O que começou como uma inovadora fusão entre reality show e jogo psicológico está agora no centro de uma das maiores polêmicas da TV coreana recente. ‘O Jogo do Diabo‘, série da Netflix criada por Jeong Jong-yeon — também responsável pelos cultuados ‘The Great Escape’ e ‘The Genius‘ — encerrou sua segunda temporada de forma turbulenta, com acusações de intervenção da produção e revolta generalizada do público nas redes sociais.
Lançado originalmente em setembro de 2023, o programa reúne 16 participantes em um ambiente fechado durante sete dias, desafiando-os com jogos estratégicos, lógicos e sociais.
A cada dia, eles enfrentam duas competições: uma partida principal que pode gerar benefícios ou eliminações e um “jogo de dinheiro” que contribui para o prêmio final. Elementos como uma sala de “prisão” e a manipulação da convivência entre os jogadores fazem parte do espetáculo — mas talvez os bastidores tenham ido além do que o público esperava.
O vencedor da segunda temporada foi Jeong Hyun Gyu, que levou para casa 380 milhões de won (aproximadamente 277 mil dólares). Contudo, dias após o episódio final, vieram à tona declarações que colocaram sua vitória sob suspeita.
Em uma entrevista coreana, Jeong revelou que foi orientado pelos produtores sobre o melhor momento de anunciar o uso de um benefício crucial para garantir sua vitória. O próprio criador da série confirmou a informação: “Do ponto de vista da direção, achei que usar o benefício o mais tarde possível teria maior impacto dramático”, disse Jeong Jong-yeon.
Essa revelação foi suficiente para acender o debate entre fãs e participantes. Nas redes sociais, especialmente no Reddit, acusações de manipulação e “jogo sujo” tomaram conta dos fóruns dedicados à série. “Isso é tão armado… É injusto ele conseguir as 10 peças e ainda não ir para a prisão”, reclamou um usuário. Outro foi mais direto: “Concluímos que HQ não merecia vencer. JJY armou o jogo para ele”.
Embora tecnicamente Jeong não tenha quebrado nenhuma regra, seu estilo de jogo foi amplamente criticado. Desde o primeiro episódio, ele utilizou uma combinação de estratégia e influência social para enganar os colegas e se manter seguro, mas sua vitória final parece, para muitos, menos uma prova de habilidade e mais o resultado de uma aliança velada com a produção e com outros jogadores.
A controvérsia reacende uma questão antiga e espinhosa: até que ponto produções de reality shows — especialmente aquelas que envolvem competição e prêmios em dinheiro — são manipuladas para favorecer narrativas mais dramáticas ou participantes específicos? O caso de ‘O Jogo do Diabo‘ toca num ponto sensível da cultura televisiva: a credibilidade do entretenimento “não roteirizado”.
Produções como 90 Dias Para Casar já enfrentaram críticas semelhantes, com ex-participantes admitindo que foram encorajados a adotar certos comportamentos. Agora, mesmo game shows considerados “inteligentes” como ‘O Jogo do Diabo‘ parecem estar sob o mesmo tipo de suspeita.
Se haverá uma terceira temporada ainda não se sabe. Mas diante da pressão pública e do impacto na reputação da série, é possível que a Netflix e a equipe criativa de Jeong Jong-yeon precisem repensar radicalmente suas estratégias — ou arriscar ver seu ambicioso projeto ruir sob o peso da desconfiança.


