sexta-feira , 20 dezembro , 2024

Nosferatu | Novo filme de Robert Eggers reacende a IMPORTÂNCIA do expressionismo alemão no cinema contemporâneo

YouTube video

“Eu sou profundamente fascinado pela crueldade, pelo medo, pelo horror e pela morte. Meus filmes mostram minha preocupação com a violência – a patologia da violência”, Fritz Lang, diretor de ‘Metrópolis’.

No próximo dia 02 de janeiro de 2025, o ambicioso remake do clássico Nosferatu, encabeçado por ninguém menos que Robert Eggers, chegará aos cinemas nacionais. E, para a alegria dos inveterados fãs do cinema, o mais novo longa-metragem do cineasta beira a impecabilidade através de uma carta de amor ao gênero de terror e, principalmente, ao movimento artístico conhecido como expressionismo alemão (que inclui o embate entre luz e sombra, o macabro, a névoa como recurso narrativo de personificação e evocação de emoções, jogos de câmera inesperados e a celebração do grotesco).



Mas o que, de fato, foi o expressionismo alemão?

O movimento em questão tem suas origens logo no fim da primeira guerra mundial: pouco depois da Alemanha perder a guerra para os Aliados, criou-se uma sensação crescente de melancolia e falta de prospecto entre a população. Dessa forma, com a formação da República de Weimar, a demanda exponencial da sétima arte crescia – mas o orçamento para a produção de obras artísticas era escasso. O que fazer perante uma necessidade de resgate de identidade nacional e cultura? Ora, não levou muito tempo até que cineastas apostassem fichas em uma expressão artística de exímia autenticidade e que funcionasse como um espelho das angústias da época.

Assista também:
YouTube video


nosferatu

Dessa maneira, o expressionismo traz elementos do romantismo alemão e da evocação de emoções através de figuras sombrias e mazeladas, cenários distorcidos e misticismos – tudo convergindo para uma representação material e bastante palpável dos anseios dos espectadores, mas traduzidos de forma a exaltar a obscuridade e o terror como aspectos de beleza. Não é surpresa que, pouco depois da popularização de tais filmes no território alemão em meados dos anos 1910, mercados internacionais começassem a demonstrar predileção em importar tais obras – tendo isso ocorrido, principalmente, em 1922, com o lançamento da primeira versão de Nosferatu.

São vários os elementos que compõe a estética principal do expressionismo alemão: inclinações exageradas de câmera, como visto em ‘O Gabinete do Doutor Caligari’ (1920); cenários inspirados em imagéticas surrealistas, como ‘Fausto’ (1926); ângulos arqueados e sombras profundas, como em ‘Metrópolis’ (1927); e um elemento conhecido como chiaroscuro (claro-escuro, na tradução literal), que permite o arranjo artístico de luz e sombra a fim de produzir determinada sensação e através de um contraste significativo. O termo italiano, inclusive, foi incorporado pelo vocabulário alemão através da crítica de cinema Lotte Eisner, definindo esse arranjo como helldunkel – ou seja, o “crepúsculo da alma alemã”.

metropolis poster

Enquanto os anos 1910 e 1920 foram de expressividade significativa para o resgate da importância cultural da Alemanha, é notável como essas incursões foram se apropriando dos mais diversos movimentos fílmicos com o passar das décadas e não restritas apenas à Europa. Ora, é possível vermos esses elementos nas clássicas obras de suspense de Alfred Hitchcock, como ‘Psicose’, ‘O Corpo que Cai’ e ‘Os Pássaros’, enquanto icônicos longas-metragens neo-noir como ‘Chinatown’ e ‘Taxi Driver’ valem-se muito das construções chiaroscuro para delinear as intenções dúbias de seus personagens. Até mesmo Ari Aster com seu mais recente projeto, ‘Beau Tem Medo’, aproveitou a estética inclinada de tal escola para investir esforços em uma jornada puramente surrealista, enquanto Fede Alvarez abraçou essas inflexões para construir a ótima e claustrofóbica atmosfera de ‘Alien: Romulus’.

Todavia, não é apenas o âmbito visual e imagético que tem seus próprios trejeitos: é necessário comentar que as narrativas pertencentes a esse espectro do expressionismo partem de uma exploração psicológica do âmago emocional do ser humano – retratando tais evocações como forças-motrizes da angústia da alma, da melancolia, da loucura, do conformismo, do tormento e de tantas outras investidas similares. ‘Fausto’, por exemplo, inspirada na obra homônima de Goethe, é um arauto da inefável ambição humana pelo poder revestida com uma trama que coloca o personagem titular assinando um acordo com Mephisto (o Diabo); Nosferatu vê na figura do Conde Orlok a representação figurativa do medo e da insanidade, visto que ele utiliza seus poderes para subjugar todos e conseguir, enfim, unir-se àquela que cobiça.

fausto

Em suma, se não fossem por nomes como F.W. Murnau, Fritz Lang e Robert Wiene, por exemplo, o cinema não seria o que é – e, com isso, estendo minha menção do legado deixado pelo expressionismo a gêneros como o drama criminal, o suspense, a ficção científica e o terror e seus infinitos subgêneros. E, agora, foi a vez de Eggers em não apenas resgatar essas temáticas e essas construções, como também recuperar o momento em polvorosa da Alemanha pós-guerra com sua nova versão de Nosferatu.

Como explicado na crítica do filme, que você confere aqui, Eggers sempre teve adoração considerável por enredos folclóricos e históricos – é só nos recordarmos de seus títulos anteriores. Porém, não foi até o antecipar remake que o cineasta se prestaria a construir uma belíssima homenagem ao cinema e a uma de suas escolas de maior prestígio: desde a utilização de sequências enevoadas em que Hutter (Nicholas Hoult) se vê no limiar entre o mundo que conhece e o universo de caos de Orlok (Bill Skarsgard) enquanto se estende na encruzilhada, passando pela grotesca sombra de uma mão mortal que passa por cima das casas do vilarejo alemão assolado com a praga, e culminando com a shakespeariana tragédia entre Orlok e Ellen (Lily-Rose Depp), Eggers sabe o que está fazendo e deixa bem claro suas referências.

nosferatu trailer 2 oficial dubl 1

Lembrando que Nosferatu de Robert Eggers chega aos cinemas nacionais no próximo dia 02 de janeiro de 2025.

YouTube video

screenshot 20240930 121913 instagram

YouTube video

Mais notícias...

Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS

Nosferatu | Novo filme de Robert Eggers reacende a IMPORTÂNCIA do expressionismo alemão no cinema contemporâneo

“Eu sou profundamente fascinado pela crueldade, pelo medo, pelo horror e pela morte. Meus filmes mostram minha preocupação com a violência – a patologia da violência”, Fritz Lang, diretor de ‘Metrópolis’.

No próximo dia 02 de janeiro de 2025, o ambicioso remake do clássico Nosferatu, encabeçado por ninguém menos que Robert Eggers, chegará aos cinemas nacionais. E, para a alegria dos inveterados fãs do cinema, o mais novo longa-metragem do cineasta beira a impecabilidade através de uma carta de amor ao gênero de terror e, principalmente, ao movimento artístico conhecido como expressionismo alemão (que inclui o embate entre luz e sombra, o macabro, a névoa como recurso narrativo de personificação e evocação de emoções, jogos de câmera inesperados e a celebração do grotesco).

Mas o que, de fato, foi o expressionismo alemão?

O movimento em questão tem suas origens logo no fim da primeira guerra mundial: pouco depois da Alemanha perder a guerra para os Aliados, criou-se uma sensação crescente de melancolia e falta de prospecto entre a população. Dessa forma, com a formação da República de Weimar, a demanda exponencial da sétima arte crescia – mas o orçamento para a produção de obras artísticas era escasso. O que fazer perante uma necessidade de resgate de identidade nacional e cultura? Ora, não levou muito tempo até que cineastas apostassem fichas em uma expressão artística de exímia autenticidade e que funcionasse como um espelho das angústias da época.

nosferatu

Dessa maneira, o expressionismo traz elementos do romantismo alemão e da evocação de emoções através de figuras sombrias e mazeladas, cenários distorcidos e misticismos – tudo convergindo para uma representação material e bastante palpável dos anseios dos espectadores, mas traduzidos de forma a exaltar a obscuridade e o terror como aspectos de beleza. Não é surpresa que, pouco depois da popularização de tais filmes no território alemão em meados dos anos 1910, mercados internacionais começassem a demonstrar predileção em importar tais obras – tendo isso ocorrido, principalmente, em 1922, com o lançamento da primeira versão de Nosferatu.

São vários os elementos que compõe a estética principal do expressionismo alemão: inclinações exageradas de câmera, como visto em ‘O Gabinete do Doutor Caligari’ (1920); cenários inspirados em imagéticas surrealistas, como ‘Fausto’ (1926); ângulos arqueados e sombras profundas, como em ‘Metrópolis’ (1927); e um elemento conhecido como chiaroscuro (claro-escuro, na tradução literal), que permite o arranjo artístico de luz e sombra a fim de produzir determinada sensação e através de um contraste significativo. O termo italiano, inclusive, foi incorporado pelo vocabulário alemão através da crítica de cinema Lotte Eisner, definindo esse arranjo como helldunkel – ou seja, o “crepúsculo da alma alemã”.

metropolis poster

Enquanto os anos 1910 e 1920 foram de expressividade significativa para o resgate da importância cultural da Alemanha, é notável como essas incursões foram se apropriando dos mais diversos movimentos fílmicos com o passar das décadas e não restritas apenas à Europa. Ora, é possível vermos esses elementos nas clássicas obras de suspense de Alfred Hitchcock, como ‘Psicose’, ‘O Corpo que Cai’ e ‘Os Pássaros’, enquanto icônicos longas-metragens neo-noir como ‘Chinatown’ e ‘Taxi Driver’ valem-se muito das construções chiaroscuro para delinear as intenções dúbias de seus personagens. Até mesmo Ari Aster com seu mais recente projeto, ‘Beau Tem Medo’, aproveitou a estética inclinada de tal escola para investir esforços em uma jornada puramente surrealista, enquanto Fede Alvarez abraçou essas inflexões para construir a ótima e claustrofóbica atmosfera de ‘Alien: Romulus’.

Todavia, não é apenas o âmbito visual e imagético que tem seus próprios trejeitos: é necessário comentar que as narrativas pertencentes a esse espectro do expressionismo partem de uma exploração psicológica do âmago emocional do ser humano – retratando tais evocações como forças-motrizes da angústia da alma, da melancolia, da loucura, do conformismo, do tormento e de tantas outras investidas similares. ‘Fausto’, por exemplo, inspirada na obra homônima de Goethe, é um arauto da inefável ambição humana pelo poder revestida com uma trama que coloca o personagem titular assinando um acordo com Mephisto (o Diabo); Nosferatu vê na figura do Conde Orlok a representação figurativa do medo e da insanidade, visto que ele utiliza seus poderes para subjugar todos e conseguir, enfim, unir-se àquela que cobiça.

fausto

Em suma, se não fossem por nomes como F.W. Murnau, Fritz Lang e Robert Wiene, por exemplo, o cinema não seria o que é – e, com isso, estendo minha menção do legado deixado pelo expressionismo a gêneros como o drama criminal, o suspense, a ficção científica e o terror e seus infinitos subgêneros. E, agora, foi a vez de Eggers em não apenas resgatar essas temáticas e essas construções, como também recuperar o momento em polvorosa da Alemanha pós-guerra com sua nova versão de Nosferatu.

Como explicado na crítica do filme, que você confere aqui, Eggers sempre teve adoração considerável por enredos folclóricos e históricos – é só nos recordarmos de seus títulos anteriores. Porém, não foi até o antecipar remake que o cineasta se prestaria a construir uma belíssima homenagem ao cinema e a uma de suas escolas de maior prestígio: desde a utilização de sequências enevoadas em que Hutter (Nicholas Hoult) se vê no limiar entre o mundo que conhece e o universo de caos de Orlok (Bill Skarsgard) enquanto se estende na encruzilhada, passando pela grotesca sombra de uma mão mortal que passa por cima das casas do vilarejo alemão assolado com a praga, e culminando com a shakespeariana tragédia entre Orlok e Ellen (Lily-Rose Depp), Eggers sabe o que está fazendo e deixa bem claro suas referências.

nosferatu trailer 2 oficial dubl 1

Lembrando que Nosferatu de Robert Eggers chega aos cinemas nacionais no próximo dia 02 de janeiro de 2025.

YouTube video

screenshot 20240930 121913 instagram

YouTube video
Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS