‘Pânico’ não se tornou uma das maiores franquias de todos os tempos por qualquer motivo: ao ser idealizada por Wes Craven e Kevin Williamson em 1996 e encontrando sucesso crítico e comercial, a saga slasher reviveu um gênero que já vinha passando por maus bocados – principalmente pela queda de orçamento de produções anteriores e pelo lançamento direto em VOD. Pouco depois de estrear nas telonas, o filme teve sua sequência confirmada e, alguns anos depois, um terceiro capítulo para encerrar a trilogia. Entretanto, embarcando na onda de remakes que já começava a crescer no início dos anos 2010, a dupla percebeu que poderia reapresentar a narrativa a uma nova geração de fãs que crescia em meio às redes sociais e às inovações tecnológicas.
E foi assim que nasceu ‘Pânico 4’.
O longa-metragem chegou aos cinemas em 2011 e trouxe de volta o trio-legado dos títulos anteriores: Sidney Prescott (Neve Campbell), Gale Weathers (Courteney Cox) e Dewey Riley (David Arquette), anos depois dos massacres que acometeram Woodsboro. Sidney tornou-se uma escritora de enorme sucesso com um livro recontando as traumáticas memórias da cidade – e retornando para seu lar para promovê-lo; Dewey é o novo xerife local e é acompanhado de sua assistente, Judy Hicks (Marley Shelton); e Gale casou-se com Dewey e passa por uma espécie de “crise profissional” em que não sabe sobre o que escrever e deseja, mais que tudo, retomar sua carreira como jornalista investigativa. E tudo se transmuta em um pesadelo vivo quando Ghostface retorna e promete criar caos e coletar mais vítimas – incluindo os três.
Apesar das boas intenções, ‘Pânico 4’ não fez o sucesso prometido: além da decepcionante bilheteria de US$97,2 milhões (a menor arrecadação da franquia), a recepção crítica não foi a das melhores (com 60% de aprovação no Rotten Tomatoes, a segunda menor avaliação, estando atrás apenas de ‘Pânico 3’). E, dentre os vários comentários tecidos, boa parte se valeu das fórmulas idênticas dos capítulos predecessores – o que já era de se esperar, considerando que faz parte da mesma mitologia. Obviamente, é compreensível a frustração sentida pelos especialistas e pela audiência – mas, mais de uma década depois, revisitar a obra é uma ótima pedida para perceber que ele esteve muito à frente de seu tempo.
A princípio, vamos analisar a história: Sidney, agora, consagra-se como uma “personagem legado” (termo que seria explorado no filme de 2022) ao lado de Gale e Dewey. Caracterizada como “o anjo da morte”, a protagonista é tratada como um medonho agouro, trazendo catástrofe por onde anda. Não é surpresa que todos queiram ficar longe dela e, em contrapartida, desejam conhecer uma “celebridade” que ganhou fama por traumas constantes e um senso de despertencimento e solidão dilacerantes. Ora, ela é até mesmo convidada pelo clube de cinema presidido por Charlie Walker (Rory Culkin) e Robbie Mercer (Erik Knudsen) com os crescentes ataques do serial killer.
Para além da importância do retorno de Sidney, ela também lida com a nova geração de jovens que é arrastada para um complexo emaranhado de reviravoltas e segredos que atravessa décadas. Temos, por exemplo, sua prima Jill Roberts (Emma Roberts), que vive à sombra de uma família marcada por calamidades; a icônica Kirby Reed (Hayden Panettiere), melhor amiga de Jill e uma aficionada por filmes de terror; a dupla supracitada formada por Charlie e Robbie; e vários outros. Sidney, Gale e Dewey unem forças para passar o conhecimento que têm sobre Ghostface, mas devem prezar pela própria vida ao serem caçados um a um.
A sutil profundidade do filme é respaldada por adições memoráveis a esse microcosmos, com a primeira delas sendo Roberts como Jill. Como revelado no terceiro ato, Jill é a mente por trás dos assassinatos, influenciando Charlie a seguir seus passos e a ajudá-la a reviver o fantasmagórico antagonista. Sua motivação é, de longe, uma das mais palpáveis e críveis da saga slasher: buscando por seu momento de glória e tentando usurpar o “trono” de Sidney, ela declama que não precisa de amigos, e sim de fama. Subsistindo no auge de redes sociais como Facebook e Twitter, ela almeja pelo sucesso e pelo reconhecimento, arquitetando um plano muito intrincado para garantir que fosse a única sobrevivente e seu nome caísse na mídia.
Dito e feito, ela alcança a sonhada fama ao morrer nas mãos da própria prima e ser tratada como a “heroína” de toda a história. E Jill divide os holofotes com Kirby, uma das grandes personagens coadjuvantes que roubou a nossa atenção desde sua primeira aparição nas telas. A jovem foi encarnada com perfeição por Panettiere e nos deixou sem ar quando levou duas facadas mortais de Charlie – nos levando a acreditar em sua morte instantânea. Kirby se tornou uma das personas favoritas da audiência e foi honrada anos depois ao fazer um retorno glorioso com ‘Pânico VI’ (reiterando sua importância na produção de 2011).
O principal problema do filme foi não ter aberto espaço para que os novos personagens tivessem um futuro sólido na franquia, porque boa parte deles foi brutalmente assassinado. Com exceção de Judy, que encontrou seu trágico fim no capítulo seguinte, e de Kirby (que, como já comentado, apareceria no sexto longa-metragem), a promessa de apostar fichas em uma geração mais jovem caiu por terra e deixou os fãs querendo mais. Mas, no final das contas, ‘Pânico 4’ é uma boa aventura e uma das entradas mais subestimadas desse icônico cosmos. E, assim, ele vem sendo redescoberto como uma gema de Wes Craven que precisa ser apreciada em sua completude.