Sexta-feira 13 tupiniquim
Vivemos reclamando do cinema nacional por não se aventurar em filmes de gênero. Pois bem, eis aqui um exemplar de terror e suspense psicológico completamente brasileiro. Sua qualidade mais louvável é tentar. Produzida e protagonizada pelo astro Global Bruno Gagliasso, a obra apresenta um casal cujo objetivo é isolar numa casa na floresta para um final de semana romântico. No local, misteriosos assassinatos são cometidos, aterrorizando a humilde população. O desavisado casal passará dias de desespero.
Isolados recai em alguns subgêneros dentro do terror, e é regido por tais fórmulas. O primeiro é o do terror na cabana, que abrange desde A Morte do Demônio até Sexta-Feira 13, e que não pôde mais ser levado a sério após a interessante sátira em O Segredo da Cabana. O segundo é o terror psicológico, remetendo ao clássico O Iluminado (obviamente em muito menor escala) no sentido da loucura trazida pelo isolamento – o efeito chamado “febre da cabana”.
Gagliasso é um médico psiquiatra acostumado a tratar dos casos mais atormentadores. Através de flashbacks o vemos em ação no trabalho, e como conheceu a companheira, uma antiga paciente. Renata, papel da graciosa Regiane Alves, possui a confiança e estrutura de um verdadeiro frangalho. O que faz pensar que o isolamento da dupla serviria como uma espécie de tratamento para a mulher extremamente fragilizada.
É nos flashbacks também que ganhamos a participação do saudoso José Wilker, em seu último trabalho no cinema, numa ponta de única cena. Uma bela dedicatória é feita para o ator nos créditos finais. Isolados é um projeto arriscado, devido ao gênero predominantemente jovem. Os filmes de terror não apelam ao público adulto. Sua intenção, no entanto, é justamente capturar a fatia do mercado aficionada pelo gênero. As comédias nacionais, muitas de qualidade duvidosa, tem conquistado grande espaço no gosto popular. É hora de abrir espaço para esse estilo também.
O filme não é uma obra-prima. Existem muitos problemas, mas em geral consistem nos mesmos da maioria do que é produzido em qualquer país, dentro do gênero. Com 90 minutos de projeção, Isolados soa longo, por nos imergir basicamente em desespero e sofrimento providos por maníacos com facas perseguindo suas vítimas indefesas. No final é apresentada uma boa reviravolta, envolvendo a dupla protagonista, porém, já é tarde demais. Qualquer criatividade é tragada pelo desconforto e a desagradabilidade apresentados todo o tempo.
Filmes que dependem apenas de suas reviravoltas não são redimidos por elas. Não importa o quão brilhante sejam. O que conta, e muito, é a paixão dos envolvidos. Gagliasso e Alves estão ótimos em cena. Eles se entregam ao projeto com vigor, dando tudo de si. E se pensarmos que o Brasil não possui um décimo dos recursos usados em Hollywood para imprimir as produções mais genéricas e dispensáveis de forma padronizada, o esforço dos envolvidos é ainda mais admirável.