segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Mostra de São Paulo | Visages, Villages – O humanismo das imagens

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Na sequência de abertura do documentário Visages, Villages, acompanhamos várias cenas nas quais a diretora Agnés Varda e o fotógrafo JR se cruzam sem se falar, tudo narrado de forma bastante engraçada. A sequência termina quando Agnés e JR, em narração em off, explicam que se conheceram por meios de suas obras. O calor humano e o humor desse começo se propagam ao longo de toda a projeção.

Visages, Villages é um documentário road movie no qual Agnés Varda (diretora da nouvelle vague francesa) embarca no caminhão fotográfico de JR para fotografar pessoas comuns pelo interior da França. O filme é uma síntese da relação entre fotografia e cinema. O trabalho de JR consiste em criar murais por meio de colagens de grandes fotos em lugares públicos. Durante os quase 90 minutos de projeção, a câmera fotográfica de JR capta rostos de pessoas comuns, enquanto a câmera de Agnés registra as histórias e reações dessas pessoas.



A minha descrição pode dar a impressão de ser um filme sem graça e vazio. Muito pelo contrário! A leveza, o humor, a emoção, os sonhos e dramas que passam na tela fazem deste documentário uma peça profundamente humanista. E por ter uma estrutura tão livre, o filme pincela vários temas: a condição dos trabalhadores, a situação dos animais, a memória, a amizade (refiro-me aqui à sua parte final).

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Dentre tantas histórias que passam pela tela, há dois elementos constantes no interior do filme: o fascínio pela imagem, seja o fascínio que cada um de nós temos por nossas imagens, seja o fascínio do artista (o fotógrafo e a cineasta) pela imagem. O segundo elemento, é o efêmero dessas imagens.

O fascínio pela própria imagem é percebido não só na emoção dos fotografados, como também no desejo de muitos que tiraram suas selfies no local. É curioso como a montagem do filme consegue contrapor o espírito por de trás das fotos de JR com a natureza do selfie: a montagem procura evitar cortes muito rápidos, valorizando a contemplação. Um dos raros momentos em que há cortes rápidos é quando duas pessoas tentam tirar várias selfies da parede plotada com uma foto antiga da família. Se na maior parte do filme a câmera fixa na imagem, como que pedindo que as fotos na tela sejam contempladas, a rapidez da montagem desse trecho remete à efemeridade das imagens digitais.

Agora, não são apenas as imagens dos celulares que são efêmeras (fico me perguntando quantas pessoas que apareçam no filme batendo fotos no celular apagaram as fotos depois?). Quando estão numa praia, JR fala para Agnés que está acostumado com a rapidez com que as suas fotos somem por causa da ação do tempo. Nesse aspecto, a imagem cinematográfica é o oposto das fotos de JR: mesmo que as películas não sejam eternas, Visages, Villages durará muito mais do que o breve períodos que aquela foto ficou na pedra de uma praia.

O registrado cinematográfico da viagem de JR e Agnes traduz não só o fascínio pela imagem, como revela a necessidade que todo o artista tem de superar o efêmero. As grandes fotos de JR logo são retiradas das paredes pela ação do tempo. O documentário dos dois (ele é codiretor com Agnés) é um desafio a isso, uma tentativa de tornar perene o instável. Porém, o próprio filme pode se perder no tempo. Ou, o que nos deixa mais mexidos, a nossa capacidade de enxergar pode sumir. Seja a capacidade de apreciar a imagem sem pressa, indo além da selfie momentânea. Seja a capacidade física de enxergar: em dado momento, Agnés fala sobre sua perda de visão, algo difícil de enfrentar para qualquer um, ainda mais para alguém que vive para a imagem.

Nesse sentido, o artista não pode esquecer que não importa o quão sólida é sua obra, tudo é efêmero, pois algo sempre se perde, em meio às areias do tempo. Ainda que a batalha contra o efêmero seja inglória, sempre restará ao artista o humor. Isto é o que parece nos dizer a cena final de Visages, Villages.

E aí, já viu Visages, Villages? Gosta de documentários? Assistimos Visages, Villages  na 41ª Mostra de Cinema de São Paulo. Para mais informações, acesse o site da Mostra. E não deixe de comentar, compartilhar e curtir nossas redes sociais:

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Visages, Villages é um documentário road movie no qual Agnés Varda (diretora da nouvelle vague francesa) embarca no caminhão fotográfico de JR para fotografar pessoas comuns pelo interior da França. O filme é uma síntese da relação entre fotografia e cinema. O trabalho de JR consiste em criar murais por meio de colagens de grandes fotos em lugares públicos. Durante os quase 90 minutos de projeção, a câmera fotográfica de JR capta rostos de pessoas comuns, enquanto a câmera de Agnés registra as histórias e reações dessas pessoas.

A minha descrição pode dar a impressão de ser um filme sem graça e vazio. Muito pelo contrário! A leveza, o humor, a emoção, os sonhos e dramas que passam na tela fazem deste documentário uma peça profundamente humanista. E por ter uma estrutura tão livre, o filme pincela vários temas: a condição dos trabalhadores, a situação dos animais, a memória, a amizade (refiro-me aqui à sua parte final).

Dentre tantas histórias que passam pela tela, há dois elementos constantes no interior do filme: o fascínio pela imagem, seja o fascínio que cada um de nós temos por nossas imagens, seja o fascínio do artista (o fotógrafo e a cineasta) pela imagem. O segundo elemento, é o efêmero dessas imagens.

O fascínio pela própria imagem é percebido não só na emoção dos fotografados, como também no desejo de muitos que tiraram suas selfies no local. É curioso como a montagem do filme consegue contrapor o espírito por de trás das fotos de JR com a natureza do selfie: a montagem procura evitar cortes muito rápidos, valorizando a contemplação. Um dos raros momentos em que há cortes rápidos é quando duas pessoas tentam tirar várias selfies da parede plotada com uma foto antiga da família. Se na maior parte do filme a câmera fixa na imagem, como que pedindo que as fotos na tela sejam contempladas, a rapidez da montagem desse trecho remete à efemeridade das imagens digitais.

Agora, não são apenas as imagens dos celulares que são efêmeras (fico me perguntando quantas pessoas que apareçam no filme batendo fotos no celular apagaram as fotos depois?). Quando estão numa praia, JR fala para Agnés que está acostumado com a rapidez com que as suas fotos somem por causa da ação do tempo. Nesse aspecto, a imagem cinematográfica é o oposto das fotos de JR: mesmo que as películas não sejam eternas, Visages, Villages durará muito mais do que o breve períodos que aquela foto ficou na pedra de uma praia.

O registrado cinematográfico da viagem de JR e Agnes traduz não só o fascínio pela imagem, como revela a necessidade que todo o artista tem de superar o efêmero. As grandes fotos de JR logo são retiradas das paredes pela ação do tempo. O documentário dos dois (ele é codiretor com Agnés) é um desafio a isso, uma tentativa de tornar perene o instável. Porém, o próprio filme pode se perder no tempo. Ou, o que nos deixa mais mexidos, a nossa capacidade de enxergar pode sumir. Seja a capacidade de apreciar a imagem sem pressa, indo além da selfie momentânea. Seja a capacidade física de enxergar: em dado momento, Agnés fala sobre sua perda de visão, algo difícil de enfrentar para qualquer um, ainda mais para alguém que vive para a imagem.

Nesse sentido, o artista não pode esquecer que não importa o quão sólida é sua obra, tudo é efêmero, pois algo sempre se perde, em meio às areias do tempo. Ainda que a batalha contra o efêmero seja inglória, sempre restará ao artista o humor. Isto é o que parece nos dizer a cena final de Visages, Villages.

E aí, já viu Visages, Villages? Gosta de documentários? Assistimos Visages, Villages  na 41ª Mostra de Cinema de São Paulo. Para mais informações, acesse o site da Mostra. E não deixe de comentar, compartilhar e curtir nossas redes sociais:

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