Quando você pensa em musicais, qual a imagem vem a sua cabeça? A resposta dessa pergunta, para muitos brasileiros, é a esquete do Show de humor Nós Na Fita, estrelado por Leandro Hassum e Marcius Melhem, na qual eles parodiam situações ruins do cotidiano – como ser assaltado ou esquecer as chaves do carro – de forma cantada, sob ótica cômica dos grandes musicais. Ou seja, pra muita gente, a concepção desse estilo de filme é algo estranho, antinatural, chato… brega.
Lançado no natal de 2017, O Rei do Show é o exemplo mais recente de uma possível mudança no formato dos Musicais de Hollywood. Com foco em histórias mais simples e músicas “chiclete”, a missão dessa nova fase é clara: lucrar mais e pulverizar a imagem de brega.
Numa época em que o imediatismo guia a humanidade, o entretenimento faz de tudo para não ser cafona. O público anseia por dinamismo, mesmo que isso signifique uma diversão rápida e sem peso. Por isso, o mesmo não costuma reagir bem ao melodrama no cinema. Se seus desejos não forem atendidos, o resultado é uma palavra que assusta a todos os produtores e estúdios do mundo: Flop.
Mediante esse cenário assustador, surge La La Land: Cantando Estações, de Damien Chazelle, e abre uma porta para o gênero. Vendido como “O musical para quem não gosta de musicais”, essa ode ao Jazz fez uso de uma receita muito conhecida do público e que faz sucesso desde 1937: a Fórmula Disney.
Enquanto a maioria dos musicais clássicos, como Moulin Rouge: Amor em Vermelho, Cantando na Chuva e Os Miseráveis possuem de 14 a 20 músicas cantadas no repertório, os grandes sucessos da Disney, como Cinderela, O Rei Leão e Frozen: Uma Aventura Congelante, por exemplo, usam de 4 a 10 canções originais, sendo uma delas um Hit que será tocado mais de uma vez no longa, de modo a ditar o tom do filme, e uma mais animada para manter a imagem da película viva na cabeça dos espectadores. Em La La Land, esses papéis são de City of Stars (vencedora de melhor Canção Original no Oscar 2017) e Another Day Of Sun. Em O Rei do Show, as escolhidas são The Greatest Show e This Is Me (Vencedora de melhor Canção Original no Globo de Ouro 2018), respectivamente.
Outro aspecto marcante das histórias da Casa do Mickey é a abordagem de temas delicados de maneira otimista e superficial, cheio de coincidências na trama e até mesmo um toque de magia. Seguindo esse estilo, La La Land e O Rei do Show são exemplos perfeitos de Contos de Fadas modernos. Porque depois de muito tempo (e de análise de bilheteria, provavelmente) eles viram que essas fábulas de roteiro simples e acalentadoras de corações são uma ótima fonte de arrecadação.
Por fim, a estratégia mais interessante de marketing envolve as músicas. Lembram quando Let It Go foi febre mundial, chegando a alcançar Top 10 da Billboard e tudo mais? Pois então, a cada vez que falam sobre a música, o filme ganha muito em divulgação gratuita. Apostando nisso, La La Land e O Rei do Show liberaram suas Playlists em plataformas como Spotify e ITunes e fizeram muito sucesso antes mesmo do lançamento dos filmes. Com pegadas mais simples e populares, as trilhas sonoras colocaram esses longa-metragens na cabeça do povo, literalmente. Ou seja, além de gerar buzz, também passaram a lucrar bastante com a venda de músicas isoladas.
Apesar dos fãs Oldschool chiarem um pouco com o “novo” formato, é um saída inteligente para reconquistar um público preconceituoso em relação a esse gênero cinematográfico, e quem sabe até conseguir resgatar os dias de glória dos Musicais? Claro, isso tudo vai depender da criatividade hollywoodiana e da reação dos espectadores. Não adianta nada inovar, mas transformar isso em um novo padrão.