Presa em seu pequeno mundo e em um constante entrave com sua mãe, Wanda é uma adolescente com forte personalidade e dona de uma espírito livre. Mas suas melhores características também são aquelas que nos trazem a essa história. O que deveria ser um ensolarado dia de celebrações culturais se transforma em um cinzento marco para a família Klatt. Wanda está desaparecida.
E diante da ineficiência da investigação policial, essa família de classe média do subúrbio alemão se aveturará pelas veredas mais inusitadas para encontrar sua primogênita. Tomando as rédeas da situação, Carlotta e Dedo Klatt se unem ao introspectivo filho caçula, Ole, para espionar a vizinhança e tentar reencontrar Wanda.
Sob uma premissa conhecida (desaparecimento de um ente querido), a Apple TV+ e a dupla criativa Zoltan Spirandelli e Oliver Lansley consegue fazer de ‘Onde Está a Wanda?‘ um inesperado e divertido experimento social. Muito mais do que a constante busca pela personagem homônima, há também uma precisa película de curiosidade e fascínio pela vida alheia.
À medida em que acompanhamos a tragicômica busca do casal Klatt por sua filha, também testemunhamos os dissabores do espírito humano, sua soberba, suas obscuridades e peculiaridades. Essa proposta faz com que a primeira série alemã original do streaming seja um vigoroso sopro de originalidade. Costurando três gêneros de maneira eficiente e inteligente, o roteiro sabe muito bem como trabalhar o drama, o suspense e toques da comédia pastelão com exatidão.
E em uma entrevista ao CinePOP, os atores Axel Stein (Dedo), Heike Makatsch (Carlotta), Leo Simon (Ole) e Lea Drinda (Wanda) comentaram sobre o mais novo projeto, sua proposta ousada e até mesmo seu impacto na audiência.
Inaugurando o cânone de produções alemãs com o selo da Apple TV+, ‘Onde Está a Wanda?’ já é motivo de surpresa por parte de seu elenco, em virtude da positiva recepção global, conforme ponderou Heike:
“Essa conquista me traz um sentimento abstrato. É claro que sabíamos, diante do nível de produção, que isso seria algo especial. Mas é como se essa série fosse nosso bebê, que finalmente começa a andar diante dos nossos olhos. Estamos começando a digerir o que tudo isso significa”.
Axel completou seu raciocínio, contemplando o quão gratificante é poder entrar para a história do streaming de tal maneira:
“É um sentimento explosivo! Nós acabamos de assistir a versão final, depois de seis meses em produção. Me sinto orgulhoso por poder fazer parte desse momento e já começamos a receber o feedback de diversas pessoas do mundo e me parece que elas estão realmente curtindo, o que é ótimo”.
Com uma abordagem mais agridoce, em que tragédia e humor se confundem em diversos momentos, ‘Onde Está a Wanda?‘ é fruto de uma combinação dos mandeirismos de personagens que emulam o trabalhador de classe média com o peso de uma perda irreparável. Sempre oscilando entre o sofrimento e a comédia situacional, a série bebe da fonte de Peter Sellers, sem se furtar do sabor amargo da dor de perder um filho.
Essa alquimia é o que conduz a audiência para uma experiência enérgica e simultaneamente soturna e sombria. Entre a loucura da comédia maluca e a razão da dor desenfreada, existe um casal de pais que tentam encontrar o caminho de volta para si mesmos – em um dilema bem universal:
“Eu também acho que isso é um fator que nos permite identificar com o público. Esse relacionamento familiar se desgastou com o passar dos anos, se tornou vazio. Ele está apático, mas o amor ainda está lá. Eu creio que muitos casais e familias já passaram por isso. Como voltar ao primeiro amor? Essa temática funciona aqui e é lindo vê-los não abrindo mão um do outro, na pior das circunstâncias. Eles estão tentando encontrar o caminho de casa”, refletiu Heike.
E essa união familiar acaba sendo um dos elementos mais pulsantes da produção, em meio a todo o caos relacionado à espionagem, invasão de privacidade e vigilância alheia. Para Lea, a sinergia entre pais e filho em busca de Wanda é o que torna a dramédia uma experiência identificável, independente do contexto sociocultural.
“A coesão familiar é algo universal. Por sua família, você faria coisas inimagináveis. Há fronteiras que você cruzaria apenas por eles. Há tanta coisa que você abriria mão por sua família”.
Leo completou seu raciocínio, ponderando sobre como a história da família Klatt serve também de reflexão:
“Essa situação nos faz pensar em como agiríamos no lugar deles, nos leva a olhar para os outros com mais empatia e sensibilidade”.
Tais temas universais ganham um sabor diferente quando os gêneros cinematográficos se misturam e se completam ao longo do desenrolar da trama. De situações inesperadas nascidas a partir da espionagem ilegal ao constante sentimento de incerteza quanto ao futuro, ‘Onde Está a Wanda’ consegue manter sua coerência narrativa, de forma que nenhum gênero ofusque o outro – anulando o argumento da série.
Para Axel, esse resultado é fruto de um cuidadoso trabalho entre elenco e equipe técnica:
“Acho que nós fizemos nosso melhor para atingir esse equilíbrio e tudo isso começou com o autor, o roteirista e o diretor. Nós somos as últimas engrenagens dessa máquina e no fim se trata de cooperação, com todos trabalhando juntos. Também há aquela questão: ‘Qual é o nosso nível de graça? O quanto podemos nos levar a sério?’ Conversamos muito sobre isso para encontrar o ponto certo e para que estivéssemos na mesma página. Há alguns momentos divertidos, outros mais sérios e entendemos essa dinâmica da família, porque ela nasce a partir de uma necessidade imutável”, concluiu.
Os três primeiro episódios da série já estão disponíveis na Apple TV+, com os demais sendo lançados semanalmente.
Confira o trailer: