sexta-feira, outubro 4, 2024

‘Mulher-Gato’, com Halle Berry, completa 20 anos! O que deu Errado?

Como um blockbuster de super-heróis, então um gênero em total ascensão em Hollywood, protagonizado pela atriz mais quente da época (que acabara de vencer um Oscar), focado em uma personagem muito querida do público, pode ter saído tão errado e se transformar no que é provavelmente o filme mais odiado do gênero? ‘Mulher-Gato’ é considerado um dos piores filmes da história de Hollywood. A produção completou 20 anos de sua estreia em 2024 e aqui vamos conhecer um pouco mais dos bastidores da obra.

Tirando o filme baseado na série de TV dos anos 60 com Adam West, a primeira inclusão da personagem Mulher-Gato em um filme no cinema viria no segundo live-action de ‘Batman’ nas telonas: ‘Batman: O Retorno’, de 1992. Annette Bening chegou a ser contratada pelo diretor Tim Burton, mas se descobriu grávida e precisou ser substituída por Michelle Pfeiffer. A loira, que estava no topo de sua carreira na época e saía de duas indicações ao Oscar consecutivas (por ‘Ligações Perigosas’ em 1989 e ‘Susie e os Baker Boys’ em 1990), ficaria para sempre marcada e imortalizada como a primeira (e para muitos, única) Mulher-Gato do cinema.

Michelle Pfeiffer foi a primeira Mulher-Gato do cinema em ‘Batman – O Retorno’ (1992). Por anos se falou em um filme solo para a personagem, que veio a resultar no longa com Halle Berry.

Graças ao papel, a carreira de Michelle Pfeiffer subiria alguns degraus em seu estrelato – mesmo que o filme em si não tenha sido bem-sucedido como esperado. Sim, apesar de ainda ser muito querido pelos fãs, é preciso lembrar que ‘Batman – O Retorno’ não fez o mesmo barulho do filme original de 1989. Isso porque após o sucesso do primeiro ‘Batman’, os produtores decidiram dar liberdade para Tim Burton fazer o que quisesse na continuação. Assim, o diretor transformou a obra em um filme de Tim Burton com o Batman e não em um filme do Batman.

O longa foi considerado muito sombrio e violento, e os pais evitavam levar as crianças. O que não impediu adolescentes como eu de assistir e amar o filme. Aliás, tirando os dois exemplares de Joel Schumacher, todos os outros longas do Homem-Morcego optaram em seguir o que foi arquitetado por Burton, não sendo recomendado para crianças pequenas, digamos, de menos de 10 anos. Mas se tem uma coisa que todos concordaram em relação ao filme foi o desempenho hipnótico de Michelle Pfeiffer como a vilã felina. Tanto que, após Burton ser afastado do terceiro filme do Homem-Morcego, houve um falatório sobre ele e Michelle Pfeiffer se unirem novamente para um projeto solo da Mulher-Gato.

Se tivesse dado certo, o primeiro e único filme solo da Mulher-Gato poderia ter gerado uma franquia e alavancado ainda mais a carreira de Halle Berry.

Esse projeto de um filme solo da Mulher-Gato circulou pelos corredores de Hollywood durante todos os anos 90 até o início dos anos 2000. Mas como sabemos, a maior indústria de cinema do mundo é mais formada por projetos que nunca se concretizaram do que por filmes realmente produzidos. E a ‘Mulher-Gato’ de Tim Burton e Michelle Pfeiffer infelizmente foi um destes filmes que nunca aconteceram.

Até existiu uma vontade de seguir com o projeto mesmo sem Tim Burton. Ou seja, tendo Michelle Pfeiffer no papel principal, com outro diretor vinculado. Pfeiffer, por outro lado, talvez não tenha chegado a um acordo, tendo em mente como era desconfortável o uniforme da anti-heroína e talvez ainda querendo manter fidelidade a seu colega Tim Burton. Assim, o projeto continuaria vivo na Warner, mesmo sem Burton e Pfeiffer.

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A Mulher-Gato de Halle Berry não teria qualquer conexão com os filmes anteriores de ‘Batman’ e sequer era a mesma personagem. Um dos elementos mais chamativos do longa foi o traje (quase inexistente) usado pela atriz.

Por um tempo, a atriz contratada para viver a protagonista foi Ashley Judd, que estava em alta no fim dos anos 90 graças a filmes como ‘Fogo Contra Fogo’, ‘Tempo de Matar’ e principalmente ‘Beijos que Matam’ e ‘Risco Duplo’. Mas depois de um tempo, Judd também deixaria o projeto, sendo substituída enfim pela atriz que realmente faria o filme: a vencedora do Oscar Halle Berry. Desta forma bastante representativa e à frente de seu tempo, tínhamos a primeira Mulher-Gato negra do cinema (Eartha Kitt havia sido a Mulher-Gato da TV no seriado dos anos 60 por cinco episódios antes).

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O desenvolvimento do longa, no entanto, foi no mínimo problemático. E como na maioria de produções assim, o resultado se mostrou uma colcha de retalhos – quase formando esquetes desconexas e não um filme completo com começo, meio e fim. Para começar, com a desistência de Pfeiffer, essa não seria uma história que continuaria ‘Batman – O Retorno’ para a personagem. Aliás, essa não seria sequer a mesma personagem. Nos quadrinhos, nunca tivemos outra Mulher-Gato senão Selina Kyle. Aqui, o filme decidiu criar uma nova personagem chamada Patience Phillips para ser a Mulher-Gato.

Parecia uma receita que não tinha como errar: uma atriz vencedora do Oscar, uma personagem querida dos fãs, uma superprodução de heróis.

Outra grande mudança foi não centrar a história em Gotham City, cidade fictícia que é o lar de todos os personagens derivados de Batman. A cidade do filme ‘Mulher-Gato’ jamais é mencionada. Assim como o maior defensor da cidade, o Homem-Morcego, parece não existir nesse universo particular. Patience trabalha em uma empresa de cosméticos. Assim como a Selina Kyle de Michelle Pfeiffer, é uma funcionária retraída e atrapalhada. Até flagrar os planos nefastos de seu patrão e ser assassinada por ele. Em ambos os casos, gatos as trazem de volta à vida. Aqui ainda ganhamos uma explicação mística para tal – ao contrário do filme de Burton.

Uma vez morta-viva, a protagonista fica mais assertiva e violenta, resolve criar um traje sexy (aqui mostrando muita pele e os atributos físicos de Berry) e sai para combater o crime. Sendo esse um filme criado doze anos depois de ‘Batman – O Retorno’, o uso de efeitos especiais de computador (os chamados CGI) corre solto, criando uma personagem digital para substituir a atriz pelos telhados da cidade, pulando e correndo como um gato. O resultado, no entanto, tira qualquer verossimilhança com a vida real, parecendo mais um videogame ou desenho animado.

O diretor francês Pitof, crucificado pelo resultado de ‘Mulher-Gato’, teria entregue um roteiro mais ousado e fora da caixinha para o estúdio, que prontamente o rejeitou.

Como dito, a produção problemática, resultou em um filme abaixo do esperado. É comum certos filmes de pouca confiança dos estúdios passarem pelas chamadas exibições-teste para um grupo selecionado de espectadores. E a exibição prévia de ‘Mulher-Gato’ foi no mínimo desastrosa. Assim, os realizadores correram para regravações faltando um mês para a estreia do longa nos cinemas. Mas essa não foi a única patacoada em relação à obra. Em meio à sua produção em meados de 2003, um rumor circulava de que a Warner iria cancelar o filme e ao invés incorporar a personagem em ‘Batman Begins’, que seria lançado no ano seguinte, mas com Halle Berry ainda no papel.

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Aliás, Halle Berry já vinha sendo ventilada para o papel há um certo tempo. De fato, ela seria a principal escolha para a vilã no também cancelado ‘Batman: Ano Um’, de Darren Aronofsky, no início dos anos 2000 – que eventualmente se tornou ‘Batman Begins’. Ou seja, resumindo: não tinha muito para onde fugir. Se Michelle Pfeiffer havia pulado fora do projeto, até poderíamos ter a mesma personagem dando continuidade a história caso a opção fosse por Ashley Judd. Com a mudança representativa de se ter uma Mulher-Gato negra nas formas de Halle Berry, a personagem também precisou ser mudada. Ou será?

Sex appeal não falta, mas sim conteúdo. Sharon Stone, eterna musa dos anos 90, vive a vilã e realiza cenas de pura sensualidade com Halle Berry.

Ter a continuação dos eventos de ‘Batman – O Retorno’ com Halle Berry como Selina Kyle talvez fosse pedir demais para o público da época. Mas talvez ter Berry no papel de Selina em um reboot da personagem, começando sua história do zero, de outra forma, até poderia ser aceito. Afinal, ‘Mulher-Gato’ (2004) se tornou exatamente isso, um reboot para a personagem. A única diferença foi ser um reboot com outra personagem sendo o alter-ego da vilã felina, e não Selina. Seja como for, podemos notar inúmeras semelhanças nas histórias de Selina (Pfeiffer) e Patience (Berry).

No entanto, pensar que as duas histórias acontecem no mesmo universo não é um disparate. Isso porque em uma determinada cena, quando Patience tenta entender o que está acontecendo com ela, e para isso visita a exotérica Ophelia (Frances Conroy), uma especialista em “Mulheres-Gato” e a Deusa dos Felinos, podemos ver em uma imagem a personagem de Michelle Pfeiffer do filme de Tim Burton. A intenção é mostrar que ao longo da história houveram muitas mulheres transformadas em felinas. E Patience foi mais uma delas. Aliás, o papel de Ophelia foi pensado originalmente para Julie Newman, a eterna Mulher-Gato do seriado dos anos 60 – o que teria sido uma bela homenagem.

As cenas de ação todas geradas por CGI fez o longa parecer um videogame já naquela época, o que dirá hoje.

O principal problema de ‘Mulher-Gato’, o filme, não é a performance de Halle Berry ou sequer sua escalação no longa. Não é a direção de arte também, ou os figurinos e sequer os efeitos especiais. Como sempre, tudo se resume ao roteiro. É o roteiro que cria diálogos ruins. É o roteiro que cria cenas pouco inspiradas ou acidentalmente hilárias. É o roteiro que cria vilões caricatos e que não apresentam grande ameaça para a heroína. Com o pensamento de centrar a trama em um universo totalmente feminino, a heroína trabalha em uma empresa de cosméticos, e a vilã do filme, interpretada por Sharon Stone, cria uma maquiagem nociva, capaz de transformar a pele em pedra praticamente – para frear o envelhecimento.

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Simon Kinberg, famoso roteirista de filmes como ‘Sr. e Sra. Smith’ (2005) e ‘X-Men: Dias de um Futuro Esquecido’ (2014), foi contratado para dar uma lapidada no texto do filme. Mas seu trabalho foi de apenas um dia. Kinberg disse que o roteiro estava “quebrado” e que seria necessário um mês para consertá-lo. É dito também que o diretor francês Pitof teria entregue um tratamento mais ousado e diferentão para o longa, que prontamente foi recusado pelo estúdio justamente por ser muito fora da caixinha e artístico. Já imaginou o que poderia ter sido um filme realmente único com a personagem?

‘Mulher-Gato’ foi um filme altamente representativo, estrelado pela primeira intérprete negra da personagem no cinema. Halle Berry é também a única atriz negra a levar o Oscar de melhor protagonista até hoje.

No fim das contas, ‘Mulher-Gato’ (2004) foi imediatamente execrado pela maioria dos críticos e os fãs também não gostaram do que viram. Estreando no auge do verão americano, no dia 23 de julho de 2004, o filme comprou briga com alguns dos maiores lançamentos daquele ano, a começar por ‘Homem-Aranha 2’, o rei das bilheterias, que havia sido lançado no início do mesmo mês. ‘Eu, Robô’ e ‘A Supremacia Bourne’ foram outros dois pesos-pesados a se posicionar na frente de ‘Mulher-Gato’. O segundo, aliás, estreando no mesmo fim de semana e levando a primeira posição das bilheterias nos EUA. ‘Mulher-Gato’ ficou em terceiro.

Com um orçamento de US$100 milhões, ‘Mulher-Gato’ estreou com míseros US$16 milhões no primeiro fim de semana. No final de sua estadia pelas telonas de lá havia somado o total de US$40 milhões. Pelo mundo juntou mais US$40 milhões, formando US$80 milhões mundiais. Ou seja, falhando em sequer se pagar. Não foram só os fãs e o público que deram de ombros para o longa. A produção recebeu uma aprovação de 8% dos críticos no Rotten Tomatoes, empatando assim com o infame clássico ‘Supergirl – O Filme’, de 1984, com o filme da DC mais mal avaliado de todos os tempos.

Sabendo levar na brincadeira, a gente-boa Halle Berry foi aceitar seu “prêmio” como a pior atriz por ‘Mulher-Gato’ no Framboesa de Ouro.

É claro que um desastre deste não passaria impune pelo Framboesa de Ouro, o anti-Oscar. Halle Berry entraria para a história como uma das raras atrizes (num total de seis artistas, entre atores e atrizes) a receberem um Oscar e um Framboesa em suas carreiras. Berry foi também a primeira estrela a ir receber pessoalmente seu “prêmio”, brincando muito com um humor auto-depreciativo.

Apesar disso, a musa tem mudado o tom recentemente, e tem tentado empurrar ‘Mulher-Gato’ como um filme cult incompreendido em sua época de lançamento. Mais e mais fãs surgem, acredite. Em uma entrevista recente realizada neste mês, Berry disse inclusive estar disposta a participar de um eventual ‘Mulher-Gato 2’, desde que possa dirigir o filme. A atriz estreou como diretora no filme da Netflix ‘Feriada’, de 2020. Será? Se formos levar em conta que o longa, mesmo se mostrando uma bomba nas bilheterias, foi o mais rentável do gênero de super-heróis protagonizado por uma mulher durante 13 anos – até ser destronado por ‘Mulher-Maravilha’, em 2017, já é um ponto a favor.

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