“O Grande Gatsby” é a nova versão cinematográfica do clássico literário escrito por F. Scott Fitzgerald, publicado em 1925, e pré-requisito em todas as escolas americanas. Sendo assim, é difícil encontrar por lá alguém que não seja familiarizada com essa história impactante. Para todo o resto, um filme foi produzido em 1974, protagonizado por Robert Redford, Mia Farrow e Bruce Dern, escrito por Francis Ford Coppola, vencedor de dois Oscar: melhor figurino e melhor trilha sonora.
A nova versão, inclusive, se retirou da corrida do Oscar desse ano, ao adiar sua estreia do fim do ano passado para o meio desse, em prol de uma bilheteria mais polpuda. Não sei se o novo “O Grande Gatsby” seria digno de Oscar (em categorias que não as técnicas), mas é sem dúvidas uma produção muito bem realizada e extremamente satisfatória. Um misterioso e aparentemente excêntrico milionário de quem todos só conhecem o nome, dá as melhores festas da cidade de Nova York, na década de 1920, sem poupar despesas.
O narrador Nick Carraway, papel de Tobey Maguire, aos poucos se envolve e descobre quem de fato é o ricaço. Com todas as histórias e lendas que são contadas sobre o protagonista Jay Gatsby, o astro Leonardo DiCaprio surge como a nova encarnação do carismático e atormentado personagem, que deseja desesperadamente se livrar de um estigma impossível, a fim de conquistar a mulher de seus sonhos, a hoje casada Daisy Buchanan, papel da talentosa mas insossa Carey Mulligan.
O texto original de Fitzgerald tinha, entre outras coisas, a ideia de deixar transparecer a exuberância e eterna festa da classe alta americana, que lucrou muito no pré-guerra. Isso sem levar em conta o mercado negro das bebidas ilegais favorecido pela lei seca. Todos esses são elementos dos sonhos para que o extravagante Baz Luhrmann faça a tela ganhar vida com figurinos, cenários e diversos outros elementos para lá de chamativos. O 3D da obra é igualmente muito bem aplicado e eficiente.
Ao contrário do que foi dito nos Estados Unidos, não sentimos um ambiente artificial dos cenários de Luhrmann, que embora surreais aparentam sempre o peso e a presença de terem sido construídos fisicamente. Um grande diferencial de “O Grande Gatsby” para os outros filmes do cineasta como “Romeu + Julieta”, “Moulin Rougue” e até mesmo o enfadonho “Austrália” é que Luhrmann faz desse um filme seu, sem precisar recorrer às esquisitices de seus filmes passados (cenas aceleradamente cômicas, efeitos sonoros de desenhos animados, etc..). Dessa forma, criando com “O Grande Gatsby”, seu filme mais sério e adulto.
A história chega a ser delineada de forma mais eficiente, até mesmo do que na produção original de 1974. Motivações de personagens, relacionamentos, tudo é mais bem explorado nos 142 minutos do novo filme. Quanto ao elenco, não é o trio de protagonistas que se destaca, e sim um trio de coadjuvantes. Começando por Joel Edgerton (“A Hora Mais Escura”), que cria um Tom Buchanan mais tridimensional do que o de Bruce Dern. Edgerton está ótimo em cena. Isla Fisher (“Truque de Mestre”) capricha no sotaque para viver a sofrida Myrtle, amante de Tom; e a beleza de Elizabeth Debicki, modelo transformada em atriz – em seu primeiro filme, hipnotiza nas formas da golfista Jordan Baker. O único pecado do roteiro parece ser tê-la esquecido, já que a personagem some da trama de maneira abrupta.