quarta-feira , 20 novembro , 2024

Lembra dele? | ‘Up: Altas Aventuras’, clássico da Pixar, completa 15 anos

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Falar de Pixar é pensar imediatamente em criatividade. Por quase 20 anos, o estúdio de animações 3D brindou o mundo com algumas das histórias mais espetaculares já concebidas pela mente humana e sempre utilizando o que havia de mais moderno na tecnologia da época. E se o estúdio construiu essa reputação, pode ter certeza que Up: Altas Aventuras foi um dos pilares que ajudou a Pixar a ser esse fenômeno, mesmo depois de alguns projetos menos inspirados lançados recentemente.

E por mais que doa falar isso, visto que assisti esse filme no cinema no auge dos meus 12 anos, Up completou 15 anos no último dia 4. Mas o que faz dessa aventura tão fascinante a ponto de encantar – e explodir em lágrimas – crianças e adultos quase duas décadas depois?



up altas aventuras pixar

Bom, acho que é desnecessário aprofundar muito sobre o que acontece nos primeiros 15 minutos de filme, né? Histórias de amor têm a capacidade de prender e arrancar suspiros nos quatro cantos do mundo, mas quando uma animação já começa com um curta mostrando o início, os percalços e o fim do amor de toda uma vida, você entende que o projeto é realmente diferenciado. No mundo do humor, dizem que você nunca pode começar a piada com seu ápice. Afinal, é preciso deixar o melhor para o final. Pois bem, Pete Docter e Bob Peterson simplesmente ignoraram esse consenso e construíram um relacionamento tão bonito, tão maduro em tela, trazendo esse envolvimento com o público de maneira tão autêntica, tornando impossível para o público conter as lágrimas a cada desafio enfrentado até a morte de Ellie.

São 15 minutos que te levam do céu ao inferno em um piscar de olhos. E é somente depois disso que a aventura começa. Up é um dos filmes mais maduros já feitos pela Pixar, porque aborda de forma genial conceitos como luto, expectativas e autoconhecimento. Nesse ponto, o ranzinza Carl Fredricksen é um personagem fabuloso. Não existem adjetivos o suficiente para descrevê-lo de forma que faça justiça ao que ele realmente é.

in up 2009 we see carl fredricksen get frustrated when his v0 dxrt13zl8cxa1

Tímido desde sempre, Carl viu sua vida tomar forma e ganhar cor ao lado de Ellie. Houve pouquíssimos momentos de sua existência em que ele esteve realmente sem ela. Nas horas boas e ruins, um estava ao lado do outro e, juntos, parecia não haver desafio capaz de pará-los. E a despedida de Ellie se dá justamente em um dos poucos momentos de ousadia da vida de Carl, que foi quando ele comprou as passagens para que eles realizassem o sonho de conhecer o Paraíso das Cachoeiras. Imagine juntar uma vida inteira para realizar um sonho e quando isso se torna possível, sua vida acaba?

Carl se perde em uma maré de solidão e frustração. Perdido, sua única conexão com o mundo parece ser a casa, construída com Ellie. Aquele simpático amontoado de madeira colorida não é apenas uma lembrança dos bons tempos ou um memorial a sua esposa. É a sintetização da felicidade que o idoso um dia sentiu, mas que não se acha mais digno de sentir. Ellie se foi, assim como a vontade de Carl sentir. A vida não faz mais sentido.

charles muntz pixar up

E quando a gente pensa que eles não poderiam jogar mais baixo com nosso querido velhinho irritado, descobrimos que o grande vilão do filme é justamente uma das poucas coisas boas que ainda habitavam o coração de Carl: Charles Muntz, seu herói de infância e uma das grandes razões pelas quais ele conheceu a Ellie. De uma hora para outra, o que representava o pontapé inicial de sua felicidade, de sua vida, estava armado, diante de seus olhos, tentando matá-lo para concluir seu ciclo e recuperar o prestígio na comunidade científica.

Carl é forçado a enfrentar – e perder – tudo o que um dia o fez feliz. E aí que vem outro toque da mais pura genialidade: ao se despir dos antigos conceitos e felicidades, o velhinho recupera a vontade de viver e descobre que há muito mais a se ver, a se fazer, do que se apegar ao passado. Como diz a Ellie antes de mostrar ao marido as páginas em branco da vida: “Obrigado pela aventura! Agora vá viver uma nova!”. Após anos de amargura, Carl enfim compreendeu o que era viver e como ele tinha sorte de ainda estar ali. Porque, como disse Charles Muntz um dia… A aventura está lá fora.

26d12 272014 papel de parede up altas aventuras 272014 1920x1200Em meio a essa construção absurda de personagem, vemos o jovem Russell adentrar a história. O escoteiro também é muito bem construído, sendo o extremo oposto de Carl e relembrando a ele o que a vida um dia já foi. O pequeno é como um espelho do jovem Carl, que olha para seu passado com amargura e decepção. Talvez seja por isso que ele seja tão negativo com o garoto. Ele quer preveni-lo da frustração que sonhar com aventuras trouxe para si.

Porém, Russell tem seu próprio passado. Seu otimismo e desejo por aventura são ferramentas as quais ele se apega para tentar conseguir o amor e a aprovação de um pai ausente, que se preocupa mais com negócios do que com o próprio filho. Ao longo da trama, o garoto ajuda Carl a compreender que ainda tem valor e que a vida vale a pena ser vivida, mas também aprende com ele que merece atenção e afeto, e que a aventura por si só já é um prêmio inestimável. Ao fim do filme, quando premia o garoto com a Medalha Ellie, Carl ‘passa o bastão’ de uma vida de amor e aventuras para Russell.

xr:d:dae1k1abd q:6720,j:4580806633,t:23030121

Tudo isso com a interpretação genial do saudoso Chico Anysio na versão brasileira, e com uma trilha sonora inspiradíssima de Michael Giacchino. Inclusive, foi por esse trabalho que ele ganhou seu único Oscar, mas ainda assim, pela grandiosidade dessa trilha, nem mesmo a honraria máxima do cinema parece fazer justiça.

Ao fim do filme, para ser ainda mais cruel com o público, o filme indica que Carl conseguiu concluir todos os ciclos possíveis, literalmente. Dizem que uma promessa não se quebra, e quis o destino que a simples iniciativa de realizar o sonho da esposa falecida fosse terminar com o pagamento da promessa que faltava, feita a Ellie ainda na infância: levar sua casa para o Paraíso das Cachoeiras. Então, se permitindo sonhar e viver novamente, Carl vai experimentar o doce da vida outra vez, agora acompanhado de uma matilha de cachorros viciados em sorvete e cachorro quente. Aproveitando carinho, afeto e diversão como há anos não experimentava.

up disneyscreencaps.com 10532

Já se passaram 15 anos, mas Up segue mais fascinante e encantador a cada dia que passa. Uma obra atemporal e, sinceramente, perfeita.

Up: Altas Aventuras está disponível no Disney+.
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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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E por mais que doa falar isso, visto que assisti esse filme no cinema no auge dos meus 12 anos, Up completou 15 anos no último dia 4. Mas o que faz dessa aventura tão fascinante a ponto de encantar – e explodir em lágrimas – crianças e adultos quase duas décadas depois?

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Bom, acho que é desnecessário aprofundar muito sobre o que acontece nos primeiros 15 minutos de filme, né? Histórias de amor têm a capacidade de prender e arrancar suspiros nos quatro cantos do mundo, mas quando uma animação já começa com um curta mostrando o início, os percalços e o fim do amor de toda uma vida, você entende que o projeto é realmente diferenciado. No mundo do humor, dizem que você nunca pode começar a piada com seu ápice. Afinal, é preciso deixar o melhor para o final. Pois bem, Pete Docter e Bob Peterson simplesmente ignoraram esse consenso e construíram um relacionamento tão bonito, tão maduro em tela, trazendo esse envolvimento com o público de maneira tão autêntica, tornando impossível para o público conter as lágrimas a cada desafio enfrentado até a morte de Ellie.

São 15 minutos que te levam do céu ao inferno em um piscar de olhos. E é somente depois disso que a aventura começa. Up é um dos filmes mais maduros já feitos pela Pixar, porque aborda de forma genial conceitos como luto, expectativas e autoconhecimento. Nesse ponto, o ranzinza Carl Fredricksen é um personagem fabuloso. Não existem adjetivos o suficiente para descrevê-lo de forma que faça justiça ao que ele realmente é.

in up 2009 we see carl fredricksen get frustrated when his v0 dxrt13zl8cxa1

Tímido desde sempre, Carl viu sua vida tomar forma e ganhar cor ao lado de Ellie. Houve pouquíssimos momentos de sua existência em que ele esteve realmente sem ela. Nas horas boas e ruins, um estava ao lado do outro e, juntos, parecia não haver desafio capaz de pará-los. E a despedida de Ellie se dá justamente em um dos poucos momentos de ousadia da vida de Carl, que foi quando ele comprou as passagens para que eles realizassem o sonho de conhecer o Paraíso das Cachoeiras. Imagine juntar uma vida inteira para realizar um sonho e quando isso se torna possível, sua vida acaba?

Carl se perde em uma maré de solidão e frustração. Perdido, sua única conexão com o mundo parece ser a casa, construída com Ellie. Aquele simpático amontoado de madeira colorida não é apenas uma lembrança dos bons tempos ou um memorial a sua esposa. É a sintetização da felicidade que o idoso um dia sentiu, mas que não se acha mais digno de sentir. Ellie se foi, assim como a vontade de Carl sentir. A vida não faz mais sentido.

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E quando a gente pensa que eles não poderiam jogar mais baixo com nosso querido velhinho irritado, descobrimos que o grande vilão do filme é justamente uma das poucas coisas boas que ainda habitavam o coração de Carl: Charles Muntz, seu herói de infância e uma das grandes razões pelas quais ele conheceu a Ellie. De uma hora para outra, o que representava o pontapé inicial de sua felicidade, de sua vida, estava armado, diante de seus olhos, tentando matá-lo para concluir seu ciclo e recuperar o prestígio na comunidade científica.

Carl é forçado a enfrentar – e perder – tudo o que um dia o fez feliz. E aí que vem outro toque da mais pura genialidade: ao se despir dos antigos conceitos e felicidades, o velhinho recupera a vontade de viver e descobre que há muito mais a se ver, a se fazer, do que se apegar ao passado. Como diz a Ellie antes de mostrar ao marido as páginas em branco da vida: “Obrigado pela aventura! Agora vá viver uma nova!”. Após anos de amargura, Carl enfim compreendeu o que era viver e como ele tinha sorte de ainda estar ali. Porque, como disse Charles Muntz um dia… A aventura está lá fora.

26d12 272014 papel de parede up altas aventuras 272014 1920x1200Em meio a essa construção absurda de personagem, vemos o jovem Russell adentrar a história. O escoteiro também é muito bem construído, sendo o extremo oposto de Carl e relembrando a ele o que a vida um dia já foi. O pequeno é como um espelho do jovem Carl, que olha para seu passado com amargura e decepção. Talvez seja por isso que ele seja tão negativo com o garoto. Ele quer preveni-lo da frustração que sonhar com aventuras trouxe para si.

Porém, Russell tem seu próprio passado. Seu otimismo e desejo por aventura são ferramentas as quais ele se apega para tentar conseguir o amor e a aprovação de um pai ausente, que se preocupa mais com negócios do que com o próprio filho. Ao longo da trama, o garoto ajuda Carl a compreender que ainda tem valor e que a vida vale a pena ser vivida, mas também aprende com ele que merece atenção e afeto, e que a aventura por si só já é um prêmio inestimável. Ao fim do filme, quando premia o garoto com a Medalha Ellie, Carl ‘passa o bastão’ de uma vida de amor e aventuras para Russell.

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Tudo isso com a interpretação genial do saudoso Chico Anysio na versão brasileira, e com uma trilha sonora inspiradíssima de Michael Giacchino. Inclusive, foi por esse trabalho que ele ganhou seu único Oscar, mas ainda assim, pela grandiosidade dessa trilha, nem mesmo a honraria máxima do cinema parece fazer justiça.

Ao fim do filme, para ser ainda mais cruel com o público, o filme indica que Carl conseguiu concluir todos os ciclos possíveis, literalmente. Dizem que uma promessa não se quebra, e quis o destino que a simples iniciativa de realizar o sonho da esposa falecida fosse terminar com o pagamento da promessa que faltava, feita a Ellie ainda na infância: levar sua casa para o Paraíso das Cachoeiras. Então, se permitindo sonhar e viver novamente, Carl vai experimentar o doce da vida outra vez, agora acompanhado de uma matilha de cachorros viciados em sorvete e cachorro quente. Aproveitando carinho, afeto e diversão como há anos não experimentava.

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Já se passaram 15 anos, mas Up segue mais fascinante e encantador a cada dia que passa. Uma obra atemporal e, sinceramente, perfeita.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
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