Para além de inúmeras séries de comédia infantis que marcaram época, o Disney Channel também é lar de diversos longas-metragens originais que caíram no gosto do público. Dentre as inúmeras produções que fazem parte desse catálogo, temos as franquias ‘High School Musical’, ‘Camp Rock’ e ‘Cheetah Girls’ como emblemas dos realizadores da Casa Mouse – e existe ainda um título que merecia, sem sombra de dúvidas, mais reconhecimento e apreciação do que realmente tem: ‘Lemonade Mouth’.
Baseado no romance homônimo de Mark Peter Hughes, o longa-metragem acompanha um grupo de desajustados que, contrariando todas as expectativas, acaba encontrando algo em comum na música, firmando uma banda que empresta o nome ao título do filme e que os leva a enfrentar as atribulações da adolescência, da amizade e até mesmo da expressão artística em uma divertida, singela e tocante história. Aqui, temos Bridgit Mendler encarnando Olivia White, a jovem protagonista e narradora que sempre voou sob o radar e nunca quis chamar a atenção; após ser mandada para a detenção, ela conhece Wen Gifford (Adam Hicks), Stella Yamada (Hayley Kiyoko), Mo Banjaree (Naomi Scott) e Charlie Delgado (Blake Michael), e todos se mostram propensos à música e são encorajados a formar uma banda e a participar do show de talentos local, o Rising Star.
Dirigido por Patricia Riggen, mesmo nome por trás do recente suspense de ação ‘G20’, com Viola Davis, o projeto é um cândido e modernizado retrato da juventude norte-americana no período escolar e no momento em que as identidades começam a aflorar – em meio a uma selva urbana inexplicavelmente hierarquizada e que, de certa maneira, sempre foi explorada de forma quase político-social em produções do gênero. É claro que, em se tratando de uma produção da Disney, essas explorações não são tão profundas e não carregam uma alta dose de ironia, preferindo focar nos arquétipos clássicos de obras do gênero de maneira prática e funcional.
Em outras palavras, esse time de deslocados, que já foi visto de inúmeras maneiras tanto em obras do Disney Channel quanto em títulos como ‘10 Coisas que Eu Odeio em Você’, ‘D.U.F.F.’ e ‘A Mentira’, é uma representação dessa popular cultura que é exportada com constância significativa e que, aqui, traz mensagens de bonança sobre alcançar os sonhos e se apoiar naqueles que sempre estiveram presentes por nós. Assim, Riggen se alia ao roteiro de April Blair para uma sólida adaptação fílmica que cumpre com o prometido e chega até mesmo a ultrapassar expectativas – sagrando-se um dos melhores originais da emissora e nos relembrando de uma sequência que, com infelicidade, foi cancelada.
Não apenas o trabalho técnico é admirável, mas elementos de extrema importância para a experiência dos fãs: o elenco protagonista desfruta de uma química gigantesca e que explode em cena a todos os momentos; todavia, cada um dos atores tem seu momento para brilhar, desde a comedida atuação de Mendler à rebeldia adolescente encarnada por Kiyoko e ao coming-of-age de Scott, que anos depois conquistaria ainda mais fãs através de produções como ‘Aladdin’ e ‘Sorria 2’. E, se as performances são fortes o bastante para nos guiar por essa divertida narrativa, a produção musical emerge como a cereja do bolo – trazendo influências do pop, do rock e do EDM sob uma perspectiva deliciosa e envolvente (que contou com canções como “Somebody”, “She’s So Gone” e “Breakthrough”).
Mais de dez anos desde seu lançamento, ‘Lemonade Mouth’ mostrou como a Casa Mouse ainda tinha ótimas histórias para serem contadas, por mais que não trouxessem nada essencialmente original. Ao adotar uma abordagem simples e com plena ciência do que será, o longa-metragem acerta todas as caixinhas para nos entreter por pouco mais de cem minutos e nos deixar satisfeitos quando os créditos finais começam a rolar.