sábado , 28 dezembro , 2024

Opinião | Novas versões de desenhos clássicos não vão estragar sua infância

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Estreou no Cartoon Network a nova versão dos ThunderCats. Chamada ThunderCats Roar, a série animada é um remake da animação clássica realizada entre 1985 e 1989, que fez muito sucesso pelo mundo e marcou a infância de milhares de crianças dos anos 80, sendo muito popular até hoje na América do Sul, principalmente na Argentina.

A série original fez muito sucesso nos anos 80 e 90.

De acordo com a sinopse oficial, ThunderCats Roar segue os mesmos rumos da animação dos anos 80: “Mantendo-se fiel à premissa da série original, Lion-O e os ThunderCatsTygra, Panthro, Cheetara, Wilykat e Wilykit – escapam por pouco da destruição repentina de seu mundo natal, Thundera, apenas para derrubar terras misteriosas e exóticas do planeta da Terceira Terra. Lion-O, o recém-nomeado Senhor dos ThunderCats, tenta liderar a equipe enquanto eles fazem deste planeta seu novo lar. Um bizarro anfitrião de criaturas e vilões está em seu caminho, incluindo o mal-intencionado Mumm-Ra, o governante perverso da Terceira Terra, que não permitirá que nada, incluindo os ThunderCats, pare seu reinado tirânico sobre o planeta”. Apesar de seguir a mesma trama da série original, duas coisas vêm chamando bastante a atenção do público de forma negativa. Nessa nova abordagem, o desenho animado vem com traços menos elaborados, voltados nitidamente para o público infantil, e com roteiros mais cômicos.



Com animação mais simples e roteiro mais engraçado, ThunderCats Roar que trazer os personagens clássicos para a nova geração.

Por conta dessas mudanças, antes mesmo da série estrear, incontáveis adultos foram para as redes sociais descontar suas frustrações no desenho. O comentário mais comum foi “Vocês estão destruindo a minha infância”. Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Na verdade, parece que toda vez que uma nova versão de um desenho animado ou filme antigo surge, a mesma galera acorda da hibernação para vir reclamar de algo que sequer assistiu ainda. Foi assim com o remake de She-Ra, que é um sucesso absoluto entre o público feminino, com suas histórias empoderadas e visual divertido, e até mesmo com a versão atual de Ben 10, que mudou o estilo de animação, deixando mais infantil e engraçado.

A nova She-Ra é um sucesso entre crianças, adolescentes e adultas ao trazer situações femininas de forma fofa, mas madura.

As mudanças são algo comum não só no entretenimento, mas na vida em si. Para tentar entender o motivo dessas reclamações acerca de desenho animados ganhando novas versões, conversamos com psicóloga Jéssica Pimenta, que atribui esse efeito chamado memória episódica: “O ser humano tem muito medo daquilo que o obriga a sair da zona de conforto. […] Quando falamos de momentos que marcaram nossas vidas – nesse caso, um programa de TV que você gostou muito quando era mais novo e até hoje é importante para você -, isso envolve nossas emoções e a lembrança de bons sentimentos, como por exemplo, chegar da escola e almoçar assistindo o programa ou acordar de manhã no sábado e sentar para assistir seu programa favorito. São as lembranças, associadas as sensações e emoções das situações que vivemos. O mesmo vale para algum acontecimento ruim, que se torna um trauma. É o alto impacto emocional e a leitura que fazemos ao longo da vida sobre esses acontecimentos. Na psicologia chamamos isso de memória episódica, que se dá quando a soma desses fatores adquirem valor afetivo após um tempo. Desta forma, um comportamento evitativo e talvez até agressivo com relação a nova versão do desenho pode ser justificado por esse medo de “perder” o que aquilo significa para o indivíduo”.

Os ThunderCats ganharam uma nova versão em 2011. Com traços elaborados e trama adulta, o remake não agradou e logo foi cancelado.

Ou seja, as novas versões agem como uma ameaça ao conceito de “dias bons” dessa galera que reclama. O problema é que isso beira o narcisismo, já que nem tudo que sai na indústria do entretenimento é voltado eternamente para agradar a você. Isso sem contar que a versão original não será alterada pela nova versão (a menos que estejamos falando dos filmes do Disney+). O clássico, que fez você se apaixonar pela trama ou pelos personagens, segue intocado lá no passado e pode ser encontrado nos streamings, em mídias físicas ou na internet. Se você quiser matar a saudade dos velhos tempos, basta procurar para assistir de novo.

Assista também:
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A nova animação da Arlequina tira sarro dos adultos agindo como crianças por conta do entretenimento estar ameaçando suas “infâncias”.

Essa busca incessante por agradar a memória afetiva tem causado quase que um bloqueio criativo em Hollywood. O mercado não é burro, então muitos roteiros de filmes deixam de lado novas ideias, abrindo mão da criatividade, para usarem a nostalgia como muleta. São as famosas “referências”, que rendem matérias, vídeos, teorias no reddit e limitam cada vez mais dezenas de novos roteiristas e diretores com visões originais de crescerem no mundo do cinema. Filmes com personagens de quadrinhos parecem não poder ousar, precisando seguir exclusivamente ao material no qual a história é baseada. Filmes de franquia rendem mais dinheiro do que tramas originais… E por aí vai. Grande parte da crise criativa que o cinema atual vive vem dessa “aversão ao novo” que o grande público mostra.

“Jogador Nº1” é um filme fantástico, mas é inegável o uso da nostalgia e das referências como “muleta” para o roteiro.

E quando se fala em entretenimento, fala-se de indústria. Os estúdios precisam manter seus personagens em alta para que o público continue assistindo seus filmes ou desenhos e consumam os produtos depois. E quando se fala em personagens animados, a situação pega um panorama diferenciado. Os desenhos costumam ser voltados para as novas gerações. Por mais que doa para algumas pessoas, a verdade é que o público alvo de 99% das animações que passam na TV são as crianças. Os ThunderCats originais, quando foram lançados, chegaram à tv visando as crianças. Era uma animação que refletia o que era popular na época, assim como ThunderCats Roar reflete o que é popular hoje. Esse saudosismo besta priva muita gente de conteúdos incríveis por puro preconceito. Um bom exemplo disso é a franquia Jovens Titãs. A série dos anos 2000 fez muito sucesso com uma visão madura dos heróis. A nova versão, Jovens Titãs em Ação!, traz uma paródia genial dos personagens e sofreu com um “hate” descabido dos saudosistas barbados. A nova série é incrível e trouxe Mutano, Robin e Ravena para o imaginário das crianças dessa década.

A nova interpretação dos Jovens Titãs é um dos maiores sucessos do Cartoon Network hoje em dia.

A verdade é que a maioria das pessoas que reclama dessas novas versões de desenhos animados sequer vai chegar a assistir os episódios. Talvez a nova série dos ThunderCats seja ruim, talvez seja excelente. Mas uma coisa é certa: personagens como Lion-O, Cheetara e Mumm-ra voltarão a ser comentados e provavelmente vão conquistar mais uma geração de fãs, que ficarão envolvidos pelas aventuras dos felinos guerreiros. O ponto é que sua infância não deve ser o centro de produções se você já é um adulto, e muito menos deveria ser seu ponto de referência na hora de avaliar novas animações. Afinal, se você não gostar da nova versão, poderá sempre assistir ao desenho clássico em algum lugar.

“Espada justiceira, dê-me a visão além do alcance!”.

ThunderCats Roar está sendo exibido toda quinta-feira às 17h45 no Cartoon Network.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Estreou no Cartoon Network a nova versão dos ThunderCats. Chamada ThunderCats Roar, a série animada é um remake da animação clássica realizada entre 1985 e 1989, que fez muito sucesso pelo mundo e marcou a infância de milhares de crianças dos anos 80, sendo muito popular até hoje na América do Sul, principalmente na Argentina.

A série original fez muito sucesso nos anos 80 e 90.

De acordo com a sinopse oficial, ThunderCats Roar segue os mesmos rumos da animação dos anos 80: “Mantendo-se fiel à premissa da série original, Lion-O e os ThunderCatsTygra, Panthro, Cheetara, Wilykat e Wilykit – escapam por pouco da destruição repentina de seu mundo natal, Thundera, apenas para derrubar terras misteriosas e exóticas do planeta da Terceira Terra. Lion-O, o recém-nomeado Senhor dos ThunderCats, tenta liderar a equipe enquanto eles fazem deste planeta seu novo lar. Um bizarro anfitrião de criaturas e vilões está em seu caminho, incluindo o mal-intencionado Mumm-Ra, o governante perverso da Terceira Terra, que não permitirá que nada, incluindo os ThunderCats, pare seu reinado tirânico sobre o planeta”. Apesar de seguir a mesma trama da série original, duas coisas vêm chamando bastante a atenção do público de forma negativa. Nessa nova abordagem, o desenho animado vem com traços menos elaborados, voltados nitidamente para o público infantil, e com roteiros mais cômicos.

Com animação mais simples e roteiro mais engraçado, ThunderCats Roar que trazer os personagens clássicos para a nova geração.

Por conta dessas mudanças, antes mesmo da série estrear, incontáveis adultos foram para as redes sociais descontar suas frustrações no desenho. O comentário mais comum foi “Vocês estão destruindo a minha infância”. Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Na verdade, parece que toda vez que uma nova versão de um desenho animado ou filme antigo surge, a mesma galera acorda da hibernação para vir reclamar de algo que sequer assistiu ainda. Foi assim com o remake de She-Ra, que é um sucesso absoluto entre o público feminino, com suas histórias empoderadas e visual divertido, e até mesmo com a versão atual de Ben 10, que mudou o estilo de animação, deixando mais infantil e engraçado.

A nova She-Ra é um sucesso entre crianças, adolescentes e adultas ao trazer situações femininas de forma fofa, mas madura.

As mudanças são algo comum não só no entretenimento, mas na vida em si. Para tentar entender o motivo dessas reclamações acerca de desenho animados ganhando novas versões, conversamos com psicóloga Jéssica Pimenta, que atribui esse efeito chamado memória episódica: “O ser humano tem muito medo daquilo que o obriga a sair da zona de conforto. […] Quando falamos de momentos que marcaram nossas vidas – nesse caso, um programa de TV que você gostou muito quando era mais novo e até hoje é importante para você -, isso envolve nossas emoções e a lembrança de bons sentimentos, como por exemplo, chegar da escola e almoçar assistindo o programa ou acordar de manhã no sábado e sentar para assistir seu programa favorito. São as lembranças, associadas as sensações e emoções das situações que vivemos. O mesmo vale para algum acontecimento ruim, que se torna um trauma. É o alto impacto emocional e a leitura que fazemos ao longo da vida sobre esses acontecimentos. Na psicologia chamamos isso de memória episódica, que se dá quando a soma desses fatores adquirem valor afetivo após um tempo. Desta forma, um comportamento evitativo e talvez até agressivo com relação a nova versão do desenho pode ser justificado por esse medo de “perder” o que aquilo significa para o indivíduo”.

Os ThunderCats ganharam uma nova versão em 2011. Com traços elaborados e trama adulta, o remake não agradou e logo foi cancelado.

Ou seja, as novas versões agem como uma ameaça ao conceito de “dias bons” dessa galera que reclama. O problema é que isso beira o narcisismo, já que nem tudo que sai na indústria do entretenimento é voltado eternamente para agradar a você. Isso sem contar que a versão original não será alterada pela nova versão (a menos que estejamos falando dos filmes do Disney+). O clássico, que fez você se apaixonar pela trama ou pelos personagens, segue intocado lá no passado e pode ser encontrado nos streamings, em mídias físicas ou na internet. Se você quiser matar a saudade dos velhos tempos, basta procurar para assistir de novo.

A nova animação da Arlequina tira sarro dos adultos agindo como crianças por conta do entretenimento estar ameaçando suas “infâncias”.

Essa busca incessante por agradar a memória afetiva tem causado quase que um bloqueio criativo em Hollywood. O mercado não é burro, então muitos roteiros de filmes deixam de lado novas ideias, abrindo mão da criatividade, para usarem a nostalgia como muleta. São as famosas “referências”, que rendem matérias, vídeos, teorias no reddit e limitam cada vez mais dezenas de novos roteiristas e diretores com visões originais de crescerem no mundo do cinema. Filmes com personagens de quadrinhos parecem não poder ousar, precisando seguir exclusivamente ao material no qual a história é baseada. Filmes de franquia rendem mais dinheiro do que tramas originais… E por aí vai. Grande parte da crise criativa que o cinema atual vive vem dessa “aversão ao novo” que o grande público mostra.

“Jogador Nº1” é um filme fantástico, mas é inegável o uso da nostalgia e das referências como “muleta” para o roteiro.

E quando se fala em entretenimento, fala-se de indústria. Os estúdios precisam manter seus personagens em alta para que o público continue assistindo seus filmes ou desenhos e consumam os produtos depois. E quando se fala em personagens animados, a situação pega um panorama diferenciado. Os desenhos costumam ser voltados para as novas gerações. Por mais que doa para algumas pessoas, a verdade é que o público alvo de 99% das animações que passam na TV são as crianças. Os ThunderCats originais, quando foram lançados, chegaram à tv visando as crianças. Era uma animação que refletia o que era popular na época, assim como ThunderCats Roar reflete o que é popular hoje. Esse saudosismo besta priva muita gente de conteúdos incríveis por puro preconceito. Um bom exemplo disso é a franquia Jovens Titãs. A série dos anos 2000 fez muito sucesso com uma visão madura dos heróis. A nova versão, Jovens Titãs em Ação!, traz uma paródia genial dos personagens e sofreu com um “hate” descabido dos saudosistas barbados. A nova série é incrível e trouxe Mutano, Robin e Ravena para o imaginário das crianças dessa década.

A nova interpretação dos Jovens Titãs é um dos maiores sucessos do Cartoon Network hoje em dia.

A verdade é que a maioria das pessoas que reclama dessas novas versões de desenhos animados sequer vai chegar a assistir os episódios. Talvez a nova série dos ThunderCats seja ruim, talvez seja excelente. Mas uma coisa é certa: personagens como Lion-O, Cheetara e Mumm-ra voltarão a ser comentados e provavelmente vão conquistar mais uma geração de fãs, que ficarão envolvidos pelas aventuras dos felinos guerreiros. O ponto é que sua infância não deve ser o centro de produções se você já é um adulto, e muito menos deveria ser seu ponto de referência na hora de avaliar novas animações. Afinal, se você não gostar da nova versão, poderá sempre assistir ao desenho clássico em algum lugar.

“Espada justiceira, dê-me a visão além do alcance!”.

ThunderCats Roar está sendo exibido toda quinta-feira às 17h45 no Cartoon Network.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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