Cineasta vai entrar em um cenário historicamente complicado no cinema
Recentemente foi repassada a informação que a atriz Jodie Comer (sendo substituída por Vanessa Kirby) está fora do vindouro projeto dirigido por Ridley Scott intitulado Napoleão. No final de 2021, a artista participou da adaptação histórica de Scott chamada de O Último Duelo; filme que foi consideravelmente elogiado em termos técnicos mas não demonstrou grande desempenho nas bilheterias.
Entretanto, Jodie Comer foi um dos pontos positivos geralmente ressaltados nas críticas. Dessa forma havia uma expectativa desde já sobre como seria sua atuação ao lado de Joaquin Phoenix (que já trabalhara com o diretor em Gladiador). A premissa de Napoleão, como o nome sugere, promete uma visão da ascensão de Napoleão Bonaparte, de sua origem comum até se tornar imperador da França.
Nesse intermédio é esperada a recriação de algumas de suas campanhas militares mais famosas, bem como de seu relacionamento volátil com sua esposa, e grande amor, Josephine de Beauharnais. Ainda assim, de um ponto de vista histórico do cinema, essa definitivamente não é a primeira vez que o lendário líder francês é representado na sétima arte.
Começando por 1927, quando o cineasta francês Abel Gance pôs em prática um plano ambicioso para os padrões da época: uma série de seis filmes contando o mais fielmente possível a ascensão e queda de Napoleão. O primeiro filme, lançado no ano mencionado, apresentou diversas inovações técnicas na área de montagem.
Infelizmente, Abel Gance percebeu que não conseguiria dar continuidade ao seu projeto, visto que a produção do primeiro exemplar foi bem difícil; somando ainda havia toda a dificuldade geral de se produzir filmes, muito por causa dos equipamentos disponíveis, natural do início do século XX.
A segunda tentativa veio na segunda metade do período, quando Stanley Kubrick iniciou um processo de pré-produção para uma adaptação. Dessa maneira ele elaborou pesquisas históricas de vestimenta, locais de importantes batalhas e todo tipo de informação necessária.
Todavia, a produção nunca chegou a ver a luz do dia; mesmo com as intempéries o projeto natimorto deu vida a vários livros e documentários sobre como seria esse filme, bem como dele partiram as raízes que levariam ao clássico de época, dirigido por Kubrick, Barry Lyndon.
Este que, parcialmente ao menos, resgata a ideia original de ser ambientado no século XVIII, com uma certa atenção voltada para a estrutura aristocrática européia do período. Quanto à ideia da jornada do monarca francês, o roteiro, assinado pelo próprio cineasta, é o único vestígio completo de que tal produção existiu. Disponível online ele apresenta a devida estruturação imaginada para cada cena.
É nesse complexo cemitério de ambições que Ridley Scott planeja adentrar, tendo como ponto negativo um retrospecto, em um passado recente, de maus desempenhos com seus projetos, seja em termos de aceitação ou de bilheteria. Como exemplo, três de seus últimos filmes (Todo o Dinheiro do Mundo, O Último Duelo e Casa Gucci) não foram sucessos unânimes.
O primeiro fechou o circuito com uma bilheteria mundial de US$ 56 milhões para compensar um investimento de US$ 50 milhões e no agregador de notas, Rotten Tomatoes, demonstra uma visível diferença nas porcentagens da crítica com as do público. O segundo ficou marcado pelo prejuízo financeiro, US$ 30 milhões nas bilheterias mundiais, enquanto para um orçamento de US$ 100 milhões.
Já o terceiro é o que demonstra melhor desempenho financeiro, com mais de US$ 100 milhões de dólares até o momento em considerável apoio do público. Alguns fatores podem indicar a maior facilidade com que Gucci está desempenhando tão bem, tais como a associação com a famosa marca italiana; a presença de um elenco galáctico e, mais especificamente, de Lady Gaga como protagonista.
Com Napoleão o realizador britânico não terá a vinculação de uma grande marca do mundo da moda ou, a princípio, um nome da música como Gaga à sua disposição. De fato, ele tem a seu lado Joaquim Phoenix que é um nome conhecido do grande público, no entanto Todo o Dinheiro do Mundo e Último Duelo também contavam com essa vantagem. Tinham em seu elenco nomes oriundos do cinema, especificamente, e não de um nicho externo como a música.
A produção pode se tornar, de fato, um sucesso; há material para isso, principalmente se o realizador pegar inspiração com o que já havia de fato nos projetos anteriores de Gance e Kubrick. É apenas o retrospecto inconstante da carreira recente de Ridley Scott que não inspira a menor segurança de que ele possa entregar o tão aguardado épico do imperador francês.