Podemos dizer que as duas criaturas que dominaram a carreira do cineasta Steven Spielberg foram os alienígenas e os dinossauros. O fascínio por estes dois temas permeou a filmografia do diretor megalomaníaco, que é um dos grandes pilares da indústria audiovisual Hollywoodiana. Vindos do espaço, os seres extraterrestres motivaram o realizador em filmes icônicos como Contatos Imediatos do Terceiro Grau, E.T. – O Extraterrestre e Guerra dos Mundos, salpicando até mesmo em obras como A.I. – Inteligência Artificial e Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Olhando para a Terra, os dinossauros reinaram absolutos em nosso planeta há milhões de anos atrás. E no tema, a produção que todos mais associam ao diretor, é claro, é Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros, lançado em 1993.
Na última semana, o The Hollywood Reporter confirmou que a franquia vai ganhar um novo filme, que marcará o início de uma nova fase da franquia. O roteiro está a cargo de David Koepp, o escritor do ‘Jurassic Park’ original de 1993.
O mais interessante é que a matéria afirma que o filme deve ser lançado já em 2025. Ou seja, as filmagens começam nos próximos meses.
O roteiro já está sendo finalizado e deve iniciar a “nova era jurássica” com uma história totalmente diferente, sem o retorno dos personagens interpretados pelas estrelas de ‘Jurassic World’, Chris Pratt e Bryce Dallas Howard.
Além disso, os personagens dos filmes originais de ‘Jurassic Park’, interpretados por Sam Neill, Laura Dern e Jeff Goldblum, aparentemente não estarão envolvidos.
A febre que temos hoje com os filmes de Jurassic World não é novidade, e de fato se estabeleceu lá atrás, há mais de 30 anos, na década de 1990. Desde então, os dinossauros nunca saíram de moda, rendendo de tudo, desde brinquedos para a criançada, desenhos animados e os mais variados produtos do audiovisual. As criaturas pré-históricas sempre estiveram inseridas na cultura popular, porém, depois dos anos 90, sua popularidade foi alçada a novos níveis. Isso porque Steven Spielberg capturou nossa imaginação, o consciente popular que se tinha sobre estes grandes animais e materializou como nunca havia sido feito antes. Ou seja, da forma mais realista possível.
Spielberg, no entanto, já havia começado a concretizar sua paixão pelos gigantescos répteis pré-históricos no fim dos anos 80. Através de sua produtora Amblin – um ícone do cinema entretenimento -, o diretor lançava a animação Em Busca do Vale Encantado (The Land Before Time, 1988), que contava sobre cinco filhotes de dinossauro (um apatossauro, um tricerátops, um saurolophus, um pterodáctilo e um stegossauro) que se perdem de suas respectivas famílias e precisam se unir para encontra-los, enquanto atravessam uma longa distância repleta de perigos, como o temível Tiranossauro Rex. Essa foi a primeira vez que o cineasta deixava fluir sua paixão sobre o tema em tela, aqui como produtor, numa animação bem trabalhada e que fez muito sucesso na época. O impacto nos pequeninos foi tanto que geraria nada menos do que treze continuações, todas lançadas direto em vídeo, além de uma série animada de TV, começando em 1994 – logo no ano seguinte de Jurassic Park.
O passo seguinte na dinomania seria dado não por Steven Spielberg, mas pelos produtores Michael Jacobs e Bob Young, responsáveis pela criação do clássico querido da TV, Família Dinossauro (Dinosaurs). Estreando na rede norte-americana ABC em 1991, o programa durou até 1994, mas ficou imortalizado pelas reprises intermináveis – no Brasil indo ao ar pela rede Globo. Na época, muito comparado à outra família que fazia muito sucesso, Os Simpsons, até a composição do núcleo era muito parecida: com pai, mãe, filho mais velho, filha do meio e um bebê – além de um idoso (avô ou avó). A grande sacada aqui, é claro, estava no fato de serem todos dinossauros, criados através de uma técnica ainda impressionante de animatrônicos dos estúdios de Jim Henson (responsável por criações como Os Muppets, O Cristal Encantado e Labirinto – A Magia do Tempo). Pelo fato de ser também uma produção da Disney, os fãs podem matar a saudade com o seriado completo disponível atualmente no Disney Plus.
Com a dinomania “atualizada com sucesso”, o caminho estava pavimentado para, agora sim, Steven Spielberg dar o tiro de misericórdia, no que se tornaria uma das maiores sensações de todos os tempos da história do cinema. Só quem estava vivo na época sabe a loucura que foi Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros. Totalmente sem precedentes, podemos dizer que o cinema entretenimento sofria ali uma ruptura de antes e depois. O filme mostrou, entre outras coisas, que não existia mais limite para a imaginação e tudo o que fosse pensado por um realizador, poderia de fato ser concretizado e virar realidade em tela. Até mesmo trazer dinossauros de volta à vida de forma realista. É claro que filmes que recriam dinossauros são muitos e remontam dos primórdios da sétima arte. Mas aqui falamos da primeira vez em que tais criaturas foram retratadas em tela de maneira realista e bastante convincente. Estar vivo e poder assistir a Jurassic Park em sua época de lançamento, foi testemunhar em primeira mão uma revolução. Não eram apenas os personagens do filme que se emocionavam de ver os grandes répteis vivos de novo, o público igualmente se colocava neste lugar.
Na época do lançamento de Jurassic Park nos cinemas, há 30 anos, alguns críticos reclamaram que o filme era intenso demais para crianças pequenas. Antevendo este pequeno problema, o próprio Spielberg produziria no mesmo ano a animação Os Dinossauros Voltaram (We’re Back! A Dinosaur’s Story), baseado no livro infantil de Hudson Talbott, que era febre com a garotada. Desta forma, a reclamação dos pais e o desejo dos pequenos, que ansiavam pelos dinos, era contornada.
Ainda em 1993, as criaturas pré-históricas novamente dariam as caras, mas de forma bem mais sutil, num pretenso blockbuster. A primeira adaptação de um vídeo game da história foi o filme do Super Mario Bros., que é claro levava às telonas o jogo homônimo de sucesso da Nintendo. Com produção da Disney (através da subsidiária Hollywood Pictures), o filme foi pensando no estilo de uma superprodução e visava dominar o verão americano, sendo lançado algumas semanas antes de Jurassic Park. Na trama, os lagartos gigantes são grande parte da história do filme, que mostra um universo paralelo onde os humanos evoluíram deles ao invés dos mamíferos, como os primatas. Mas não espere ver dinossauros detalhados em cena, pois tudo o que ganhamos são pequenos vislumbres aqui e acolá de personagens, como o pequeno dino Yoshi.
Mas nem mesmo o fracasso de Super Mario Bros. nas bilheterias prepararia o público para o verdadeiro horror. Pegando carona, com uma cara de pau inigualável, no sucesso de Jurassic Park, o lendário produtor de filmes B Roger Corman tratou de tirar da cartola o seu próprio filme de dinossauros no mesmo ano de 1993. De tempos em tempos, Hollywood produz o que chamamos de filmes gêmeos, produções lançadas no mesmo ano, ou com uma diferença bem pequena de tempo, que tratam do mesmo tema – ou algo muito similar. E sem qualquer cerimônia, Corman quis empurrar seu Carnossauro (Carnosaur) (1993) para ser o gêmeo de Jurassic Park. Mas aqui não se trata do caso do primo rico e do primo pobre, seria mais algo como o primo miserável ou morto de fome. Sim, Carnossauro é grotesco neste nível. Uma produção trash, que traz uma trama sem noção e sem sentido, se comportando muito mais como um filme de terror de baixo orçamento, do que algo mágico e repleto de encantamento como o filme de Spielberg. Para completar, Corman tratou de escalar ninguém menos do que Diane Ladd para protagonizar no papel da cientista maluca que resolve trazer os dinos de volta à vida. Isso porque sua filha na vida real, a atriz Laura Dern, estava estrelando o filme “rival”. E deu certo, já que dadas as proporções, Carnossauro conseguiu fazer sucesso ao surfar nessa onda.
Não pense você, porém, que Carnossauro foi a única bizarrice a se utilizar da temática dos dinossauros convivendo com humanos em tempos modernos. No ano seguinte de Carnossauro (que ainda gerou mais duas continuações) era lançado Tammy and the T-Rex, filme que passou em branco em sua estreia, mas que hoje possui status de cult (que só aumenta com cada vez mais adeptos o descobrindo). O filme conta com os então jovens Denise Richards e o saudoso Paul Walker no elenco protagonizando. Veja essa trama para lá de bizarra: Walker e Richards são dois adolescentes colegiais apaixonados; o pior acontece e o rapaz é gravemente ferido após uma brincadeira sair terrivelmente errado. Um cientista resolve usá-lo para seu experimento insano. Ele resolve transferir o cérebro do rapaz… não para um dinossauro, mas sim para um robô em forma de dinossauro que havia criado. Assim, o rapaz, agora transformado num Tiranossauro Rex mecânico, recorre à sua namorada para ajuda, e os dois seguem com seu romance. Diga se não nasceu para ser cult.
Os dinossauros não descambaram apenas para o território de filmes trash de baixo orçamento e conseguiram esquivar da extinção com outros sucessos. No ano seguinte de Jurassic Park, o próprio Steven Spielberg voltaria ao tema com a produção de Os Flintstones – O Filme, primeiro live-action da família da idade da pedra, criada pela Hanna-Barbera ainda na década de 1960. Seguindo a surfar no tópico dos dinossauros, o cineasta através de sua Amblin em parceria com a Universal Pictures, daria vida ao clássico, com direito a Fred Flintstone escorregando no rabo de brontossauro e tudo. Para o papel protagonista era escalado John Goodman, que no ano anterior havia dado voz ao tiranossauro protagonista de Os Dinossauros Voltaram. A versão de carne e osso para o desenho foi um grande sucesso de 1994.
Algumas outras produções, não muito memoráveis, davam asas à criatividade na hora de utilizar as criaturas pré-históricas em sua narrativa. Foi o caso de Meu Parceiro é um Dinossauro (Theodore Rex, 1995), filme no qual a vencedora do Oscar Whoopi Goldberg contracena com um dinossauro. Pensado como uma sátira aos filmes buddy cop (de parceiros policiais), a diferença aqui era que um dos membros da dupla é um dinossauro falante. É claro que a trama se passa numa realidade alternativa do futuro. Mesmo assim, Goldberg afirma que este foi o único filme de sua carreira que ela se arrepende de ter feito. De fato, ela tentou fugir do projeto, mas foi processada pelos produtores e concordou em voltar.
O início da década ainda viu produções como Dinossauros – O Filme (Adventures in Dinosaur City, 1991) e Meus Amigos Dinossauros (Prehysteria!, 1993), até que o próprio Spielberg seguisse elevando o jogo para as bestas colossais com as continuações de Jurassic Park, em 1997 e 2001. Hoje, a franquia se mantém de pé graças a Jurassic World, que basicamente patenteou os dinos para os novos tempos.