quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Midsommar – O Mal Não Espera a Noite | Relembrando o POLÊMICO filme de Ari Aster que completa cinco anos em 2024

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Em 2018, Ari Aster ganhava os holofotes com sua estreia em longa-metragem Hereditário, um filme de terror que ousava desconstruir o gênero e se infiltrar nas complexas camadas de um suspense psicológico com um toque sobrenatural que, no final das contas, encantou a crítica especializada e grande parte do público. Um ano mais tarde, Aster retornou aos cinemas com mais uma intrincada narrativa ambientada em uma comunidade isolada no norte da Europa, em que nada é o que parece ser. Entretanto, diferente de sua obra anterior, o cineasta delineia tantas camadas angustiantes que acaba entregando os plot twists logo no primeiro ato e nos conduz através de uma jornada a um vazio existencial cujo única materialização existe devido ao choque.

Midsommar – O Mal Não Espera A Noite’ não é uma peça fílmica ruim; em meio a exploração de uma cultura esquecida nas florestas suecas, mais precisamente numa comunidade pastoril na cidade e Hälsingland, o diretor brinca como bem entende com uma rica mitologia que se prova extremamente pecaminosa (partindo de uma perspectiva ortodoxa) e coerente (numa visão própria do território na qual a história se passa). O problema é que, em meio a falhas tentativas de transformar diálogos e eventos superficiais em algo mais profundo do que consegue ser, Aster mergulha no raso e se perde conforme nos aproximamos da linear conclusão. Em outras palavras, o peso dramático que a obra se propõe a entregar nunca alcança potencial completo, nos deixando frustrados e insatisfeitos.



A trama principal tem como foco a jovem Dani Ardor (Florence Pugh), que lida com a traumática experiência de ter seus pais assassinados pela própria irmã, que eventualmente se mata depois de perceber o que fez. O timing desse trágico e catártico evento acaba reunindo-a com o outrora distante Christian (Jack Reynor), seu ex-namorado que já queria acabar com o relacionamento por uma sensação de obrigação compulsória que o colocava como submisso de Dani. Logo após se reunirem, os dois tentam estruturas os conturbados laços em uma viagem para a Suíça, para que Christian e seu colega antropólogo Josh (William Jackson Harper) possam documentar um ritual de solstício de verão em uma comuna que beira as tradições celtas. E é nesse escopo que basicamente tudo dá errado.

Se Aster falha em construir uma história palpável o suficiente, ao menos utiliza suas incríveis habilidades cinematográficas a seu favor: não é surpresa, pois, que o diretor emule a si mesmo ao utilizar enquadramentos geometricamente simétricos, muitas vezes movidos pelo plongée absoluto, a partir dos quais resgata a crescente sensação de agonia que envolve cada um dos protagonistas. Apesar de preconizada, tal estética reflete um apreço do realizador por convidar o público a se juntar a ele em cada um dos bizarros e quase sobrenaturais banquetes preparados pelos moradores do vilarejo, separando um lugar especial de destaque dentro de uma sinestésica composição cênica.

Todavia, o longa se rende a redundâncias amadoras quando também se vale de uma propositalmente dissonante trilha sonora, arquitetada com esmero por Bobby Krlic. Os instrumentos etéreos dos quais se disponibiliza são bastante conhecidos em outras obras do gênero – é só nos recordarmos dessa utilização fonográfica em obras como A Bruxa’ ou até mesmo os thrillers psicológicos de Jordan Peele; mas é o comodismo provindo da ambivalência estrutural que impede que a trilha em questão salte em uma transcendência muito bem-vinda, ainda mais considerando as múltiplas sequências narcóticas que se delineiam ao longo dos mais de 140 minutos.

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Pugh rouba o foco em praticamente toda a duração do filme – e não é por menos: usando com força a backstory de sua personagem, ela se rende a uma traumática performance que encontra expurgo a cada ato que se inicia, terminando sua jornada coming-of-age de forma a passar longe dos convencionalismos narrativos. De outro lado, Reynor também encontra espaço o suficiente para dividir esse protagonismo, acompanhado da conhecida personalidade rebelde de Will Poulter e do exagero ético de Harper. O grupo, associado a outros tantos coadjuvantes que carregam com vontade seus papéis para uma importância além do que imaginávamos, desenrola uma problemática química que, na verdade, é a essência de originalidade que buscamos numa produção como esta.

Talvez o didatismo de Aster tenha sido o principal deslize: afinal, a trama se delineia ao longo de cinco grandes atos que são premeditados pela estampa cênica de uma das partes do ritual titular, induzindo o espectador a entender ou descobrir o que vai acontecer. No caso, essas coagidas inferências não contribuem para que sejamos levados a uma emocionante ou transgressora conclusão, e sim a algo que já sabíamos desde o princípio – ora, até mesmo a presença pontual de um imenso urso pardo dá respostas às nossas questões muito antes do que deveria.

Midsommar – O Mal Não Espera’ acaba insurgindo em meio a uma tentativa que tangencia a presunção cinematográfico-narrativa, construindo-se em meio a diversos acontecimentos difíceis de digerir e que se engolfam em um oco vórtice. Felizmente, o elenco e a estética do longa supera quase todos esses problemas e nos deixa relativamente desconfortáveis – sensação que já se tornou comum quando lidamos com uma produção de Ari Aster.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em 2018, Ari Aster ganhava os holofotes com sua estreia em longa-metragem Hereditário, um filme de terror que ousava desconstruir o gênero e se infiltrar nas complexas camadas de um suspense psicológico com um toque sobrenatural que, no final das contas, encantou a crítica especializada e grande parte do público. Um ano mais tarde, Aster retornou aos cinemas com mais uma intrincada narrativa ambientada em uma comunidade isolada no norte da Europa, em que nada é o que parece ser. Entretanto, diferente de sua obra anterior, o cineasta delineia tantas camadas angustiantes que acaba entregando os plot twists logo no primeiro ato e nos conduz através de uma jornada a um vazio existencial cujo única materialização existe devido ao choque.

Midsommar – O Mal Não Espera A Noite’ não é uma peça fílmica ruim; em meio a exploração de uma cultura esquecida nas florestas suecas, mais precisamente numa comunidade pastoril na cidade e Hälsingland, o diretor brinca como bem entende com uma rica mitologia que se prova extremamente pecaminosa (partindo de uma perspectiva ortodoxa) e coerente (numa visão própria do território na qual a história se passa). O problema é que, em meio a falhas tentativas de transformar diálogos e eventos superficiais em algo mais profundo do que consegue ser, Aster mergulha no raso e se perde conforme nos aproximamos da linear conclusão. Em outras palavras, o peso dramático que a obra se propõe a entregar nunca alcança potencial completo, nos deixando frustrados e insatisfeitos.

A trama principal tem como foco a jovem Dani Ardor (Florence Pugh), que lida com a traumática experiência de ter seus pais assassinados pela própria irmã, que eventualmente se mata depois de perceber o que fez. O timing desse trágico e catártico evento acaba reunindo-a com o outrora distante Christian (Jack Reynor), seu ex-namorado que já queria acabar com o relacionamento por uma sensação de obrigação compulsória que o colocava como submisso de Dani. Logo após se reunirem, os dois tentam estruturas os conturbados laços em uma viagem para a Suíça, para que Christian e seu colega antropólogo Josh (William Jackson Harper) possam documentar um ritual de solstício de verão em uma comuna que beira as tradições celtas. E é nesse escopo que basicamente tudo dá errado.

Se Aster falha em construir uma história palpável o suficiente, ao menos utiliza suas incríveis habilidades cinematográficas a seu favor: não é surpresa, pois, que o diretor emule a si mesmo ao utilizar enquadramentos geometricamente simétricos, muitas vezes movidos pelo plongée absoluto, a partir dos quais resgata a crescente sensação de agonia que envolve cada um dos protagonistas. Apesar de preconizada, tal estética reflete um apreço do realizador por convidar o público a se juntar a ele em cada um dos bizarros e quase sobrenaturais banquetes preparados pelos moradores do vilarejo, separando um lugar especial de destaque dentro de uma sinestésica composição cênica.

Todavia, o longa se rende a redundâncias amadoras quando também se vale de uma propositalmente dissonante trilha sonora, arquitetada com esmero por Bobby Krlic. Os instrumentos etéreos dos quais se disponibiliza são bastante conhecidos em outras obras do gênero – é só nos recordarmos dessa utilização fonográfica em obras como A Bruxa’ ou até mesmo os thrillers psicológicos de Jordan Peele; mas é o comodismo provindo da ambivalência estrutural que impede que a trilha em questão salte em uma transcendência muito bem-vinda, ainda mais considerando as múltiplas sequências narcóticas que se delineiam ao longo dos mais de 140 minutos.

Pugh rouba o foco em praticamente toda a duração do filme – e não é por menos: usando com força a backstory de sua personagem, ela se rende a uma traumática performance que encontra expurgo a cada ato que se inicia, terminando sua jornada coming-of-age de forma a passar longe dos convencionalismos narrativos. De outro lado, Reynor também encontra espaço o suficiente para dividir esse protagonismo, acompanhado da conhecida personalidade rebelde de Will Poulter e do exagero ético de Harper. O grupo, associado a outros tantos coadjuvantes que carregam com vontade seus papéis para uma importância além do que imaginávamos, desenrola uma problemática química que, na verdade, é a essência de originalidade que buscamos numa produção como esta.

Talvez o didatismo de Aster tenha sido o principal deslize: afinal, a trama se delineia ao longo de cinco grandes atos que são premeditados pela estampa cênica de uma das partes do ritual titular, induzindo o espectador a entender ou descobrir o que vai acontecer. No caso, essas coagidas inferências não contribuem para que sejamos levados a uma emocionante ou transgressora conclusão, e sim a algo que já sabíamos desde o princípio – ora, até mesmo a presença pontual de um imenso urso pardo dá respostas às nossas questões muito antes do que deveria.

Midsommar – O Mal Não Espera’ acaba insurgindo em meio a uma tentativa que tangencia a presunção cinematográfico-narrativa, construindo-se em meio a diversos acontecimentos difíceis de digerir e que se engolfam em um oco vórtice. Felizmente, o elenco e a estética do longa supera quase todos esses problemas e nos deixa relativamente desconfortáveis – sensação que já se tornou comum quando lidamos com uma produção de Ari Aster.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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