Família real britânica é uma força cultural que ultrapassa as mais diversas mídias
Conforme o mês de novembro vai passando vai também se aproximando a estreia da quarta temporada de The Crown. A série de Peter Morgan visa contar a ascensão da Rainha Elizabeth enquanto soberana ao mesmo tempo em que ela amadureceu como mulher tendo que, não somente ser um símbolo passivo para seu país, como também mediando as diversas crises entre parentes.
A seguir constam cinco filmes que, a sua própria maneira, adaptaram a família real no cinema; seja priorizando uma abordagem mais realista e embasada com informações reais ou uma trama mais dramática e ficcional.
5) A Outra
Por diversas vezes a realidade se confunde com a fantasia. Essa frase é ainda mais propícia para qualquer episódio ambientado na idade média. Um dos mais famosos da história da Inglaterra é justamente a declaração de independência da Igreja Anglicana junto a influência de Roma, quando o Rei Henrique VIII buscou a anulação de seu casamento com a rainha Catarina de Aragão para assim desposar Ana Bolena.
No filme de 2008 a trama segue sob a perspectiva das duas irmãs Bolena, focando um pouco mais na de Ana (interpretada por Natalie Portman) e na construção da sua personalidade enquanto uma jovem ambiciosa que, induzida pela família, seduz o soberano Henrique VIII. Mesmo que uma consequência dessa escolha seja o inevitável subaproveitamento de personagens secundários como o rei ou a irmã de Ana, Maria (interpretada por Scarlett Johansson), o filme ainda assim é bem feliz em construir uma visão interessante desse episódio.
4) A Favorita
Sexo e poder caminham lado a lado desde o início dos tempos. Isso não é novidade para ninguém e certamente também não o é se tratando de cinema. Por isso, é sempre interessante quando uma obra consegue trabalhar o tema sem apelar para o mau gosto, mas sim como uma forma de construir uma trama intrincada.
Foi dessa forma que o diretor grego Yorgos Lanthimos construiu a trama de como a rainha Ana foi sendo manipulada primeiramente por sua conselheira e amante, depois por uma jovem empregada do palácio. Com uma sutil dose de humor negro ele vai construindo essa representação do que era de fato o círculo íntimo de um monarca: um espaço aonde cão comia cão visando ficar mais próximo do trono.
3) Victoria & Abdul
A figura da Rainha Vitória é bastante marcante para a cultura britânica por todo o período que ela englobou. A era vitoriana foi marcada pelo grande avanço econômico e industrial da Inglaterra mas também pela superlotação das cidades, aumento da pobreza e da violência. Por causa desse cenário amplo, a persona da rainha muitas vezes é esquecida e se torna muito mais um símbolo homônimo dessa época.
Victoria & Abdul, portanto, chega como uma abordagem interessante de como a monarca se relacionava com outras pessoas, mais especificamente um empregado direto de nacionalidade indiana. O trabalho de Judi Dench em conferir uma visão mais humanizada à sua personagem (isto é, sem atrelá-la ao tradicional semblante solene real) favorece na construção da amizade com Abdul.
2) O Discurso do Rei
A oratória é uma habilidade essencial para qualquer líder; tão importante quanto a frieza para tomar decisões importantes. Nesse caso, poucas histórias assumem um contorno tão próprio e dramático quanto a luta do Rei George VI em vencer a gagueira em um período próximo ao da sua coroação. O filme então assume contornos dramáticos ao relacionar um fracasso do futuro rei em discursar com o risco de desmerecer toda a monarquia.
O filme ainda utiliza da tradicional ferramenta narrativa do protagonista contar com um “mestre” para guiá-lo no desafio. Nesse caso o personagem de Geoffrey Rush, um terapeuta australiano, assume essa função. Tudo isso auxilia ainda mais o filme a aumentar sua área de aceitação com o público.
1) A Rainha
A obra-prima de Peter Morgan é, na mais direta das classificações, agoniante. A proposta toda é mostrar o tumultuado cenário que a monarquia atravessava em fim dos anos 90, com um novo primeiro-ministro dono de ideias populares sendo empossado, somado à eventual trágica morte da princesa Diana. A hesitação da rainha em anunciar publicamente que a família estava de luto, apesar de motivada por rígidas razões protocolares, entra em rota de colisão com o crescente descontentamento popular em relação à figura dispendiosa e inerte da realeza.
Nesse cenário caótico, a Rainha Elizabeth (magistralmente interpretada por Helen Mirren) se destaca pela opção da postura serena mesmo que visivelmente exausta e até assustada de perder a fé de seu povo. É um retrato bastante comovente sobre sentimentos que, para o bem da estabilidade da nação, precisam ser enterrados pela soberana mesmo que seu povo exija isso.