quarta-feira , 20 novembro , 2024

Insatiable | Uma das PIORES séries da Netflix faz cinco anos em 2023

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Não há absolutamente nada de bom sobre Insatiable. A série da Netflix, que durou duas temporadas e foi estrelada por Debby Ryan, já carregava consigo potenciais polêmicas desde seu anúncio, com um trailer que deixava no ar alguns pontos extremamente duvidosos acerca da qualidade que ofereceria. Mesmo assim, o público adepto ao conteúdo original da plataforma resolveu dar um voto de confiança à produção, esperando até o dia de sua estreia para conferir com os próprios olhos que diabos se tratava a narrativa. O resultado não poderia ter sido mais catastrófico: além de ter recebido a pior avaliação de todos os tempos, a série também refletiu um suposto desgaste da gigante do streaming e uma possível perda de seu monopólio criativo.

O episódio piloto se inicia de forma clichê: uma menina obesa chamada Patty Bladell (Ryan) sofre bullying constante na escola que frequenta, descontando todas as suas frustrações compulsórias na comida, sendo respaldada emocionalmente pela melhor amiga Nonnie (Kimmy Shields). Em um cosmos paralelo, Bob Armstrong (Dallas Roberts), um ex-advogado que se tornou técnico de misses de concursos de beleza, lida com a frustração de sua última cliente e de sua insuportável mãe, as quais se unem para acusá-lo de pedofilia e destruir sua reputação. Os dois mundos se cruzam quando Patty acaba se envolvendo em uma briga com um mendigo e quebra a mandíbula, além de ser processada: Bob, pois, volta para sua vida jurídica e atende a garota após não conseguir mais nenhum caso, e vê a possibilidade de voltar para o mundo artístico após perceber que ela emagreceu horrores e tem o porte de uma pageant queen.



A narrativa não precisaria seguir pelos modos mais convencionais, tomando cuidado para se esquivar de clichês e saídas formulaicas que a transformassem em mais uma trama cômica de coming-of-age adolescente. Entretanto, a criadora e showrunner Lauren Gussis não apenas se respalda em todas as construções que conhecemos, como também reafirma estereótipos extremamente problemáticos em uma sociedade marcada pela tentativa constante de quebrar padrões conservadores e da busca pela empatia e pelo equilíbrio da alteridade.

A programação original da Netflix há algum tempo já mostra uma falta de consideração em relação a inúmeros gatilhos que influenciam no crescimento e no psicológico de várias faixas etárias. Afinal, precisamos lembrar que a plataforma tem uma expansão progressiva que abrange parcelas consideráveis dos telespectadores – então a cautela é um passo de bastante importância. Em outras palavras, ao mesmo passo em que produziu comédias aplaudíveis e de teor ácido sem ferir a integridade de qualquer minoria social, como The Good Place’ e Unbreakable Kimmy Schmidt, também foi responsável, por exemplo, pela insurgência da adaptação 13 Reasons Why’ – e a polêmica estende-se até hoje pelo fato de romantizar o suicídio e não tratá-lo com o devido respeito.

Insatiable vai muito além disso. Diferente do drama tour-de-force da obra de Jay Asher, essa série não teve uma intenção boa: sua ideia pareceu, desde o princípio, pegar todos os problemas em pauta na atualidade e usá-los como base para humilhar seus personagens e criar um desserviço social inegável. Patty emagrece e utiliza esse acontecimento para se vingar de todo o bullying que sofreu, tornando-se uma criação histérica que inclusive se utiliza de sua recém-adquirida sedução para conseguir o que quer; além disso, a protagonista faz alusão à pedofilia e a encara com descaso e como uma forma de subir na vida; a sororidade também é desconstruída, colocando todas as personagens femininas em conflito entre si e sempre submetidas à presença masculina, que se porta com mais inteligência e calma. Enquanto isso, Bob delineia todo seu arco “evolutivo” partindo da premissa a magreza é mágica, condenando as pessoas gordas e submetendo suas clientes às tarefas mais insanas para alcançarem o pódio. Basicamente, a série declara mais de uma vez que a beleza é o fator principal para conseguir subir na vida.

Como se não bastasse, nem mesmo o estruturalismo técnico da série é bem pensado: a montagem segue um padrão horrível paralelo que nem mesmo consegue prever supostos furos de roteiro, combinando o que quer que exista apenas para entregar um episódio pífio e medíocre, que em nenhum momento diverte ou ousa ser mais do que aparenta. A direção de arte, que poderia buscar um apoio na paleta de cores extensa da indústria dos alimentos, não consegue brincar de forma adequada para, em meio a tantos equívocos propositais, representar um ínfimo suspiro de esperança. Em outras palavras, todo o show se comporta como a justaposição de fragmentos cênicos sem pé nem cabeça.

Ryan e Roberts, configurando-se como o casal protagonista, carregam o peso tragicômico de manter a série fluida, senão pelos diálogos porcamente criados, ao menos pela química entre suas atuações. Porém, os dois parecem viver cada um em seu mundo: as tentativas de forçar um romance entre os personagens é chocante por todos os motivos errados, inclusive pelo fato de Patty ser menor de idade e Bob estar em um casamento conturbado com Coralee (Alyssa Milano), a própria representação da mulher branca de meia-idade que abandonou todas as suas raízes e transformou-se em uma tradicionalista ridícula sem altos e baixos e que se move às custas, mais uma vez, de seu marido.

Em meio a tantas problematizações que vão da gordofobia até a LGBTfobia mascarada, Insatiable é uma prova de como nem mesmo em pleno século XXI estamos livres de séries que ratificam e disseminam estereótipos. Como supracitado, a Netflix conseguiu mais uma vez mergulhar em um desserviço completo e que definitivamente deixou sua reputação ainda mais difícil de ser recuperada.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Não há absolutamente nada de bom sobre Insatiable. A série da Netflix, que durou duas temporadas e foi estrelada por Debby Ryan, já carregava consigo potenciais polêmicas desde seu anúncio, com um trailer que deixava no ar alguns pontos extremamente duvidosos acerca da qualidade que ofereceria. Mesmo assim, o público adepto ao conteúdo original da plataforma resolveu dar um voto de confiança à produção, esperando até o dia de sua estreia para conferir com os próprios olhos que diabos se tratava a narrativa. O resultado não poderia ter sido mais catastrófico: além de ter recebido a pior avaliação de todos os tempos, a série também refletiu um suposto desgaste da gigante do streaming e uma possível perda de seu monopólio criativo.

O episódio piloto se inicia de forma clichê: uma menina obesa chamada Patty Bladell (Ryan) sofre bullying constante na escola que frequenta, descontando todas as suas frustrações compulsórias na comida, sendo respaldada emocionalmente pela melhor amiga Nonnie (Kimmy Shields). Em um cosmos paralelo, Bob Armstrong (Dallas Roberts), um ex-advogado que se tornou técnico de misses de concursos de beleza, lida com a frustração de sua última cliente e de sua insuportável mãe, as quais se unem para acusá-lo de pedofilia e destruir sua reputação. Os dois mundos se cruzam quando Patty acaba se envolvendo em uma briga com um mendigo e quebra a mandíbula, além de ser processada: Bob, pois, volta para sua vida jurídica e atende a garota após não conseguir mais nenhum caso, e vê a possibilidade de voltar para o mundo artístico após perceber que ela emagreceu horrores e tem o porte de uma pageant queen.

A narrativa não precisaria seguir pelos modos mais convencionais, tomando cuidado para se esquivar de clichês e saídas formulaicas que a transformassem em mais uma trama cômica de coming-of-age adolescente. Entretanto, a criadora e showrunner Lauren Gussis não apenas se respalda em todas as construções que conhecemos, como também reafirma estereótipos extremamente problemáticos em uma sociedade marcada pela tentativa constante de quebrar padrões conservadores e da busca pela empatia e pelo equilíbrio da alteridade.

A programação original da Netflix há algum tempo já mostra uma falta de consideração em relação a inúmeros gatilhos que influenciam no crescimento e no psicológico de várias faixas etárias. Afinal, precisamos lembrar que a plataforma tem uma expansão progressiva que abrange parcelas consideráveis dos telespectadores – então a cautela é um passo de bastante importância. Em outras palavras, ao mesmo passo em que produziu comédias aplaudíveis e de teor ácido sem ferir a integridade de qualquer minoria social, como The Good Place’ e Unbreakable Kimmy Schmidt, também foi responsável, por exemplo, pela insurgência da adaptação 13 Reasons Why’ – e a polêmica estende-se até hoje pelo fato de romantizar o suicídio e não tratá-lo com o devido respeito.

Insatiable vai muito além disso. Diferente do drama tour-de-force da obra de Jay Asher, essa série não teve uma intenção boa: sua ideia pareceu, desde o princípio, pegar todos os problemas em pauta na atualidade e usá-los como base para humilhar seus personagens e criar um desserviço social inegável. Patty emagrece e utiliza esse acontecimento para se vingar de todo o bullying que sofreu, tornando-se uma criação histérica que inclusive se utiliza de sua recém-adquirida sedução para conseguir o que quer; além disso, a protagonista faz alusão à pedofilia e a encara com descaso e como uma forma de subir na vida; a sororidade também é desconstruída, colocando todas as personagens femininas em conflito entre si e sempre submetidas à presença masculina, que se porta com mais inteligência e calma. Enquanto isso, Bob delineia todo seu arco “evolutivo” partindo da premissa a magreza é mágica, condenando as pessoas gordas e submetendo suas clientes às tarefas mais insanas para alcançarem o pódio. Basicamente, a série declara mais de uma vez que a beleza é o fator principal para conseguir subir na vida.

Como se não bastasse, nem mesmo o estruturalismo técnico da série é bem pensado: a montagem segue um padrão horrível paralelo que nem mesmo consegue prever supostos furos de roteiro, combinando o que quer que exista apenas para entregar um episódio pífio e medíocre, que em nenhum momento diverte ou ousa ser mais do que aparenta. A direção de arte, que poderia buscar um apoio na paleta de cores extensa da indústria dos alimentos, não consegue brincar de forma adequada para, em meio a tantos equívocos propositais, representar um ínfimo suspiro de esperança. Em outras palavras, todo o show se comporta como a justaposição de fragmentos cênicos sem pé nem cabeça.

Ryan e Roberts, configurando-se como o casal protagonista, carregam o peso tragicômico de manter a série fluida, senão pelos diálogos porcamente criados, ao menos pela química entre suas atuações. Porém, os dois parecem viver cada um em seu mundo: as tentativas de forçar um romance entre os personagens é chocante por todos os motivos errados, inclusive pelo fato de Patty ser menor de idade e Bob estar em um casamento conturbado com Coralee (Alyssa Milano), a própria representação da mulher branca de meia-idade que abandonou todas as suas raízes e transformou-se em uma tradicionalista ridícula sem altos e baixos e que se move às custas, mais uma vez, de seu marido.

Em meio a tantas problematizações que vão da gordofobia até a LGBTfobia mascarada, Insatiable é uma prova de como nem mesmo em pleno século XXI estamos livres de séries que ratificam e disseminam estereótipos. Como supracitado, a Netflix conseguiu mais uma vez mergulhar em um desserviço completo e que definitivamente deixou sua reputação ainda mais difícil de ser recuperada.

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