quarta-feira , 20 novembro , 2024

Mostra SP | Crítica – ‘O Vidreiro’ traz aventura confusa, mas instigante, em belo longa animado

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Ainda pouco comentado no Brasil, O Vidreiro é um filme que talvez sequer chegue a conseguir distribuição no circuito nacional, mas é interessantíssimo, principalmente para os fãs de animação à moda antiga. Na Mostra SP, a animação fez um sucesso danado, enchendo várias salas ao longo da programação. Dirigido por Usman Riaz, o longa se popularizou no exterior por ser a primeira animação 2D 100% feita à mão no Paquistão. Veja bem, é comum que o país produza animações geradas por computador, mas adotar esse formato meio artesanal no país que tem pouquíssimos incentivos a essa arte é uma missão realmente heróica.

Com forte inspiração não apenas no estilo de animação de Hayao Miyazaki, mas também na trama que apela a elementos como uma guerra de grandes proporções e sequências que beiram o onirismo, o longa é visualmente encantador. Fruto de uma produção que durou uma década para ser finalizada.



Crianças animadas olhando objeto brilhante.
A trama acompanha a improvável história de amor entre Vincent, um jovem pacifista e aprendiz de vidreiro, e Alliz, a filha do coronel que comanda as tropas na guerra que assola a região. O filme se passa em dois momentos, na infância e na juventude da dupla, mostrando como nasce essa amizade e como o contexto cruel em que estão inseridos afeta suas vidas.

Nesse ponto, a trama poderia ser bastante simples, mas existe um elemento cultural muito impactante que pode causar estranhamento ao público do ocidente: os Djinn. Naturais da mitologia árabe, eles são espíritos superpoderosos que podem ser benignos ou malignos, assumindo distintas formas e aprontando bastante por aí. No Ocidente, o exemplo mais popular dos Djinn talvez seja o Gênio da Lâmpada de Aladdin. Porém, ele é apenas uma representação do folclore. A versão de O Vidreiro é mais complexa e dramática. Esse choque cultural pode não agradar a todos, mas traz viradas interessantes na trama.

Casal conversando em loja de cristais.
Mas o grande chamariz é mesmo essa estética próxima do anime, mas com personalidade própria. É um visual que remete bastante a cultura paquistanesa, principalmente no uso das cores, e ainda assim é bastante palatável ao ocidente.

Também há um debate sutil, mas cativante sobre a arte e suas diferentes manifestações. Na verdade, esse é o grande mote do filme. Todos os protagonistas acreditam ser artistas a sua maneira.

O Coronel é elevado ao posto de artista da guerra. O pai de Vincent é um artesão do vidro que faz de tudo para manter a tradição de suas peças diferenciadas em vez de se render à demanda popular por copos simples. Vincent é um aprendiz de vidreiro que parece ter herdado a visão artística sensível e refinada da mãe, enquanto Alliz é uma aspirante a violinista que se vê diante de um questionamento interno: “o que é ser artista de verdade?”.

Personagem toca violino em ambiente fechado.

Conforme o amor impossível dos dois vai se manifestando, suas respectivas artes afloram. Afinal, mais que apaixonados, eles são unidos pelo amor à arte. Agora pense em um trabalho lindo da animação na hora de retratar a confecção das peças de vidro. São momentos de encher os olhos!

No fim das contas, apesar de ter uma reta final um pouco mais confusa por conta da mitologia dos Djinn, O Vidreiro é um conto clássico de amor em tempos de guerra, tendo a arte como esperança de dias melhores e apontando todas as contradições que esses conflitos mortais e sem sentido causam. Guerra não é arte, porque a arte pode machucar, pode fazer entristecer, mas os apreciadores vivem para desfrutar de outras artes posteriormente. A guerra, não. Ela só traz morte e destruição, acabando com esperanças e chacinando inocentes. É um projeto realmente interessante.

Personagens animados olhando para o céu com aviões.
O Vidreiro
não tem previsão de estreia no Brasil.
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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Ainda pouco comentado no Brasil, O Vidreiro é um filme que talvez sequer chegue a conseguir distribuição no circuito nacional, mas é interessantíssimo, principalmente para os fãs de animação à moda antiga. Na Mostra SP, a animação fez um sucesso danado, enchendo várias salas ao longo da programação. Dirigido por Usman Riaz, o longa se popularizou no exterior por ser a primeira animação 2D 100% feita à mão no Paquistão. Veja bem, é comum que o país produza animações geradas por computador, mas adotar esse formato meio artesanal no país que tem pouquíssimos incentivos a essa arte é uma missão realmente heróica.

Com forte inspiração não apenas no estilo de animação de Hayao Miyazaki, mas também na trama que apela a elementos como uma guerra de grandes proporções e sequências que beiram o onirismo, o longa é visualmente encantador. Fruto de uma produção que durou uma década para ser finalizada.

Crianças animadas olhando objeto brilhante.
A trama acompanha a improvável história de amor entre Vincent, um jovem pacifista e aprendiz de vidreiro, e Alliz, a filha do coronel que comanda as tropas na guerra que assola a região. O filme se passa em dois momentos, na infância e na juventude da dupla, mostrando como nasce essa amizade e como o contexto cruel em que estão inseridos afeta suas vidas.

Nesse ponto, a trama poderia ser bastante simples, mas existe um elemento cultural muito impactante que pode causar estranhamento ao público do ocidente: os Djinn. Naturais da mitologia árabe, eles são espíritos superpoderosos que podem ser benignos ou malignos, assumindo distintas formas e aprontando bastante por aí. No Ocidente, o exemplo mais popular dos Djinn talvez seja o Gênio da Lâmpada de Aladdin. Porém, ele é apenas uma representação do folclore. A versão de O Vidreiro é mais complexa e dramática. Esse choque cultural pode não agradar a todos, mas traz viradas interessantes na trama.

Casal conversando em loja de cristais.
Mas o grande chamariz é mesmo essa estética próxima do anime, mas com personalidade própria. É um visual que remete bastante a cultura paquistanesa, principalmente no uso das cores, e ainda assim é bastante palatável ao ocidente.

Também há um debate sutil, mas cativante sobre a arte e suas diferentes manifestações. Na verdade, esse é o grande mote do filme. Todos os protagonistas acreditam ser artistas a sua maneira.

O Coronel é elevado ao posto de artista da guerra. O pai de Vincent é um artesão do vidro que faz de tudo para manter a tradição de suas peças diferenciadas em vez de se render à demanda popular por copos simples. Vincent é um aprendiz de vidreiro que parece ter herdado a visão artística sensível e refinada da mãe, enquanto Alliz é uma aspirante a violinista que se vê diante de um questionamento interno: “o que é ser artista de verdade?”.

Personagem toca violino em ambiente fechado.

Conforme o amor impossível dos dois vai se manifestando, suas respectivas artes afloram. Afinal, mais que apaixonados, eles são unidos pelo amor à arte. Agora pense em um trabalho lindo da animação na hora de retratar a confecção das peças de vidro. São momentos de encher os olhos!

No fim das contas, apesar de ter uma reta final um pouco mais confusa por conta da mitologia dos Djinn, O Vidreiro é um conto clássico de amor em tempos de guerra, tendo a arte como esperança de dias melhores e apontando todas as contradições que esses conflitos mortais e sem sentido causam. Guerra não é arte, porque a arte pode machucar, pode fazer entristecer, mas os apreciadores vivem para desfrutar de outras artes posteriormente. A guerra, não. Ela só traz morte e destruição, acabando com esperanças e chacinando inocentes. É um projeto realmente interessante.

Personagens animados olhando para o céu com aviões.
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