O cinema apresentou ao mundo a versão dirigida por Clint Eastwood em 2014, mas agora é nos palcos brasileiros que a história dos Four Seasons ganha nova vida. No musical ‘Jersey Boys’, em cartaz no 033 Rooftop, o ator e cantor Henrique Moretzsohn assume o desafio de viver Frankie Valli – e mostra que sabe costurar referências da sétima arte com a intensidade do teatro.
Antes de viver o líder dos Four Seasons, Moretzsohn já havia construído uma sólida trajetória no teatro musical. O ator integrou elencos de grandes produções como ‘Les Miseràbles’, ‘O Fantasma da Ópera’, ‘Amor, Sublime Amor’ e ‘A Pequena Sereia’, todos títulos que, assim como ‘Jersey Boys’, também ganharam adaptações cinematográficas de peso. Agora, pela primeira vez, ele assume o protagonismo de um musical da Broadway no Brasil.
“Eu ainda não havia assistido ao filme antes de ser convidado para as audições do musical. Também nunca tinha visto o espetáculo. O longa foi minha primeira referência da história como um todo”, conta Moretzsohn. O ator assistiu à produção antes mesmo do primeiro teste, mas fez questão de não revisitar a obra durante os ensaios: “Não voltei a assistir para não ser influenciado. Me debrucei sobre o texto, sobre outras referências que o nosso diretor Fred Hanson trouxe, como a série The Sopranos”.
A ambientação intimista do espetáculo no 033 Rooftop, que simula clubes e restaurantes da época, também ajudou Moretzsohn a mergulhar no universo da banda. “Essa relação muito próxima com a plateia é uma das coisas mais especiais do espetáculo. O público não só assiste, ele participa, se sente dentro da trajetória dos Four Seasons.”
Quando o assunto é inspiração, o ator preferiu olhar diretamente para Frankie Valli, e não apenas para John Lloyd Young, que viveu o papel no cinema e na Broadway. “Busquei me inspirar mais no próprio Frankie. Li sobre ele, assisti entrevistas, estudei seu jeito de falar, de se portar. Já na voz cantada, fiz uma pesquisa tímbrica para emular o timbre dele de forma orgânica, sem caricatura. A técnica vocal que adquiri como professor de canto me ajudou muito nesse processo.”
Com bom humor, Moretzsohn lembra até de uma curiosidade das audições: “Temi pelo fato de eu não ser da altura do Frankie, que era o mais baixinho do grupo. Então, quando fiz um teste em quarteto, fui logo para o lado do Velson D’Souza, nosso Tommy Devito, que é bem alto, e dei um abraço de lado para parecer ainda mais baixo que ele. No fim, acho que eles estavam mais preocupados com a atuação e o canto.”
No palco, o desafio vai além do canto impecável: é preciso equilibrar o glamour dos shows com os conflitos pessoais do personagem. “Existem momentos em que a música está a serviço da dramaturgia e outros em que ela é apenas performance. Eu escolhi em algumas cenas deixar transparecer mais as dores, o peso e o cansaço do Frankie, mesmo durante as apresentações. Senão pareceria frenético cantar alegremente logo após uma discussão pesada.”
Para compor o personagem, o ator também se apoiou em elementos visuais e comportamentais da época. “O cigarro foi algo que me chamou atenção em entrevistas antigas. Só de segurar você ganha uma nova postura corporal. Pedi também para ter costeletas nos anos 70, como ele usava. Esses detalhes ajudam muito na construção.”
Entre tantas memórias dessa trajetória, uma já se tornou inesquecível. “Recentemente, todos os meus colegas de elenco desceram do palco para a plateia, sem combinar nada, e me ovacionaram durante o solo de Can’t Take My Eyes Off You. Minha mulher estava assistindo, tinha a imprensa gravando… Foi marcante. Simboliza o que quero levar: o protagonismo não como brilho individual, mas como força coletiva, todos vibrando juntos.”, finaliza.
