domingo , 22 dezembro , 2024

Opinião | ‘Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo’ consegue ser relativamente melhor que o filme anterior

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Em 2003, o grupo pop sueco ABBA era mais uma vez imortalizado através de um longa-metragem inusitado intitulado Mamma Mia!’. Unindo nomes muito conhecidos da indústria do entretenimento, desde Meryl Streep até Amanda Seyfried e algumas aparições especiais de personagens que definitivamente são relembrados até hoje, a estreia diretorial de Phyllida Lloyd nos cinemas não foi o sucesso que prometeu, ainda que tenha satisfeito boa parte do público e feito um modesto barulho quanto à bilheteria. Logo, é difícil compreender o porquê de tal filme ganhar uma sequência, visto que poderia cair nas mesmas falhas do original – ou até pior. 

Entretanto, Ol Parker, encabeçando o projeto, conseguiu fazer algo que não acontece com a frequência deveria, entregando-nos uma obra que em diversos aspectos é melhor que a predecessora, ainda que peque em alguns quesitos cruciais. O cineasta, responsável por dar vida a uma das narrativas mais surpreendentes dos últimos anos com O Exótico Hotel Marigold’, forneceu sua própria perspectiva ao desenlace e às relações dos protagonistas, brincando principalmente com a atemporalidade de modo fluido (na maior parte do tempo), demonstrando seu tato e seu carinho com coming-of-ages e tours de force – características que conversam intrinsecamente com o paradisíaco cosmos imortalizado pela banda. 



Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo’ se passa cinco anos após os eventos da primeira história – e justo quando pensávamos que as coisas poderiam ficar ainda mais complexas, Sophie (Seyfried), lidando com a morte prematura da mãe, Donna (Streep), está prestes a inaugurar um hotel em homenagem à mulher de sua vida, honrando seu nome e reformando o casarão no qual viveu desde sua adolescência. Ao seu lado, está o gerente Fernando Cienfuegos (Andy Garcia) e um de seus três possíveis pais, o charmoso Sam (Pierce Brosnan), o qual passou a morar na ilha após reencontrar-se com sua amada. À medida em que tentam superar alguns obstáculos amorosos e pessoais, os personagens do tempo presente também mergulham em suas próprias visões de como Donna nunca deixou de ser si mesma e nunca parou de sonhar, não importasse o quão adversa a situação se mostrava. 

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Como supracitado, Parker faz um trabalho interessante através de uma montagem anacrônica que brinca com efeitos visuais e funde duas épocas em uma só, mesmo com a falta de um ritmo estruturado no ato de abertura. Entretanto, os equívocos incômodos logo são ofuscados por uma brilhante e carismática performance de Lily James como a jovem Donna, recém-formada e pronta para conhecer o mundo, já que se sente abandonada pela mãe e não enfrenta nada que a impeça de abrir ainda mais as asas. A partir daí, conhecemos suas aventuras na França e na Grécia até finalmente encontrar o seu próprio destino ao chegar à ilha de Kalokairi – não antes, é claro, de conhecer seus três amantes e possíveis pais da filha. 

O roteiro, também assinado por Parker ao lado de Richard Curtis e Catherine Johnson, não traz uma originalidade muito clara, mas respalda-se com convicção em uma fórmula segura: uma trama de amor revestida com subtramas de superação, idolatria e experimentos catárticos que não funcionam em sua completude, mas mancham um pouco a atmosfera. Donna procura o significado de sua vida ao mesmo tempo em que Sophie, no tempo presente, faz a mesma coisa – e é emocionante ver também que as duas engravidam em condições semelhantes, separadas por décadas e unidas pelo mesmo amor que sempre compartilharam. As figuras de um passado remoto constantemente falam para Sophie sobre todas as vezes em que deixou a mãe orgulhosa, apoio que não teve por decidir viver por conta própria em um casebre caindo aos pedaços. 

Apesar da previsibilidade, os números musicais retornam com força e demonstram um talento inquestionável do extenso elenco. Até mesmo o jovem time, formado por James, Alexa Davies como Rosie e Jessica Keenan Wynn como Tanya, trazem uma química aplaudível para a cena, ainda que nunca superado pelo trio original estruturado por Streep, Julie Walters e Christine Baranksi, respectivamente. A familiaridades no semblante de cada uma das duplas é inegável e até assustadora – e é possível traçar paralelos entre seus trejeitos, mantidos após tantos anos. Cada uma contribui de seu jeito para aumentar a complexidade da narrativa, seja com cargas dramáticas (trazidas em peso pelas protagonistas), seja com a aguardada comédia que revisita de modo nostálgica as investidas predecessoras. 

O trabalho com a câmera também mantém sua estrutura coesa, sem cair nas ruínas da monotonia e acompanhando as coreografias e os números musicais, conseguindo expandir as ambiências mais enclausuradas. Porém, Parker peca um pouco no tocante à fotografia, focando demais na interação interpessoal dos protagonistas e coadjuvantes e deixando de lado a estética em si. Logo, as belíssimas e paradisíacas imagens da ilha grega mais se assemelham a investidas panfletárias ou publicitárias que qualquer coisa – não que isso tire o divertimento da obra em si, apenas retrai um pouco o seu potencial cênico. 

E não podemos nos esquecer da icônica Cher encarnando Ruby Sheridan, mãe de Donna e avó de Sophie que resolve fazer uma aparição surpresa na festa de inauguração do hotel Bella Donna no maior estilo possível. E Parker faz questão de lhe dar alguns momentos no centro dos holofotes, incluindo uma performance especial ao lado de García com Fernando e que simpatiza diretamente com o teor do longa, além de adicionar um toque especial. 

Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo’ é uma ótima pedida para se assistir em família ou para alguém que procura um divertimento simples, porém satisfatório, para esse segundo semestre. E, bom, caso você não curta musicais, com certeza irá se deliciar com o elenco de ponta e com essa fofa história de amor e compaixão. 

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em 2003, o grupo pop sueco ABBA era mais uma vez imortalizado através de um longa-metragem inusitado intitulado Mamma Mia!’. Unindo nomes muito conhecidos da indústria do entretenimento, desde Meryl Streep até Amanda Seyfried e algumas aparições especiais de personagens que definitivamente são relembrados até hoje, a estreia diretorial de Phyllida Lloyd nos cinemas não foi o sucesso que prometeu, ainda que tenha satisfeito boa parte do público e feito um modesto barulho quanto à bilheteria. Logo, é difícil compreender o porquê de tal filme ganhar uma sequência, visto que poderia cair nas mesmas falhas do original – ou até pior. 

Entretanto, Ol Parker, encabeçando o projeto, conseguiu fazer algo que não acontece com a frequência deveria, entregando-nos uma obra que em diversos aspectos é melhor que a predecessora, ainda que peque em alguns quesitos cruciais. O cineasta, responsável por dar vida a uma das narrativas mais surpreendentes dos últimos anos com O Exótico Hotel Marigold’, forneceu sua própria perspectiva ao desenlace e às relações dos protagonistas, brincando principalmente com a atemporalidade de modo fluido (na maior parte do tempo), demonstrando seu tato e seu carinho com coming-of-ages e tours de force – características que conversam intrinsecamente com o paradisíaco cosmos imortalizado pela banda. 

Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo’ se passa cinco anos após os eventos da primeira história – e justo quando pensávamos que as coisas poderiam ficar ainda mais complexas, Sophie (Seyfried), lidando com a morte prematura da mãe, Donna (Streep), está prestes a inaugurar um hotel em homenagem à mulher de sua vida, honrando seu nome e reformando o casarão no qual viveu desde sua adolescência. Ao seu lado, está o gerente Fernando Cienfuegos (Andy Garcia) e um de seus três possíveis pais, o charmoso Sam (Pierce Brosnan), o qual passou a morar na ilha após reencontrar-se com sua amada. À medida em que tentam superar alguns obstáculos amorosos e pessoais, os personagens do tempo presente também mergulham em suas próprias visões de como Donna nunca deixou de ser si mesma e nunca parou de sonhar, não importasse o quão adversa a situação se mostrava. 

Como supracitado, Parker faz um trabalho interessante através de uma montagem anacrônica que brinca com efeitos visuais e funde duas épocas em uma só, mesmo com a falta de um ritmo estruturado no ato de abertura. Entretanto, os equívocos incômodos logo são ofuscados por uma brilhante e carismática performance de Lily James como a jovem Donna, recém-formada e pronta para conhecer o mundo, já que se sente abandonada pela mãe e não enfrenta nada que a impeça de abrir ainda mais as asas. A partir daí, conhecemos suas aventuras na França e na Grécia até finalmente encontrar o seu próprio destino ao chegar à ilha de Kalokairi – não antes, é claro, de conhecer seus três amantes e possíveis pais da filha. 

O roteiro, também assinado por Parker ao lado de Richard Curtis e Catherine Johnson, não traz uma originalidade muito clara, mas respalda-se com convicção em uma fórmula segura: uma trama de amor revestida com subtramas de superação, idolatria e experimentos catárticos que não funcionam em sua completude, mas mancham um pouco a atmosfera. Donna procura o significado de sua vida ao mesmo tempo em que Sophie, no tempo presente, faz a mesma coisa – e é emocionante ver também que as duas engravidam em condições semelhantes, separadas por décadas e unidas pelo mesmo amor que sempre compartilharam. As figuras de um passado remoto constantemente falam para Sophie sobre todas as vezes em que deixou a mãe orgulhosa, apoio que não teve por decidir viver por conta própria em um casebre caindo aos pedaços. 

Apesar da previsibilidade, os números musicais retornam com força e demonstram um talento inquestionável do extenso elenco. Até mesmo o jovem time, formado por James, Alexa Davies como Rosie e Jessica Keenan Wynn como Tanya, trazem uma química aplaudível para a cena, ainda que nunca superado pelo trio original estruturado por Streep, Julie Walters e Christine Baranksi, respectivamente. A familiaridades no semblante de cada uma das duplas é inegável e até assustadora – e é possível traçar paralelos entre seus trejeitos, mantidos após tantos anos. Cada uma contribui de seu jeito para aumentar a complexidade da narrativa, seja com cargas dramáticas (trazidas em peso pelas protagonistas), seja com a aguardada comédia que revisita de modo nostálgica as investidas predecessoras. 

O trabalho com a câmera também mantém sua estrutura coesa, sem cair nas ruínas da monotonia e acompanhando as coreografias e os números musicais, conseguindo expandir as ambiências mais enclausuradas. Porém, Parker peca um pouco no tocante à fotografia, focando demais na interação interpessoal dos protagonistas e coadjuvantes e deixando de lado a estética em si. Logo, as belíssimas e paradisíacas imagens da ilha grega mais se assemelham a investidas panfletárias ou publicitárias que qualquer coisa – não que isso tire o divertimento da obra em si, apenas retrai um pouco o seu potencial cênico. 

E não podemos nos esquecer da icônica Cher encarnando Ruby Sheridan, mãe de Donna e avó de Sophie que resolve fazer uma aparição surpresa na festa de inauguração do hotel Bella Donna no maior estilo possível. E Parker faz questão de lhe dar alguns momentos no centro dos holofotes, incluindo uma performance especial ao lado de García com Fernando e que simpatiza diretamente com o teor do longa, além de adicionar um toque especial. 

Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo’ é uma ótima pedida para se assistir em família ou para alguém que procura um divertimento simples, porém satisfatório, para esse segundo semestre. E, bom, caso você não curta musicais, com certeza irá se deliciar com o elenco de ponta e com essa fofa história de amor e compaixão. 

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