Ah, os anos 80. Só quem viveu sabe o que foi. A nostalgia não é sem propósito. Para o cinema, esta foi uma das décadas mais férteis em matéria de entretenimento, pois foi nos 80´s que o cinema pipoca atingiu um nível sem precedentes. É justamente por isso que a época é tão celebrada, até mesmo por quem nem era nascido.
Mas nem só de blockbusters é conhecida a década, e alguns dos filmes adolescentes e comédias mais adoradas – até mesmo pelas gerações mais novas – saíram justamente do período. Alguns destes filmes cultuados nunca haviam dado as caras no Brasil em home vídeo na era do DVD. Mas a distribuidora Obras Primas do Cinema acaba de remediar isso com sua coleção Sessão Anos 80.
A coleção já está em seu terceiro volume e a cada box são trazidos quatro novos filmes – alguns menos conhecidos, outros amados. Neste texto, iremos comentar os filmes do Box de Volume 3, ao qual tivemos a oportunidade de assistir e relembrar estes verdadeiros clássicos trintões. Vem conhecer.
Atração Mortal (Heathers, 1988)
Mais conhecido por seu título original Heathers, até mesmo no Brasil, este é um filme que continua a ser redescoberto pelas novas gerações. Quando foi lançado nos cinemas, o filme passou relativamente em branco, mas começou a ganhar uma legião de fãs logo após, atingindo status de cult. Na realidade, o longa chegou aos cinemas mesmo em 1989, sendo exibido apenas em um festival da Itália em 1988.
O título original, é claro, faz referência a três colegas de escola chamadas Heather. Elas são as patricinhas insuportáveis, cruéis e frias, que transformam as vidas de seus desafetos em um verdadeiro inferno. No meio de tudo está Veronica, a protagonista vivida por Winona Ryder – a It Girl da década, então recém-saída do sucesso de Os Fantasmas Se Divertem (BeetleJuice), de Tim Burton.
Veronica é mais um joguete nas mãos das jovens patifes, não tem muita escapatória e precisa participar de seus jogos sádicos, já que elas controlam a escola com sua popularidade. Justamente por tais semelhanças e seu enredo, Atração Mortal (título em português bem genérico) é considerado um predecessor de Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004) – “hino” para aqueles que cresceram na década passada.
No papel das três Hetathers: Kim Walker, Lisanne Falk e Shannen Doherty. As duas primeiras participaram também de Digam o que Quiserem (1989), presente no volume 2 da coleção, sobre o qual falaremos em outra oportunidade. Kim Walker, a principal das Heathers, infelizmente faleceu em 2001, aos 32 anos, devido a um tumor cerebral. Shannen Doherty se tornaria a mais famosa das três, mais conhecida como a Brenda da série Barrados no Baile (1990-1994) e a Prue de Charmed (1998-2001).
A trama começa a girar quando a protagonista conhece um rapaz rebelde, papel de Christian Slater, e juntos planejam a morte de alguns colegas de classe, incluindo as Heathers. Atração Mortal funciona como sátira, dono de diálogos afiados e situações pra lá de irônicas, criadas pelo roteiro de Daniel Walters (Batman, O Retorno). Entre os temas: o suicídio de adolescentes, tratado na forma de crítica social pelo longa de Michael Lehmann (Hudson Hawk).
Uma curiosidade é que uma série de TV havia sido produzida pela Paramount Network para ser lançada este ano. A série foi adiada pelo canal, devido ao atentado em um colégio na Flórida – que iria coincidir com o lançamento. Depois disso, o canal decidiu cancelar a estreia do programa, que já tinha 10 episódios gravados, devido ao seu tema (de assassinatos em um colégio) – o que com certeza irá transformar o seriado em mais uma lenda urbana. Shannen Doherty fez participação como a mãe de um dos personagens.
Namorada de Aluguel (1987)
É curioso perceber como algumas ideias simples, quando bem trabalhadas, podem se tornar um grande sucesso. A ideia principal desta comédia romântica adolescente, assim como o filme acima, também fala sobre popularidade no colégio – um tema que era muito martelado no subgênero e parece relevante até hoje.
Curiosamente, a história principal aqui pode soar um pouco estranha hoje em dia. Na trama, o dedicado nerd Ronald (Patrick Dempsey) aproveita a oportunidade quando a patricinha popular Cindy (Amanda Peterson) está precisando de dinheiro e resolve lhe dar suas economias – exatamente a mesma quantia que ela precisava – em troca de que finja ser sua namorada a fim de impulsionar sua popularidade no colégio.
Embora possamos achar que este mote – um rapaz pagando uma moça pela sua companhia – possa ser considerado incorreto atualmente, no ano de seu lançamento a coisa não foi muito diferente. O que conta aqui é a forma como o filme desenvolve o conceito, sendo capaz de construir uma relação verdadeira entre os protagonistas – que de começo não queriam estar em tal situação, mas acabam construindo fortes e honestos laços. A conclusão aqui é que Ronald na verdade tinha muito mais a mostrar e acrescentar na vida de Cindy do que o contrário.
O título original do filme seria “Boy Rents Girl”, fazendo referência ao clássico modelo de roteiro “garoto conhece garota” e mais em sintonia com a tradução em português. Can´t Buy Me Love, o verdadeiro título original – algo como “não pode comprar o amor para mim” – é também uma canção dos Beatles, usada na trilha sonora. Infelizmente, assim como em Atração Mortal, a protagonista Amanda Peterson faleceu em 2015, aos 43 anos, devido a uma overdose acidental de morfina.
A Inocência do Primeiro Amor (1986)
O filme mais antigo do box, Lucas, no título original (nome do protagonista), também conta com Winona Ryder no elenco. Aqui, no entanto, a atriz faz uma participação menor como coadjuvante. Os verdadeiros protagonistas são Corey Haim e Kerri Green. Ao contrário dos outros filmes da lista, A Inocência do Primeiro Amor é mais voltado ao drama, se mostrando uma verdadeira história de coming of age.
Lucas (Haim), um adolescente de 14 anos é inteligente demais e termina estudando junto com jovens mais velhos no colégio. Sem muitos amigos, ele conhece Maggie (Green), uma nova estudante com quem desenvolve grande amizade. Por ser uma garota mais velha, Lucas deixa florescer uma paixão platônica pela moça. Ela, no entanto, começa a se apaixonar por Cappie, papel de um Charlie Sheen ainda garoto – paixão esta correspondida pelo rapaz. Cappie é uma espécie de irmão mais velho/protetor de Lucas – o que torna o triângulo ainda mais difícil para o menino.
Escrito e dirigido por David Seltzer, o longa guarda ainda interessantes reviravoltas no que diz respeito à vida misteriosa do protagonista. Mais um filme, mais uma triste perda. Corey Haim, mais conhecido por seus trabalhos em Os Garotos Perdidos (1987), de Joel Schumacher, e Sem Licença para Dirigir (1988), faleceu em 2010, aos 38 anos, vítima de uma pneumonia. Já Kerri Green será para sempre lembrada por seu trabalho em Os Goonies (1985), um dos filmes mais icônicos dos 80´s.
No elenco, além dos citados, temos Courtney Thorne-Smith (Melrose e Ally McBeal) e Jeremy Piven (Entourage).
Ela é o Diabo (1989)
Meryl Streep, a atriz mais premiada da atualidade, é a protagonista desta comédia de vingança. Baseado no livro de Fay Weldon e dirigido por Susan Seidelman, este filme que tem a força feminina por trás, apresenta a volta por cima máxima de uma esposa traída e desprezada.
Na trama, a polêmica Roseanne Barr (acusada de racismo recentemente na vida real) vive Ruth, mãe de família e esposa devota. Seu marido Bob, papel de Ed Begley Jr., conhece e se encanta por Mary Fisher (Streep), famosa escritora de romances. Após um desavergonhado affair, o sujeito finalmente deixa a esposa para casar com a amante. É então que a mulher trocada orquestra um intrincado plano para dar o troco nos pombinhos.
Pelo filme, Meryl Streep foi indicada ao Globo de Ouro. Ela é o Diabo marca a primeira comédia declarada na carreira da atriz. Curiosamente, ela viria a interpretar um papel muito semelhante alguns anos depois em A Morte Lhe Cai Bem (1992), de Robert Zemeckis, no qual, igualmente vive uma mulher bela e rica que rouba o marido de outra. Uma adaptação do mesmo livro já havia sido feita e lançada em 1986, na forma de uma minissérie em 4 episódios para a TV. Esta versão, no entanto, é a mais conhecida.
Ela é o Diabo marca a estreia no cinema de Roseanne Barr, que na mesma época explodia na série Roseanne. Um revival da série foi ao ar este ano, mas logo foi prontamente cancelada devido aos comentários ofensivos da protagonista.