Massacre da Serra Elétrica original é extremamente vital para o terror. Já suas sequências não.
A partir dos anos 70, Hollywood passou por diversas modificações no seu modo de produzir filmes que, consciente ou não, também refletiam as ansiedades sociais que o país vivia no período. Inevitavelmente o terror foi um dos gêneros mais influenciados ao longo do momento criativo, impulsionado sobretudo pela nova geração de cineastas que ganhava cada vez mais oportunidade.
Em 1974 o diretor iniciante, Tobe Hooper, cujo trabalho anterior havia sido um terror independente intitulado Eggshells, financiou uma nova empreitada. Com o nome de Massacre da Serra Elétrica (no qual a inspiração veio após Hooper imaginar como uma motoserra poderia acelerar sua espera em uma fila de loja) o diretor entregou não só um protótipo do que seria o subgenero slasher no final da década mas também uma obra consciente de seu tempo.
Sendo Hooper originário do movimento hippie, muito de seu processo criativo acabava por dialogar com as ideias dos manifestantes; foi assim com Eggshells, que pôs no centro da história uma comunidade hippie, e não foi diferente com Massacre. Não à toa o grupo de jovens protagonistas possuem maneirismo que dialogam com o mencionado estilo de vida.
Apesar dos problemas que permearam a produção, muitos advindos da natureza apressado com o projeto foi realizado devido ao baixo orçamento disponível, nasceu algo verdadeiramente impactante para a época. O efeito granulado da fotografia garantiu ao filme um ar caseiro, deixando fácil para o espectador da época criar uma identificação com um produto de home video.
A violência apresentada e a forma com que ela era conduzida também foram um diferencial; Hooper deu uma atenção para o sujo ambiente da casa dos Sawyers de modo que apenas a visão do mesmo transmitia a ideia de que aquelas pessoas eram adeptas do canibalismo, bem como do provável cheiro predominante de morte dentro da casa.
O sucesso de Massacre da Serra Elétrica não foi instantâneo, muitas das críticas se apegaram ao choque das cenas de violência e o filme em si teve sua divulgação bastante combalida ao ser proibido em diversos países. Entretanto, quando comparado ao baixo valor investido no orçamento a bilheteria mais do que pagou a quantia original.
A sequência não viria até 1986, quando Tobe Hooper retorna para o universo criado por ele mesmo doze anos antes; sem levantar polêmicas mais uma vez. A grande questão é que, dessa vez, as discussões nada tiveram a ver com a violência do longa mas sim com sua abordagem. Massacre da Serra Elétrica 2 confere atenção especial para a comédia, muito mais do que o clássico de 1974 sequer considerou, a ponto de ter muito do elemento de horror diluído.
Essa foi queixa considerável e válida, pois a mesma tendência para o humor enfraqueceu um elemento importante do exemplar anterior, como a ameaça silenciosa imposta pelo assassino Leatherface, ao torná-lo um capanga forte, de baixa inteligência e submisso a seu novo “irmão” Chop Top. É evidente que Hooper não tenta desenvolver melhor os personagens apresentados anteriormente tanto como pretende, propositalmente, apresentar uma visão totalmente oposta à expectativa do público.
A duas sequências seguintes, de 1990 e 1994, tentaram em vão se aproximar mais da premissa original sem, no entanto, conseguir abandonar completamente a herança deixada pelo segundo filme. A altura dos anos 90 os filmes slasher, consciente ou não, reaproveitavam muitos elementos que se popularizaram nos anos 80, principalmente a tendência ao espetáculo; de não se preocupar em criar um ambiente assustadoramente possível mas sim elaborar formas criativas com que o vilão pode matar suas vítimas.
Somente em 2003 que um reboot da série foi posto em prática, tendo no cineasta Michael Bay a figura de produtor. Ao contrário das versões anteriores, a nova abordagem reiniciou a franquia, resgatando a mesma trama de uma grupo de amigos que se perde no Texas e passam a ser perseguidos pela família Sawyer.
O design de produção também optou por abraçar o mesmo aspecto de sujeira e morte que tanto marcara o longa de 1974, utilizando até mesmo uma escolha de iluminação mais amarelada em várias situações para realçar o aspecto doentio de toda a trama.
Esse foi também o pontapé inicial para a franquia seguir por um novo rumo, indo muito pela esteira da revitalização de marcas famosas do terror nos anos 2000 (como Sexta Feira 13 e Halloween) que não hesitavam em dosar as cenas violentas, ainda que nem sempre elas servissem à um propósito narrativo.
Inevitavelmente, como ocorreu com as outras propriedades mencionadas, o interesse do público por essas abordagens foi diminuindo até um nível em que a saga foi posta na “geladeira”. Foi somente após a segunda revitalização de Halloween em 2018, pelas mãos de David Gordon Green, no qual a franquia tomou como base apenas a obra original, que voltou-se o interesse para uma nova tratativa à Massacre.
Com data de lançamento inicial previsto para 18 de fevereiro, o projeto da Netflix seguirá fielmente a receita apresentada pela produção da Blumhouse em 2018 e isto fica claro pelo retorno confirmado de Olwen Fouéré, a atriz que deu vida à final girl Sally Hardesty em 74.