O reboot de ‘Mansão Mal-Assombrada’ chega amanhã, 27 de julho, aos cinemas brasileiros. Baseada na icônica atração homônima dos parques da Disney, a trama nos leva a Nova Orleans e acompanha uma família assombrada por fantasmas que é auxiliada por um guia turístico, um padre, uma médium e um professor de história universitário para se livrar do tormento – e de uma força maligna que espreita a escuridão. Entretanto, a nova adaptação da Casa Mouse não foi a primeira tentativa de levar a história às telonas.
Em 2003, Rob Minkoff foi escalado para comandar o live-action, escalando Eddie Murphy como um corretor de imóveis que, ao lado da família, visita uma mansão gigantesca e isolada de todos para tentar vendê-la. Entretanto, eles não imaginavam que o lugar era habitado por centenas de fantasmas, presos ali por séculos – e que, agora, os fizeram de refém por algum motivo inexplicável. O resultado do projeto foi muito aquém do desejado, sendo massacrado pela crítica internacional e amargando apenas 14% de aprovação no Rotten Tomatoes. Todavia, o filme arrecadou mais de US$182 milhões nas bilheterias mundiais e se consagrou como um clássico de Halloween com o passar dos anos – sendo um dos títulos favoritos mais subestimados dos fãs.
Mas como será que o longa envelheceu duas décadas depois de seu lançamento?
Minkoff tinha uma ideia bem clara em sua mente – e, de fato, não tinha nenhuma intenção de reinventar o gênero de fantasmas ou construir uma história profunda e significativa, com temas escondidos em meio à narrativa. O objetivo era erguer uma divertida e arrepiante aventura digna de ser aproveitada não só pelas crianças, mas por todo mundo. No final das contas, é exatamente isso o que recebemos: apesar dos claros e múltiplos deslizes estruturais que existem na produção, é impossível não dar uma risada ou outra com o honesto roteiro que se desenrola bem à frente dos nossos olhos (e isso sem comentar da performance de Murphy e de nomes como Jennifer Tilly e Terence Stamp, por exemplo).
O enredo, cortesia de David Berenbaum, possui a clara ambição de arquitetar um universo sólido em que somos transportados para um labirinto sem fim e devemos lidar, assim como os protagonistas, com diversos obstáculos para conseguirmos sair vivos. É notável as referências à atração que ganham espaço e como o alicerce que sustenta a base da obra é metadiegética dentro de seus próprios limites, isto é, não deixa se transformar em apenas uma tradução insípida. Há um trabalho considerável por trás dessa trama que atravessa gerações e que une passado e presente em um mesmo lugar – não é surpresa que a geração que cresceu com o filme continue encantada vinte anos depois.
De maneira indesculpável e bizarra, todos os exagerados elementos confluem para uma explosão camp que não pode e nem deve ser levado a sério: Murphy se rende a uma indesculpável canastrice ao viver um pai, marido e corretor sem noção que está mais interessado no emprego do que viver na realidade. Jim, o personagem que interpreta, não percebe que o anfitrião da casa, o Sr. Edward Gracey (Nathaniel Parker) é um amargurado homem que não conseguiu processar a morte da falecida mulher, Elizabeth – vendo-a na figura de Sara (Marsha Thomason), esposa de Jim. A trama é digna das clássicas histórias vitorianas de suspense, mergulhando toda a concepção do longa em uma mistura de comédia e mistério, em que segredos se escondem nos infinitos corredores e precisam ser descobertos para que uma artimanha nefasta chegue ao fim.
De fato, a hiperbólica disposição de ‘Mansão Mal-Assombrada’ foi motivo de descaso dos especialistas internacionais e de certa parte dos espectadores, que esperavam algo complexo e foram contemplados com o epítome da despretensão – razão pela qual funciona em uma completude fora do padrão. E, além de Murphy carregando essa overdose audiovisual, Tilly acrescenta ainda mais ao lado cômico, enquanto Stamp tenta equilibrar com um lado e sombrio e dramático (todos pincelados com uma teatralidade inconsciente que nos ajuda a navegar por essa irregular jornada.
A verdade é que todos procuram dar o seu melhor na produção – e isso não funciona por um rearranjo de partes que nunca se completam, além de uma repetição de acontecimentos que cansa a audiência e que demonstra uma falta de cuidado com o imenso potencial emanado pelo projeto. Entretanto, isso não significa que ele seja “intragável” ou “decrépito”, como alguns críticos insistiram em caracterizá-lo. A partir do momento em que compramos a ideia vendida Minkoff e Berenbaum, o caminho percorrido fica muito mais agradável – e conseguimos até mesmo não nos frustrarmos pelo desperdício criativo.
Lembrando que a nova versão de ‘Mansão Mal-Assombrada’ estreia amanhã, 27 de julho, nos cinemas nacionais.