No dia 22 de setembro de 2004 foi ao ar o primeiro episódio de Lost, que logo se tornou um fenômeno. Você pode questionar se foi bom ou não, se o final foi ótimo ou péssimo, se uma outra série da mesma época era superior e tudo mais, no entanto, é inegável que a história dos personagens na ilha marcou uma época e virou uma referência de sucesso, além de ter sido um marco na internet. Até então, nenhuma outra produção televisiva mexia tanto com fóruns online quanto Lost. Aqui no Brasil, a cada fim de episódio, teorias e comentários no Orkut, podcasts, em todo lugar.
Assistir a Lost era uma experiência que se estendia além dos 40 minutos de episódio. Hoje em dia, muitos podem acompanhar, por exemplo, pela Netflix, mas o efeito não é o mesmo de cerca de 10 anos atrás. Antes, era uma semana de agonia entre um episódio e outro. Observações de cada frame nas cenas para buscar algum detalhe, alguma pista, os chamados “easter-eggs”. Muitas cabeças foram fritadas durante a época de exibição da série da ABC.
‘Lost’ pode ganhar reboot com novos personagens e história inédita
Jack, Kate, Sawyer, Hurley, Locke, Sayid… são muitos os bons personagens. Apesar de toda a mística de Lost estar relacionada às teorias referentes aos mistérios da ilha, a relação dos personagens entre si era um ponto primordial da história. Descobrir aos poucos o que eles faziam antes do acidente, quem eram, movia a trama e gerava situações muito conflitantes, ótimas de assistir, mesmo sem estar necessariamente ligado ao plot principal da ilha.
A série foi uma máquina de plot twists. São muitas as cenas memoráveis da obra televisiva e com certeza muitas cenas e episódios importantes ficarão de fora da lista. Veja aqui alguns dos momentos mais marcantes de Lost. Obviamente, você encontrará muitos spoilers se ainda não viu e pretende assistir a série:
– Hurley, o novo líder da Ilha
Começando por um momento que ocorreu na parte final da série, o momento de Jack (Matthew Fox) entregando o bastão a Hurley (Jorge Garcia) na liderança da Ilha. Uma cena triste que derramou muitas lágrimas pelo mundo. Quando todos acham que o Doutor era quem iria se tornar o responsável por tudo, vimos que na verdade quem estava destinado a isso era o personagem mais simpático e querido de toda a série.
Hurley ter se tornado líder faz todo o sentido. Afinal, desde o início vemos que o personagem tem uma relação muito forte com a Ilha. Nos minutos finais da série, em uma conversa com Ben (Michael Emerson), que virou seu ajudante nesta tarefa, dá a entender que a dupla passou um longo tempo no local. Sinal de que o trabalho foi bem feito.
– Michael mata Ana Lucia e Libby
Michael (Harold Perrineau) certamente foi um dos personagens mais odiados de todas as seis temporadas. Com suas decisões egoístas e burras com o pretexto de proteger seu filho Walt (Malcolm David Kelley), o personagem a cada aparição causava mais raiva nos espectadores. Na segunda temporada, nos foram apresentados os personagens da parte de trás do avião que se encontravam do outro lado da Ilha. Dentre eles, nomes marcantes como Ana Lucia (Michelle Rodriguez) e Libby (Cynthia Watros), que cresciam rapidamente dentro da história.
O que ninguém esperava é que Michael matasse as duas. Em um mesmo episídio. Na mesma cena. Algo totalmente inimaginável e inesperado. O personagem já não era muito querido pelos fãs e, após isto, tudo ficou ainda pior. Algumas temporadas mais à frente, ele teve a chance de se redimir, mas muitos consideram que não foi o suficiente, considerando tudo de errado que ele fez.
– A despedida de Sun e Jin
No começo da série, quase ninguém gostava do casal coreano. Ao longo da história, a relação do público com os dois melhorou até chegar ao ponto de Jin (Daniel Dae Kim) e Sun (Yunjin Kim) se tornarem alguns dos personagens mais queridos. Passaram por inúmeros momentos de tensão, brigas, alegrias, gravidez, reconciliação, entre tantos outros.
Então, chega a última temporada, com tudo acontecendo ao mesmo tempo, a série já perto do fim com os personagens quase concluindo o objetivo de sair da Ilha e…eles morrem. Juntos. Afogados. É tristeza demais. Sun fica presa dentro do submarino e Jin se recusa a sair de lá se para isso for necessário deixar sua esposa morrer sozinha. Um momento deveras tocante.
– Ben girando a roda
Benjamin Linus é um dos melhores personagens de Lost. O personagem moveu a trama em diversos sentidos desde o momento em que foi introduzido à série na segunda temporada e causou dúvida na cabeça de todos que assistiam. Afinal, aquele homem está dizendo a verdade ou não?
Michael Emerson fez um trabalho brilhante vivendo Ben e o personagem teve todo um arco em Lost. Ben: Ame-o ou Odeie-o. Não há meio termo.
Seja pela sua relação afetiva com Alex (Tania Raymonde), a rivalidade com Charles Widmore (Alan Dale) ou sua paixão pela Ilha, Ben fez parte de muitos momentos chave da série. Como o próprio disse a Locke (Terry O´Quinn) em determinado momento: “I always have a plan”. O que era verdade.
No fim da quarta temporada, Ben faz seu sacrífico final para salvar a Ilha e decide entrar na Orquídea para mover o local, mesmo que para isso ele tivesse que ser banido de lá, abrindo mão de sua liderança e de sua casa.
– A vingança de Sawyer
James Ford (Josh Holloway) -Sawyer para os íntimos – foi outro que teve todo um arco desenvolvido ao longo das seis temporadas. De chato e insuportável no começo da série para um homem maduro e querido ao final dela. O personagem foi evoluindo ao longo das temporadas e teve um momento chave de grande peso para todo o futuro de Sawyer, sua personalidade e seus objetivos de vida.
Sawyer fica frente a frente com Anthony Cooper (Kevin Tighe), pai de John Locke, o qual aplicara um golpe em seus pais quando este ainda era pequeno. Por causa de Cooper (que também já havia destruído a vida de John), Sawyer se tornou golpista e sempre teve a vingança como maior desejo. Todas as características “de malandro”, as máscaras que usava para disfarçar sua personalidade e sentimentos eram por causa de Anthony. Então, finalmente houve o encontro. Resultado: vingança concluída.
Após esse ponto na história da série, Sawyer amadureceu, passou a ser chamado pelo seu real nome e se tornou mais transparente nas relações com os demais personagens, até culminar no seu casamento com Juliet (Elizabeth Mitchell).
– O que diabos há na escotilha?
Da metade da primeira temporada até o fim da mesma esta foi a pergunta principal, seja do público ou dos próprios personagens. Havia toda uma expectativa de o que teria dentro da escotilha. A salvação para sair da Ilha? Ajuda? Pessoas? Algo perigoso? John Locke foi quem mais se dedicou a descobrir isso e acreditava que explorar e criar uma abertura nela era algo de extrema importância.
Após muitas tentativas e uma coleta de explosivos, enfim foi possível ver o que havia dentro da escotilha e…não foi mostrado! Uma maldade com o coração de quem acompanhava na época e teve que esperar muitos meses para descobrir o que havia lá dentro. No começo da segunda temporada descobrimos que Desmond (Henry Ian Cusick) era o responsável por aquele local e que haviam outras escotilhas como aquela, porém, com diferentes funções.
– A explosão (ou não) da bomba
No final da quinta temporada, tudo culminava à explosão da bomba para que os personagens pudessem voltar ao ano certo, além de, em tese, apagar tudo aquilo que foi vivido por todos eles ao longo da história desde o momento em que houve a turbulência no avião e a consequente a queda, que gerou todo o enredo de Lost.
Alguns sacrifícios foram feitos para esta missão. Juliet por um acidente acabou sendo sugada devido a uma força magnética e terminou de encontro à bomba, que até aquele momento não tinha sofrido o impacto forte o suficiente para causar uma explosão e assim resolver o problema de todos. Após algumas tentativas, enfim, parece que algo aconteceu, mas….não foi mostrado!
Assim como a questão da escotilha citada em parágrafos acima, a temporada terminou com uma grande dúvida: a bomba explodiu ou não? Se explodiu, o que aconteceu com todos? Morreram? Voltaram ao ponto de partida? Nada?
Foi a primeira e única vez da série que o encerramento foi apresentado com uma tela branca ao invés de uma tela preta. Haja agonia para esperar a última temporada e ideias para criar dezenas de teorias sobre o que possa ter acontecido neste momento.
– The Constant
Quem não se comove com a história de Desmond e Penny (Sonya Walger), boa pessoa não é! Introduzido no início da segunda temporada, o brother teve o plot centrado no seu relacionamento com sua esposa Penny e as adversidades geradas devido à desaprovação do sogro Charles Widmore. Mais do que isso, Desmond salvou a todos na Ilha girando a chave na escotilha, mas teve como ônus uma exposição radioativa, o que fez com que sua mente fosse prejudicada e assim o personagem pudesse de certa forma voltar no tempo e ter visões, flashes, de algo que acontece num futuro próximo.
Tal dom fez com que Desmond ficasse com a mente perdida em relação à noção de tempo e para tratar isso era necessário algo que estava presente em todas as épocas pelo qual o personagem passava. Algo que tivesse uma ligação forte com ele. A resposta: Penny. Após quase morrer por sua mente ir e voltar diversas vezes no tempo, Desmond conseguiu um telefonema para sua amada e assim ficou curado. Uma cena muito bonita. Aliás, todo o episódio é primoroso. Não à toa é considerado por muitos como um dos melhores episódios da série.
– Not Penny’s Boat
A despedida de Charlie (Dominic Monaghan) foi muito triste. O personagem já sabia que iria morrer graças às visões de Desmond e mesmo assim aceitou a missão de ir à escotilha sob o mar. Antes do derradeiro momento, Charlie fez um top 5 de momentos mais felizes de sua vida, no qual incluía o dia que conheceu Claire (Emilie de Ravin), a qual em outro ponto da Ilha o aguardava. Impossível segurar as lágrimas.
Mesmo com a iminente morte, Charlie fez com que Desmond não morresse por ter tentado contato com Penny, se trancou, mesmo sabendo que morreria afogado e ainda passou uma importante mensagem para seu amigo após escrever à caneta na mão. O recado “Not Penny’s Boat” é uma das frases mais memoráveis de Lost. Charlie morreu e salvou a todos, liberando o sinal para que, em tese, todos pudessem ser resgatados e assim sair da Ilha.
– We have to go back, Kate
Praticamente TUDO o que os personagens faziam era visando sair da Ilha. Então, finalmente conseguem e…querem voltar!
Lost era excelente em brincar com a perspectiva de tempo com o público e no momento final da terceira temporada mostrava o que parecia ser um flashback sem muita importância de Jack, quando na verdade, no final descobrimos que se tratava de um flashfoward, uma cena do futuro, já com eles fora da Ilha, ao menos Jack e Kate (Evangeline Lilly). A temporada foi encerrada sem ninguém entender o motivo de Jack aparentar um estado depressivo e desejar voltar para a Ilha, onde muitas coisas aconteceram.
Tudo só ficou claro na parte final da temporada seguinte. O fato de sermos enganados com um flashfoward ao invés de um flashback somado a vermos fora da Ilha – algo difícil de pensar – os personagens querendo voltar para ela gerou um grande impacto. Uma cena memorável.
Claro que muitas cenas boas ficaram de fora, mas estas certamente estão entre as mais marcantes. Lost com seus plot twists e jogos de enredo empolgava seu público a cada semana. A série ganhou um lugar cativo no coração das pessoas não somente pelos mistérios e teorias, como também pelo relacionamento dos personagens e o desenvolvimento deles ao longo das temporadas. Que saudades de Lost!