quarta-feira , 25 dezembro , 2024

Mank – O Tributo para um Modelo Clássico de Cinema

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Obra resgatou um pouco do antigo modo de se produzir filmes

Dentre os atuais competidores do Oscar, Mank tem uma proposta diferente das demais: realizar uma homenagem ao período clássico de Hollywood ao acompanhar o processo turbulento de escrita para Cidadão Kane nos anos 40. Essa não é a primeira vez que um filme aposta no resgate do sentimento de nostalgia para largar na frente junto à Academia; em 2011 O Artista conquistou Melhor Filme e Diretor ambientando-se no período de transição do cinema mudo para o falado.



Com isso em mente, Mank é pensado em toda sua estrutura (não apenas na trama) para realizar um trabalho de imersão ao passado junto ao espectador. Isso fica evidente quando em uma entrevista à Martin Carr, do canal Flickering Myth, o designer de produção, Donald Graham Burt, compartilhou como o diretor David Fincher expressou inicialmente como deveria ser o filme. 

“A intenção dele era criar um filme que parecesse que foi feito naquela época. Eu lembro que na primeira vez que ele falou comigo sobre isso nós estávamos tratando de um projeto que não floresceu… e ele disse ‘ah, e depois disso tem esse filme que eu gostaria de fazer e é preto e branco”.

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Fincher optou por um estilo retrô proposital para seu filme

Algo interessante sobre a produção jaz em um detalhe pequeno mas que influencia diretamente em como o público percebe o que está vendo, que é o tipo de filme usado para a gravação. No que consta ao diretor de fotografia, Erik Messerschmidt, a escolha de filmagem em utilizar captação HDR (digital) ao invés do tradicional rolo de filme se deu pois assim a manipulação de cores poderia ser mais efetiva para se chegar ao objetivo final da tonalidade preto e branca própria da época.

A noção do que é o cinema clássico está eternamente aberto à discussões, principalmente entre os estudiosos. Alguns defendem que o termo “clássico” não deve ser adotado quando se trata de filmes, enquanto que outros defendem uma linha de características que uma obra deve seguir para ser taxada em uma linha passada e, só então, classificado como um clássico. No livro The Death of Classical Cinema: Hitchcock, Lang and Minelli o autor Joe McElhaney aponta para tais regras comuns a se observar nos ditos clássicos.

“Os autores definem o cinema da Hollywood clássica como marcado por um senso de ‘decoro, proporção, harmonia formal, respeito pela tradição… essas qualidades eram alcançadas através da aplicação de certos dispositivos formais e técnicas narrativas: uso de uma estrutura narrativa de causa e efeito com protagonistas decididos sobre seus objetivos; confiança no sistema de edição contínuo em que a ação parece se desdobrar de maneira fluída e contínua; uso discreto da iluminação; movimento de câmera; composição de tomada e sonora que, em certos momentos serve para finais expressivos, geralmente é estabelecida à serviço da narrativa”.

“Marnie: Confissões de uma Ladra” é um dos exemplos usados pelo livro sobre cinema clássico

Mank então carrega durante toda sua duração o recurso de técnicas já tradicionais de um modelo antigo de filmagem, ainda que em forma de tributo e não de resgate. Um exemplo, em 1960 o cineasta alemão Fritz Lang lançou sua última produção: Os Mil Olhos do Dr. Mabuse; uma adaptação do romance do luxemburguês Norbert Jacques que se tornou sua franquia particular de filmes, iniciados em 1922.

O diretor foi uma peça essencial do movimento expressionista alemão e, de um modo geral, da Era do cinema mudo. Foi graças a Lang que Metropolis ganhou vida em 1922 e ditou o rumo futuro das ficções científicas, por exemplo. A questão é que quando ele lançou sua última obra o que ele recebeu foi uma recepção bastante negativa por parte do público alemão. Isso se deu porque Lang produziu o filme lançando mão de diversas técnicas tidas como ultrapassadas em 1960.

Seu último projeto, hoje um exemplar de execução tardia de técnicas clássicas do período do cinema mudo, à época se chocou violentamente com um indústria cinematográfica e um público que estava se transformando; que via o surgimento de novos e jovens movimentos (a Nouvelle Vague sendo a principal) e quando recebeu algo tido como ultrapassado imediatamente se pôs a repudiar.

Dessa forma, Fincher não vem com ambições muito maiores do que prestar um tributo declarado à Cidadão Kane e o processo de filmagem da época. Existe a inteligência em ser cauteloso no que consta à manipular estilos antigos de filmagem com objetivo claro de se destacar nas premiações. Quando visto sob a ótica de respeitabilidade e não uma tentativa de ressuscitar um cinema mais antigo, Mank ganha uma ótica muito positiva e interessante.

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Com isso em mente, Mank é pensado em toda sua estrutura (não apenas na trama) para realizar um trabalho de imersão ao passado junto ao espectador. Isso fica evidente quando em uma entrevista à Martin Carr, do canal Flickering Myth, o designer de produção, Donald Graham Burt, compartilhou como o diretor David Fincher expressou inicialmente como deveria ser o filme. 

“A intenção dele era criar um filme que parecesse que foi feito naquela época. Eu lembro que na primeira vez que ele falou comigo sobre isso nós estávamos tratando de um projeto que não floresceu… e ele disse ‘ah, e depois disso tem esse filme que eu gostaria de fazer e é preto e branco”.

Fincher optou por um estilo retrô proposital para seu filme

Algo interessante sobre a produção jaz em um detalhe pequeno mas que influencia diretamente em como o público percebe o que está vendo, que é o tipo de filme usado para a gravação. No que consta ao diretor de fotografia, Erik Messerschmidt, a escolha de filmagem em utilizar captação HDR (digital) ao invés do tradicional rolo de filme se deu pois assim a manipulação de cores poderia ser mais efetiva para se chegar ao objetivo final da tonalidade preto e branca própria da época.

A noção do que é o cinema clássico está eternamente aberto à discussões, principalmente entre os estudiosos. Alguns defendem que o termo “clássico” não deve ser adotado quando se trata de filmes, enquanto que outros defendem uma linha de características que uma obra deve seguir para ser taxada em uma linha passada e, só então, classificado como um clássico. No livro The Death of Classical Cinema: Hitchcock, Lang and Minelli o autor Joe McElhaney aponta para tais regras comuns a se observar nos ditos clássicos.

“Os autores definem o cinema da Hollywood clássica como marcado por um senso de ‘decoro, proporção, harmonia formal, respeito pela tradição… essas qualidades eram alcançadas através da aplicação de certos dispositivos formais e técnicas narrativas: uso de uma estrutura narrativa de causa e efeito com protagonistas decididos sobre seus objetivos; confiança no sistema de edição contínuo em que a ação parece se desdobrar de maneira fluída e contínua; uso discreto da iluminação; movimento de câmera; composição de tomada e sonora que, em certos momentos serve para finais expressivos, geralmente é estabelecida à serviço da narrativa”.

“Marnie: Confissões de uma Ladra” é um dos exemplos usados pelo livro sobre cinema clássico

Mank então carrega durante toda sua duração o recurso de técnicas já tradicionais de um modelo antigo de filmagem, ainda que em forma de tributo e não de resgate. Um exemplo, em 1960 o cineasta alemão Fritz Lang lançou sua última produção: Os Mil Olhos do Dr. Mabuse; uma adaptação do romance do luxemburguês Norbert Jacques que se tornou sua franquia particular de filmes, iniciados em 1922.

O diretor foi uma peça essencial do movimento expressionista alemão e, de um modo geral, da Era do cinema mudo. Foi graças a Lang que Metropolis ganhou vida em 1922 e ditou o rumo futuro das ficções científicas, por exemplo. A questão é que quando ele lançou sua última obra o que ele recebeu foi uma recepção bastante negativa por parte do público alemão. Isso se deu porque Lang produziu o filme lançando mão de diversas técnicas tidas como ultrapassadas em 1960.

Seu último projeto, hoje um exemplar de execução tardia de técnicas clássicas do período do cinema mudo, à época se chocou violentamente com um indústria cinematográfica e um público que estava se transformando; que via o surgimento de novos e jovens movimentos (a Nouvelle Vague sendo a principal) e quando recebeu algo tido como ultrapassado imediatamente se pôs a repudiar.

Dessa forma, Fincher não vem com ambições muito maiores do que prestar um tributo declarado à Cidadão Kane e o processo de filmagem da época. Existe a inteligência em ser cauteloso no que consta à manipular estilos antigos de filmagem com objetivo claro de se destacar nas premiações. Quando visto sob a ótica de respeitabilidade e não uma tentativa de ressuscitar um cinema mais antigo, Mank ganha uma ótica muito positiva e interessante.

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