Em 12 de junho de 1981, Indiana Jones e o Caçadores da Arca Perdida estreou nos cinemas americanos, redefinindo o conceito de aventura e elevando o sarrafo para os filmes do gênero. Dirigido por Steven Spielberg, o projeto começou oito anos antes, quando George Lucas sonhava em homenagear os heróis das matinês de sua infância. Então, ele começou a desenvolver a ideia de um aventureiro. Porém, ele deixou o rascunho de lado quando tentou emplacar um projeto baseado do Flash Gordon e acabou esbarrando nos direitos autorais. No entanto, ele não desistiu e começou a trabalhar no seu próprio filme espacial. Um tal de Star Wars, não sei se vocês conhecem. Então, em 1977, com Uma Nova Esperança nos cinemas, Lucas tirou férias em Maui com Spielberg, que se firmava em Hollywood com o sucesso de Tubarão (1975) e Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), onde Steven falou para amigo sobre seu desejo de dirigir um filme do 007 e como a detentora dos direitos do personagem vetou a ideia logo de cara. Ouvindo as frustrações do amigo, George falou sobre uma sinopse que havia escrito com Philip Kaufman anos antes sobre um arqueólogo mulherengo que enfrentava nazistas na Segunda Guerra Mundial enquanto procurava pela Arca da Aliança, que era “muito melhor que James Bond”. Spielberg ficou fascinado com o que escutou e decidiu embarcar no projeto.
E nesse processo de desenvolvimento da história, Lucas, Spielberg e Kaufman bateram cabeça. Isso porque cada um tinha uma ideia para a trama e para o personagem. Inicialmente, ele se chamaria Indiana Smith. E como George Lucas queria que o personagem tivesse um jeitão meio James Bond, o Indy seria ainda mais galanteador e não resistiria a jogos. Por outro lado, Steven Spielberg já chegou mudando o nome do protagonista. Saía o “Smith” e entrava o Indiana Jones por “soar melhor”. O diretor imaginou o herói da trama como uma versão de Fred C. Dobbs (Humphrey Bogart), de O Tesouro de Sierra Madre (1948), com direito a ações moralmente questionáveis e um quadro de alcoolismo. Mas a situação mudou para melhor com a chegada de um redator publicitário chamado Lawrence Kasdan. Ele usou 100 páginas de transcrições de conversas da equipe criativa e trabalhou no roteiro por seis meses. Antes da versão final, Kasdan reescreveu o texto cinco vezes, descartando elementos como um vilão de braço robótico, uma sequência de fuga em Xangai e uma perseguição dentro de uma mina. Curiosamente, algumas delas viriam a ser utilizadas nas continuações da franquia.
Entretanto, havia um consenso: Tom Selleck seria o protagonista. Para a sorte da franquia, o ator que virou símbolo de virilidade, acabou desistindo do projeto por ter recebido a proposta de estrelar a série Magnum. Esse momento foi fundamental para mudar a carreira dos dois atores, já que Tom ficou imortalizado como o protagonista do seriado, e o substituto, Harrison Ford, estrelaria um filme voltado para um público mais amplo que Star Wars e se imortalizaria de vez como Indiana Jones.
Ford, inclusive, ajudou a moldar a personalidade do herói. Para Lucas, ele deveria ter um viés mais de playboy politizado, enquanto Spielberg queria essa versão obscura do Indy pinguço. Harrison Ford se mostrou contrário as duas propostas e sugeriu um protagonista mais humano, mais suscetível a erros. E foi desse processo de criação envolvendo diretor, roteirista, atores e produtores que surgiu a ideia do visual icônico do chapéu, das roupas de couro e do chicote, apesar de não ser confirmado quem sugeriu cada item. Com o projeto já engatilhado, George Lucas começou a negociar com os estúdios. A maioria descartou a proposta logo de cara por considerarem um projeto muito caro. Então, ele foi até a Paramount, que relutou em aceitar a proposta depois de ter engolido o fracasso de bilheteria 1941: Uma Guerra Muito Louca (1979), comédia dirigida por Spielberg. Depois de muita conversa, Lucas convenceu o estúdio, que só cedeu o orçamento de US$ 20 milhões depois de Spielberg concordar em assinar uma série de cláusulas que obrigavam o filme a ser entregue sem qualquer tipo de atraso ou necessidade de verba extra, e, caso fizesse sucesso, deveria render mais quatro continuações. Por conta disso, precisaram fazer um novo tratamento no roteiro, adequando ele a realidade financeira disponível. Steven chamou a equipe e comentou que não poderiam cometer erros, porque erros significavam atrasos e mais dinheiro. Eles também escolheram locações mais baratas, gravando as cenas do Egito na Tunísia, onde Lucas gravara Star Wars anos antes. Deu certo.
Assim, em 12 de junho de 1981, o filme estreou aos cinemas sem muitas expectativas do público, apesar de contar com as mentes criativas responsáveis por Tubarão, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Star Wars. Para a surpresa da Paramount, o longa não apenas foi bem, como também se tornou a maior bilheteria do ano, arrecadando quase US$ 390 milhões. Além disso, ele recebeu nove indicações ao Oscar, incluindo ao de melhor filme, e saiu da premiação com cinco estatuetas (Melhor Direção de Arte, Melhor Edição, Melhor Som, Melhores Efeitos Visuais e Montagem de Efeitos Sonoros). A mistura de ação com aventura, comédia e suspense cativou o público no mundo inteiro, alçando o personagem ao posto de ícone da cultura pop, e fazendo com que ele sempre figurasse no Top-10 de maiores personagens da história do cinema. O mesmo vale para a trilha sonora emblemática composta por John Williams, que é uma das mais marcantes de todos os tempos. Talvez Spielberg e Lucas não imaginassem o sucesso que Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida faria, mas ainda assim, com todas as três sequências – sendo duas delas maravilhosas -, nenhum outro filme de aventura conseguiu se igualar e ser tão culturalmente impactante quanto o nosso aniversariante do dia.
A franquia Indiana Jones está disponível na Netflix, e o último filme da franquia ‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino‘, já está em exibição nos cinemas.