sexta-feira , 22 novembro , 2024

O Legado de Júpiter e o Código dos Super-heróis

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Conversão de moralidade nos quadrinhos é perceptível

A Netflix cancelou O Legado de Júpiter, aquela que era uma de suas maiores apostas no terreno de batalha entre empresas na adaptação de histórias em quadrinhos. O serviço já havia alcançado sucessos na área previamente com a produção do aclamado Demolidor e da muito adorada primeira temporada de Jessica Jones, mas também obtido uma série de críticas com o desastroso Punho de Ferro, o inconstante Luke Cage e o sem graça Os Defensores.



Tendo esse cenário de extremos em mente, o sucesso de Legado de Júpiter era necessário para somar com outro êxito atual da empresa que é Umbrella Academy e assim recolocar a Netflix do mapa de competição em produções de quadrinho junto a Disney Plus e agora a Amazon com seu Invencível. Só que a empreitada com os personagens criados por Mark Millar não deu certo e o motivo varia entre desinteresse total da maior parte da audiência até o baixo nível visual da produção (mesmo tendo um orçamento acima de cem milhões de dólares).

São argumentos válidos e que inclusive surgem como erros de outros shows, como os da CW. Mas existe algo proposto por Legado de Júpiter que é interessante e, sob um ponto de vista, vem sendo reinterpretado nos quadrinhos e adaptações em live action com bastante frequência, mesmo sendo uma pedra angular dessa indústria; o tão lembrando código. Este é um conceito presente no universo da série para simbolizar as regras que os super heróis criaram e a ela devem seguir para permanecerem como uma força em prol da humanidade e não tirânica.

Em meio a seus erros, “Legado de Júpiter” levanta um ponto interessante

Em resumo seu conceito reside em ideais como “não governar” e principalmente “não matar”, limitações mais do que tradicionais originadas nos quadrinhos a essa altura desde sempre (ainda que essa não seja inteiramente a verdade). Como já é de conhecimento relativamente geral, dependendo de pessoa para pessoa, o casamento entre a ideia de jamais tirar uma vida e o ideal de super-herói nem sempre existiu; constantemente as primeiras aventuras do Batman são utilizadas como exemplo que até os personagens que levam esse ideal ao limite já ultrapassaram a linha em algum momento no passado.

Porém, a ideia de um código de moralidade já é parte integral desse estilo de narrativa há tempo suficiente para se tornar indissociável dela, não à toa obras como Watchmen; V de Vingança e Retorno do Cavaleiro das Trevas foram respectivos marcos por justamente colocar esse ideal em cheque. Dessa geração dos anos 80 gerou-se um novo movimento por toda a década seguinte dedicado a criar novos personagens que remetessem a esses sucessos.

Foi a era do Spawn, Cable, Deadpool, da equipe Bloodstriker, Bloodwulf e tantos outros idealizados pela dupla Rob Liefeld e Todd McFarlane com grande inclinação natural a reproduzir o tipo de narrativa mais violenta e crua com o qual eles cresceram e, dessa maneira, deixando de lado o “código”. Ainda assim, esses são personagens ligados a esse novo movimento mas o que resta aos tradicionais?

Os anos 90 foram os anos de Spawn e semelhantes

Alguns se beneficiaram de uma ideia mais descompromissada das velhas regras, como a Mulher-Maravilha na fase Brian Azzarello. Porém, quando se trata de personagens mais intimamente ligados ao código como Homem-Aranha e Superman a dinâmica muda um bocado. Isso porque a essência do conceito de cada um remete justamente a esse ideal de maneira indissociável.

A noção de um super herói com poderes incríveis que escolhe, por livre e espontânea vontade, não se tornar um assassino ou um ditador é um eco que ressoa nas profundezas do universo dos quadrinhos e o que tornou esse tipo de histórias como uma forma de comunicação que sobreviveu ao longo de décadas. A questão não é você ter poder mas é compreender que você não tem o direito de usá-los para limitar as escolhas de terceiros, mesmo que eles pratiquem esse tipo de ação.

Dessa maneira volta-se para o início em que a força motora da primeira geração de Legado de Júpiter é justamente a noção de que poder não implica em mais direitos; o código, portanto, é um exercício constante de autocontrole que evita a violação das liberdades individuais alheias. Consequentemente se torna interessante como esse conceito, ou a ausência dele, quebra as barreiras da ficção e encontra abrigo em um mundo assombrado por violações de direitos fundamentais praticados por indivíduos com algum grau de autoridade.

Isso não significa que a série da Netflix é automaticamente um produto de alta qualidade ou revolucionário mas que ele apenas relembra uma ideia que é o coração das histórias em quadrinhos, principalmente em uma época de desconstrução de ícones como em The Boys ou Invencível, e que sempre estará ali.

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Tendo esse cenário de extremos em mente, o sucesso de Legado de Júpiter era necessário para somar com outro êxito atual da empresa que é Umbrella Academy e assim recolocar a Netflix do mapa de competição em produções de quadrinho junto a Disney Plus e agora a Amazon com seu Invencível. Só que a empreitada com os personagens criados por Mark Millar não deu certo e o motivo varia entre desinteresse total da maior parte da audiência até o baixo nível visual da produção (mesmo tendo um orçamento acima de cem milhões de dólares).

São argumentos válidos e que inclusive surgem como erros de outros shows, como os da CW. Mas existe algo proposto por Legado de Júpiter que é interessante e, sob um ponto de vista, vem sendo reinterpretado nos quadrinhos e adaptações em live action com bastante frequência, mesmo sendo uma pedra angular dessa indústria; o tão lembrando código. Este é um conceito presente no universo da série para simbolizar as regras que os super heróis criaram e a ela devem seguir para permanecerem como uma força em prol da humanidade e não tirânica.

Em meio a seus erros, “Legado de Júpiter” levanta um ponto interessante

Em resumo seu conceito reside em ideais como “não governar” e principalmente “não matar”, limitações mais do que tradicionais originadas nos quadrinhos a essa altura desde sempre (ainda que essa não seja inteiramente a verdade). Como já é de conhecimento relativamente geral, dependendo de pessoa para pessoa, o casamento entre a ideia de jamais tirar uma vida e o ideal de super-herói nem sempre existiu; constantemente as primeiras aventuras do Batman são utilizadas como exemplo que até os personagens que levam esse ideal ao limite já ultrapassaram a linha em algum momento no passado.

Porém, a ideia de um código de moralidade já é parte integral desse estilo de narrativa há tempo suficiente para se tornar indissociável dela, não à toa obras como Watchmen; V de Vingança e Retorno do Cavaleiro das Trevas foram respectivos marcos por justamente colocar esse ideal em cheque. Dessa geração dos anos 80 gerou-se um novo movimento por toda a década seguinte dedicado a criar novos personagens que remetessem a esses sucessos.

Foi a era do Spawn, Cable, Deadpool, da equipe Bloodstriker, Bloodwulf e tantos outros idealizados pela dupla Rob Liefeld e Todd McFarlane com grande inclinação natural a reproduzir o tipo de narrativa mais violenta e crua com o qual eles cresceram e, dessa maneira, deixando de lado o “código”. Ainda assim, esses são personagens ligados a esse novo movimento mas o que resta aos tradicionais?

Os anos 90 foram os anos de Spawn e semelhantes

Alguns se beneficiaram de uma ideia mais descompromissada das velhas regras, como a Mulher-Maravilha na fase Brian Azzarello. Porém, quando se trata de personagens mais intimamente ligados ao código como Homem-Aranha e Superman a dinâmica muda um bocado. Isso porque a essência do conceito de cada um remete justamente a esse ideal de maneira indissociável.

A noção de um super herói com poderes incríveis que escolhe, por livre e espontânea vontade, não se tornar um assassino ou um ditador é um eco que ressoa nas profundezas do universo dos quadrinhos e o que tornou esse tipo de histórias como uma forma de comunicação que sobreviveu ao longo de décadas. A questão não é você ter poder mas é compreender que você não tem o direito de usá-los para limitar as escolhas de terceiros, mesmo que eles pratiquem esse tipo de ação.

Dessa maneira volta-se para o início em que a força motora da primeira geração de Legado de Júpiter é justamente a noção de que poder não implica em mais direitos; o código, portanto, é um exercício constante de autocontrole que evita a violação das liberdades individuais alheias. Consequentemente se torna interessante como esse conceito, ou a ausência dele, quebra as barreiras da ficção e encontra abrigo em um mundo assombrado por violações de direitos fundamentais praticados por indivíduos com algum grau de autoridade.

Isso não significa que a série da Netflix é automaticamente um produto de alta qualidade ou revolucionário mas que ele apenas relembra uma ideia que é o coração das histórias em quadrinhos, principalmente em uma época de desconstrução de ícones como em The Boys ou Invencível, e que sempre estará ali.

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