sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Museu – um Sherlock Holmes versão Chaves

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Dirigido por Alonzo Ruizpalacios, o novo filme protagonizado por Gael García Bernal é uma história nervosa, baseada em fatos reais, que presta homenagem à comédia pastelão e ao humor mexicano.

Na trama, Juan Nuñez (Gael) está ajudando a fotografar peças antigas no Museu de Antropologia do México quando começa a divagar sobre o valor que esses objetos têm. Nacionalista de coração, é o tipo de cara que tem ranço contra os europeus, que saquearam os países da América levando nosso ouro e nossa prata. Às vésperas do Natal, é anunciado que o Museu ficará fechado na virada no ano para modernização do local, e é assim que surge a ideia de roubar as peças. Para isso, ele convida o melhor amigo, Wilson (Benjamin Wilson).



Baseado em uma história real que aconteceu no México em 1985, o filme flerta com o fantabulesco e o absurdo. A ideia dos dois era levar mais de 140 peças do Museu e revendê-las no mercado negro, para colecionadores. A facilidade com que o roubo acontece nos faz pensar nas condições em que os museus são tratados, tanto no México quanto no Brasil, e nos faz lembrar do que aconteceu com nosso Museu Nacional.

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O que acontece – como vocês podem imaginar –, é que os dois não conseguem vender o saque, porque as peças não só são de valor inestimável, como também são parte do acervo nacional e estão visadas por todas as autoridades do mundo. Tendo os dois já cometido o crime e sem conseguir dinheiro com isso, os amigos ficam num impasse sobre que rumo tomar.

Três aspectos do filme merecem ser observados com atenção. O primeiro é relativo aos amigos Juan Nuñez e Benjamin Wilson, que interagem como Sherlock Holmes e Dr. Watson às avessas, pois, em vez de investigar os crimes, os cometem – e de uma maneira bastante atrapalhada.  Juan é o cabeça, tem as ideias e as soluções para todas as ocasiões, relegando ao comparsa apenas a execução inquestionável de tudo que lhe é pedido.

Destaque também para a escolha na forma de filmar as cenas de ação, que, em vez de sangue e pancadaria gratuita, foram filmadas como uma grande homenagem aos filmes de comédia pastelão em preto e branco, com movimentos lentos e coreografados, bem autoral mesmo. É risível ver os atores esperando para receber o golpe e pulando teatralmente para trás fingindo dor. Faz a gente ter saudade da época em que os filmes precisavam conduzir a reação dos espectadores. Por fim, ainda sobre estas cenas, percebe-se uma influência da série Chaves, que se valia da insistência das piadas para fazer o público rir ao exibi-las constantemente em situações similares. No filme, há igualmente repetições de falas, ideias e piadas ao longo de suas duas horas e vinte minutos de filme, mas não de maneira cansativa, e sim com o intuito de reforçar a inocência dos personagens. A inspiração na série de maior sucesso no México é tão clara que o próprio Juan chega a mencioná-la.

Museu é uma comédia dramática nervosa, sobre dois amigos ingênuos com boas intenções no coração, mas que não nasceram para o mundo do crime. É como se o Chaves e o Quico encarnassem uma versão de Sherlock Holmes na vida real.

 

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Dirigido por Alonzo Ruizpalacios, o novo filme protagonizado por Gael García Bernal é uma história nervosa, baseada em fatos reais, que presta homenagem à comédia pastelão e ao humor mexicano.

Na trama, Juan Nuñez (Gael) está ajudando a fotografar peças antigas no Museu de Antropologia do México quando começa a divagar sobre o valor que esses objetos têm. Nacionalista de coração, é o tipo de cara que tem ranço contra os europeus, que saquearam os países da América levando nosso ouro e nossa prata. Às vésperas do Natal, é anunciado que o Museu ficará fechado na virada no ano para modernização do local, e é assim que surge a ideia de roubar as peças. Para isso, ele convida o melhor amigo, Wilson (Benjamin Wilson).

Baseado em uma história real que aconteceu no México em 1985, o filme flerta com o fantabulesco e o absurdo. A ideia dos dois era levar mais de 140 peças do Museu e revendê-las no mercado negro, para colecionadores. A facilidade com que o roubo acontece nos faz pensar nas condições em que os museus são tratados, tanto no México quanto no Brasil, e nos faz lembrar do que aconteceu com nosso Museu Nacional.

O que acontece – como vocês podem imaginar –, é que os dois não conseguem vender o saque, porque as peças não só são de valor inestimável, como também são parte do acervo nacional e estão visadas por todas as autoridades do mundo. Tendo os dois já cometido o crime e sem conseguir dinheiro com isso, os amigos ficam num impasse sobre que rumo tomar.

Três aspectos do filme merecem ser observados com atenção. O primeiro é relativo aos amigos Juan Nuñez e Benjamin Wilson, que interagem como Sherlock Holmes e Dr. Watson às avessas, pois, em vez de investigar os crimes, os cometem – e de uma maneira bastante atrapalhada.  Juan é o cabeça, tem as ideias e as soluções para todas as ocasiões, relegando ao comparsa apenas a execução inquestionável de tudo que lhe é pedido.

Destaque também para a escolha na forma de filmar as cenas de ação, que, em vez de sangue e pancadaria gratuita, foram filmadas como uma grande homenagem aos filmes de comédia pastelão em preto e branco, com movimentos lentos e coreografados, bem autoral mesmo. É risível ver os atores esperando para receber o golpe e pulando teatralmente para trás fingindo dor. Faz a gente ter saudade da época em que os filmes precisavam conduzir a reação dos espectadores. Por fim, ainda sobre estas cenas, percebe-se uma influência da série Chaves, que se valia da insistência das piadas para fazer o público rir ao exibi-las constantemente em situações similares. No filme, há igualmente repetições de falas, ideias e piadas ao longo de suas duas horas e vinte minutos de filme, mas não de maneira cansativa, e sim com o intuito de reforçar a inocência dos personagens. A inspiração na série de maior sucesso no México é tão clara que o próprio Juan chega a mencioná-la.

Museu é uma comédia dramática nervosa, sobre dois amigos ingênuos com boas intenções no coração, mas que não nasceram para o mundo do crime. É como se o Chaves e o Quico encarnassem uma versão de Sherlock Holmes na vida real.

 

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