício da inteligência emocional, pois muitas não conseguem se firmar na mídia por muito tempo, como é o caso da maioria dos ex-participantes de programas como o Big Brother Brasil e A Fazenda. Aos que posam nus em revistas ou fazem constantes barracos em eventos, o sucesso ainda perdura por um tempo maior, mas na maioria dos casos, o ostracismo é o caminho mais certo. No final das contas, para que serve a celebridade? Alguns especialistas acreditam que “o famoso” seja a tela na qual as pessoas comuns projetam coisas que lhe faltam. Para que elas servem? Estes mesmos profissionais apontam que elas agenciam uma diferenciação num mundo que se deseja construído por iguais. A grande falácia deste processo é o fato de que muita gente acredita que o sucesso está atrelado ao reconhecimento público. A popularidade, em muitos casos, pouco tem a ver com a contribuição de muitos “desconhecidos” para o progresso da humanidade. O que dizer de cientistas, professores, jornalistas, médicos e domésticas que fazem grandes coisas pelo desenvolvimento social sem sequer serem notados durante a trajetória de suas vidas? A nossa sociedade está doente e carece de propostas de intervenção urgentes, pois uma revolução reflexiva precisa, mais do que nunca, ser “televisionada” e compartilhada.

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