Hoje, dia 17 de novembro, Martin Scorsese completa nada menos que oito décadas de vida. Um dos mais importantes e influentes diretores de todos os tempos, ainda enaltecido como o melhor diretor em atividade por críticos e cinéfilos, Scorsese foi um dos cineastas responsáveis pela onda revolucionária que tomou os EUA na década de 1970, e ao lado de gente como Francis Ford Coppola, Steven Spielberg, Brian De Palma e George Lucas, fez parte do movimento conhecido como Nova Hollywood. Tal movimento consistia em implementar novas ideias que fugissem do padrão que se tinha no período, tanto no que diz respeito a narrativas mais realistas e temáticas mais subversivas. Apesar do grande prestígio que sempre o cercou e de ser o diretor preferido de muitos críticos renomados, além de em sua filmografia constarem algumas das maiores obras-primas do cinema dos últimos 45 anos (pelo menos), seu reconhecimento máximo junto ao Oscar veio meio a tropeções, fazendo de Scorsese um dos grandes injustiçados pelo prêmio da Academia.
Hoje a homenagem não poderia faltar a esta verdadeira lenda viva, obrigatório para todos aqueles que dizem gostar de cinema, e necessário para continuar abrindo mentes. Como forma de celebrar o diretor, resolvemos com a ajuda dos críticos e do grande público, eleger seus 10 melhores filmes na direção. Confira abaixo.
10 | O Lobo de Wall Street (2013)
Indicado para 5 Oscar, incluindo melhor filme, roteiro, direção, ator principal e coadjuvante para Leonardo DiCaprio e Jonah Hill respectivamente, começamos a lista em décima posição na opinião da crítica e dos fãs com O Lobo de Wall Street, que atualmente figura em número 133 dentre os 250 melhores de todos os tempos na opinião do grande público no maior banco de dados de cinema na internet, o IMDB. Favorito pessoal, se dependesse unicamente deste que vos escreve, o longa que retrata a ascensão e queda real de Jordan Belfort estaria em posição mais alta. O filme sobre o especulador de Wall Street ainda serviu para apresentar ao mundo o talento e a beleza de uma certa Margot Robbie. Em Cartaz no acervo da HBO Max.
09 | Depois de Horas (1985)
A arte é viva, e está em constante mudança. Se você dissesse que quase 40 anos depois do lançamento, Depois de Horas estaria figurando entre os 10 melhores de Scorsese na opinião dos fãs e dos críticos, nem mesmo o diretor acreditaria. Isso só mostra que muitos longas encontram seu público anos e até décadas depois de sua estreia, funcionando melhor para uma audiência nova, parte de uma geração futura. Ainda mais se formos pensar que sua classificação aqui eliminou obras do diretor muito queridas e comentadas, como Ilha do Medo, O Aviador, Cassino, A Época da Inocência, Cabo do Medo e Gangues de Nova York. Isso mostra a força que Depois de Horas tem atualmente com os críticos e cinéfilos, mesmo sendo um filme cult. Considerado uma das poucas comédias da filmografia de Scorsese, mesmo uma bastante sombria, a trama apresenta as desventuras de um sujeito solteiro tentando encontrar um flerte na noite de Nova York.
08 | O Rei da Comédia (1982)
É reportado pelo IMDB que a primeira exibição de O Rei da Comédia teria sido na Islândia no dia 18 de dezembro de 1982, e desta forma o filme estaria completando 40 anos de sua estreia em 2022. Mas a verdade é que para o resto do mundo, incluindo EUA e Brasil o longa chegou apenas em 1983 – o que inclui sua passagem pelo prestigiado Festival de Cannes. E se você nota semelhanças com o fenômeno Coringa (2019) não é mera coincidência, pois O Rei da Comédia serviu de modelo e inspiração para o thriller da DC protagonizado por Joaquin Phoenix – contando até mesmo com Robert De Niro e uma produção inicial de Scorsese, que depois desapareceu. Aqui, De Niro vive um aspirante a humorista que não recebe apoio de seu ídolo, papel do lendário Jerry Lewis, surta e o sequestra. Também se tornou um dos cults da carreira do diretor. Em cartaz no acervo do Star+.
07 | Caminhos Perigosos (1973)
Por falar em obras cult, Caminhos Perigosos é um dos primeiros longa-metragem da carreira de Martin Scorsese, e que foi redescoberto após seu nome ser alçado a um dos mais badalados da indústria. A verdade é que o filme, o terceiro longa de sua carreira, fez sucesso na época nos círculos de cinéfilos e críticos, apesar de ser uma produção bem pequena e de baixo orçamento, exibido em alguns festivais, como o de Nova York. Caminhos Perigosos serviu também para revelar nomes como Robert De Niro e Harvey Keitel, e começaria a trajetória de Scorsese pelo cinema criminal e de máfia. Segundo o diretor, muito do filme, com roteiro do próprio, relata suas experiências e o que viu no bairro onde cresceu, na parte pobre de Nova York.
06 | A Invenção de Hugo Cabret (2011)
Embora tenha ficado conhecido em especial pelos filmes de máfia, violência e temática mais subversiva, Martin Scorsese também dedicou uma parte de sua carreira a obras que fogem do que se pensa e se espera dele, demonstrando a versatilidade de um mestre. Esse talvez seja um dos filmes, quiçá “o” filme mais diferente em sua filmografia. Esta é uma história quase infantil, que faz uso de muitos efeitos visuais e chegou inclusive a ser lançado nos cinemas em 3D – levando o diretor a experimentar tal boom da tecnologia. A história mostra um menino órfão vivendo numa famosa estação de trem de Paris no ano de 1931. Mas como o cinema de Scorsese sempre precisa ter uma profundidade a mais, ele transforma esta inocente trama em uma bela homenagem ao cinema em si, seus primórdios e a algumas personalidades muito emblemáticas para o advento da sétima arte. Indicado para 11 Oscar, incluindo melhor filme e diretor, e vencedor de 5 prêmios técnicos, o filme faz parte do acervo do Telecine Play.
05 | O Irlandês (2019)
O último filme lançado com direção de Martin Scorsese até o momento (enquanto não ganhamos Killers of the Flower Moon, adiado deste ano para 2023), O Irlandês quebrou outro paradigma na carreira do cineasta: foi seu primeiro projeto em parceria com uma plataforma de streaming: a Netflix. O longa (e põe longa nisso) até chegou a ser exibido nos cinemas pelo mundo, para poder ser elegível ao Oscar, mas ficou pouco tempo em cartaz – com todos sabendo que se tratava de uma produção da Netflix (exclusiva). Projeto dos sonhos de Scorsese, anunciado há muito tempo, o diretor foi encontrar financiamento apenas longe dos grandes estúdios e junto a uma empresa que traduz os novos tempos e à nova maneira do público se relacionar com os filmes. Na trama, o relato do que aconteceu com o líder sindicalista americano Jimmy Hoffa, um dos grandes mistérios dos EUA. Indicado a 10 Oscar, incluindo melhor filme e direção, o longa serviu para reunir Scorsese a Robert De Niro e Joe Pesci, além de firmar a primeira parceria com o monstro Al Pacino. No acervo da Netflix, é claro.
04 | Os Infiltrados (2006)
Depois de muita delonga, este foi o filme responsável por finalmente presentear Martin Scorsese com a estatueta de melhor diretor do ano. Além de ser também seu primeiro filme a levar o Oscar de produção do ano nos prêmios da Academia. Bem, e é o melhor filme e direção de Scorsese? A maioria diria que não. Mas está valendo. A sensação de prêmio de consolação se fez presente, mas o ditado “antes tarde do que nunca” se fez prevalecer e ninguém reclamou, nem o próprio. Não me entenda mal, ninguém quer tirar os méritos de Os Infiltrados, um filmaço que chega agora em quarta posição – ou seja, quase pegando o pódio dos melhores na opinião geral de críticos e do grande público. Um time de primeira na frente das telas, do nível de Jack Nicholson (em sua primeira parceria com Scorsese), Leonardo DiCaprio e Matt Damon, ajuda e muito a contar a história de policiais infiltrados na máfia irlandesa de Boston, e criminosos infiltrados na polícia trabalhando como informantes. É o número 39 dentre os melhores de todos os tempos no IMDB, e levou 4 dos 5 Oscar aos quais estava indicado – incluindo os citados de melhor filme e direção.
03 | Touro Indomável (1980)
O filme que tirou Os Infiltrados do pódio para conquistar a medalha de bronze em terceiro lugar foi Touro Indomável, ainda hoje, 42 anos depois de seu lançamento, enaltecido como uma das grandes obras-primas da carreira de Martin Scorsese. Na época de seu lançamento, o filme fez muito sucesso no circuito de festivais e de premiações, logo conquistando uma aura de cult – mas começou a atingir mesmo o grande público com o passar dos anos e das décadas. Hoje, ao falarmos em Scorsese, a maioria dos fãs lembra logo desta produção de boxe, que narra sobre o tempestuoso Jake La Motta (interpretado por um Robert De Niro “tomado”, que ficou em forma para viver o lutador e depois engordou bastante para o mesmo papel), um sujeito agressivo e problemático dentro e fora dos ringues. Todo em preto e branco, o que dá um ar ainda mais cult, o filme está entre os 157 melhores de todos os tempos na opinião dos fãs e foi indicado para 8 Oscar, incluindo melhor filme e diretor, e levou o de melhor ator para De Niro. Atualmente no acervo da Amazon Prime Video.
02 | Taxi Driver (1976)
Em segunda posição do pódio, conquistando a medalha de prata, Taxi Driver talvez ainda seja até hoje o filme que imediatamente vêm à cabeça dos fãs, críticos e cinéfilos quando falamos de Martin Scorsese. Isso porque foi seu primeiro grande sucesso de crítica e público, numa época em que os blockbusters haviam sido inaugurados e apenas engatinhavam. Fora isso, Taxi Driver representa muito a época citada no início do texto, do movimento da Nova Hollywood, sendo um de seus símbolos e estandartes. Isso porque mergulha fundo na psique de uma ferida dos EUA, ainda muito aberta na época: a Guerra do Vietnã. O filme não é de guerra, mas sim dos reflexos da guerra, pois retrata a forma inadequada como um cidadão claramente perturbado ao retornar de tal conflito, não consegue se enquadrar mais na sociedade do período. Ele arruma trabalho como taxista à noite pois não consegue dormir, e quando acha que está fazendo o bem, termina sempre piorando as coisas. Taxi Driver é o filme de número 114 dentre os melhores de todos os tempos, e recebeu 4 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, ator para Robert De Niro (o protagonista) e coadjuvante para Jodie Foster (então com 14 aninhos). Parte do acervo atual da Netflix e imperdível.
01 | Os Bons Companheiros (1990)
Uma escolha talvez óbvia, mas muito sincera. Dentre todas as produções de excelência assinadas por Martin Scorsese, a maioria concorda (e eu me incluo nesta porcentagem majoritária) que Os Bons Companheiros é a melhor dentre suas obras-primas. Isso porque no gênero em que ficou mais conhecido, o cinema criminal e de máfia, consegue dar uma visão moderna e nunca antes apresentada deste submundo – de certa forma glamourizado, mas sem nunca perder de vista o perigo bastante real. E o fez de uma forma que nem mesmo o icônico O Poderoso Chefão (1972) conseguiu. Aliás, o único filme da história a fazer frente com o épico mafioso de Francis Ford Coppola e suas continuações, é, decididamente dirá a maioria, Os Bons Companheiros. Não por acaso é o filme de número 17 dentre os melhores de todos os tempos, e foi indicado a 6 Oscar, incluindo melhor filme e diretor, e levando o de melhor coadjuvante para a performance visceral de Joe Pesci como Tommy DeVito. Parte do acervo atual da HBO Max e, nem precisa ser dito, imperdível.