sábado , 21 dezembro , 2024

Once Upon a Time | Há uma década, série nos apresentava a uma nova versão de ‘Frozen’ e das clássicas vilãs da Disney

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Once Upon a Time se tornou uma das produções televisivas mais originais dos últimos anos. Mesmo encontrando certos obstáculos em seu terceiro ano, que tangenciaram um melodrama extremamente excessivo, introduzir personagens que ganharam o gosto do público foi uma investida interessante. É claro que não podemos deixar de levar em consideração o imenso marketing por trás da série, mas ainda assim o cliffhanger da iteração anterior foi de tirar o fôlego. E desse modo, entramos no mundo de Frozen – Uma Aventura Congelante’ que, seguindo o mesmo padrão já conhecido de Edward Kitsis e Adam Horowitz, encontrou uma perspectiva nova e macabra que, mesmo com deslizes óbvios e um claro apelo mercadológico (considerando que a animação da Walt Disney Studios havia sido lançada um ano antes), funciona dentro das próprias restrições.

Elizabeth Lail e Georgina Haig interpretam as irmãs Anna e Elsa, respectivamente. Porém, diferente do filme da Casa Mouse, a história se passa algum tempo depois dos eventos originais, trazendo-as de volta para Arendelle e focando tanto no casamento de Anna com Kristoff (Scott Michael Foster) quanto nas descobertas que Elsa faz em relação à sua família. De qualquer forma, a série ganha uma sólida reformulação narrativa para delinear as tramas que cruzarão caminho com as que já conhecemos.



A quarta temporada mergulha na mesma estruturação que a terceira, dividindo-se em dois blocos. Neste aqui, Anna ganha bastante protagonismo na cronologia passada e mostra que vai muito além da ingênua e sonhadora personagem que conhecemos nas telonas, fazendo escolhas a priori terríveis para manter a união de sua família, mas nunca perdendo seu espírito altruísta. Já no presente, as coisas até tentam se mover com o mesmo dinamismo, mas eventualmente esbarram em certos obstáculos, incluindo a rapidez desnecessária com a qual a história se desenrola. Porém, existe um nome em especial que torna-se o centro inesperado das atenções, seja pela atuação, seja por sua envolvente backstory: Elizabeth Mitchell.

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A atriz, conhecida por seu papel como Juliette em Lost, encarna a versão original do conto de Hans Christian Andersen que deu origem ao filme vencedor do Oscar. A Rainha de Gelo’, na verdade, traz uma trama muito mais complexa e nem um pouco otimista para a personagem-título, aqui chamada de Ingrid. E, além disso, ela integra a própria família de Elsa e Anna, entrando como tia das duas – uma tia perdida que esconde um terrível segredo e que, insurgindo como a principal antagonista, segue um padrão conhecido de redenção e vitimização, sendo fruto de circunstâncias negativas que a moldaram no “monstro” que todos a consideram hoje.

Porém, Mitchell encontra um terreno muito fértil para mostrar sua versatilidade: ainda que sua trama em específico pareça datada, ela mantém-se em uma bolha fria e cruel que não mede esforços para conseguir o que quer – inclusive lançar uma terrível maldição para destruir todos os moradores de Storybrooke. E como se não bastasse, ela mantém uma relação materna muito forte com Emma (Jennifer Morrison), tendo sido sua mãe adotiva em um passado remoto. No final das contas, ela se entrega ao amor que nunca achou ter de suas falecidas irmãs, sacrificando-se para o bem de todos em um clássico final feliz e fabulesco que facilmente nos arranca algumas lágrimas e já coloca o tom para a próxima parte da temporada.

E é aqui que as coisas começam a desandar. Após um complicado desentendimento entre Rumplestiltskin (Robert Carlyle) e Belle (Emilie De Ravin), o Senhor das Trevas retorna ao seu compulsório arco de pura egolatria e parte em busca de antigas “aliadas” do passado: as icônicas Malévola (Kristin Bauer), Cruella De Vil (Victoria Smurfit) e Úrsula (Merrin Dungey), também conhecidas como as Rainhas da Escuridão. Porém, nenhuma delas ganha uma exploração digna do que representam em um panteão clássico: as subtramas são tratadas em sua superficialidade e lutam para ganhar destaque em um outro pano de fundo, em que os vilões merecem ganhar seus finais felizes enquanto os heróis devem se submeter a uma vida em que nada dá certo. Em outras palavras, uma drástica inversão de papéis.

Também é aqui que temos a participação do Autor, figura responsável por contar todas as histórias dos Reinos mágicos. Porém, essa nova versão, encarnada por Isaac Heller (Patrick Fischler) nunca gostou apenas de relatar, e encontrou nessa “profissão” um meio para colocar tudo o que sempre quis – e por isso mesmo resolve se aliar com Rumplestiltskin e mudar para sempre o que conhecemos. “Está na hora dos vilões terem um final feliz”, ele repete, em quase todos os episódios. Eventualmente ele consegue fazer isso nos últimos dois episódios, até que o beijo de amor verdadeiro entre mãe e filha quebra a nova maldição – um recurso que já se prova cansativo ao extremo, como de Kitsis e Horowitz não tivessem mais de onde tirar cartas para continuar a originalidade de outrora. De fato, temos pulsões inesperadas ao caminharmos para o season finale, que novamente muda o caráter de cada um dos protagonistas e coadjuvantes para o bel-prazer do Autor (que, no mundo real, se transforma em um romancista best-seller, prendendo os personagens em um cosmos inescapável e dentro do qual não se lembram de nada) e de Rumple, que não suporta mais a ideia de ser condicionado a vilão.

Mais uma vez, Lana Parrilla emerge como o melhor elemento da narrativa ao encarnar um lado inédito de Regina Mills, fingindo retornar às suas raízes vilanescas apenas para ajudar Emma (que se torna uma de suas amigas mais próximas) e proteger o filho, Henry (Jared S. Gilmore) das forças malignas que o afligem – e que antecipam sua condição como o próximo Autor. Parrilla divide os holofotes com Carlyle, que reitera sua posição como um dos atores mais versáteis da contemporaneidade, e ambos trilham um caminho parecido e complementar até um dos melhores ganchos da série. No final das contas, o time por trás de Once Upon a Time ainda abre espaço para que fiquemos ansiosos para o ciclo seguinte – em que Regina se consagra como a heroína que todos precisávamos e Emma, agora, está fadada a se render à escuridão ao se transformar na nova portadora da Adaga do Sombrio.

Ah, e só mais uma coisa: a temporada também se vale do bem-vindo retorno de Rebecca Mader como Zelena – cujo impacto causado na temporada anterior foi tamanho, que não houve alternativa além de trazê-la de volta de maneira espetacular e de modo a ofuscar os equívocos estruturais dos episódios.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Elizabeth Lail e Georgina Haig interpretam as irmãs Anna e Elsa, respectivamente. Porém, diferente do filme da Casa Mouse, a história se passa algum tempo depois dos eventos originais, trazendo-as de volta para Arendelle e focando tanto no casamento de Anna com Kristoff (Scott Michael Foster) quanto nas descobertas que Elsa faz em relação à sua família. De qualquer forma, a série ganha uma sólida reformulação narrativa para delinear as tramas que cruzarão caminho com as que já conhecemos.

A quarta temporada mergulha na mesma estruturação que a terceira, dividindo-se em dois blocos. Neste aqui, Anna ganha bastante protagonismo na cronologia passada e mostra que vai muito além da ingênua e sonhadora personagem que conhecemos nas telonas, fazendo escolhas a priori terríveis para manter a união de sua família, mas nunca perdendo seu espírito altruísta. Já no presente, as coisas até tentam se mover com o mesmo dinamismo, mas eventualmente esbarram em certos obstáculos, incluindo a rapidez desnecessária com a qual a história se desenrola. Porém, existe um nome em especial que torna-se o centro inesperado das atenções, seja pela atuação, seja por sua envolvente backstory: Elizabeth Mitchell.

A atriz, conhecida por seu papel como Juliette em Lost, encarna a versão original do conto de Hans Christian Andersen que deu origem ao filme vencedor do Oscar. A Rainha de Gelo’, na verdade, traz uma trama muito mais complexa e nem um pouco otimista para a personagem-título, aqui chamada de Ingrid. E, além disso, ela integra a própria família de Elsa e Anna, entrando como tia das duas – uma tia perdida que esconde um terrível segredo e que, insurgindo como a principal antagonista, segue um padrão conhecido de redenção e vitimização, sendo fruto de circunstâncias negativas que a moldaram no “monstro” que todos a consideram hoje.

Porém, Mitchell encontra um terreno muito fértil para mostrar sua versatilidade: ainda que sua trama em específico pareça datada, ela mantém-se em uma bolha fria e cruel que não mede esforços para conseguir o que quer – inclusive lançar uma terrível maldição para destruir todos os moradores de Storybrooke. E como se não bastasse, ela mantém uma relação materna muito forte com Emma (Jennifer Morrison), tendo sido sua mãe adotiva em um passado remoto. No final das contas, ela se entrega ao amor que nunca achou ter de suas falecidas irmãs, sacrificando-se para o bem de todos em um clássico final feliz e fabulesco que facilmente nos arranca algumas lágrimas e já coloca o tom para a próxima parte da temporada.

E é aqui que as coisas começam a desandar. Após um complicado desentendimento entre Rumplestiltskin (Robert Carlyle) e Belle (Emilie De Ravin), o Senhor das Trevas retorna ao seu compulsório arco de pura egolatria e parte em busca de antigas “aliadas” do passado: as icônicas Malévola (Kristin Bauer), Cruella De Vil (Victoria Smurfit) e Úrsula (Merrin Dungey), também conhecidas como as Rainhas da Escuridão. Porém, nenhuma delas ganha uma exploração digna do que representam em um panteão clássico: as subtramas são tratadas em sua superficialidade e lutam para ganhar destaque em um outro pano de fundo, em que os vilões merecem ganhar seus finais felizes enquanto os heróis devem se submeter a uma vida em que nada dá certo. Em outras palavras, uma drástica inversão de papéis.

Também é aqui que temos a participação do Autor, figura responsável por contar todas as histórias dos Reinos mágicos. Porém, essa nova versão, encarnada por Isaac Heller (Patrick Fischler) nunca gostou apenas de relatar, e encontrou nessa “profissão” um meio para colocar tudo o que sempre quis – e por isso mesmo resolve se aliar com Rumplestiltskin e mudar para sempre o que conhecemos. “Está na hora dos vilões terem um final feliz”, ele repete, em quase todos os episódios. Eventualmente ele consegue fazer isso nos últimos dois episódios, até que o beijo de amor verdadeiro entre mãe e filha quebra a nova maldição – um recurso que já se prova cansativo ao extremo, como de Kitsis e Horowitz não tivessem mais de onde tirar cartas para continuar a originalidade de outrora. De fato, temos pulsões inesperadas ao caminharmos para o season finale, que novamente muda o caráter de cada um dos protagonistas e coadjuvantes para o bel-prazer do Autor (que, no mundo real, se transforma em um romancista best-seller, prendendo os personagens em um cosmos inescapável e dentro do qual não se lembram de nada) e de Rumple, que não suporta mais a ideia de ser condicionado a vilão.

Mais uma vez, Lana Parrilla emerge como o melhor elemento da narrativa ao encarnar um lado inédito de Regina Mills, fingindo retornar às suas raízes vilanescas apenas para ajudar Emma (que se torna uma de suas amigas mais próximas) e proteger o filho, Henry (Jared S. Gilmore) das forças malignas que o afligem – e que antecipam sua condição como o próximo Autor. Parrilla divide os holofotes com Carlyle, que reitera sua posição como um dos atores mais versáteis da contemporaneidade, e ambos trilham um caminho parecido e complementar até um dos melhores ganchos da série. No final das contas, o time por trás de Once Upon a Time ainda abre espaço para que fiquemos ansiosos para o ciclo seguinte – em que Regina se consagra como a heroína que todos precisávamos e Emma, agora, está fadada a se render à escuridão ao se transformar na nova portadora da Adaga do Sombrio.

Ah, e só mais uma coisa: a temporada também se vale do bem-vindo retorno de Rebecca Mader como Zelena – cujo impacto causado na temporada anterior foi tamanho, que não houve alternativa além de trazê-la de volta de maneira espetacular e de modo a ofuscar os equívocos estruturais dos episódios.

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