sexta-feira , 22 novembro , 2024

‘Nosferatu’ | O que esperar do novo filme do diretor de ‘A Bruxa’ e ‘O Farol’

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Esse remake vai acontecer, certamente, em algum momento futuro

Dentre os diretores que surgiram como destaque em seus respectivos gêneros nos últimos anos nenhum tem uma filmografia tão incomum e subjetiva quanto Robert Eggers no terror, este que começou sua carreira em 2007 com o curta João e Maria (uma releitura do famoso conto com duração de pouco menos de trinta minutos) mas cuja fama só veio em 2016 com o lançamento de A Bruxa.



O estilo de terror psicológico e social proposto por ele, além de interpretado sob o ponto de vista da protagonista Thomasin, estabeleceu uma nova fase para o gênero com mais obras lançadas sob uma perspectiva mais psicológica de seus personagens, indo na contramão da febre dos filmes found footage liderados por Atividade Paranormal. Foi a época que exemplares do gênero (que em pouco tempo se tornaram bem conceituados com público e crítica) surgiram tais como Hereditário e Homem Invisível.

O diretor, então, tomou seu tempo para trabalhar no seu novo projeto, este que seria um mergulho ainda mais intenso na exploração de uma narrativa interpretativa e com forte apelo ao terror psicológico. O Farol acabou sendo um sucesso com a mesma proporção de aceitação e rejeição do exemplar anterior; por um lado sua estética e direção foram comemoradas como algo que não se tem normalmente em um filme de grande circulação.

Com “O FarolRobert Eggers provou estar apto para entregar um remake único

Por outro, o forte tom interpretativo da obra foi uma das razões do por que alguns espectadores não conseguiram se manter ligados à trama até o fim. Mesmo assim, após mais um êxito, Eggers se vê engajado em mais dois projetos: The Northman e uma releitura de Nosferatu.

O primeiro é cronologicamente sua produção mais próxima e, apesar de ter ainda escassas informações a respeito da trama, sabe-se que ele deve abordar a cultura viking de alguma forma. Já Nosferatu ainda é um projeto distante, sem maiores detalhes revelados, mas que não impede que especulações acerca de sua abordagem ou desenvolvimento sejam elaboradas. 

O filme com a criatura homônima foi lançado inicialmente em 1922 como um exemplar do movimento cinematográfico conhecido como Expressionismo Alemão. O motivo da sua produção, entretanto, está mais atrelado à complicações legais do que qualquer outra coisa. À época o diretor F. W. Murnau não conseguiu obter os direitos de adaptação do livro Drácula, que pertenciam a família do autor Bram Stoker.

Nosferatu” de 1922 pode ser interpretado como um simbolismo daquele ano para a Alemanha

Como uma forma de burlar essa barreira legal ele elaborou um enredo que seguia à risca a mesma história narrada no romance, porém nomes de personagens foram modificados (o principal antagonista não mais era o conde Drácula mas sim o conde Orlok). Como esperado houve consequências legais e foi determinado que todos os rolos de filme fossem destruídos.

Ainda assim a força da obra ao longo das décadas foi apenas aumentando, bem como a mística do personagem que tinha um visual mais grotesco que o Drácula de Bela Lugosi alguns anos depois, e por detalhes técnicos empregados pelo diretor de conceder um tom ameaçador para a sombra do vampiro; esse jogo de luz e sombra no cenário era uma característica do mencionado movimento cinematográfico mas narrativamente virou um detalhe a mais para o vilão.

Em termos de significado, Nosferatu ainda gera muitas discussões sobre possíveis mensagens implícitas em seu enredo e cenografia. Era característico dos filmes integrantes do expressionismo tecer críticas a situação da Alemanha pós primeira guerra, que precisava lidar com uma economia combalida e surgimento de grupos extremistas. Com isso em mente, o filme de Murnau foi ganhando ares de ser um grande comentário sobre a fraqueza da então vigente República de Weimar e como Orlok simbolizava as forças antagonistas àquela democracia.

O filme se aproveita das inovações do uso de luz e sombra do movimento alemão.

Nosferatu se tornou uma obra referência para cineastas alemães nos anos subsequentes e em 1979 ganhou uma “refilmagem espiritual” pelas mãos de Werner Herzog; uso das aspas se dá porque apesar do título semelhante o filme adaptou mais fielmente a obra de Stoker, logo todos os personagens apresentados são homônimos aos dos livros.

Ainda assim essa versão, principalmente no que concede à composição de cenário e figurino, exibe uma aproximação muito maior com a obra de 1922 do que a adaptação oficial de 1931 ou dos filmes da Hammer durante os anos 50 e 60, ainda mais quando observada a caracterização que Drácula recebeu que ressoa com a mesma utilizada por Max Schreck anteriormente.

Quanto a comentários sócio-políticos muito do que é teorizado em torno dessa versão ecoa na época extremamente divisiva que a Alemanha passava entre um bloco ocidental e oriental. A figura ameaçadora de Drácula, por vezes, passa a ser associada com o medo que ambos os lados tinham um do outro e suas atitudes grotescas (como se alimentar de sangue inocente) representava a forma cartunesca com que ambos os lados do muro eram reproduzidos para as populações.

A versão de Herzog caminha em outra direção da obra de 1922.

Sendo assim, por qual caminho Eggers pode seguir? Partindo do pressuposto que o diretor já mostrou que prefere ambientar seus enredos em contextos de época, é bem provável que sua versão do conde Orlok mantenha o cenário de século XIX e não sacrifique o simbolismo carregado por sua aparência. Não seria inesperado o diretor utilizar o atual imaginário popular formado sobre pandemias e questões sanitárias para montar um vilão simbólico.

Se anteriormente o vampiro representava uma corrosão ou divisão social, uma nova interpretação pode muito bem funcionar como um olhar do conceito de doença em si, com o ato de conversão praticado pelo conde funcionando como uma infecção. Esse tipo de olhar não seria incomum, visto que Guillermo del Toro assinou a série de livros Noturno explorando o vampirismo como uma praga.

Outro elemento que o diretor costuma dedicar tempo é a contextualização social da época em que a história se passa, essa estrutura da sociedade funciona como mecanismo da crescente do terror. A ambientação do famoso sanatório do Dr. Seward, onde Renfield também é mantido preso até a chegada de seu mestre, poderia ser um cenário de opressão tão elevada quanto a casa da família em A Bruxa ou a ilha do farol em O Farol

Ainda é tudo muito nebuloso e no campo da especulação, mas o diretor em questão já provou ter criatividade para entregar produtos que têm movido o terror em frente; muito da liberdade criativa para esse remake vai depender do que ele irá entregar com The Northman. Porém, não deixa de ser algo que gera grande expectativa.

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Dentre os diretores que surgiram como destaque em seus respectivos gêneros nos últimos anos nenhum tem uma filmografia tão incomum e subjetiva quanto Robert Eggers no terror, este que começou sua carreira em 2007 com o curta João e Maria (uma releitura do famoso conto com duração de pouco menos de trinta minutos) mas cuja fama só veio em 2016 com o lançamento de A Bruxa.

O estilo de terror psicológico e social proposto por ele, além de interpretado sob o ponto de vista da protagonista Thomasin, estabeleceu uma nova fase para o gênero com mais obras lançadas sob uma perspectiva mais psicológica de seus personagens, indo na contramão da febre dos filmes found footage liderados por Atividade Paranormal. Foi a época que exemplares do gênero (que em pouco tempo se tornaram bem conceituados com público e crítica) surgiram tais como Hereditário e Homem Invisível.

O diretor, então, tomou seu tempo para trabalhar no seu novo projeto, este que seria um mergulho ainda mais intenso na exploração de uma narrativa interpretativa e com forte apelo ao terror psicológico. O Farol acabou sendo um sucesso com a mesma proporção de aceitação e rejeição do exemplar anterior; por um lado sua estética e direção foram comemoradas como algo que não se tem normalmente em um filme de grande circulação.

Com “O FarolRobert Eggers provou estar apto para entregar um remake único

Por outro, o forte tom interpretativo da obra foi uma das razões do por que alguns espectadores não conseguiram se manter ligados à trama até o fim. Mesmo assim, após mais um êxito, Eggers se vê engajado em mais dois projetos: The Northman e uma releitura de Nosferatu.

O primeiro é cronologicamente sua produção mais próxima e, apesar de ter ainda escassas informações a respeito da trama, sabe-se que ele deve abordar a cultura viking de alguma forma. Já Nosferatu ainda é um projeto distante, sem maiores detalhes revelados, mas que não impede que especulações acerca de sua abordagem ou desenvolvimento sejam elaboradas. 

O filme com a criatura homônima foi lançado inicialmente em 1922 como um exemplar do movimento cinematográfico conhecido como Expressionismo Alemão. O motivo da sua produção, entretanto, está mais atrelado à complicações legais do que qualquer outra coisa. À época o diretor F. W. Murnau não conseguiu obter os direitos de adaptação do livro Drácula, que pertenciam a família do autor Bram Stoker.

Nosferatu” de 1922 pode ser interpretado como um simbolismo daquele ano para a Alemanha

Como uma forma de burlar essa barreira legal ele elaborou um enredo que seguia à risca a mesma história narrada no romance, porém nomes de personagens foram modificados (o principal antagonista não mais era o conde Drácula mas sim o conde Orlok). Como esperado houve consequências legais e foi determinado que todos os rolos de filme fossem destruídos.

Ainda assim a força da obra ao longo das décadas foi apenas aumentando, bem como a mística do personagem que tinha um visual mais grotesco que o Drácula de Bela Lugosi alguns anos depois, e por detalhes técnicos empregados pelo diretor de conceder um tom ameaçador para a sombra do vampiro; esse jogo de luz e sombra no cenário era uma característica do mencionado movimento cinematográfico mas narrativamente virou um detalhe a mais para o vilão.

Em termos de significado, Nosferatu ainda gera muitas discussões sobre possíveis mensagens implícitas em seu enredo e cenografia. Era característico dos filmes integrantes do expressionismo tecer críticas a situação da Alemanha pós primeira guerra, que precisava lidar com uma economia combalida e surgimento de grupos extremistas. Com isso em mente, o filme de Murnau foi ganhando ares de ser um grande comentário sobre a fraqueza da então vigente República de Weimar e como Orlok simbolizava as forças antagonistas àquela democracia.

O filme se aproveita das inovações do uso de luz e sombra do movimento alemão.

Nosferatu se tornou uma obra referência para cineastas alemães nos anos subsequentes e em 1979 ganhou uma “refilmagem espiritual” pelas mãos de Werner Herzog; uso das aspas se dá porque apesar do título semelhante o filme adaptou mais fielmente a obra de Stoker, logo todos os personagens apresentados são homônimos aos dos livros.

Ainda assim essa versão, principalmente no que concede à composição de cenário e figurino, exibe uma aproximação muito maior com a obra de 1922 do que a adaptação oficial de 1931 ou dos filmes da Hammer durante os anos 50 e 60, ainda mais quando observada a caracterização que Drácula recebeu que ressoa com a mesma utilizada por Max Schreck anteriormente.

Quanto a comentários sócio-políticos muito do que é teorizado em torno dessa versão ecoa na época extremamente divisiva que a Alemanha passava entre um bloco ocidental e oriental. A figura ameaçadora de Drácula, por vezes, passa a ser associada com o medo que ambos os lados tinham um do outro e suas atitudes grotescas (como se alimentar de sangue inocente) representava a forma cartunesca com que ambos os lados do muro eram reproduzidos para as populações.

A versão de Herzog caminha em outra direção da obra de 1922.

Sendo assim, por qual caminho Eggers pode seguir? Partindo do pressuposto que o diretor já mostrou que prefere ambientar seus enredos em contextos de época, é bem provável que sua versão do conde Orlok mantenha o cenário de século XIX e não sacrifique o simbolismo carregado por sua aparência. Não seria inesperado o diretor utilizar o atual imaginário popular formado sobre pandemias e questões sanitárias para montar um vilão simbólico.

Se anteriormente o vampiro representava uma corrosão ou divisão social, uma nova interpretação pode muito bem funcionar como um olhar do conceito de doença em si, com o ato de conversão praticado pelo conde funcionando como uma infecção. Esse tipo de olhar não seria incomum, visto que Guillermo del Toro assinou a série de livros Noturno explorando o vampirismo como uma praga.

Outro elemento que o diretor costuma dedicar tempo é a contextualização social da época em que a história se passa, essa estrutura da sociedade funciona como mecanismo da crescente do terror. A ambientação do famoso sanatório do Dr. Seward, onde Renfield também é mantido preso até a chegada de seu mestre, poderia ser um cenário de opressão tão elevada quanto a casa da família em A Bruxa ou a ilha do farol em O Farol

Ainda é tudo muito nebuloso e no campo da especulação, mas o diretor em questão já provou ter criatividade para entregar produtos que têm movido o terror em frente; muito da liberdade criativa para esse remake vai depender do que ele irá entregar com The Northman. Porém, não deixa de ser algo que gera grande expectativa.

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