Ari Aster já desponta como um dos maiores nomes do terror da atualidade. Seu primeiro trabalho de destaque foi The Strange Thing About the Johnsons, um curta de 29 minutos, que fala sobre a paixão de um adolescente no auge hormonal pelo próprio pai. A película acompanha essa relação tensa até a vida adulta do menino e termina de forma chocante. E essa é uma de suas características principais: construir tensão.
Isso fica bem explícito no filme que o lançou ao estrelato: Hereditário (2018). A trama, também escrita por ele, acompanha as desventuras de uma disfuncional família moderna após a morte da pacata avó materna. Só que a senhorinha não era lá um bom exemplo de avó e acabou envolvendo toda sua prole (e agregados) em uma história macabra, com muitas esquisitices, loucura e satanismo. O longa foi um sucesso absoluto de crítica e muitos pediam uma indicação ao Oscar pela atuação visceral de Toni Collette. O próximo trabalho de Ari é Midsommar – O Mal Não Espera a Noite, que chega aos cinemas na quinta (19/9), cercado de expectativas, mas já adianto que vai dividir opiniões.
Muitas das opiniões negativas vão vir por conta das expectativas geradas por outro filme na mesma pegada de Hereditário. Quem for esperando isso, provavelmente vai se decepcionar. Midsommar, apesar de também ser muito pesado, brinca com os conceitos de cultura e trata dos relacionamentos modernos. Então há momentos de divertimento, deslumbramento, violência gráfica e tensão. É um filme tenso, mas não chega nem perto da tensão de Hereditário. Na verdade, são filmes quase opostos.
O desenvolvimento da carreira de Ari Aster lembra bastante o de outro talentosíssimo diretor da atualidade: Damien Chazelle. Ele também começou com um curta bastante elogiado, depois emplacou Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014), que tinha um clima tenso contínuo, e seu segundo filme, La La Land: Cantando Estações (2016), mantinha sua assinatura de roteiro e direção, mas sofreu represália de alguns por não ter a mesma pegada do anterior. Assim como La La Land, Midsommar é um filme de abordagem diferente dentro do gênero que representa, neste caso, o terror.
No embate Hereditário X Midsommar, a maior diferença é a ambientação. Enquanto Hereditário é um filme que te enclausura na escuridão do ocultismo, Midsommar retrata o festival do Solstício de Verão Sueco, e faz sol 24h por dia. Podendo brincar com esse aspecto da iluminação, o diretor enche a tela de cores, proporcionando uma verdadeira viagem alucinógena. Se no filme de 2018 o clima era pesado o tempo todo, o humor e o divertimento ganham espaço no longa de 2019. Faz sentido, porque ele retrata uma viagem de amigos a estudo/ diversão a um lugar novo e “sexualmente interessante”, nas palavras do personagem de Will Pouter. Por fim, enquanto Hereditário era um filme que debatia relações familiares e a distância entre pais e filhos, Midsommar coloca em pauta os relacionamentos amorosos e como eles tratam pessoas com problemas psicológicos, como depressão e narcisismo. Porém, se há uma coisa na qual os dois são parecidos é a capacidade de te cansar propositalmente. Enquanto Hereditário causa um esgotamento mental fortíssimo, Midsommar – muito por conta do clímax – consegue te cansar fisicamente. É frenético, incômodo e envolvente.
Enfim, é injusto julgar Midsommar pela ótica de Hereditário. Ambos são obras-primas do Terror e apostam em abordagens opostas para atingirem a primazia. São longas incríveis que merecem uma análise baseada exclusivamente no que se propõe a entregar e no que elas entregam mesmo.
Midsommar – O Mal Não Espera A Noite estreia em 19 de setembro de 2019.