A quinta temporada de Impuros já está no Disney+ e, a convite da Disney, a reportagem bateu um papo com os diretores da série, René Sampaio, Tati Fragoso e Tomás Portella. Nesta temporada, Evandro do Dendê (Raphael Logam) entra em rota de colisão com sua ex-esposa, Geise (Lorena Comparato), que está expandindo os negócios pela América Latina, enquanto lida com o Policial Morello (Rui Ricardo Diaz), que está cego por vingança. Em meio a essas confusões, o esquema de tráfico só cresce, tentando adentrar o mercado europeu.
A série ter chegado à quinta temporada aponta como Impuros é uma série de sucesso. Para os diretores, chegar tão longe é uma oportunidade de contar novas histórias e levar esses personagens tão queridos – ou odiados – para novos lugares. Confira a entrevista!
Nesta temporada, é possível ver muitas cenas gravadas em paisagens exóticas da América Latina. A maior parte delas foi gravada no Uruguai, como revelou Tomás Portella.
“Desde a primeira temporada, a gente vem gravando cenas no Uruguai. Não só por ser um local rico de paisagens, mas por trazer um elenco latino muito bom. É sempre uma experiência muito enriquecedora. Montevidéu principalmente, porque é uma cidade com lugares desertos. No Rio de Janeiro, se você quiser um lugar deserto, inóspito, você tem que pegar pelo menos 1h30 de estrada. A gente filmou no Uruguai, inclusive, cenas que se passam no Brasil, por conta da facilidade de lugar inóspitos por lá”, disse.
Já René Sampaio destacou que essa viagem pela América Latina rende bastante por poder explorar a diversidade do elenco para o público.
“É uma série falada em português, inglês e espanhol. Com muito português e espanhol. Então, acho que a gente consegue trazer uma verdade para o público toda vez que a gente escolhe lugares e atores de fora do Brasil. Eles entram na nossa série para dar um gostinho diferente, com sotaques diferentes”, contou René.
Quem assistir a série vai reparar que um tema que está extremamente em alta no momento, o Jogo do Bicho, integra a trama. Mas, segundo os diretores, o desafio maior é não deixar que esse elemento tome conta da história, já que a série não é sobre esse tipo de contravenção.
“O Jogo do Bicho está muito ligado à criminalidade do Rio de Janeiro. É até difícil de separar as coisas. Ele está presente na temporada. Acho que a guerra do Bicho não é o nosso foco, e é uma preocupação nossa para não deixar que ele se sobreponha à série, mesmo diante dessa popularidade muito grande que ganhou recentemente. Mas nossa série não é sobre isso”, afirmou Tomás Portella.
Uma das personagens mais complexas e controversas da série é a Arlete, mãe do Evandro do Dendê. Vivida pela atriz Cyria Coentro, ela é uma evangélica fervorosa que não apoia as atitudes do filho, chegando a denunciá-lo várias vezes e atuando nesse limiar entre o amor de mãe e a rival de Evandro. Para a diretora Tati Fragoso, essa personagem mexe diretamente com o público por ser muito comum na vida real.
“A Cyria traz uma verdade para a série. Quer dizer, a história da Arlete na primeira temporada é muito comum. Já ouvi diversas mães nas comunidades dizendo que isso aconteceu com elas, que elas perderam os filhos daquele jeito. Então, tem essa verdade que todo mundo gosta de ver. Isso traz o público para perto, seja por curiosidade ou identificação”, contou Tati.
Ainda falando sobre a identificação que atrai o público, seja ele nacional ou estrangeiro – já que a série também faz muito sucesso nos EUA -, é inegável que os ‘Favela Movies’ seguem atraindo os mais diversos tipos de espectadores pelo mundo. E para Tomás Portella, essa curiosidade da audiência se dá pela complexidade do contexto da vida na comunidade e como isso permite trabalhar profundamente os personagens e seus dramas.
“Eu acho que [o contexto dos ‘Favela Movies’] é uma situação-limite. E as situações-limites abrem muito espaço para uma dramaturgia forte. As pessoas vivem ali em uma zona cinza, em que são expostas o tempo inteiro ao preto e branco. São contrastes muito grandes, porque ou você é conivente com o tráfico ou você é da igreja, ou sua vida está em risco. São conflitos quase medievais, que te levam a um lugar onde o Estado se impõe forte, de forma cruel. É dramaturgicamente muito complicado. E tem algo também que é o estereótipo das favelas. As pessoas só conhecem uma visão da favela. E é um lugar que principalmente os estrangeiros não conhecem e acham muito sedutor. Há muito a se trabalhar nos personagens dali, o que atrai o público estrangeiro para perto, seja por curiosidade ou identificação”, comentou Portella.
No Brasil, para uma série chegar à quinta temporada, ela precisa ser muito boa. E para René Sampaio, o grande segredo desse sucesso é se manter curioso, enquanto mente criativa, para conseguir surpreender o público.
“Acho que o grande mistério de fazer uma série de sucesso é que a gente também não sabe tudo o que quer fazer. Porque a série acontece conforme a gente vai fazendo, então tudo pode mudar. A gente espera surpreender o público, porque tem ideias constantes. Enquanto houver surpresa, essa curiosidade nossa de ‘até onde queremos levar o personagem’, vai dar tudo certo”, disse René.
E vale destacar que o Evandro é quase que um ‘Batman do Dendê’. Ele precisar estar sempre três passos a frente dos inimigos, mexe com os mais diferentes tipos de armamento e veículos, além de já ter feito um pouco de tudo em suas missões. Para os diretores, ele é interessante justamente por ser versátil e por eles não pensarem direito em qual será seu futuro. Mas Portella garante que não pensa em matá-lo tão cedo.
“Quando a gente souber tudo o que quer fazer com o Evandro, acho que aí será hora de acabar a série. Porque a gente é autor, diretor, produtor, mas também é espectador. A gente gosta de ver o que está fazendo e de inventar coisas novas”, comentou René Sampaio.
“Mas se tem uma coisa que a gente ainda não fez com o Evandro do Dendê e que eu não pretendo fazer tão cedo é matá-lo. Vida longa ao rei!”, completou Tomás Portella.
Por fim, um dos grandes destaques da série é o ator Leandro Firmino. Eternizado no cinema mundial como o Zé Pequeno de Cidade de Deus (2002), Firmino vive o Gilmar, em Impuros. Braço direito de Evandro, ele passa por uma provação enorme nesta quinta temporada: ele vê a filha namorar um aspirante a Policial Federal. Os diretores revelaram que esse carinho do público pelo Gilmar se dá justamente pelo carisma do ator.
“O Firmino tem carisma. Ele é inegavelmente muito carismático e muito diferente dos personagens que ele faz. Você conversa com ele e vê que é outra pessoa. Ele fala baixo, é muito calmo, não fala palavrão. Nunca vi ninguém falar mal do Firmino. Ele é educadíssimo. Aí, quando entra no personagem, ele traz um carisma muito próprio dele”, disse René.
“É sempre divertido trabalhar com o Leandro Firmino. Nosso elenco é incrível. E mesmo trabalhando em ambientes hostis, muito quentes, a gente se diverte. Acho que tem um clima anárquico de subversão, que faz com que o humor brote. O personagem do Firmino tem muita coisa já escrita, mas tem momentos que nascem da pura anarquia dos sets. A gente vai testando e tem muita liberdade”, completou Tomás.
“Os atores participam muito da criação. Estamos na quinta temporada, então esses personagens já são dos atores. A gente ajuda em outras coisas, mas deixa eles muito livres para criar”, concluiu Tati.