Um dos mais sangrentos filmes de Liam Neeson está disponível na Netflix e traz um humor politicamente incorreto com toques de suspense, e é claro, muita vingança.
Vingança a Sangue Frio é uma refilmagem do norueguês O Cidadão do Ano (In Order of Disappearance, 2014), e traz a direção do mesmo Hans Petter Moland do original. O cineasta consegue capturar a essência de seu projeto anterior, dando uma remodelagem moderna, e brincando muito com sua narrativa.
Na trama, Nels Coxman (e não Dickman do original) é o tal cidadão do ano. Um pai de família dedicado e amoroso, o protagonista vivido por Neeson segue seus dias levando seu trabalho de limpar as estradas da intensa neve de sua cidadezinha muito a sério. Quando seu filho é assassinado por engano, o sujeito resolve declarar guerra aos mafiosos responsáveis.
Assista a nossa crítica:
O legal do novo filme de Moland, é que funciona quase como sátira às produções do gênero. Sua narrativa é esperta e transforma o que poderia ser apenas mais uma produção rotineira sobre vingança em um verdadeiro achado. Não deixe que qualquer sinopse ou prévia te engane, aqui os criadores injetam bastante frescor num tema pra lá de batido. Dos diálogos do vilão (o chefão Viking, papel de Tom Bateman), que transbordam tanta ironia que beiram o caricatural (mas de forma boa), passando pela relação dos policiais da cidadezinha (Emmy Rossum e John Doman – ótimos em cena), emulando Fargo, até a brincadeira em tela com a contagem de corpos que vai se amontoando, Vingança a Sangue Frio é pura criatividade.
Não deixe de assistir:
No filme, cada pequeno detalhe é uma gratificação a ser descoberta. Cada personagem é excentricamente único e funciona em sua caricatura cômica. Cada atenção dada à desconstrução de uma fórmula, cada diálogo inteligente e cada situação que caminha para o lado oposto do esperado ajudam a transformar o longa em uma pequena pérola escondida. No meio de seu rastro de vingança, o protagonista atiça uma guerra entre as duas facções criminosas locais por uma disputa sangrenta de território. A mudança em relação ao original vem de transformar uma destas organizações em um grupo de nativos-americanos, que igualmente rende boas tiradas, nada corretas, mas igualmente nada ofensivas. A tiração de sarro é inteligente o suficiente para pairar acima do grotesco e intolerável.
Sendo assim, colocar Vingança a Sangue Frio no mesmo pacote de ação que Liam Neeson vem colecionando é injusto. Nada contra seus outros trabalhos no gênero (inclusive adoro a maioria), mas seria comparar gêneros e estilos diferentes. A única similaridade está no protagonista – que interpreta mais ou menos o mesmo tipo de personagem. Com sua estreia em Hollywood, Hans Petter Moland entra com o pé direito, demonstrando ser uma voz diferenciada e que tem muito a dizer num mar de mesmice. Obras que desafiam seus moldes, impulsionando-as com vontade e muita energia, são cada vez mais raras dentro de uma indústria que privilegia o padrão. Justamente por isso, precisam ser enaltecidas. E que venham os próximos projetos do diretor para o grande público.